|
NOS BRAÇOS
DE XANGÔ
Cristielle França
Renascimento. Essa palavra pode traduzir o sentimento
daqueles que imergem num mundo abstrato de uma religião que
requer de seus adeptos além de fé, dedicação e reverência.
Num misto
de medo, prudência e respeito
Jussara*, 30, apresenta, em sua trajetória, algumas
modificações que podem ocorrer na vida daqueles que são
surpreendidos pela necessidade de iniciação no candomblé. No
mergulho ao inconsciente, Jussara pôde reencontrar no seu
eledá* um novo rumo para a sua vida, após a perda da mãe.
Num período que varia de 12 a 21 dias, Jussara renasceu e
passou a sentir-se fortalecida por Olorum.
Saindo de
Cruz das Almas/Ba com destino à Salvador a secretária deixou
pra trás não só uma vida dependente da família, mas também
uma série de paradigmas e preconceitos que permeavam essa
relação baseada nas crenças do seu pai, que sempre
considerou o candomblé, a umbanda ou qualquer outra cultura
de origem africana, como algo ligado ao demônio ou a
qualquer outra força maligna que se pudesse ter
conhecimento.
Morando
sozinha no bairro de Brotas, Jussara conseguiu, depois de
uma certa procura empregar-se na SUCOM, localizada na
avenida Bonocô, próximo a sua residência. Recebia algo em
torno de duzentos e sessenta reais, sendo esta sua única
fonte de renda. “No começo, tudo foi muito difícil pra mim.
Me sentia sozinha e sem nenhum alicerce”.
Em
dezembro de 2002, dona Carmem, 54, sua colega de trabalho, a
convidou para uma festa de candomblé que aconteceria no
segundo sábado do mês corrente. Quando questionou sobre o
terreiro, descobriu que dona Carmem era a ialorixá, a
mãe-de-santo. “Fiquei muito surpresa com isso, mas ao mesmo
tempo curiosa, pois até então não conhecia um terreiro de
candomblé”. A indecisão e o receio fizeram com que Jussara
convidasse sua amiga Patrícia para acompanhá-la ao terreiro
de mãe Carmem.
Por volta
das 21h do dia 14, Jussara chegou ao Ilê Axé Oiá Mesi que já
tinha iniciado suas reverencias à Iansã, orixá de mãe
Carmem. “A lodêrecê dociê iemanjá...” Este foi o cântico que
guiou Jussara a adentrar àquele local. A ornamentação com
panos brancos e buquês de rosas davam ao barracão um clima
de paz e tranqüilidade, que se seguia às áreas externas.Foi
neste clima que Jussara se encantou pela beleza do lugar que
acolhia e ao mesmo tempo entorpecia os demais visitantes.
*Nome
fictício
Leia mais:
NOS
BRAÇOS DE XANGÔ
SENSAÇÕES
PROCESSO
INICIAÇÃO
Outras reportagens:
Dúvidas de Erê - Publicada no
jornal "Bahia Notícias"
|
|