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Encomendas

A partir do ano de 2001 o GMCL, com o apoio do IPAE-MC, tomou a iniciativa de encomendar obras a compositores portugueses e realizar concertos para sua apresentação.

 

   

2001

 

 

 Três Poemas do Oriente    de  Luís Tinoco 

 Dói-me o Luar    de  António Sousa Dias

 O Abismo e o Silêncio   de  João Pedro Oliveira

 Poema de Deus e do Diabo   de  Alexandre Delgado

 Octólogos    de   Filipe Pires

 

2002

 

 

 ...Pour les Temps Glissants...  de  António Chagas Rosa

 Algarve    de  Pedro M. Rocha

 Three American Portraits    de  Sérgio Azevedo

 Oito Poemas Breves de Valter Hugo   de  Fernando Lapa

 

2003

 

 

  Leituras de Liberdade   de  Christopher Bochmann

 El vaso reluciente    de  Clotilde Rosa

 Poemário de Lamolinairie de Campos   de  Eurico Carrapatoso

 

 

 

 

 
 

 2001

 

Três Poemas do Oriente                                                   Luís Tinoco 

Sobre "Clepsydra" de Camilo Pessanha

 

Mezzo-Soprano, Pno, Harp, Fl e Fl em Sol, Cl e Percussão

(Marimba, Vibrafone, Crótalos, Chocalhos, Tam-Tam e Gongos)

 

Stephen Reckert, no seu ensaio “The Presence of East Asia in Some Modern Portuguese Poets”, descreve Pessanha como “o poeta da música verbal” - (por comparação com Cesário Verde, “o poeta do visual” e com Pessoa, “o poeta das ideias”).

Em Pessanha, para além da dimensão musical da sua escrita, interessou-me também a dualidade Ocidente / Oriente - na sua condensação do discurso; na obsessão pela morte e pelo mistério da existência; na relação com o Tempo fugitivo que se escuta no correr da água da clepsydra (Poema Final) ou na metáfora das águas do rio que fogem sob o seu olhar cansado (Passou o outono já, já torna o frio…).

A instrumentação escolhida, de certo modo, reflete essa síntese de fontes europeias - onde se destaca França e autores como Verlaine, que surge citado no poema Meus olhos apagados - e orientais, através da vivência de Pessanha em Macau. Procurei também uma certa condensação do discurso musical - criando ressonâncias entre andamentos – e optando por uma certa monotonia e repetição de alguns materiais melódicos e harmónicos, também observável na tristeza de versos como “Só, incessante, um som de flauta chora…” (Ao longe os Barcos de Flores) ou “Cair, sempre cair. […] / Caí e derramai-vos, Como a água morrente” (Meus olhos apagados).

Três Poemas do Oriente é dedicado ao Grupo de Música Contemporânea de Lisboa.

Luís Tinoco, XI.2001

 

Il pleure dans mon coeur

Comme il pleut sur la ville.

VERLAINE

I.

Meus olhos apagados,

Vede a água cair.

Das beiras dos telhados,

Cair, sempre cair.

 

Das beiras dos telhados,

Cair, quase morrer…

Meus olhos apagados,

E cansados de ver.

 

Meus olhos, afogai-vos

Na vã tristeza ambiente.

Caí e derramai-vos

Como a água morrente.

 

II.

(…)

Águas claras do rio! Águas do rio,

Fugindo sob o meu olhar cansado,

Para onde me levais meu vão cuidado?

Aonde vais, meu coração vazio?

(…)

 

III.

Imagens que passais pela retina

Dos meus olhos, porque não vos fixais?

Que passais como a água cristalina

Por uma fonte para nunca mais!…

 

Ou para o lago escuro onde termina

Vosso curso, silente de juncais,

E o vago medo angustioso domina,

- Porque ides sem mim, não me levais?

 

Sem vós o que são os meus olhos abertos?

- O espelho inútil, meus olhos pagãos!

Aridez de sucessivos desertos…

 

Fica, sequer, sombra das minhas mãos,

Flexão casual de meus dedos incertos,

- Estranha sombra em movimentos vãos.

 

 

Dói-me o Luar                                                                   António Sousa Dias

Sobre “Pã” de Sophia de Mello Breyner Andresen

 

Pno, Harp, Fl, Cl, dois Vln, Vla, Vlc e Percussão (Vibrafone, Glockenspiel)

 

"Dói-me o luar", primeira metade do último verso do poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, é tomada de empréstimo para título desta obra. Sem pretender uma ilustração do poema, podem, no entanto, estabelecer‑se algumas relações metafóricas: a flauta inicial, um certo desalento, a preferência por paisagens estáticas com movimento interno, tudo isto remetendo mais para a referenciação que para a citação. Refira‑se que alguns dos materiais a partir dos quais esta obra é construída foram tomados de empréstimo a Carlos Caires."Dói-me o luar" é dedicada ao Jorge Peixinho, e ao Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, amigos de longa data. Com toda a amizade.

António de Sousa Dias

Outubro de 2001

 

 

O Abismo e o Silêncio                                            João Pedro Oliveira

Quatro canções sobre  poemas de Fernando Pessoa

 

Soprano, Pno, Harp, Vln, Vla, Vlc e Fita Magnética

 

Estas quatro canções utilizam como texto excertos de obras de diversos heterónimos de Fernando Pessoa. Cada uma delas pretende apresentar uma faceta correspondente ao carácter ou ambiente que a personalidade do respectivo heterónimo transmite no poema (bucolismo, melancolia, tristeza, decepção, ironia, raiva, etc.). A parte electroacústica foi realizada no estúdio do compositor e no Estúdio de Música Electroacústica da Universidade de Aveiro.

João Pedro Oliveira

 

 

Poema de Deus e do Diabo                                     Alexandre Delgado

Sobre poema de José Régio

 

Baixo, Harp, Fl, Cl, Vln e Vlc

 

José Régio concebeu este poema em três partes, perfeitas para uma estrutura musical integrada: na primeira descreve o Cristo, na segunda o demónio, na terceira faz mistura frenética de ambos. O autor vacila entre o amor e a lascívia, entre a compaixão e a sedução (o poema tem um inesperado cunho homoerótico) e acaba "esmagado entre eles dois". É esse percurso que a música procura traduzir, num bloco contínuo.

Os "Poemas de Deus e do Diabo", escritos aos 24 anos, têm laços evidentes com a poesia de Mário de Sá Carneiro: José Régio (1901-1969) foi um dos primeiros a dar o devido valor aos poetas do 1º Modernismo Português. "Painel", primeiro poema dessa colectânea, tem interessantes pontos de contacto com o poema "Rodopio" de Mário de Sá Carneiro, outra visão onírica entre o inferno e o paraíso, que em 1987 musiquei com o título "Turbilhão", para baixo e quarteto de cordas.

Esta foi escrita em Almoçageme entre Outubro e Novembro de 2001 e é dedicada a Carmélia Âmbar.

Alexandre Delgado

 

"Painel"

José Régio (1901-1969)

in "Poemas de Deus e do Diabo" (1925)

 

Ora uma noite de luar medonho

(lembro-me disto como dum sonho)

Alevantou-se um Homem a meu lado,

Todo nu, e desfigurado.

 

Mal me atrevendo a olhá-lo, eu quase só adivinhava

Seu corpo devastado que sangrava...

E uma lembrança, longe, longe, havia em mim

De já o ter amado, ou outro assim.

 

Seu rosto, que, decerto, era sereno e puro,

Resplandecia, como um mármore, no escuro;

E as suas lágrimas, rolando devagar,

Deixavam rastros que faziam luar...

 

Eu prosseguia, todo trémulo e confuso,

Cheio de amor e de terror por esse intruso.

À minha mão direita, ele avançava aèreamente,

Com seu ar espectral e transcendente...

 

Os seus pés nem pousavam no caminho;

E então, eu desatei a soluçar baixinho,

Porque notara que em seu rosto exangue

As suas lágrimas corriam misturadas com seu sangue.

 

Oh, onde a vira eu, essa figura peregrina

Feita de terra humana e de ascensão divina?

Sim, onde a vira eu, que, só de o perguntar,

Me arrepiava, com vertigens de ajoelhar?

 

Mas, de repente, como um sobressalto,

E como a angústia de quem rola de muito alto,

Alguma coisa em mim passou, que pressentia,

E que se arrepelava, e que tremia...

 

É que em meu ombro esquerdo alguém se debruçava,

Alguém que ria um riso que espantava,

Um riso tenebroso, e cheio de atracção,

Com fogo dentro como a boca dum vulcão!

 

E, sem o ver, eu via-o todo inteiro,

Essoutro novo e inseparável companheiro:

Um que também conheço, nem sei donde nem de quando,

Por mais que me torture procurando...

 

E tinha pés de cabra, e tinha chifres, tinha pêlos,

E tinha olhos sulfúricos, esfíngicos e belos...

A baba do seu riso escorregava-lhe da boca,

E em todo ele ardia uma lascívia louca!

 

À minha mão direita, absorto, aéreo, hirto,

Coroado de abrolhos e de mirto,

O Outro continuava a chorar lágrimas caladas,

Com as mãos lassas como rosas desfloradas...

 

Entre os dois, eu sentia-me pequeno e miserando,

Vibrando todo, tumultuando, soluçando,

Com olhos meigos, lábios torpes - indeciso

Entre um inferno e um paraíso!

 

Um riso doido e cínico, sem regra,

Subia em mim como uma onda negra,

E, estrelados de lágrimas, meus olhos inocentes

Ajoelhavam como penitentes...

 

Entretanto, os dois vultos desmedidos

Iam crescendo entre os meus risos e gemidos,

Crescendo sempre, sempre e tanto, que, depois,

Eu ficava esmagado entre eles dois.

 

A noite em que isto foi, não sei..., sei lá?... (Seria

Essa em que minha Mãe, com tanta angústia, me paria...)

Sei que o luar era medonho, era amarelo,

E que tudo isto me parece um pesadelo!

 

 

 

Octólogos                                                                              Filipe Pires

 

Soprano, Fl, Fll em Sol e Flautim, Cl, Trp em Dó, Vla, Vlc, Cb e Percussão (Caixa, Prato Suspenso, Hit-hat, 4 Temple-Blocks, Claves, Pandeireta e Triângulo)

 

 

Imagine-se urna “mesa redonda”, na qual participam oito personagens de temperamentos e pontos de vista muito diver­sos, conduzidos por um “moderador”, ora decidido e autoritário, ora intranquilo e quase suplicante, tentando conci­liar interesses antagónicos e levar a bom termo a sua tarefa ingrata.

Logo após uma frustrada apresentação individual dos parti­cipantes, começam estes a infringir o salutar principio de saber ouvir e esperar a sua oportunidade para falar. Daqui resulta urna grande quantidade de duos, trios, quartetos, que se sucedem em alternância com os apelos do “moderador”  - o clarinete dodecafónico -, que mal consegue evitar a anarquia do grupo. Cada um segue, imperturbável, o seu próprio percurso, indiferente ao que se passa à sua volta: a flauta, recitando um modal-tonalismo de raízes tradicionais beirãs; a trompete, entoando timidamente uma vaga escala híbrida; a voz e a per­cussão hesitando sobre as posições a tomar. A estes opõem-se a agressividade do violoncelo, os “pizzicati” jazzísticos do contrabaixo e os harmónicos transparentes da violeta. Entre­tanto, podem ocorrer algumas “alianças” momentâneas e impre­vistas, que não chegam a provocar consenso.

A obra, composta em 2001, foi encomendada pelo Grupo de Música Contemporânea de Lisboa e forma um tríptico com “Diá­logos” (1975) — igualmente destinada a este agrupamento — e com “Monólogos” (1985), que resultou de uma encomenda da Oficina Musical.

Filipe Pires

 

 
 

 2002

 

...Pour les Temps Glissants...                          António Chagas Rosa

I - Molto moderato II - Moderato III - Mosso IV - Mosso (lo stesso tempo) 

V – Vivo, preciso

 

cl. baixo, vln, vla e vlc

 

“...pour les temps glissants...” , para clarinete baixo e trio de arcos, resulta de uma encomenda do Grupo de Música Contemporânea de Lisboa. É uma sequência de cinco andamentos cujo traço dominante é um evoluir descontínuo dos tempos musicais de cada instrumento. Apesar deste elemento de instabilidade, a obra reveste-se de um carácter particularmente meditativo e introspectivo. Concebida de forma bastante austera, a escrita desta peça evoca, de alguma forma, as práticas musicais da polifonia renascentista para coro a capella.

António Chagas Rosa

 

 

Algarve                                                                  Pedro M. Rocha

Sobre poema homónimo de Sophia Andresen

 

Soprano, fl, cl, vln, vla, vlc, harp, pno e electrónica

 

 

Sobre poema homónimo de Sophia Andresen.

É a primeira peça que componho para voz escrita em 1/4 de tom, e aonde tento conciliar uma linguagem ultracromática com uma outra feita de ruídos muitos deles concretos, pouco flexíveis a uma escrita instrumental mas a meu ver perceptíveis como integrantes duma, passe a expressão, “Supra-Linguagem” aonde materiais de diversas proveniências coexistem, atitude de resto nem mais nem menos original que a de muitos outros criadores (no sentido lato do termo, e portanto englobando diversas àreas da expressão artística) mais recentes.

Esta tentativa de criar unidade na heterogeneidade coexiste em todos os intervenientes na peça, em maior ou menor grau e também na fita.

Os versos de Sophia inspiraram-me uma obra em que existe alternância entre complexidade e simplicidade (princípio tão fundamental na arte a meu ver, quanto lugar comum falar dele).

Algarve é dedicada ao Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, que quebra o silêncio no meu país: após 16 anos: volta a fazer ouvir a minha música de câmara tocada por profissionais.

Pedro M. Rocha

 

 

Three American Portraits                                 Sérgio Azevedo

I - Introdução - Wild Horse's Riding Music, quasi Rodeo II - Ruralia Americana

III -  Finale: Fast Forwad & Riffs

 

cl. obligato, fl, harp, vln, vla e vlc

 

Three American Portraits nasceu da encomenda do GMCL para uma obra que se cingisse como máximo instrumental aos oito efectivos fixos do Grupo: flauta, clarinete, piano, harpa, voz, violino, viola e violoncelo.

Deixei de lado dois deles, o piano e a voz. O primeiro foi retirado por razões meramente práticas (esta peça será, espero, tocada por outros ensembles em variados locais, e nem todos os auditórios possuem um bom piano, ou mesmo sequer um piano), embora a partitura preveja, se algum piano estiver disponível - a coexistência desse instrumento com a harpa, alternando entre si sem alterações de maior à música já existente. Quanto à voz, a razão da sua omissão foi uma decisão igualmente pragmática, pois na altura em que comecei realmente a compôr apeteceu-me escrever uma obra instrumental e não vocal.

O projecto inicial, um ciclo de peças que comecei repetidas vezes sem sucesso até perceber que não era isso que queria fazer neste momento, comportava porém uma voz solista, e essa divisão entre indivíduo e grupo mantém-se de certo modo na obra, uma vez que o clarinete, não sendo um verdadeiro solista na mais comum acepção da palavra, é ainda assim um instrumento obbligato, com carácter destacado e virtuosístico em várias secções importantes dos três andamentos, nomeadamente no final.

Uma das características mais marcantes dos Three American Portraits é, nos andamentos extremos, uma grande complexidade rítmica, na maior parte dos casos originada não só pela métrica irregular de cada linha mas também pela sobreposição intrincada de diversas linhas. No lento e bucólico andamento central, é a simplicidade que predomina.

Na sua alternância de andamentos rápido-lento-rápido, e no aspecto quase solístico do clarinete, bem como na complexidade geral da polifonia e do ritmo, Three American Portraits é, de certo modo, um pequeno concerto de câmara que não nega algumas afinidades de carácter com obras como os Brandenburgueses de Bach ou o Dumbarton Oaks, de Stravinsky, para só citar duas das obras que desde sempre me fascinaram.

Sérgio Azevedo

 

 

Oito Poemas Breves de Valter Hugo              Fernando Lapa

 

Soprano, fl, vln, vla, vlc, harp e pno

 

Esta peça tem uma ambição simples: deixar respirar os poemas breves e sugestivos do poeta. Eles são uma espécie de diário de sensações e emoções, onde o sol, a praia, o corpo ou a morte adquirem uma posição central. Predomina um ambiente descritivo. Horizontal.

Com o primeiro poema – “Este é o cemitério dos meus dias: Aqui os sepulto, um a um, pormenorizadamente.” – se estabelece o enquadramento de um seu  livro (“o sol pôs-se calmo sem me acordar”), de onde retirei os sete outros poemas sobre que trabalhei.

A forma geral da peça é, em consequência, muito simples. Cada poema é um lugar único. Daí o seu tratamento individualizado, assumido ao nível do tratamento da voz e das sonoridades adjacentes. Como traço de união, estabelecendo o fio que tece estes vários momentos breves, há uma textura simples e neutra, algo mecanicista e abstracta, no início apresentada pelo piano e lá mais para diante assumida pelas cordas, até aparecer em sobreposições elementares, em jeito de “stretto”, antes do fim.

A linguagem é descomplexada e livre. (Nunca me preocuparam muito as matrizes, as escolas ou as famílias. Muito menos os rótulos.) Os intervalos de segunda maior e de trítono desempenham no entanto um papel central na definição dos perfis horizontal e vertical, bem como na ambiência de diversas texturas.

Encomendada pelo Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, esta obra é dedicada a esta formação histórica da música contemporânea portuguesa.

Fernando C. Lapa

 

 

 2003

 

El vaso reluciente                                    Clotilde Rosa

Sobre soneto de L.Vaz de Camões

 

Soprano, fl, cl, vln, vla, vlc, harp e pno