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    Diogo do Couto  

HISTÓRICO
Maio • 2001

BIBLIOGRAFIA

Breve História da Literatura Portuguesa, Texto Editora, 1999

A.J. BARREIROS, História da Literatura Portuguesa, Editora Pax, 11ª ed.

A.J. SARAIVA e O. LOPES, História da Literatura Portuguesa, Porto Editora, 12ª ed.

Lexicoteca, Círculo de Leitores, Tomo VI

 
   

Diogo do Couto nasceu por volta de 1542 e faleceu em Goa, a 10/12/1616. Estudou latim e retórica no colégio jesuíta de Santo Antão e, mais tarde, filosofia no convento de Benfica.

Começou por servir na corte, onde foi moço de câmara. Em 1559 embarcou para a Índia, como militar, e aí permaneceu durante dez anos, participando nas expedições militares que procuravam assegurar o domínio português sobre os potentados locais. Em 1569 regressou a Portugal. Durante essa viagem, encontrou em Moçambique o seu amigo Luís de Camões, impossibilitado de regressar à pátria devido a dificuldades financeiras. Nessa ocasião, foi Diogo do Couto e outros amigos do épico que cobriram as dívidas do poeta e custearam a viagem para Lisboa.

Em 1571 voltou ao oriente, onde casou. Em 1595 foi nomeado guarda-mor do arquivo de Goa, no tempo de Filipe I. Tinha como incumbência dar continuidade às "Décadas" de João de Barros.

Ao longo da sua vida, para além das obras pelas quais ficou conhecido, escreveu textos de circunstância (orações congratulatórias e comemorativas), bem como um relato do naufrágio da nau S. Tomé, incluído na História Trágico-Marítima.

O Diálogo do Soldado Prático é, ainda hoje, uma obra muito interessante, pela crítica que faz do funcionamento da administração portuguesa no oriente, desde os escalões mais elevados (vice-reis) até aos mais baixos. As observações de Diogo do Couto assentam no conhecimento pessoal de alguém que viu em situação os factos de que fala. Nesse aspecto, está numa situação semelhante àquela que Fernão Mendes Pinto reflecte na sua Peregrinação.

Soldado Prático é o "soldado experiente". A obra traduz, portanto, a perspectiva dos portugueses de condição humilde, com longa permanência no oriente e testemunhas dos abusos dos seus superiores, exercidos sobre os naturais e até sobre esses práticos. A perspectiva adoptada por Couto é muito semelhante à que Gaspar Correia revela nas suas Lendas da Índia.

A obra assume a forma de diálogo, muito frequente durante o Renascimento e até nos períodos posteriores, e pelas falas dos intervenientes (um soldado velho, um funcionário real e um fidalgo com experiência da Índia) vamos tomando conhecimento dos muitos vícios que corroíam a administração portuguesa naquelas partes: a ambição, o gosto pelo luxo, o desprezo pela honra, a opressão dos humildes, a deslealdade para com o rei, enfim, tudo aquilo que é de esperar num projecto de exploração colonial e que já Gil Vicente, logo no início, sem nunca ter saído de Portugal, denunciara no seu Auto da Índia:

(...)
Fomos ao rio de Meca
Pelejámos e roubámos
(...)
.

Diogo do Couto tinha, da história, uma concepção diferente de João de Barros, por isso é, talvez, mais interessante. Entende que a "verdade" deve ser dita, doa a quem doer. Talvez por isso, algumas das suas "décadas" (a VIII, IX e XI) extraviaram-se antes de serem impressas. A suspeita de que alguém, interessado na não divulgação de certos factos menos nobres, tenha contribuído para esse "sumiço" é inevitável...

Para além de uma concepção mais "realista" da história, Diogo do Couto teve a vantagem de vivenciar a colonização portuguesa do oriente. Viveu lá a maior parte da sua vida. Observou o comportamento dos seus compatriotas e a reacção dos nativos. Tudo isso explica que o seu relato esteja mais próximo da realidade do que a narração épica de João de Barros.

A linguagem utilizada por Diogo do Couto é mais simples do que a de João de Barros, mas, por isso mesmo, mais viva e pitoresca, sobretudo na narração de pequenos episódios anedóticos.

BIBLIOGRAFIA

• Diálogo do Soldado Prático
• Décadas (IV a XII)