Como sempre, o Zac acordou bem cedinho para correr. Era hábito. O relógio dele despertava às oito da manhã, ele colocava um short mais justo, uma regata e ia correr no parque cotidianamente. Ele tinha visto o Taylor chegar no meio da noite, por isso ficou meio preocupado com o irmão porque ele não parecia nada bem. Depois de pronto para sair, foi até o quarto do Taylor, abriu a porta devagar e entrou. Logo já sentiu o bafo que estava lá dentro. Não tinha uma janela aberta e o lugar estava fedendo a cigarro e bebida alcoólica. Fora o Taylor que estava dormindo jogado, de sapatos, com a roupa do dia anterior, os cabelos nos olhos e a boca aberta para respirar. Ele estava com o nariz entupido. Devia ter pegado uma gripe com o vento da noite passada.

- Tsc, tsc - o Zac sussurrou. - Esse quarto está fedendo.

            E indo até a janela, abriu com tudo as cortinas e as vidraças.

- Bom dia - o Zac berrou.

            O Taylor se encolheu todo na cama na mesma hora. Resmungava baixinho para o Zac fechar tudo, porque ele não tinha voz para gritar por causa da dor de garganta que sentia. E como se fosse derreter com a luz do sol ou algo do tipo, o Taylor se jogou no chão e colocou a cabeça embaixo da cama.

- Tay, sai daí.

- Porra, Zac, eu estava dormindo - ele resmungou.

- Você está fedendo. Você vai tomar um banho agora.

            O Taylor não respondeu.

- Tay?

            De novo sem resposta.

- Taylor?

            E mais uma tentativa:

- Jordan Taylor Hanson?

            Silêncio. Nem um movimento. O Zac se encheu. Agachou e tirou o irmão dali arrastado, tomando apenas o cuidado de não lhe arrancar nenhuma parte do corpo. O Taylor tinha apagado de novo. Colocou-o na cama e deu uns tapinhas no rosto dele.

- Tay? Tay?

            Nada. Colocou a mão embaixo do nariz dele.

- É, está respirando.

            Não adiantava, o Taylor estava apagado mesmo. Mais morto do que vivo, mas ainda assim, só dormindo. O Zac deu umas chacoalhadas, mas a única coisa que conseguiu foi um ronco e uma virada de costas. Ele desistiu de acordá-lo e foi correr.

- Querido, não vai comer primeiro? - a Diana perguntou quando viu o Zac passar pela cozinha.

- Não, mãe. Valeu. Eu corro primeiro porque aí, quando eu volto...

- ...você está mais disposto e propício a comer coisas mais saudáveis. É, eu sei disso - a Diana completou.

- Então até daqui duas horas - o Zac falou, beijando a mãe na testa.

            O Zac estava com 16 anos e a banda Hanson já tinha acabado fazia mais ou menos quatro meses. Mas volta e meia aparecia alguma xaropinha pedindo autógrafo. O Zac odiava isso de morte. Isso conseguia acabar com o dia dele. A única vantagem que ele via nessas situações era que agora, ele podia ser grosseiro e estúpido com cada uma delas, exatamente como sempre quis ser. E melhor: sem ter de dar satisfação nenhuma para jornal nenhum.

            Já fazia uma hora que o Zac estava correndo. Não estava nem suado direito ainda. Ele levava uma garrafinha de Gatorade numa espécie de bolsinha que ele carregava, junto do celular e outro prendedor de cabelo, caso o que ele estivesse usando arrebentasse. É que o Zac tinha muito cabelo e de vez em quando, os lacinhos dele arrebentavam, assim, de repente. E quando isso acontecia, era até engraçado porque o negócio voava longe.

            O Zac era muito conhecido entre as meninas principalmente por um dia ter sido famoso. E como o irmão, era um catador de primeira. Mas com o Zac tinha que ter pelo menos um pouquinho de sentimento, pelo menos um "a fim" ele tinha que estar sentindo pela garota. O que já não era quesito básico para o Taylor quando este ia à caça.

            Estava vindo uma garota de shortinho e top, passeando com o cachorro. Quando avistou o Zac, ajeitou o cabelo e fez pose.

- Hello, Zac - ela disse, toda sorridente.

- Hey... girl - frio.

            Ele não era muito bom para lembrar nomes.

            A musiquinha do celular dele começou a tocar. Era aquela de cavalaria.

- Alo? - ele falou, ainda correndo. - Ah, oi Deborah. Agora não posso falar. Tchau - desligando o telefone na cara da coitada da garota. Ao contrário do Taylor, o Zac não era exatamente a etiqueta em pessoa.

             Em casa, Clarke Isaac Hanson, o mais velho dos três, ajudava o pai com algumas coisas na garagem. Ele sempre quis poder fazer essas coisas de gente normal, com tempo, sem ter de sair correndo para uma entrevista ou voar para algum show. O Isaac gostava de coisas manuais. E também gostava de ler, entender o porquê das coisas exatamente como elas são e estudá-las se fosse preciso. O melhor amigo do Isaac era o livro. Sim, foi isso que você ouviu. Essa frase que a professora da sua escolinha te fazia engolir e que você pensava "como uma merda de livro pode ser amigo?". Mas o Isaac não pensava assim. Ele lia o dia todo. E quando eu digo que o livro era o melhor amigo, acredite, eu sei o que eu estou dizendo.

- Que horas o Taylor chegou ontem? - o Walker perguntou.

- Não vi - o Isaac respondeu, distraído.

- Não gosto daquele George.

- Você não gosta de nenhum dos nossos amigos, pai.

- Isso não é verdade - o Walker retrucou, meio grosseiro.

            O Isaac apenas o olhou com aquela cara de "Pai, você sabe que sim". O Walker voltou a fazer o que ele estava fazendo.

- Ikeeee! - alguém gritou lá de fora.

            O Isaac colocou a cabeça para fora da garagem para ver quem era. E acenou ao ver que era a Patty.

- Patty! Oi!

- Tá ocupado aí? - ela gritou da rua.

- Espera, já estou indo! - voltando então para dentro da garagem para limpar as mãos.

            Não, essa não era a namorada do Isaac. A Patty era uma das amigas que ele mais gostava. Não vou falar a melhor amiga porque, como eu já disse, o melhor amigo dele era o livro. E também, eles se conheciam há pouco tempo. Ficaram amigos por casualidade. Esses momentos da vida em que você está no mercado, ou cortando a grama do seu jardim, ou quando a sua bola cai no vizinho, você pede para ir buscar e acaba fazendo um novo amigo... Enfim. O Isaac era mais sossegado por ser o mais velho e por já ter passado daquela fase có-có que os irmãos mais novos estavam enfrentando.

- Mas e aí, Patty? Como você está? - ele chegou perguntando.

- Tô ótima. E você? - ela respondeu toda sorridente. A menina era o sorriso em pessoa.

- Tudo bem - ele sorriu. - Vai fazer o que hoje?

- Ainda não sei. É que essa cidade tem taaaanta coisa pra fazer, né? - ela falou de um jeito engraçado.

- Faz seguinte, eu te ligo hoje pra nós sairmos à noite. O que você acha?

- Beleza, Ike. A gente se fala mais tarde então.

            A Patty acenou e saiu. A Patty era assim. Um sorriso em cima de duas pernas. Ela estava sempre sorrindo, era extremamente simpática e cativava fácil. E o mais bonito dela era que o fato de ela ser muito feliz não irritava porque não soava falso. Era natural demais para soar falso.

- Quem era aquela japonesinha faceira? - o Walker perguntou. Ele era meio urtigão, tinha uns jeitos ignorantes de perguntar coisas. O Isaac nem ligava mais para isso.

- Minha amiga Patrícia.

- Namorada?

- Minha amiga Patrícia, pai - o Isaac repetiu.

- Vai fundo, filhão.

            O Isaac nem respondeu aquele comentário.

            O Zac já estava correndo na rua de casa, quase chegando, com o corpo pingando de suor e os músculos das pernas e braços todos inchados. Parou para tomar mais um gole do Gatorade e para ajeitar o cabelo em um rabo de cavalo mais apertado. A Patty estava vindo pela rua e viu o Zac. Reconheceu-o como irmão do Isaac.

- Olá - ela disse, sorrindo.

- Hey - ele ensaiou um sorriso. Sabia que era amiga do irmão mais velho e já tinha o ouvido falar que ela era muito legal.

- Tá precisando de um banho, hein? - ela brincou.

- É.

            A Patty sorriu. E continuou:

- Ah, hoje à noite eu, o Ike e mais um pessoal vamos sair. Se você quiser ir junto...

- Vão aonde? - ele perguntou, cruzando os braços.

- Ainda não sabemos. Você tem alguma idéia?

- Barzinho seria legal - ele respondeu, bem seco.

Se o Zac estava conversando trissílabos, é porque ele tinha ido com a cara da Patty. É que ela não era o tipo de menina que não falaria com o Zac por medo de ele ser grosseiro só porque era popular. Não a Patty.

- Bom, à noite eu ligo para o Isaac e vocês combinam alguma coisa. Agora eu tenho que ir. Até depois, Zac - ela sorriu.

- See ya  - o Zac até sorriu dessa vez. Do jeito dele, mas sorriu.

            Antes de ir para casa, ele passou na casa de um amigo e chegou na sua só para o almoço. Estavam todos já se arrumando para comer. Só o Taylor que ainda não tinha levantado.

 

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