TI-TI-TI  TI-TI-TI. Oito horas em ponto despertou o relógio. E lá ia o Zac mais uma vez para a sua jornada matinal de Cooper. Ele adorava aquilo, não tinha jeito. A Diana às vezes pedia para ele "Filho, dorme pelo menos até às 10. É muito importante dormir, no mínimo, oito horas por noite". Mas não adiantava. A graça para o Zac era levantar bem cedinho, quando ainda não tinha muito sol e fazia aquele friozinho de leve.

            Ele colocou suas roupas apropriadas. Ao sair para ir até o banheiro, foi surpreendido pelo Taylor se arrumando para correr junto com ele.

- Você vai mesmo, é? - o Zac perguntou.

- Vou - o Taylor respondeu seco, olhando para baixo, arrumando seu short.

            O Zac estranhou aquela secura toda.

- Tá tudo bem? - ele quis saber.

- Tá.

- Então se apressa porque eu já estou saindo.

            Nada como resposta. O Zac sabia que o Isaac havia ficado esperando pelo Taylor noite passada. E se ele estava sério daquele jeito era porque tinha acontecido alguma coisa. E não tinha como não ficar preocupado. Tudo o que incomodava o Taylor incomodava automaticamente ao Zac também.

            Saíram correr depois de o Zac ter tomado um copo de iogurte natural e o Taylor ter comido uma fruta. Foram para o parque em silêncio. Enquanto se aqueciam, o Zac olhava para o irmão com o canto dos olhos e não dizia nada. Pensava no que poderia ter acontecido além de uma simples conversa noite passada para o Taylor estar calado daquela maneira. E perguntou:

- O que é isso na sua boca?

- Nada.

- Como nada, tem alguma coisa aí sim - o Zac insistiu.

- Nada, já disse.

- Taylor, fala.

- Nada.

- Será que eu vou ter que te dar uma porrada, Cumprido? - o Zac se irritou.

            O Taylor olhou para o irmão de novo.

- Não precisa, o Isaac já fez isso.

- Ah, o Ike te bateu, é?

- Bateu. E com razão, eu mereci - o Taylor continuou fazendo o aquecimento.

- Eu lembro bem de como ele ficou puto ontem quando ele soube de você e da Patty... Nossa, Tay, ainda bem que você não estava lá na hora. Ele ia te quebrar.

- A Patty está muito brava comigo? - ele disse, espremendo os olhos, com medo da resposta. O Zac balançou a cabeça positivamente, sentindo pelo irmão. - Que merda! - o Taylor gritou. - Eu só faço besteira mesmo!

- Não acha que tá meio tarde para você se ligar disso?

- Você não está ajudando.

- Mas Jordan, você vai lá, agarra a nossa melhor amiga em uma festa, bêbado, fica com outra na mesma noite e queria o quê? Que o Ike te abraçasse e gritasse "Viva Taylor, o Rei do Galinheiro" pra todo mundo ouvir?

- Você sabe que eu adoro a Patty. Eu nunca faria nada para ela se eu soubesse que ia magoá-la.

- É que você é um burro - o Zac disse daquele jeitinho delicado dele. - Aliás, você é muito burro! Você não tinha nada que ficar com a Patty! Você sabe como o Isaac é. Você sabia que se você a magoasse e ele descobrisse, você estava morto - brigou com o irmão.

- Tá, eu sei, mas eu estava bêbado ontem. Eu não fiz por mal.

- E foi beber por quê, então? Já disse pra você parar com isso. A vontade que me dá é de te encher de murro - o Zac disse, cerrando os dentes. - A mãe também não gosta quando você chega em casa naqueles estados deprimentes.

- Mas eu não sou uma pessoa ruim! Porra, eu tenho direito de ficar com quem eu quiser! E de beber o quanto eu quiser!

- Woohoo, Taylor pra presidente! Que declaração bonita - o Zac satirizou mais uma vez. - Guess what, dear brother? Você não tem "direito" - fez aspas com os dedos - porra nenhuma. E sabe por quê?! Porque isso não diz respeito só a você! Diz respeito a mim, ao Ike e a nossa família. E neste caso de você ter ficado com a Patty, diz respeito a ela também. Que ótimo que você queria dar uns beijos nela, mas você não tem direito algum de machucá-la só para satisfazer os seus desejos hormonais.

- Tá, eu já entendi. Eu não preciso de você pra me dar mais lição de moral.

            O Zac ficou quieto. E então disse:

- Ok, ok, desculpe. Mas é que eu fico puto de te ver fazendo as cagadas e acabando com a sua saúde.

            Aquela frase tinha saído tão sincera, que até fez um sorriso nascer no rosto do Taylor. Ele abraçou o Zac com força e deu um tapa nas costas dele. Então disse:

- Valeu, Zac.

- Êêê, que isso, alguém pode ver.

            O Taylor riu e se soltou dele. O Zac sorriu e com a mão no ombro do irmão, disse:

- Vai dar tudo certo, Tay, você vai ver.

- Thanks, dude.

- Então vamos correr? Eu não vim aqui pra conversar.

- Vamos sim. - O Taylor então olhou mais ao longe, pelos ombros do Zac. - A nossa platéia está olhando.

- Puxa, por que será que isso não me espanta? - O Zac pensou um minuto. - Ei, espera um pouco. Putz, eu não acredito! Elas viram aquele nosso momento família feliz. Merda.

- Ah, Zac, veja pelo lado bom. Elas não ouviram a parte em que você disse que tudo ia acabar bem - disse o Tay, rindo.

- É... Bom, pelo menos eu não disse que te amava nem nada fresco do tipo.

            Pegaram o ritmo e começaram as voltas pelo parque. As garotas estavam aos suspiros. Teve até uma mais sensível que chegou a chorar. O Taylor e o Zac juntos era algo bom de se ver. Na maioria das situações, eles tinham uma cumplicidade visível. Até mesmo quietos, pareciam estar se entendendo. Quando se era amigo próximo deles, essa ligação era claramente notável e causava certa inveja. Menos no Isaac, é claro, que tinha orgulho dos irmãos que tinha e dava uma de mais velho nos momentos mais sérios, que pediam mais maturidade.

 

...

 

            À tarde, depois de almoçar um delicioso prato de lasanha, o Ike decidiu que iria tirar a tarde toda para dedicar-se ao seu melhor amigo, o livro. Como ele gostava de ler. Era a única coisa no mundo todinho que o fazia abstrair, viajar, sair da realidade e esquecer dos problemas. Deitou-se no sofá-cama de seu quarto já com a obra escolhida em mãos. Era uma romance sobre uma mulher judia que suicidou-se e deixou marido e filha pequena. Isaac lia atentamente uma parte emocionante:

            "Não tardou para que os alemães começassem a revistar os imóveis em busca de judeus escondidos. Nenhum de nós se atrevia a respirar no esconderijo apertado e sem ventilação. Então, quando estavam subindo a escada do primeiro andar, o bebê da filha mais velha começou a chorar. Eu vi o olhar que ela trocou com o marido e o que ele endereçou à esposa. Minha avó ficou desesperada. Ao ouvir os alemães subirem a escada, disse: 'Você nos matou a todos, meu marido'. A mãe tapou a boca do bebê com a mão, mas não adiantou. O menino ficou mais irritado, como qualquer criança. O choro foi se tornando mais forte, até que seu marido, tomando o bebê, pressionou a pesada mão em sua boca, tapando-lhe as narinas. O garoto silenciou, sua pele ficou roxa. Ninguém disse uma palavra enquanto a criança morria ante os nossos olhos e os alemães vistoriavam o segundo andar. (...) Pouco depois, os nazistas estavam abaixo de nós, o latido dos cães mais frenéticos à medida que se aproximavam, farejando nosso esconderijo. Foi quando..."

- IKE!!

- AAAH! - o Isaac deu um pulo no sofá. - Que susto! Quer me matar do coração, Taylor?!

- Desculpe, mas eu já tô te chamando aqui há mó tempão.

- Eu tava lendo aqui... Cara, que susto... - resmungou.

- Eu quero falar com você - o Taylor disse.

- Justo agora que os alemães estavam para pegar a família Smithberg?

- Quê?!

- Tá, esquece... - O Isaac colocou o marcador na página e fechou o livro. - Senta aí. - O Taylor obedeceu. - What's up?

- Eu... Eu queria me desculpar. - O Isaac ficou quieto e deixou que o irmão prosseguisse. - Eu sei que o que rolou com a Patty te deixou bastante bravo. Desculpe. Eu não queria...

- Taylor. Não é pra mim que você tem que se desculpar. Eu sou seu irmão, eu tenho obrigação de amar você e te perdoar sempre, em todas as brigas.

            Silêncio.

- A Patty vai vir aqui hoje? - o Taylor perguntou.

- Não.

- Ah, ok.

 

...

 

            Não bastando a corrida pela manhã, o Zac decidiu andar após o almoço para fazer a digestão. E claro, aproveitar para dar uma olhada no movimento. A esperança que ele tinha era de encontrar alguma garota legal e com personalidade para que ele pudesse beijar. Coitado do Zac... A seca pela qual estava passando já começava a atrofiar o seu cérebro. A vontade que ele sentia de dar uns amassos em alguém era tão forte que estava quase partindo para o método do Taylor. Ele só pensava isso, mas nem considerava a possibilidade direito. Ele sabia que jamais conseguiria beijar uma daquelas Zigui Fridas que o irmão pop estava acostumado. Aliás, o Zac não entendia como o Taylor conseguia. O asco do Zackito por esse tipo de menina era tão grande que, cada vez que uma dessas sequer lhe dirigia a palavra, o seu humor era abalado seriamente.

            Foi quando o chamado aconteceu:

- DAAAVE!

            O Zac virou para trás para ver do que se tratava e só viu uma cara de alegre correndo em sua direção e o abraçando com muita força.

- Que saudades!! - a menina dizia, empolgada, enquanto o apertava pelo pescoço.

- Que é isso?! - o Zac disse, tentando se livrar da menina.

- Dave, sou eu, a Ló! - a garota, toda elétrica, falou.

- Ló? Ló?! Que espécie de nome é esse?! - o Zac estranhou, nada delicado.

- Ô Dave... Sou eu, poxa. Você não lembra de mim, não? - ela disse, segurando a mão do Zac.

- Garota, meu nome não é Dave. Dá pra você soltar a minha mão, por obséquio?

- Dave, o que é isso? Por que você tá fazendo isso? - a tal da Ló falou chateada.

- Porra, você é surda? Eu não sou a merda do Dave.

            Então o Zac livrou-se da garota e saiu puto, resmungando:

- Que louca.

- Eu sabia que você não era uma pessoa legal! Não é porque a gente ficou que você tem que me tratar assim! - ela berrou de longe. - Você disse que estava a fim de mim!

            O Zac nem se deu ao trabalho de olhar para trás. Só levantou o braço e mostrou o dedinho do meio para a menina, que ficou lá, no meio da rua, desconsolada, achando que tinha sido rejeitada pelo tal do Dave.

- Seja lá quem for esse Dave, eu tenho muita pena desse cara - o Zac falou sozinho.

- Eu te odeio! - a garota gritou.

- Foda-se - ele retrucou.

            "Eu, hein", o Zac pensou. Que garota estranha era aquela. Ele não se recordava de ter ouvido um nome tão escroto como aquele. "Ló... Eu lá seria amigo de uma menina com um nome desses?!", ele voltou a pensar. Foi quando ele ouviu aquele choro. Fingiu não ter ouvido e seguiu o passo. Mas como todo ser humano, o Zac tinha uma pontinha de compaixão pelo próximo, por menor que fosse. Na verdade, o Zac quase nunca era gentil, mas isso era só o hábito que ele tinha de ser machão 24 horas por dia. Quem conhecia o Zac um pouco mais a fundo, sabia desse jeito dele de ser grosseiro. Mas quem o conhecia mais a fundo ainda, sabia à respeito da pessoa maravilhosa que ele conseguia ser quando largava a pose de Arnold Schuawzeneger.

            Ele parou, resmungou um palavrão e voltou para perto da menina, xingando todos os seres vivos do planeta e os amaldiçoando por respirarem sem ninguém chamado Ló perto deles.

- Tá, tá. Não precisa chorar também.

- Poxa, Dave, eu pensei que o que tinha acontecido entre nós dois tivesse sido importante para você - ela choramingou.

- Olha... Ló. Eu vou falar pela última vez e quero que você abra bem os ouvidos porque eu não vou repetir. Ok? - Ela fez que sim com a cabeça. - Great. Eu não sou o Dave. Meu nome é Zachary. Zac é o apelido. E não chega nem a rimar com Dave. Portanto, eu não posso, em hipótese alguma, ser ele. Porque eu nunca fiquei com uma garota com um nome tão, ahm, diferente como o seu e eu não lembro da sua cara. E nem beber eu bebo, o que você poderia até usar como uma explicação.

- Mas... Mas... Como? Eu tenho certeza que... - O Zac fez sinal com a mão para que ela parasse por ali porque ele já tinha se enchido daquela história de Dave. - Tá, desculpe. Eu já entendi que você não é ele.

- Ótimo. Então pára de chorar, por favor. Eu... Eu não curto ver mulher chorando - o Zac falou meio baixo, como se aquilo o inferiorizasse.

- Desculpe, Dav... - O Zac olhou com cara feia. - Quer dizer, Zachary. Eu não queria ter incomodado. Eu só... Eu só queria o Dave. É que a gente ficou há quase um ou dois meses atrás e foi tão bom... E você é tão parecido com ele.

- Ih, vira esse brilhinho no olho pra lá.

- Desculpe...

            A garota parecia realmente desolada. E mais uma vez, o ladinho boa-pessoa do Zac entrou em ação:

- Quem sabe você não encontra com ele por aí?

- Acho que não... - ela disse, com os olhos cheios de lágrimas novamente. Aquilo cortou o coração do Zac de novo.

- Você quer dar uma volta? Quer dizer, só para... procurar um pouco.

            Ela riu.

- Pô, 'brigada. Eu gosto muito dele, sabe Zachary? Eu lembro que, quando a gente ficou...

- Mas a condição é você não ficar me enchendo com detalhes de vocês - ele falou grosseiro.

- Ah, claro. Desculpe de novo.

            O Zac deu um sorrisinho amarelo.

- E então, Zachary? O que você faz da vida?

- Eu corro.

- Corre? Mas isso todo mundo não faz?

- Todo mundo faz. Eu tô falando que correr é o que eu faço melhor neste momento da minha vida.

- Você não é exatamente o que se pode chamar de prendado, não é mesmo?

            Ele só a olhou sério, daquele jeitinho sutil tão característico do Zackito.

- Tá, tá, desculpe - a Ló pediu.

- Bom, eu acho que a gente já procurou bastante. Eu vou indo pra casa.

- Mas a gente só está andando a uns dois minutos.

- Então, o bastante.

            O Zac então parou de andar. E disse:

- Na verdade, eu não sou muito de falar com estranhos. Acho que hoje foi o dia que eu mais falei na minha vida, então... Chega.

- Beleza. E ó, obrigada e desculpe por tudo.

- Tudo bem. Esquece. Então, tchau. Tomara que você ache o Dave.

- Valeu, Zachary.

            E numa atitude que o Zac não esperava, a menina o beijou no rosto muito simpática. Ele se assustou, ficou um pouco sem jeito, deu um sorrisinho e foi andando.

- Garota estranha... - ele falou sozinho, enquanto caminhava para casa.

 

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