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NOS BRAÇOS
DE XANGÔ
PROCESSO
A partir
de então Jussara ficou reclusa durante 12 dias, sendo
exceção por conta do seu orixá bem como para obaluaê (14
dias). Para os demais orixás é necessária a reclusão de 17
dias no roncó,seguindo uma cronologia própria. Esse tempo
será dedicado ao aprendizado de normas da religião e a
realização das obrigações. A delimitação de espaço e
tempo no interior de um quarto sem janelas e constantemente
de porta fechadas,mobiliado somente por algumas esteiras,
representa bem este instante de mudança, diferenciando a
vida de um não iniciado e um filho- de- santo, adoxú ou iaô,
mulher do orixá, aquele que pode ser possuído pelo orixá.
O acesso a
este local é completamente ocluso aos não- iniciados,
mantendo assim o mistério da religião. Entrar neste quarto
para presenciar os ritos de iniciação e os fundamentos que
permeiam este momento é confiado aos “pais pequenos” ou
“mães pequenas”, espécie de padrinhos e madrinhas que
ajudarão os iaôs durante este período e a outros iniciados
que poderão, de alguma forma, contribuir para a purificação
do noviço.
Definir
este momento através de palavras parece impossível aos
iniciados mas somente através das mutações que tivera na
vida. O estado de entorpecimento em que se encontra o
iniciado durante estes dias de reclusão é interrompido por
períodos de possessão, seguidos de um outro, de caráter
menos vidente, chamado estado de erê. O comportamento do iaô
toma uma forma infantil e incoerente, deixando de lado
qualquer característica que lembre sua antiga identidade. Os
dois estados oscilam-se de acordo com as exigências do
ritual. O erê, por sua vez, permite ao noviço momentos de
relaxamento e de repouso e a retomada de algumas funções
fisiológicas interrompidas durante o transe do orixá.
Através dele, é possível também a ingestão de alimentos,
deglutição e digestão, assegurando a nutrição com os
alimentos próprios da religião, diferenciando completamente
a alimentação da habitual. “Quando voltei a mim estava uns
dez quilos mais gorda. Meu erê comia muito.”
Para quem
estava órfã, Jussara passou do estágio de colega, Jussara
para ser filha de dona Carmem, conseguindo finalmente o
alicerce que tanto precisava, recebendo durante a
iniciação,um novo nome do qual orgulha-se. Guibonan (filha
da justiça) é como a chamam dentro do terreiro, fazendo-a
esquecer por alguns instantes o seu nome de batismo
católico. Além disso Jussara, através do erê, aprendeu o
nome dos objetos, as normas da religião e a postura que
deveria adotar a partir de então.
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NOS
BRAÇOS DE XANGÔ
SENSAÇÕES
PROCESSO
INICIAÇÃO
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