Fazia duas
semanas que a Patty não ligava para a casa dos Hanson. Sendo assim, fazia duas
semanas que ela não falava, via ou tinha qualquer notícia de Taylor Hanson.
Bom, era inevitável ouvir o seu nome vez ou outra na boca das suas amigas, já
que ele continuava no posto de mais perfeito dos seres humanos; mas vê-lo e
ouvi-lo, fazia algum tempo que não acontecia. A Patty até conversava de vez em
quando com o Isaac e com o Zac, quando estes passavam na casa dela para vê-la.
Sair com eles só mesmo quando estes prometiam que o Taylor não iria estar
junto ou por perto. Ligar então, nem pensar! Ela não queria correr o risco de
o Taylor atender ao telefonema dela. Só de pensar em ter algum tipo de contato
com o garoto, a Patty já ficava arrepiada. E só de lembrar que tinha sido
tratada como mais uma das quaisquer com que o Taylor estava acostumado, o seu
estômago revirava de revolta e mágoa.
Nada
para fazer. Era esse o probleminha que a Patty enfrentava sentada frente à TV,
mudando de canal, sem prestar atenção em nenhum deles. Pensou em ligar para o
Isaac para fazerem algo, mas mudou de idéia na mesma hora ao lembrar que Taylor
habitava a mesma casa do amigo. E falar com o Taylor era a última coisa de que
ela precisava naquele momento. Mas o tédio... Putz! Não era um tédio
qualquer, era um puta tédio. Daqueles muitos xaropes mesmo.
-
Existem 9 pessoas naquela casa. Por que haveria de ser justo o Taylor a atender
ao telefone? - ela falou sozinha, pegando o aparelho sem fio, bem ao seu lado. -
Ah é, tem a Gina também. Dez. É lógico, ela quem vai atender. - Discou os números.
Enquanto ela ouvia os "TU...TU...", tratou de limpar a garganta para
garantir que sua voz saísse diferente, caso fosse o dito cujo que pegasse no
gancho. Os três irmãos tinham vozes muito parecidas ao telefone e a Patty
queria ter certeza de que não daria foras.
-
Alo?
-
Quem é? - a Patty perguntou.
-
Quer falar com quem?
-
Quem está falando? - ela insistiu.
-
É mais fácil você dizer com quem você quer falar - impaciente.
-
Ah, já sei quem é. Oi, Zac, é a Patty.
-
Patty, oi.
-
Tudo bom?
-
Tudo ótimo e você?
-
Também - ela respondeu, aliviada e feliz.
-
Por que você não falou de uma vez que era você?
-
Para caso o Taylor atendesse. Eu não quero falar com ele.
-
Mmm... - ele pensou um segundo. - O seu plano foi bem sucedido, mas também não
foi.
-
Por que está falando isso?
-
A sua voz realmente ficou irreconhecível.
-
Ah, obrigada - ela riu.
-
Mas... O único problema é que aqui não é o Zac. É o Tay.
A
Patty gelou. Bem que ela tinha estranhado aquele jeito de falar difícil. O Zac
não fala difícil! Ai, burra, burra, burra!
-
Ah, oi Taylor. Chama o Isaac para mim, por favor? - ela mudou o tom de voz na
mesma hora, mas sem deixar de ser educada.
-
Patty, conversa comigo, vai.
-
Eu quero falar com o Isaac.
-
Fala comigo, Patrícia Futemma. A gente precisa conversar.
-
Não.
-
Como não?
-
Não, oras.
-
Patty, eu costumo ser persistente.
-
E eu teimosa.
-
Até quando você pretende ficar sem falar comigo?
-
Mmm... Analisando o que você fez, uma eternidade soa justo pra mim.
-
Você está sendo infantil.
-
Olha só quem fala, Senhor
Fico-com-duas-ao-mesmo-tempo-pra-provar-que-eu-sou-macho.
-
Porra, pára de me responder e fala comigo direito.
Silêncio.
-
Desculpe - ele pediu. - O "porra" saiu sem querer.
-
Nem sempre o que a gente diz ter feito sem querer, foi feito sem querer mesmo.
-
What are you trying to say?
-
Interprete como você quiser.
-
Você vai me ouvir ou não?
-
Agora não.
-
Quando então? - ele perguntou automaticamente.
-
Eu não sei se eu quero falar com você sobre isso.
-
A gente não precisa debater o assunto. Eu só estou pedindo uma chance para me
explicar.
A
Patty ficou quieta um tempo.
-
E aí? - o Taylor perguntou.
-
Tá, depois eu vejo quando. Agora deixa eu falar com o Ike.
-
Que dia?
-
Eu já disse que depois eu penso.
-
Amanhã?
-
Taylor!
-
Eu disse que era persistente.
-
Tá, amanhã.
-
Eu passo na sua casa de carro e a gente vai para algum lugar.
-
Whatever...
-
Agora você já pode falar com o Isaac.
-
Finalmente.
-
A minha persistência venceu a sua teimosia.
-
Vai se foder, garoto.
-
See ya tomorrow. Bye
bye.
O
Isaac chegou logo que ouviu o chamado do irmão. Taylor disse que era a Patty e
saiu do quarto, todo sorridente.
-
Oi, Patty.
-
Oi, Ike.
-
Tudo bem?
-
Tudo e você?
-
Também. E aí, qual o motivo da sua ligação? - ele quis saber, simpático.
-
Olha, nem sei mais... Deixa pra lá, acho que era só para dar oi mesmo. Eu
tenho que ir agora. Tchau - desligando o telefone. O Isaac ficou segurando o
aparelho um tempo, sem entender nada.
...
Dia
seguinte, logo após o almoço, lá estava o Taylor indo para a casa da Patty.
Como ainda estava um pouco cedo, ficou rodando pelos bairros próximos para
fazer hora, ouvindo Dire Straits no último
volume. A
música era Walk of Life. Ele
estava empolgado porque finalmente teria a sua chance e poderia voltar a
conversar com a Patrícia normalmente. Ninguém no mundo sabia do quanto ela
tinha feito falta nessas duas semanas. Não comentou sobre o assunto com ninguém.
Nem com os irmãos. Ficou, durante estes dias, tomando coragem para ligar para a
Patty, pensando em mil maneiras de ir até ela para conversar, mas sempre
acabava desistindo na hora de tomar a atitude. Aliás, se não fosse ela ter
ligado e conversado com ele sem querer, talvez eles estivessem sem se falar até
agora. O Taylor sentia-se muito feliz. Cantava a música muito alto, dirigindo,
jogando os cabelos para os lados, pois estes não paravam de cair em seu rosto.
A
casa da Patty ficava no final da rua. Parado no sinaleiro, esperando pela luz
verde, o Taylor já avistava o azul escuro do telhado. Umas garotas passeando na
calçada gritaram algumas frases sugestivas, coisas do tipo "Ô gostoso,
tesudo" e "Taylor, me dá uma carona, eu vou pra qualquer lugar com
você". Mas como o Taylorzinho estava feliz demais para dar atenção a
esse tipo de pobreza, ele apenas disse:
-
Boa tarde, senhoritas - extremamente educado.
E
continuou ouvindo a sua musiqueta sossegado, sem sequer olhar novamente para
elas. Ele ainda ouviu uns comentários do tipo "Putz, eu fazia qualquer
coisa para dar uns beijos nesse cara". Mas ah, a Patty tinha aceitado
ouvi-lo. Que diferença a opinião dessas escrotinhas poderia ter na vida dele
agora?
Chegando
no final da rua, estacionou em frente à casa e buzinou. A Patty apareceu na
janela e fez sinal indicando que já estava descendo. Esses segundos de apenas
trocar um rápido olhar com Taylor e avisá-lo de que estava indo, foram os
suficientes para que ela relembrasse o quanto o garoto com que estava preste a
se deparar era bonito. Em seu carrão preto, os óculos na cabeça prendendo os
cabelos para que não caíssem em seu rosto, casaco preto de couro e regata também
preta por baixo, o Taylor fazia o tipo de sujeito que nascera completamente
seguro de si. Algo como eu confio no meu taco. E esse era o tipo de característica nata
dele que intimidava qualquer garota. A vantagem da Patty era ter consciência
disso e saber lidar com esse poder que o Taylor exercia em quem quisesse. Tal
domínio era tão natural que ele fazia sem perceber. Não tinha como não se
encantar com ele. Fala mansa, sorriso maroto, olhar intenso. Ele era uma lenda
na cidade. Diziam que ele era capaz de transformar uma lésbica em heterossexual
com uma simples piscadela. É, não tinha jeito, o Taylor era irresistível
mesmo. E era contra isso que a Patrícia precisava lutar. Ele tinha errado e
beleza não causa perdão automático. Escutar era o que ele precisava.
-
Oi - ela falou, entrando no carro.
-
Oi, Pá - receoso.
-
E aí, quer ir para algum lugar ou vamos ficar aqui mesmo?
-
Você está com pressa? - ele perguntou, com meiguice na voz.
-
Não, só quero resolver isso logo.
-
Ok. Let's
go then.
Segurando a chave na
ignição, o Taylor ficou olhando-a uns segundos. E sorriu. Só então ligou o
carro e foi dirigindo sem rumo certo. A Patty olhava a paisagem, vendo as
menininhas enxeridas passando e apontando para o carro preto dele, como se fosse
algum ponto turístico da cidade. Passou pela sua cabeça que à noite estariam
comentando sobre "Taylor estar passeando com uma garota em seu carrão
potente". E a Patty pensou em como aquilo tudo era ridículo. Ficou
tentando imaginar como aquele garoto lhe parecia comum antes de tudo isso ter
acontecido. Não via em Taylor o que as outras meninas viam. Concordava que ele
era lindo, muito atraente... Mas não conseguia vê-lo com todo o estrelismo que
colocavam sobre ele. "Talvez se elas o conhecessem, veriam a pessoa sensível
que o Taylor é. E também..."
-
Patty?
-
Ã? - ela acordou com o chamado do Taylor.
-
Está tudo bem?
-
Tudo, eu só estava pensando em umas coisas... - Percebeu então que o carro
estava estacionado em uma rua deserta, coberta de árvores grandes, que formavam
uma grande sombra.
-
Eu chamei você três vezes e você não ouviu. No que você estava pensando? -
ele quis saber.
-
Nada de importante. - Ela olhou a sua volta. - Que rua bonita.
-
É.
Silêncio.
A Patty tossiu, olhou pela janela, enquanto o Taylor tomava fôlego para começar
a se explicar. O Cd do Dire Straits continuava tocando, agora na música Latest
Trick.
-
Bom... Antes de eu estar perto de você ou lhe olhar nos olhos, eu achava que
tinha milhares de coisas a dizer. But
you know what? I don't.
Isso mesmo, eu não tenho tantas coisas assim para dizer. O que eu fiz não tem
muito que explicar. Eu sei que eu sou um filho da puta, que agi mal com você e
que jamais deveria ter trocado o seu beijo por o de outra menina. Até porque, o
seu beijo foi o mais incrível que eu já provei até hoje.
-
Você está mentindo - a Patty rebateu na mesma hora.
-
Eu não estava esperando que você acreditasse, mas é verdade sim. - A Patty não
disse nada. - Bom, mas como todo estereótipo de cara galinha, eu tinha que
ferir os sentimentos da única menina que era minha amiga e estragar tudo. Senão
eu não seria um cara galinha de verdade, não é? - A Patty sorriu. - Desculpe,
Patty. Eu não queria ter feito o que eu fiz. Estraguei toda a nossa amizade por
não pensar direito nas coisas que eu faço. Eu sempre arranjo umas dessas.
Falar sem pensar, agir sem pensar, beijar sem pensar. Dá para acreditar que
quando o Zac diz que eu sou um burro, eu fico bravo? - Um sorriso escapou dos lábios
da Patty. - Eu acho que ele está certo quando me chama assim.
-
Você só tem que aprender a diferenciar as coisas.
-
É, eu acho que sim. Desculpe, Pá. Nunca foi a minha intenção machucar você.
Doeu mais em mim do que em você. E eu posso dizer isso com toda a certeza do
mundo porque a porrada que o Isaac me deu, cara... - colocando a mão sobre o
machucado no canto da boca que estava cicatrizando.
A
Patty riu. E disse:
-
Tudo bem, esquece isso.
Um
sorrisão abriu no rosto dele. E perguntou,
não escondendo a alegria:
-
Sério?
-
Sério - ela sorriu.
Então
o Taylor a abraçou com carinho e a beijou no rosto.
-
Onde você quer ir agora?
-
Nós vamos a algum lugar?
-
Você não acha realmente que nós vamos ficar sem comemorar isso, acha? - ele
disse.
A
Patty riu de novo e respondeu:
-
Liga o carro e vamos indo. No caminho a gente vê.
-
Ok, gal - "Gal" era o mesmo que "girl", mas com
sotaque.
-
Quer ligar para o Isaac e para o Zac?
-
Não, só você e eu.
-
Oooook.
Eu
posso ouvir até agora o barulho do pneu do carrão do Taylor fritando no
asfalto. Isso provocou na Patty uma sensação inesperada de liberdade e um
grito foi a única coisa que lhe veio à garganta. Ele sorriu com a alegria da
amiga. E sentiu aquela sensação boa dentro dele só de ver o sorriso da Patrícia.
Naquela
tarde, o Taylor chamou a atenção de muitas meninas. E não demorou muito, o
seu celular começou a tocar e não parou mais. Era sempre assim quando a
mulherada descobria que Taylor Hanson estava fora de casa aprontando. Todas
queriam se candidatar a companheiras. Mas pela primeira vez ele não queria
saber quem podia estar lhe telefonando. Nem queria uma companheira que não
fosse a Patty.
Foram
então direto para a casa dos Hanson. O Taylor estacionou o carro e os dois
encostaram-se à traseira. Ele rodava as chaves nos dedos, enquanto a Patty
olhava para o nada.
-
Eu preciso beber alguma coisa - ela comentou.
-
Boa idéia - o Taylor falou.
-
O que foi que eu disse?
-
Vamos sair para tomar alguma coisa.
-
Tay, a gente já saiu demais. A gente foi no shopping, você comprou coisas para
mim, depois nós fomos na casa do George, depois fomos passear de carro pelo
bairro onde tem maior concentração de patricinhas só para eu poder zoar com a
cara delas, depois você me levou tomar sorvete... Eu amei cada segundo, agradeço
muito pelo great time que você me
proporcionou, mas agora chega, né? - ela explicou sorrindo. - Eu só quero uma
aguinha.
Por
algum motivo, o Taylor ficou completamente sem jeito. A Patty riu da cara dele,
o abraçou e disse:
-
Olha a hora, Tay, nós passamos o dia na rua.
-
É, eu sei - ele sorriu tímido. - Mas é que estava tão divertido.
-
Eu sei. Você viu aquela hora que eu gritei "Aê, Maria Mijona" para
garota de mini-saia? - rindo.
-
Nossa, eu quase bati o carro de tanto que eu ri.
-
Eu sei.
-
Eu já fiquei com aquela garota, sabia?
-
Jura? - ela fingiu espanto. - Nossa, Taylor, você? Com ela?
O
Taylor riu. E se explicou:
-
Quando nós ficamos, ela não era piranha daquele jeito.
-
Aaaahh... Puxa, que bom, né? Afinal, piranha não é a sua praia at
all.
-
Pô, Patty, você falando assim parece que eu sou um galinha qualquer - rindo.
-
Naaah, que isso, Tay.
Dava
para sentir como os dois estavam muito mais unidos do que antes. Dizem que
quando você briga com alguém, o que você tinha com esta pessoa é posto à
prova. Ou se fortifica, ou some completamente. Bom, pelo jeito, eles ficaram com
a primeira opção.
-
Bom, Tay, acho melhor eu indo.
-
Ah, já?
-
Por que fez essa cara de triste? A gente vai se ver daqui a pouco, não vai?
-
Vamos - ele sorriu. - Por que você não vem se arrumar aqui em casa?
A
Patty começou a rir.
-
Ué, o que eu disse de errado?
-
Tay, isso é coisa de menina.
-
Poxa, Patty, eu pensei que nós fôssemos amigas - o Taylor brincou, fazendo voz
de gay. Aí que a Patty riu mesmo.
-
Tay, assim... Eu sei que você quer reparar o seu erro, que você está se
sentindo mal, etc, etc e tal. Mas você não precisa fazer tudo isso.
-
Preciso sim. Eu errei muito feio com você. E também, eu não estou fazendo por
obrigação. É porque eu quero. Você se incomoda? - perguntou, daquele
jeitinho todo charmoso que o Taylor carregava em cada movimento seu.
-
Bom, você quem sabe. Eu vou indo então.
-
Vem, eu te dou uma carona.
-
Eu vou caminhando. Eu preciso emagrecer todas as porcarias que nós comemos
hoje.
-
Ah, ok - ele sorriu. - See ya later -
beijando a Patty no rosto.
O
Taylor entrou em casa, jogou as chaves na mesa e deitou no sofá macio da sala
de estar. Ouvindo o barulho tão característico, Gina entrou na sala:
-
Oi, Cumprido.
-
Oi, Gina - dando um pulo do sofá e indo até ela para beijá-la.
-
Estava aonde até essa hora? Já sei, não me fala. Com menina, não era?
-
É sim - ele riu.
-
Quando que você vai tomar jeito, Cumprido? Ficar iludindo as pobres mocinhas,
enchendo elas de esperança. Você é tão bonito, meu querido. Olha esse olhão
azul, mais parece pedacinho do céu.
A
cordialidade e o carinho estampados na voz da Gina fizeram com que o Taylor
sorrisse largo e que suas bochechas corassem. Ela o tinha como um neto querido,
como um sobrinho que adorava ter por perto para encher de mimos, como um ente
amado. Nem parecia que aquela relação tratava-se de patrão e empregado. A
Gina se preocupava com o Taylor e com o seu bem-estar da mesma maneira que uma mãe
o faria. O seu maior sonho era vê-lo apaixonado por uma boa menina, que
namorasse firme com ela e que esquece dessas histórias de beber e galinhar.
Bom, o Taylor estava tendo progressos...
-
E a sua corzinha de pêssego. Eu já te disse que a sua pele tem cor de pêssego,
Cumprido?
-
Já, Gina, já sim. Mas nessa sua descrição eu fico parecendo uma menina.
-
Você é a coisa mais linda e meiga desse mundo, Tay. Não pode magoar as
meninas porque daí, elas ficam ligando aqui desesperadas, chorando, alegando
estarem apaixonadas pelo meu Cumprido.
-
Elas não gostam do seu Cumprido, Gina. Elas são apaixonadas pelo Taylor que
tem o carrão preto, que já tocou em uma banda de sucesso e que, modéstia à
parte, manda muito bem. - A Gina riu. - O Cumprido mesmo, o verdadeiro Cumprido,
ninguém quer, Gina. Só você e a Dona Diana.
-
Mulherada burra essa. Mas e aquela japonesinha? Eu pensei que você estava com
ela.
-
A Patty? Pois é, a Patty... A
Patty é... Ela é
incrível, Gina. - Então suspirou lamentando. - Mas é só minha amiga.
-
Que pena. Ela me pareceu uma boa menina.
-
E ela é. É uma ótima companhia também. - Olhou então no relógio em seu
pulso. - Nossa, olha a hora. Eu tenho que me arrumar. Daqui a pouco eu vou sair.
-
O George ligou. Ele disse que ligou no seu celular, mas você não atendeu.
-
Ah, pois é. Eu não atendi o meu celular hoje durante a tarde toda.
-
Bom, então ligue pra ele, querido. E vá se arrumar e ficar bem bonito. Vai,
vai.
O
Taylor a beijou na testa e subiu as escadas correndinho. Discou os números do
telefone do George.
-
Alo?
-
Hey, partner.
-
Finalmente, Tayles. Liguei no seu celular a tarde toda, cara. Onde você estava?
-
Eu tenho só 19, George. Não preciso de uma esposa ainda - o Taylor brincou.
-
Shut up, dude.
O Taylor conversava
com o George caminhando pelo quarto. Sentou em sua escrivaninha e abriu umas
gavetas. O amigo contava-lhe sobre as aventuras que teve aquela tarde com sua avó
no shopping e o quanto aquilo havia sido humilhante para ele:
-
Todas as minas da loja ficaram olhando para mim com aquela cara de horror. Eu,
George Ford, indo às compras com uma senhora idosa no shopping mais bem freqüentado
de Tulsa. Era tudo o que eu precisava para que a minha reputação ficasse
perdida.
Silêncio.
-
Tayles? Você está me ouvindo?
Em
uma das gavetas, Taylor havia encontrado o par de brincos que comprara para a
Patty há um tempo atrás. Eram dois sóis sorrindo, muito simpáticos.
-
Taylor?!
-
Ããã? Quê?
-
Porra, Taylor, onde é que você tava?
-
Foi mal, George. Eu achei uma coisa aqui que nem lembrava que ainda existia.
-
E o que é? Playboy
da Cindy Crawford? G
Magazine?
-
Um brinco que eu comprei para a Patty há um tempão.
-
Ah, essa menina de novo...
-
Eu acho que eu vou dá-los para ela.
-
Ok, faça isso. Menina gosta de brinco. Elas ficam sensibilizadas e abrem as
pernas mais rápido.
-
George, porra, não fala assim da Patty! - o Taylor disse, nervoso. O George até
se assustou. - Lava a merda da língua quando for pronunciar o nome dela!
-
Tá, tá, desculpe.
Ficou
um silêncio muito ruim alguns segundos.
-
A gente vai aonde hoje? - o George finalmente perguntou.
-
Hoje eu vou sair com a Patty. A gente já combinou.
-
E vocês vão aonde?
-
Não sei ainda. O Ike e o Zac vão também. Se você tiver a fim de ir...
-
Tudo bem. Quando vocês decidirem o lugar, me liga avisando que eu vou com o meu
carro.
-
Ok.
-
See
ya.
-
Tchau. - O Taylor desligou o telefone.
Com
a caixinha ainda nas mãos, levantou-se e foi até o quarto do Zac. Chegando próximo
a porta, já se pôde ouvir o estrondo vindo de lá de dentro causado pelo
potentíssimo aparelho de som do Zackito. As caixas de som eram tão poderosas,
que parecia que o Lenny Kravitz estava fazendo um show particular no quarto do
garoto.
-
Zac, abaixa isso! - o Taylor berrou assim que entrou nos aposentos ilustríssimos
do irmão e o viu pulando e chacoalhando os cabelos com a música American Woman.
-
QUÊ?!
-
ABAIXA!
-
AH, OK!
O
Zac abaixou o volume e, com os cabelos todos desarrumados, disse:
-
Eu quero essa mulher da música. Que puta gostosa que ela deve ser.
-
E o que te faz pensar que ela iria querer alguma coisa com você?
-
Taylor, meu caro - ele riu cínico. - Você está diante do único cara de 16
anos neste mundo que consegue qualquer mulher. Nada é impossível para Zachary
Hanson.
-
Claro... Deve ser exatamente por isso que você não vê uma mulher há quase
dois meses.
-
Ah, cala a boca, Jordan.
O Isaac então entrou
no quarto.
-
Hey guys. - Surpreendeu-se ao ver o irmão do meio ali. - Taylor?
Nossa, resolveu aparecer? Ficou o dia todo fora.
-
Eu estava com a Patty.
Meio
ressabiado, o Isaac espremeu os olhos.
-
Calma, Ike. Eu só queria conversar com ela e me desculpar. E foi o que eu fiz.
-
Aaah... E já está tudo bem? - o Isaac perguntou, sorrindo.
-
Já - o Taylor sorriu também. - E eu estava querendo dar isso para ela.
Estendeu
uma caixinha para o irmão mais velho. O Isaac abriu, analisou o par de brincos
e disse:
-
Nossa, isso é a cara da Patty.
-
É, eu sei.
-
A Patty não tem cara de sol - o Zac protestou. - Ela tem cara de... Sei lá, a
Chun Li, do Street
Fighter?
-
Pensei que a sua fase de videogames já tivesse passado - o Isaac observou.
-
Recordar é viver - o Zac rebateu. O Taylor riu.
-
Bom, que seja. Voltando aos brincos... São bonitos, Tay. A Patty vai gostar
deles.
-
Você acha? Eu os comprei faz algum tempo e esqueci deles na minha gaveta. Achei
agora pouco e fiquei um pouco inseguro sobre dá-los a Patty.
-
"Dá-los". Fala sério, Taylor... - o Zac se irritou com a maneira
correta de o irmão falar.
-
Hoje nós vamos sair? - o Isaac perguntou.
-
O que é que tem eu falar "dá-los", Zac? - o Taylor só então se
ligou da provocação.
-
Fale "dar eles, dar pra Patty"... Que seja. Mas "dá-los"? This
is so fucking girly.
-
Puta que pariu, Zac, você é um merda - o Taylor se encheu.
-
What?!
-
Porra, você não dá um tempo!
-
Eu não dou um tempo? É você que fala "dá-los" só para dar uma de
espertão e eu que não dou um tempo?! Fuck
you!
-
Ai, ai... - o Isaac suspirou com os olhos fechados e levou a mão à testa. -
Será que alguém poderia responder a minha pergunta?
-
Quer saber, foda-se. Eu não vou mais sair - o Zac disse, puto.
-
Zac, não acredito - o Taylor falou.
-
E podem sair do meu quarto que eu quero ouvir música.
O
Isaac saiu logo que o irmão ordenou. Já conhecia de longe esses ataques de
"eu vou brincar de Lego no meu quarto e não vou deixar vocês
participarem". Às vezes, o Zac conseguia ser tão infantil, que perdia até
para o Mackenzie. Mas o Taylor, não. Ele ficava todo preocupado sobre ter
magoado o Zac, sobre ele estar bravo e sempre ficava um tempinho tentando se
desculpar ou fazê-lo mudar de idéia.
-
Zac, você não vai mais sair com a gente por causa disso?
-
Não vou. Agora sai, Taylor.
-
Por quê?
-
Porque eu odeio você.
-
Não é por isso.
-
Porra, Taylor, você sabe o quanto eu odeio ficar explicando as coisas!
-
É, mas agora você vai me explicar.
-
Não, eu não vou. Agora sai, porra!
Não
demorou muito, apareceu uma autoridade que teve sua atenção chamada pela
gritaria.
-
O que está acontecendo aqui? - o Walker perguntou, daquele jeito urtigão dele.
-
Nada, pai - o Isaac já se adiantou. - O Zac e o Taylor só estava discutindo
sobre quem tem o pinto maior. Coisa de homem, o senhor entende.
-
Ah... Eu me lembro bem dessa época... Na idade de vocês, eu fazia muito dessas
coisas também.
O
Taylor e o Zac se olharam e então encararam o irmão mais velho com aquela fúria.
Fúria de quem seria capaz de matar só com o poder da mente. Sabiam que o Isaac
tinha feito de propósito.
-
Eu já contei sobre como eu era garanhão na faculdade? - o Walker perguntou.
-
Já, pai. Umas duzentas e quarenta e nove vezes - o Zac disse.
-
Queriiiiiiiiido - a Diana chamou o marido.
-
Bom, não quero mais saber dessas brigas por aqui. Vocês são Hanson. E temos
que fazer jus ao nosso sobrenome. Portanto, todos vocês, chega de discutir esse
tipo de coisa. - Então, o pai saiu.
-
Isaac, eu não sei se eu te agradeço ou se eu te soco - o Taylor disse.
-
Cara, se ele contasse mais uma vez a história da vez que ele ficou com as gêmeas
na faculdade, eu juro que eu batia a minha cabeça na parede - o Zac falou,
sentando na cama.
-
E eu ia pedir para ele contar a das gêmeas e a do carro se vocês continuassem
com essa briga estúpida.
-
A do carro não! - disseram juntinhos.
-
Então vocês parem com essa putaria de briga! - Os dois ficaram quietos. - Vocês
às vezes parecem que têm algum distúrbio mental. Hoje vai todo mundo sair e
fim de papo.
Quando
já estava saindo do quarto, pode-se ouvir o Isaac resmungando:
-
Vocês precisam é ler mais, isso sim...
...
Então
ficou decidido que barzinho era o lugar que iriam naquela noite. Calmo, sem
gritarias, música ao vivo e que desse para conversar tranqüilamente. A Patty já
estava pronta, esperando na sua casa, com o seu vestido tubinho preto bááásico,
meia-fina preta e sapato de salto. Como ventava um pouquinho, optou também por
um casaquinho.
Logo
que ouviu a buzina do carro do Isaac, a Patrícia desceu. O Zac, que estava
sentado no banco da frente, saiu e deu lugar para a amiga.
-
As mulheres bonitas têm que ir na frente - o Isaac comentou, logo que ela
sentou-se ao seu lado, no banco do passageiro. A Patty sorriu e agradeceu o
elogio.
-
Você está muito bonita hoje, Patrícia Futemma. Acho que vou ser obrigado a te
vigiar. Não vou deixar que nenhum panaca se aproxime - o Taylor observou, com
um ar de machão.
-
Isso se as suas fãs te derem uma folguinha, né Tay? - a Patty disse.
Chegando
no local, o Taylor avistou o carro do George estacionado. Não demorou muito
para que o encontrassem logo ao adentrar o bar. Estava movimentado. O George já
havia reservado uma mesa com mais quatro lugares.
-
Hey people - o George cumprimentou, assim que se aproximaram da
mesa.
-
Hey partner. Você reservou uma mesa, sábia atitude - o Taylor
observou, sentando-se.
-
Pois é, sabia que se vocês demorassem muito, não haveria mais lugares.
O
Taylor sorriu. E ao ver que a Patty estava preparando-se para sentar longe dele,
apurou-se em dizer:
-
Patty, nem pense nisso. Você é aqui hoje - apontando para a cadeira vazia ao
seu lado.
-
Ok, ok - ela disse, rendendo-se.
A
noite tinha tudo para ser muito agradável, pois estavam todos animados. O
George chamou o garçom:
-
Traga para mim um Martini, por favor?
-
Para mim uma taça de vinho tinto - o Isaac pediu, aproveitando o embalo.
-
Patty, você bebe uma água sem gás comigo? - o Zac perguntou e a Patty
aceitou.
-
E o senhor? - o garçom perguntou ao Taylor.
-
Nada, obrigado.
-
Nada? - o George se assustou. - Taylor, você está em um bar, está tocando blues de fundo, garotas lindas por todos os lados e você não vai
beber nada?
-
Não - o Taylor respondeu, um pouco sem jeito com o estrondo que o melhor amigo
fez sobre a questão. - Hoje eu quero voltar andando para casa sem precisar do
ombro de ninguém para me apoiar.
-
Tay, mas... Você tem que beber. A gente não sai sem beber.
-
Não, ele não tem que beber merda nenhuma - o Zac interrompeu. - Essas
porcarias que vocês tomam só fode com todo o organismo. Faz mal. Agora que o
Taylor finalmente tomou vergonha na cara, 'cê quer que ele mude de idéia?
-
Mas Zac, pô, a gente bebia só para se divertir. Faz parte, caramba.
-
Faz parte porra nenhuma. Talvez você queira fazer mal a sua saúde, mas o
Taylor finalmente tomou consciência de que isso não leva a nada.
-
Que tal se vocês parassem de falar de mim e começassem um assunto mais amplo e
menos pessoal? Obrigado.
O
George ficou puto. Ele sabia que a razão daquela mudança toda, daquele modo de
agir metido a comportado e aquele ar de "eu quero ser um novo alguém",
tudo era por causa da Patty. Era ela a culpada pela transformação do Taylor. E
isso só fazia com que o George a odiasse mais e mais. Não fazia sentido, eles
sempre se divertiram do jeito deles, com as farras deles. A idéia de ter alguém
no meio disso, atrapalhando tudo e causando modificações fazia o George
rosnar.
-
Whatever... - ele suspirou.
A
banda que tocava era excelente. O Taylor se desligou um pouco da conversa da
Patty com o Isaac sobre 2ª Guerra Mundial e passou a prestar atenção no blues.
Era moldado pelos músicos com a competência de verdadeiros artesãos, que
utilizavam os instrumentos como as mais preciosas ferramentas. Então, um solo
de piano. E aquilo soou muito familiar para o Taylor. Ele sorriu e seus olhos
encheram de lágrimas, já que o som da boa música era a única coisa no mundo
que o fazia se emocionar. Quanto tempo que não chegava perto do seu piano, que
na época da banda com os irmãos, ele apelidou de Myself.
Algo como, Eu Mesmo, tamanha era a identidade do Taylor com aquele instrumento
cheio de teclas. Ele entendia cada uma delas. E no solo do músico no bar, ele
poderia deduzir cada nota e contar uma história com cada acorde. Doía disfarçar
que o seu emprego não fazia falta. Tocar e compor eram o que o Taylor
descreveria, sem hesitar, como os verdadeiros amores de sua vida.
O
Zac bebia sua água com gás, quando viu seu irmão do meio admirando os músicos
fazendo o que antes costumava ser o ganha-pão dos três, no mini palco do bar.
Os olhos do Taylor brilhavam. O Zackito até pensou em fazer alguma coisa,
mas... Fazer o quê? Foi então que a imagem mais sensível e pura veio aos
olhos dele - o Taylor ensaiava em um piano invisível, tocando em suas pernas as
notas que ele ouvia o músico dedilhar no piano, com os dedos movendo-se o mais
discretamente possível, para que ninguém visse. Nossa, isso quase fez o Zac
chorar. Levantou-se então da cadeira e caminhou até o palco, cochichando umas
palavras com o funcionário parado ao lado:
-
Com licença - o Zac foi até educado.
-
Pois não?
-
Hoje é aniversário do meu irmão e eu queria muito dar um presente especial
para ele que...
-
Espera um minuto - o funcionário interrompeu. - Você não é aquele cara,
daquela banda... Hanson?
-
É, sou. Mas eu queria falar do presente e...
-
Prazer - disse o homem, com um sorriso muito simpático. - Está sendo bem
atendido? Está gostando? Alguma reclamação?
-
Eu quero falar do presente, porra.
-
Ah, claro. Desculpe-me. Prossiga.
-
O meu irmão... Tá, hoje não é aniversário dele. Mas eu queria muito dar um
presente mesmo assim.
-
Se estiver ao meu alcance...
-
Eu queria saber se eu, ele e o meu outro irmão poderíamos tocar uma música aí
no seu palco. Qualquer coisa, só para o Taylor voltar a sentar em um piano em público
e play around a little, you know?
-
Mas é lógico. Será uma honra - o funcionário sorriu, já imaginando o seu
bar lotado. - Não é todo dia que uma banda tão famosa e importante vem...
-
Tá, tá, tá. Quando nós pudermos, é só anunciar no microfone que subimos no
palco e fazemos nossa parte.
-
Ok, combinado. Não irá demorar, não se preocupe.
-
Obrigado.
Voltou
a se sentar com os outros.
-
Onde você foi? - o Taylor quis saber.
-
Nada. Só estava pedindo uma bebida.
-
Por que você não chamou o garçom? - o Isaac perguntou.
-
Porque aquele sujeito tem cara de quem trás bebidas mais rápido do que os garçons.
-
Mmm - eles fizeram expressão de entendimento. Nem questionaram mais porque
sabiam do jeito do Zac de resolver as coisas. Meio estranho às vezes.
O
Zac já estava começando a ficar inquieto. Havia se passado meia-hora já e o
tal do funcionário não anunciava nada no microfone.
-
Que demora - ele reclamou.
-
A bebida? - o Taylor perguntou.
-
Bebida? Ah, é, a bebida. É, isso.
-
Você tá inquieto, Zac. O que foi? - a Patty perguntou.
-
Não, nada, é só impressão sua.
-
E
é com muito prazer e honra que eu convido para tocar aqui no palco do Era Só O
Que Faltava os irmãos Hanson.
O
Taylor quase transformou o coquetel de frutas que dividia com a Patty em arma de
tiro ao alvo. Foi por pouco que a surpresa não o fez cuspir longe a bebida.
-
Come on, guys. Ele
não vai chamar de novo - o Zac disse, já levantando.
-
Zac, do que aquele cara está falando? - o Taylor perguntou.
-
Ele quer a nossa presença lá, irmãozinho. Vai amarelar agora, sua bicha?
-
Rock 'nd roll - o Isaac disse, levantando da cadeira.
Os
três subiram até o palco, contemplados com aplausos de todos no bar. A Patty
estava amando a idéia. Nunca tinha visto um sorriso tão sincero no rosto dos
amigos.
Quando
sentou frente ao piano, o Taylor só faltou chorar. Mas é lógico que ele não
deixou isso acontecer. Aquilo era tudo o que ele estava precisando para
sentir-se bem, para sentir-se, depois de tanto tempo, como ele mesmo. Só quando
se sentava ao piano o Taylor era o Jordan Taylor Hanson, o verdadeiro, aquele
que muito poucos conheciam.
-
Hello - o Zac falou com a boca colada no microfone.
-
Boa noite - o Isaac disse. - Para quem não nos conhece, somos os Hanson.
A
galera pirou.
-
E dando continuidade ao show dos caras que estavam aqui, nós vamos tocar um
sucesso antigo, que eu particularmente sou apaixonado - o Taylor disse.
-
Eu dou minha vida como ele está falando do Dire
Straits - o Zac brincou. Todos riram.
-
You're good, Zac. É deles mesmo que eu estou falando.
Em
sinal de respeito, a platéia silenciou. E como não tinha saxofone, o Taylor
começou a música Latest Trick com o
piano mesmo. Mas ao contrário do que muitos podiam pensar, a mudança não
desvalorizou em nada a obra-prima da banda preferida do Taylor. Ficou lindo. E
com sua voz suave, porém de forte marca, começou a cantar a canção entre
sussurros, embalando os casais na pista de dança. O Rock 'nd Roll estava no ar.
Isaac, Taylor e Zac nunca tocaram tão bem em todas as suas vidas. Foi sem dúvida
um momento histórico, daqueles que não se repetirão tão cedo. Com os olhos
fechados, o Taylor cantava com a alma e dedilhava o piano com uma paixão só
transmitida por um verdadeiro músico. E ao final da música, disse, mais do que
grato:
-
Thank
you, Zac.
O Zac sorriu e, para
disfarçar sua emoção, gritou no microfone:
-
You're
welcome, dude.
Todos riram e Isaac
adiantou-se em improvisar algo para descontrair mais:
-
Calma, galera. Não precisam correr. Meu irmão se manifesta das maneiras mais
bizarras, não pensem que ele tem algum tipo de distúrbio.
Mais
risadas.
-
Eu devo avisar que eu costumo ficar um pouco violento quando estou no palco - o
Zac brincou.
E
nesse clima de família feliz e "Voltamos ao palco, foda-se o resto"
é que os irmãos Hanson tocaram quase a noite toda, a pedido do próprio público.
...
-
Boa noite e muito obrigado. Foi uma honra ter vocês aqui no meu estabelecimento
- o dono do bar agradeceu.
Depois
de cumprimentarem o senhor de idade, Isaac, Taylor e Zac bateram as palmas das mãos,
gritando empolgados no caminho para o carro. O George, que a essas alturas já
estava reprovado em qualquer teste do 4, sambava no meio da rua cantando MMMbop.
Isso até poderia ser considerada uma homenagem muito singela e sincera, se não
fosse o detalhe dos desafinos do rapaz. Você achou desastroso o que aconteceu
com Hiroshima quando aquela bomba caiu sobre a cidade? Pois você não faz idéia
do que o George era capaz cantando alcoolizado. De verdadeiras desgraças, tragédias
homéricas, catástrofes auditivas.
-
George, George, foi muito tocante a sua versão destrói-tímpanos de MMMBop,
mas acho que está ótimo por hoje - o Isaac pediu, com ar de súplica.
-
I love you guys! So much! - o George
berrou.
-
Alguém coloca esse ser vivo dentro do carro? - o Zac falou.
-
Eu vou levá-lo para casa. O George não está em condições de dirigir - o
Taylor alertou.
-
Acho que uma porta vesga dirigiria melhor que ele agora - o Zac disse, sarcástico.
O
Taylor ajeitou o George no banco de trás do carro quatro portas do amigo. Este
já pegou no sono logo que entrou em contato com o banco fofinho do seu Audi A3.
-
E eu? - a Patty perguntou. - O que vocês vão fazer comigo?
-
Eu já chamei o China in Box. Daqui a
pouco eles vêm te buscar - o Zac satirizou de novo. A Patty mostrou o dedinho
do meio para ele. - Era brincadeirinha, 'miguinha.
-
Ela é japonesa, seu protozoário, e não chinesa - o Taylor corrigiu. - Patty,
você vem comigo. Eu deixo o George, então te deixo em casa.
-
Tudo bem, Tay, meu querido e educado amigo - a Patty falou bem alto, fazendo o
Zac se sentir mal. É óbvio que era tudo brincadeira.
-
Pattyyyy, não, por favor, não fique puta comigo.
-
Tarde demais, honey.
-
Mas eu joguei cocô na cruz mesmo... - o Isaac suspirou. - Vamo' bora logo, Zac.
Vai, se mexe.
-
Pattyyy, nããããoooo - o Zac gritava, enquanto era puxado pelo Isaac.
Ela,
rindo, entrou no carro do George, de mãos dadas com o Taylor. Só as soltou no
instante em que teve de dar a volta no veículo para entrar pela porta do
passageiro.
E
na casa do George...
-
Obrigado, querido - a avó dele agradeceu ao Taylor.
-
Imagine, não tem problema nenhum.
-
Ai, esse menino... Se ele não fosse tão grande e eu tão velhinha, juro que
dava umas palmadas nele - a senhora brincou, rindo daquele jeito frágil de quem
já apresentava muita idade.
-
É, hoje ele merece mesmo - Taylor sorriu. - Amanhã, quando ele acordar, a
senhora avisa para ele que eu estou com o carro e que assim que eu acordar, já
o trago de volta.
-
Nem se preocupe, Tayson. - A vovó nunca acertava o nome do Taylor. - Eu o aviso
sim.
-
Boa noite, senhora Ford.
-
Boa noite, querido.
Deixando
então o amigo aos cuidados da avó, o Taylor voltou para o carro. Segurou o
volante e respirou fundo.
-
Alguma coisa errada? - a Patty perguntou.
-
Não, é só que... A avó do George nunca acerta o meu nome.
-
E isso te irrita.
-
Não exatamente, mas... Bom, eu gosto de ser chamado pelo meu nome. Mas ela é
vovó, I don't blame her - Ele arrumou
os cabelos. - Quer ir pra onde agora?
-
Pra casa, ué. Que outro lugar eu poderia querer ir às... - olhou no relógio.
- cinco da manhã?
-
Ah! não sei. Aí vai da sua criatividade.
-
Considerando que daqui a uma hora e meia vai estar amanhecendo, acho que o único
lugar que nós poderíamos ir agora é... Tomar café?
O
Taylor riu. E disse:
-
Aproveita que hoje eu estou sóbrio.
-
Você também está cansado. Tocou a noite toda.
Aquele
comentário tirou um suspiro do Taylor, junto com um sorriso. Ele caiu no banco,
olhando para o nada, lembrando do seu retorno triunfal ao palco.
-
Eu toquei bem, não foi? - ele perguntou.
-
Muito bem.
-
Fazia tempos que eu não pegava o piano e tocava tanto assim.
-
É, eu sei... Pelo brilho no seu olho, dá para perceber que fazia um booom
tempo mesmo.
Ele
sorriu e a olhou:
-
Que bom que você estava lá.
-
Que bom mesmo.
Pausa.
Então a Patty disse:
-
Se a gente ficar aqui mais dois segundos, eu vou entrar em coma sonífero. 1, 2.
Roooooonc - ela brincou. O Taylor riu.
-
Tá, tá, eu já entendi que você quer dormir - ligando o carro.
Chegando
em frente à casa da Patty, o Taylor estacionou e, antes que ela saísse, ele
disse:
-
Certeza que quer ir dormir?
-
Absoluta, dear. Eu tô caindo de sono.
E nesses casos, quando passa das cinco e meia, eu viro uma múmia feroz que
adora comer garotos loiros em Audis A3.
-
Bom, você quem sabe. Você poderia ter tido um resto de noite incrível, dona múmia.
-
Um começo de manhã, você quer dizer - a Patty disse. - Vê se sossega esse
teu facho e vai dormir, garoto.
Trocaram sorrisos, a Patty o beijou no rosto e desceu do carro. O Taylor só foi embora depois que a amiga entrou em casa.
Capítulo
11 / Índice / Capítulo
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