A janela do quarto do Taylor estava aberta e um ventinho frio começou a
entrar e bater nos cabelos dele. Sentindo isso, começou a se mexer e a respirar
fundo. E devagarzinho, ele foi acordando. Abriu os olhos e coçou a cabeça,
ainda tonto de sono. Molhou os lábios e engoliu. Então sentiu aquele gosto
horrível em sua boca. Gosto de quem acorda com ressaca.
Estava
com uma sensação terrível no corpo, parecia que tinha sido atropelado ou
levado muitos socos na barriga. Tudo doía, tanto por fora, como por dentro. A
sua garganta estava podre.
-
A...a...aaa... ATCHIM!
Ótimo,
estava gripado também.
-
Pelo menos, eu estou vivo - falou sozinho, limpando na calça os vestígios do
espirro em suas mãos.
Olhou a sua volta, para tentar se localizar e percebeu que estava no seu
quarto. Passou as mãos pelos cabelos e os sentiu meio grudentos. Olhou-se.
Estava com a roupa de ontem e até os sapatos ele ainda usava.
-
Cara, eu preciso tomar um banho.
Olhou no relógio e viu que já era quase seis da tarde. E sentindo-se
como se fosse quebrar ao meio a qualquer movimento brusco, o Taylor levantou com
todo o cuidado. Mas ao colocar um pé no chão, sua cabeça latejou muito forte.
-
Puta que pariu! - gemeu de dor e caiu sentado na cama novamente.
Nisso, alguém abre a porta gritando coisas que soavam incrivelmente
altas no ouvido do Taylor e massacravam o seu cérebro destruído pela ressaca.
Não enxergava direito; via um vulto grande e sentiu a força do tal alguém
quando este o pegou pelo braço. Só podia ser uma pessoa neste mundo:
-
Zac! Porra, o meu braço! - o Taylor gritou.
-
Você não tem vergonha, não? - o Zac falou. - Olha o teu estado! Vai tomar um
banho agora!
O Taylor não estava vendo absolutamente nada nítido, não sabia para
onde estava sendo levado e entendia 0,5% do que o irmão mais novo berrava. A única
coisa que estava bem clara para ele eram os latejos que repercutiam em sua cabeça
a cada berro do Zac. Parecia que tinha colocado o cérebro dele num daqueles
pratos sonoros orientais gigantescos e tocado o instrumento com toda a força.
-
Zac, a minha cabeça, pelo amor de Deus... - o Taylor falou com voz de choro.
Ele gritava mais algumas coisas e o Taylor continuava sem entender. E, de
repente, ele sentiu aquilo que o fez entender tudo e mais um pouco. Aquela água
fria na suas costas e, logo depois, pelo seu corpo todo. E o Taylor compreendeu:
o Zac era um filho da mãe.
-
Você só sai daí quando voltar a ser gente de novo - o Zac falou.
O frio agora era a única coisa que o Taylor distinguia. A água gelada
molhava-lhe o corpo quente e febril, fazendo o Taylor perder a respiração.
Abria a boca para pegar ar vez ou outra. Lentamente, sua vista clareava e seu cérebro
recuperava suas funções. Não é que aquilo era bom? Depois que o Taylor
acostumou com a água, sentiu até a sua audição melhorar. O que incomodava
era a aguaceira dentro dos sapatos, mas isso era o de menos, considerando o bem
estar que aquela água gelada estava proporcionando.
O Taylor ficou lá parado, sentindo a água tirar toda aquele resto de
noitada dos ombros dele, por mais ou menos uns vinte minutos. E o Zac ali do
lado, cuidando para que ele não caísse ou desmaiasse ou voltasse a dormir.
Pegou o frasco de xampu e derramou um pouco sobre a cabeça do Taylor.
-
Vai, esfrega - o Zac falou.
E de um jeito bem mole, o Taylor começou a espalhar o xampu pelos
cabelos.
-
Tá se sentindo melhor? - o Zac perguntou.
-
É - o Taylor respondeu muito baixinho. O Zac deduziu que ele havia dito um
"sim" ou qualquer palavra do gênero.
A Diana apareceu na porta do banheiro.
-
Nossa - ela exclamou ao ver o filho daquele jeito.
-
Ele já está melhor, mãe - o Zac falou.
-
Onde foi que eu errei, meu Deus... - a Diana perguntou, olhando para cima, num
tom sarcástico.
-
Ah, mãe... o Tay só se empolgou um pouco com a bebida ontem.
-
Sei.
-
Ele precisa do seu apoio agora mais do que nunca - o Zac falou, com aquele ar de
família-feliz-onde-todos-se-ajudam.
-
Ser mãe é padecer no paraíso... Nada tão certo quanto esta frase. Eu só não
sei que paraíso é esse que tanto falam - ela lamentou.
-
"Se você pensa que bandaid é modess, bandaid não é modess não..."
- o Taylor cantou.
-
Eu vou fazer um café forte pra ele - a Diana suspirou.
-
Valeu, mãe - o Zac disse.
-
"...bandaid tapa buraquinho e modess tapa buracão" - o Taylor
terminou a musiquinha.
Depois que o Taylor saiu do banho, voltou a raciocinar direito. Foi para
o quarto e tirou a roupa suja, que agora estava encharcada. O Zac foi para a
cozinha buscar o café do irmão. Ele apanhou aquelas roupas sujas para colocar
para lavar. Desceu as escadas da casa e chegou na área de serviço.
-
Andou farreando, é Seu Taylor? - a Gina, empregada deles, falou.
-
Oi, Gina - ele sorriu, meiguinho. - Ah... Não foi nada assim tão grave dessa
vez.
-
Claro que não. Você está com essas olheiras e branco desse jeito por quê então?
-
Ok, ok... Talvez eu tenha exagerado um pouquinho.
-
Dear, você tem que tomar mais
cuidado.
-
Prometo que não faço mais, Gina - ele sorriu e beijou a mulher na testa.
-
Você sempre diz isso - ela lamentou.
Entrando na cozinha, o Taylor já deu de cara com o seu café bem forte e
sentou para tomar bem devagarzinho.
-
Ai, tá quente - ele disse, abanando a língua.
-
Queimou, filho? - a Diana perguntou, preocupada.
-
Só um pouquinho.
-
É pra aprender a não chegar mais em casa nesse estado.
-
Sorry, mom.
-
Taylor, quantas vezes eu já te disse que não é pra você beber?
-
Mas eu não bebo muito, mãe. Só de vez em quando que eu dou uma exagerada.
-
Eu sei, filho. Mas poxa, mesmo assim. Eu fico preocupada.
-
Tudo bem, Dona Diana. Eu não chego mais em casa assim - ele sorriu.
Ela sentiu um alívio e beijou o Taylor na bochecha.
-
Agora vá se trocar que nesse tempo que você estava dormindo, ligaram mais ou
menos umas 20 meninas.
-
Ah, ok. Eu preciso ir mesmo. Minhas namoradas me esperam - o Taylor brincou.
-
E vê se não me aparece com ninguém grávida aqui, hein?
-
Pode deixar, mãezinha - beijando a Diana no rosto. - Tchau.
-
Não vai tomar o café? - ela gritou para o filho que já estava subindo as
escadas.
-
Não quero mais, obrigado!
-
É, Diana... Ninguém mandou ter tanto filho bonito - a Diana pensou alto,
colocando a xícara de café metade cheia na pia.
O Isaac entrou no quarto enquanto o Taylor estava se arrumando.
-
Oi, Tay. Finalmente acordou.
-
Pois é... - concentrado no visual arrasador que ele estava prestes a criar. - Tá
a fim de sair? - o Taylor perguntou.
-
Eu vou sair com a Patty e um pessoal. Acho que a gente vai a um barzinho, não
sabemos ainda.
-
Ah, ok. Eu vou chamar o Zac pra ir comigo.
-
O Zac é o seu companheiro de noitada - o Isaac comentou.
Nisso, o próprio entra no quarto.
-
Hey - o Zac cumprimentou. - Nossa,
Taylor. Mal se recuperou da noite passada, já tá saindo de novo?
-
Eu não sei ainda o que eu vou fazer. Vou ligar para o George.
O celular do Taylor toca. Ele atende, fala rapidinho com o George e já
desliga.
-
Pronto. Já tenho o que fazer hoje. Vai ter uma festa na casa de uma garota aí
- o Taylor explicou, ajeitando o cabeloo no espelho. - Tá a fim, Zac?
-
Nah... Eu encontrei com aquela amiga do Isaac hoje na rua, a Patrícia, e...
-
Ah, encontrou? - o Isaac interrompeu.
-
Encontrei e ela me convidou para sair com vocês hoje à noite.
-
'Cê não vai comigo então? - o Taylor perguntou.
-
Nem vou - o Zac respondeu. - Eu tô meio preocupado é com o meu cabelo. Eu
odeio quando ele pega cheiro de cigarro.
Agora você imagine, um marmanjo que mais parecia um armário de tão
grande, com a voz muito grossa, falando que está preocupado com o cabelo.
-
Zac, você sempre saiu à noite e nunca se preocupou com o seu cabelo - o Taylor
disse, enrugando a testa.
-
Mas tô me preocupando agora, oras.
A Patrícia estava em casa, cantarolando, vendo umas roupas legais para
sair. Lembrou de ligar para o Isaac. Quando estava procurando pelo número na
agenda, lembrou do encontro com o Zac à tarde.
-
Fala sério, aquele garoto me odiou... - ela falou sozinha. - G...H...I...
Isaac. Achei.
Discou os números e lá na casa dos Hanson, o próprio atendeu.
-
Alo?
-
Eu gostaria de falar com o Isaac. É a Patrícia.
-
Oi, Patty, tudo bem? - o Isaac falou educado.
-
Ah, oi, é você? Pensei que fosse algum dos seus irmãos. E aí, vamos sair ou
não?
-
Vamos sim. Barzinho?
-
O que você quiser - a Patty sorriu.
-
O Zac me contou que você o convidou pra ir também.
-
Ah é, convidei. Ele vai? Porque ele não precisa ir se ele não quiser, quer
dizer, seria legal se ele fosse porque quanto mais gente melhor, mas ele vai se
ele quiser. Eu quero juntar uma galera, sabe.
-
Você sempre junta quando é pra gente sair - o Isaac riu. - E o Zac vai sim.
-
Que legal! - a Patty se empolgou. Tinha certeza de que tinha dado fora com ele.
- Puxa, eu pensei que ele não iria querrer ir com a gente. Pode convidar mais o
seu outro irmão também, se quiser.
-
O Taylor? Não, ele já tem outra festa pra ir.
-
Ah, que pena. É até bom porque eu só o vi umas duas vezes na vida. Ele
poderia achar que eu sou abusada - ela brincou.
O Isaac riu. Combinaram mais algumas coisas e desligaram o telefone.
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