E quando a vida em Tulsa não podia estar mais parada, um ser pensante chamado Richard resolveu dar uma festa. Daquelas de arromba mesmo, com vários ambientes, comida e bebida de graça, mais de 2000 convidados... Seria coerente pensar que Isaac, Taylor e Zac estariam lá sem falta, com toda certeza, pontualmente, prontos para qualquer tipo de agito. E analisando pelo passado do Jordan, não era de se duvidar que festerê era o que ele mais estava querendo naquele momento, depois de tanto tempo sem sair para as baladas. Mas não. Na noite em que a tal festança aconteceu, eles preferiram fazer uma reuniãozinha em casa.

- Coisa pequena, básica, só para os mais conhecidos - o Isaac explicou para a Patty no telefone, quando ligou para convidá-la.

            Bom... Isso até teria dado certo se nós não estivéssemos falando aqui dos irmãos Hanson. A reuniãozinha deles espalhou-se como spray em cabelo de patricinha, e muito mais pessoas do que o esperado apareceram na mansão. Maioria? Garotas, é lógico. E educado como o Taylor era, jamais que ele dispensaria as garotas que tocavam a campainha. O George quase nem adorou, imagine você. Compreensível, já que nunca viu-se tanta mulher junta com tão pouca roupa debaixo de um mesmo teto. Todas extremamente provocantes, insinuando-se para os três irmãos. Rolava até apostas entre amigas, do tipo: "Quem ficar com algum deles, ganha um delineador de cada uma". Apostinhas cretinas, mas que para gente de cabeça vazia tinha grande valor.

            Antes de tocar a campainha, a Futemminha ajeitou a saia e passou as mãos pelos cabelos presos no alto da cabeça em um complicado rabo. Foi recebida por Zac e assustou-se ao ver tanta gente sentada na sala, conversando.

- Mas não era para poucas pessoas? - ela perguntou.

- Era. Mas o que seria do mundo se não fosse as pessoas entronas e inconvenientes, não é mesmo?

            Logo que ela chegou, foi rapidamente analisada por várias. A mulherada já estava sabendo da intimidade da Patty com os donos da casa e não gostavam nada do monopólio da concorrência. Tentando disfarçar ao máximo o desconforto causado pelos olhares, a Patrícia seguiu adiante acompanhada do Zac e foi até os outros amigos.

- Oi, gente - ela cumprimentou.

- Hey girl - Isaac sorriu.

- Oi, Patty - o Taylor mal pôde esconder a alegria em vê-la. - Você está linda.

- Puxa, obrigada - ela sorriu. - Vocês também não estão mal.

- E o Eduardo? - o Cumprido perguntou discretamente.

- Não vem. Foi naquela festa do tal do Richard, sabe? É amigo dele, então ele teve de ir.

- Você preferiu vir para cá? - o Zac perguntou, quase comemorando.

- Assim como ele foi na festa do amigo dele, eu vim na dos meus - a Patty sorriu.

            Ficaram por ali mesmo, conversando, batendo um papo, falando de coisas banais. Mais tarde o George apareceu todo feliz, acompanhado de uma garota (lógico) e convidou os amigos para dançar.

            O Zac convidou a Ló para ir, mas não sabia se ela apareceria. Já era mais de meia-noite e nada da menina. Enquanto ela não chegava, ele ficava fingindo que ouvia as garotas a sua volta, as quais falavam só piadas sem graça, faziam trocadilhos terríveis e riam de cada comentário sarcástico do Zac; tudo para que ele pelo menos as olhasse com um pouquinho mais de consideração. Bom, por enquanto, elas não estavam tendo grandes resultados.

            O Isaac estava conversando com uma garota melhorzinha e parece que ia ficar com ela. Até ali, ela mostrava alguns sinais de inteligência, então... Nada a perder.

            E o Taylor estava sozinho com a Patty, falando sobre nada de útil. Finalmente, sem Eduardos, amigos, piranhinhas e afins por perto. A Patrícia estava linda e o Taylor não conseguia tirar os olhos de cima dela. Claro que a Patty não percebia, pois a conversa com o Jordan estava engraçada demais. Ela nem estava concentrada em supostos olhares.

            Não demorou muito, uma fã do Taylor se aproximou. Bom, isso iria acontecer em algum momento, então que fosse no começo do papo com a Patty.

- Oi, Tay.

- Hey, Teresa. How are you?  - ele sorriu, simpático.

- Melhor agora. E aí, não quer dançar?

- Agora não, estou conversando com a minha amiga. Mais tarde, quem sabe - com a mesma educação.

- Oh... Ok. See ya later then - saindo.

- Tay, eu não quero que você deixe de fazer as suas coisas por minha causa - a Patty falou, sentindo-se mal.

- Você acha realmente que eu iria trocar você por... Elas? - apontou com o dedão para trás, referindo-se às garotas.

- Taylor, a gente é amigo. Os seus rolos são outra coisa.

- Acredite, tudo tem uma certa relação - sorrindo.

- Como assim?

- Nada não, vai. Quer beber alguma coisa?

- Agora não.

            A campainha tocou. O Zac saiu correndo daquele meio de menina xarope e foi para a porta.

- Oi - ele sorriu.

- Tudo bem, Zachary? - a Ló disse.

- Entra aí. Cadê o Dave?

- Foi para a festa do tal do Richard. Amigo dele, então ele tinha que ir.

- Yeah, yeah, I know the story. Entra.

- Por que tem tanta gente assim na sua casa? - a Ló estranhou.

- Estamos tendo um pequeno problema de altíssima densidade demográfica aqui.

- Ou seja?

- Tem gente demais nessa porra.

- Vocês convidaram tudo isso?

- Noventa e seis por cento do que está aqui dentro deste lar de família faz parte do grupo dos sem-semancol.

- Aaaa... - a Ló riu.

- Não ri da minha desgraça.

- Sorry.

- Está perdoada.

            Eles ficaram quietos um instante, observando o movimento, as pessoas...

- Não dá para colocar umas músicas mais agitadas? Esse povo está quase dormindo.

- Se você quiser... O aparelho de som fica ali - o Zac apontou.

- Eu posso mesmo?

- Fique à vontade.

- Os seus pais estão em casa?

- Não.

- Irmãos pequenos, idosos ou responsáveis?

- Nenhuma das raças.

- Excelente.

            A Ló foi até o sonzásso colocado no canto da sala e deu uma olhada nos Cds. O Zac ficou encostado na parede, com as mãos nas pernas, batendo em uma bateria imaginária, distraído. Algumas garotas aproximavam-se, mas ele já mandava passear. Mais um tempo fuçando, a Ló decidiu o que iria colocar.

            Quando a música parou, ninguém nem sequer percebeu. Mas não teve como não notar quando começou a tocar, em um volume bem mais alto, Kenny Loggins com a música Footloose. A galera gritou empolgada e começaram a dançar. Vendo que tinha agradado, a Ló colocou os fones nos ouvidos para ouvir bem a música (sem que fizesse parar a que saía das caixas de som) e sentou por ali para cuidar do som. O Zac a olhou espantado de onde estava. Foi até a amiga e a cutucou no ombro:

- Footloose?

- Claro. Um clássico.

- Depois você vai colocar o quê? Bee Gees com Saturday Night Fever?

- Não. Donna Summer com Hot Stuff. -  &nnbsp;          O Zac se matou de rir. - "Baby I need some hot stuff..." - a Ló cantou um pedacinho.

- Como eu disse, fique à vontade.

- 'Xá comigo, Zachary - sorrindo.

            Ele sentou-se ao lado dela, no braço da poltrona, e ficaram ali conversando.

            A Patty e o Taylor estavam dançando no meio do pessoal. Ela estava totalmente animada. Jogava os cabelos lisos e pretos para todos os lados, mexia os quadris e cantava alto. Não ligava para mais nada, só ouvia a música. Aquela cena enchia os olhos do Taylor. O sentimento dele aflorava em sua pele e ele ficava mais sensível a isto do que de costume por uns instantes, querendo ter a Patty só para ele. Era tão bom gostar dela... E ele realmente o fazia.

            Foi quando a Patrícia, toda empolgada, pegou a mão do Taylor para que os dois dançassem juntos. E eles faziam passos, aqueles movimentos clássicos dos anos 70, ensaiavam coreografias com os braços, chacoalhavam tudo que podiam... Riam de maneira contagiosa. Aquelas risadas gostosas, que a gente só dá quando está com as pessoas amadas. As meninas ao redor observavam com reprovação. Mas e quem disse que o Cumprido e a Futemminha percebiam? Que nada.

            O Zac assistia da poltrona. Vendo isto, a Ló disse:

- O seu irmão está alegre, não é?

- É... Está vendo a menina com ele?

- A japonesinha?

- Isso. Então, é a menina que ele gosta.

- Sério? - a Ló abriu um sorrisão. - Que legal. Por isso que ele está feliz daquele jeito.

- É sim.

- Nossa, olha lá - ela riu, olhando a valsa fajuta e agitada que eles dançavam. - Que fofo, meu.

- O Tay gosta muito dela.

- Dá para notar. Desde que eu cheguei, ele não tirou os olhos dela.

- O Taylor está apaixonado. Primeira vez que ele gosta de alguém de verdade, sabia? - o Zac comentou, orgulhoso.

- Imaginei. Afinal, todo mundo sabe da fama dele de garanhão. Ele é tão bom assim, é?

- Garota, você está me estranhando?

- Não, nada a ver... Mas sei lá, é que falam tanto dele...

- E o que te fez pensar que eu saberia das habilidades do meu irmão?

- Tá, esquece.

            Pausa. Uma garota de uns 13 anos aproximou-se do Zac para conversar.

- Oi, Zac.

- Tchau.

- Quer dançar? - a garota insistiu.

- Eu estou com cara de quem quer dançar?

            A menina saiu decepcionada.

- Como você espera ficar com alguém desse jeito?

- Quando aparecer alguém mais interessante, eu tento conversar.

- E como você sabia se aquela garota era interessante? Você nem a deixou falar.

- Eu simplesmente sei.

- Você também faz um sucesso, não é? Você só não aproveita muito, mas faz.

- Whatever.

- Eu vou arranjar uma garota interessante para você.

- Não precisa, obrigado.

- Zachary, você não vai ficar com ninguém hoje?

- Por que o espanto? Está escrito em algum Manual de Festinhas que eu devo?

- Não, mas faz parte do processo, oras.

- E o que você espera que eu faça? Que eu tire alguma dessas otárias para dançar música lenta?

- Não, mas... Ops, está acabando a música.

            A próxima colocada pela Ló foi Malibu, da banda Hole.

- Ai, Tay... Eu... preciso... sentar - a Patty disse, arfando, com as mãos nos joelhos.

- Vem, vamos tomar alguma coisa - o Taylor disse, segurando-lhe a mão e guiando-a até a cozinha.

- Caramba - a Patty suspirou, sentando. - Eu pulei demais.

- Estou vendo. Quer tomar o quê?

- Água, por favor.

- Com ou sem gás?

- Sem.

            O Taylor servia os copos.

- Sabia que se você fizer suco de morango com água com gás, dá refrigerante?

            Ele riu. E respondeu:

- É mesmo? Você já tentou? - estendendo-lhe o copo.

- Não, mas... Bom, tem certas coisas na vida que você não precisa experimentar para saber como é.

- Faz sentido.

            Silêncio.

- Patty?

- Mm?

- Qual é o melhor momento para se dizer algo que você realmente precisa dizer?

- Acho que aquele em que você se sente confortável para falar.

- Mmm... - Pausa. Resolveu mudar de assunto. - E... Como está com o Eduardo? Está apaixonada por ele?

- Não, claro que não. Ele é muito legal. E gatinho também. Mas apaixonada não.

- Se aparecesse outra pessoa que também quisesse ficar com você, você a descartaria totalmente?

- Depende de quem for.

- Mmm...

- Descansou? - ela perguntou, sorrindo.

- Se eu descansei?

- É, da dança.

- Ah! claro. Descansei sim.

- Então vamos voltar para lá - ela sorriu.

- Ok.

            A festa continuou rolando, todo mundo muito empolgado, as garotas mais elétricas do que nunca e a Ló lá no aparelho de som, toda entretida com os vários Cds dos três irmãos. A DJ estava agradando muito, pois o pessoal ali não parecia estar incomodado com a mistura de épocas que a Ló fazia. Uma hora era Richie Sambora e Daft Punk. Depois Gloria Gaynor  e Fine Young Cannibals. Até aquela música do Rei Leão, a Lion Sleeps Tonight, a Ló colocou. Bom, com tanta agitação, era preciso um tempo para descansar. Então decidiu colocar uma romântica.

- David Coverdale cantando Love is Blind. Essa música é perfeita - a Ló falou sozinha.

            Foi a música começar, os casais formaram-se rapidinho e foram para o meio da sala larga da mansão dos Hanson. O Taylor puxou a Patty e a envolveu pela cintura, colando o seu rosto ao dela. A medida que foram dançando, ele ia deslizando as mãos nas costas da Patrícia, de leve. Era gostoso. O Tay às vezes acariciava a nuca da Futemminha, fazendo-a sentir arrepios. Tais iniciativas só denunciavam que o instinto do Taylor estava começando a entrar em ação. Era automático, se estava interessado em alguém e encontrava-se em um momento tão oportuno como aquele, ele iria agir. Não dava mais, ele precisava fazer alguma coisa. Tudo o que ele queria era beijá-la. Beijar aqueles beijos intermináveis, morder o lábio da Patty, esfregar a língua no seu céu da boca e fazê-la sentir tudo o que ele estava sentindo naquele instante.

- Patty?

- Mm?

            O Taylor descolou sua bochecha da dela e olhou em seus olhinhos puxados. Tirou os cabelos escuros de seus ombros e deslizou uma das mãos pelo braço da Patty até chegar em sua mão, a qual segurou junto de seu peito. E ainda encarando-a, apoiou sua testa na dela, tocando levemente seu nariz no da Patty, carinhosamente. Ela já estava de olhos fechados, correspondendo totalmente às carícias do Taylor. Ele puxou seu lábio inferior de levinho, a ponto de quase nem se sentir. Deu-lhe um selinho e então brincou com a ponta de seu nariz mais uma vez. Observou-a ali, de olhos fechados, só esperando que ele a beijasse. Então a segurou forte pela cintura e fechou os olhos.

            Mas como não podia deixar de ser, alguém se meteu entre eles aos gritos, desesperada, empurrando a Patty para longe do Taylor.

- O que é isso? - o Taylor perguntou, puto. - Yohanna, o que você está fazendo?

- Eu agüentei levar um fora de você, agüentei de saudades suas, tudo sozinha. Eu até agüentei te ver no shopping com essa garota. Mas beijar essazinha na minha frente, isso eu não vou agüentar.

- Yohanna, eu não te devo absolutamente nada - o Tay observou, paciente.

- Deve, você me deve muito. Eu sou a garota que mais te amei até hoje. Você me deve por esse sentimento não correspondido que eu carrego comigo.

- Você está bêbada.

- É, estou. Só assim para conseguir te falar tudo o que eu sinto.

- Acho melhor você sentar - o Taylor aconselhou.

            Todo mundo assistia a cena assombrado. As amigas da Yohanna cochichavam, desaprovando a atitude que esta resolveu tomar. A Patty estava assustada também.

- Eu não quero sentar! - a Yohanna berrou. - A única coisa que eu quero agora é... É você, Tay.

- Yohanna, olha, nada pessoal, mas... Não faz o menor sentido isso que você está dizendo.

- Não faz sentido?

- A gente não se fala há dois meses.

- Dois meses, Taylor, que eu não parei de pensar em você um minuto.

- Você deve estar enganada. A gente deve ter trocado umas oito frases na vida.

- O suficiente. Nós fomos feitos um para o outro, Taylor. Como você não enxerga isso?

            A Yohanna então começou a passar muito mal. Vomitava sem parar. Suas pernas estavam fracas e a garota ameaçou cair no chão. Havia bebido mesmo. O Taylor a segurou e a ajudou ficar em pé. Diziam as más línguas que, desde o dia em que o Taylor deu um fora nela oficialmente, ela entrou numa espécie de depressão chata, daquelas brabas mesmo, que no caso da Yohanna, não permitiu que ela falasse de outra coisa a não ser "Taylor, Taylor, Taylor". Suas amigas diziam que ela estava obcecada. Só falava em conquistá-lo, no dia em que eles iriam namorar... Até filhos ela mencionava.

            A situação estava desagradável ao extremo. O Zackito, solidário ao irmão como sempre era, resolveu dar uma mãozinha. Foi até o Taylor no meio da sala e começou a pedir daquele jeitinho delicado dele para que as pessoas ali presentes parassem de olhar a cena e continuassem a agir normalmente. Com a palavra, senhoras e senhores, Zackito Hanson:

- Porra, mas que merda! Nunca viram ninguém bêbado na vida? Por que não vão olhar para os seus próprios traseiros, bando de malas! Aliás, quem foi que disse que vocês podiam vir? Vão saindo, anda logo! Vão, vão! São surdos?! Eu quero todo mundo fora da porra da minha casa! Out, out!

            A música já tinha parado, ninguém dava um pio e o clima era de tensão. Só ouvia-se os berros do Zac ecoarem nas paredes da mansão. Ao fim de seu discurso, pode-se ouvir uns gritinhos e umas palmas vindos do fundo do pessoal. Eram as fãs do Zac que tinham achado aquilo lindo.

- Gosh... - o Zac sussurrou.

            Mais uma vez, ele pediu que saíssem e, como ninguém era louco de desobedecer, foram saindo aos poucos. A Ló já estava indo também, quando o Zac segurou seu braço:

- Você não, né anta?

- Ah - a Ló sorriu amarelo.

            As amigas da Yohanna a pegaram nos ombros para levarem-na até o carro. Solidariedade com a pobre alcoólatra? Não. Mas sim uma oportunidade de chegar perto do Taylor e trocar algumas palavrinhas com ele.

            A Ló enrolava o fio do fone-de-ouvido, com os olhos arregalados, estática com a reação do amigo Zachary. E este, terminava de bater a porta no traseiro do último indivíduo que deixava a casa. Já o Isaac, observava concentrado a poça de vômito, só imaginando o trabalho que ia dar para limpar aquilo.

- Cara, o que essa garota comeu no jantar? - ele questionou-se, olhando para a nojeira.

- A gente vai precisar da ajuda da Gina - a Patty falou, sentada no sofá.

- Que noite - o Taylor suspirou, aborrecido.

- Que merda de noite - o Zac corrigiu.

- Calma, Zachary, respira - a Ló dizia, fazendo massagem em seu ombro. - Não fica nervoso assim.

- Bom, pelo menos foi um jeito eficiente de mandar aquele povo embora - o Isaac reconheceu.

- Eu vou chamar a Gina - o Taylor disse, já levantando do sofá.

- Que calma, o quê! - o Zac levantou bravo. - Eu quero que esse povo de Tulsa morra.

- Você não quer isso, Zachary - a Ló falou. - Shakespeare disse: "Quando se está com raiva se tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel".

- Estou cagando para o que esse cara disse - o Zac retrucou.

- Ele não é muito bom com grandes personalidades, Ló - o Isaac avisou. - Uma vez, ele mandou o Dalai Lama ir à merda.

- Oh... Que tal então... Yoga? - a Ló sugeriu.

            O Isaac riu. O Zac rugiu.

- Meu Senhor do Morro que Só Desce - a Gina exclamou, assim que entrou na sala, ao sentir aquele cheiro azedo de vômito e ver a bagunça toda. - Olha o que vocês deixaram para mim.

- Gina, desculpe, vai. Mancada, eu sei. Não fica brava, mas é que a garota vomitou e... - o Taylor começou a se explicar.

- Tudo bem, Cumprido. Eu limpo.

            Todos suspiraram aliviados.

- Mas não pensem que vocês não vão me ajudar - ela completou.

            Até o Zac, que estava puto, entrou no esquema. Era desinfetante, multiuso, água sanitária, sabão em pó, sabão em pedra, vassoura, rodo, paninho, panão, espanador, alvejante, amaciante... Enfim. Tudo para combater o mau-cheiro e a desorganização. Foram terminar toda o trabalho eram quase quatro da manhã.

- Eu vou morrer - o Isaac dramatizou, caindo deitado no sofá.

- Eu também - a Ló concordou.

- E eu aqui - a Patty sentou no chão, nem lembrando mais que estava usando saia.

- Vocês vão morrer? - a Gina reclamou. - E eu que tenho que acordar às oito da manhã amanhã?

- Obrigado pela ajuda, Gina. Valeu mesmo - o Taylor agradeceu, com os olhos azuis vermelhos de sono.

- O que é que eu não faço por vocês três, hein? Bom, boa noite, meus queridos. Durmam bem.

- Patty, não quer dormir aqui hoje? Aí amanhã eu te levo para casa a hora que você quiser - o Taylor sugeriu.

- Bom, eu não estava pensando em pegar táxi a essa hora mesmo... - a Patty aceitou. - Eu só não sei como... - ela disse, olhando para si mesma.

- Eu te empresto alguma coisa para vestir, não se preocupa - o Taylor a tranqüilizou. - Vem.

            Os dois subiram as escadas. O Taylor abriu seu guarda-roupas e emprestou uma blusa e uma calça de moletom, ambos largos, para a Futemminha vestir.

- Eu já volto - ela disse, trancando-se no banheiro.

            Vendo que ia levar um tempinho, o Jordan encostou-se na parede, cruzou os braços e aguardou. Uns minutos depois, ela saiu.

- Prontinho.

- Vamos lá falar com o resto do pessoal para ver quem vai ficar essa noite - o Taylor disse.

            Desceram. Mas para a não surpresa dos dois, estavam Zac, Isaac e Ló dormindo jogados nos sofás. Exatamente da mesma maneira que caíram, ficaram.

- Bom... Sobra mais cama - o Taylor sorriu. - Vem, eu vou arrumar a cama para você no meu quarto.

            E foi o que ele fez. Abriu o sofá-cama e arrumou uma cama muito simpática.

- Eu durmo aqui. Você dorme na minha cama.

- Tay, imagine! O que é isso? Eu durmo no sofá, oras. Não quero te tirar da sua cama.

- Não é incômodo nenhum, Patty. É um prazer.

- Não, de jeito nenhum. Eu durmo no sofá e você...

- Patty - o Taylor a interrompeu, chegando pertinho dela. Segurou-lhe as mãos e sorriu. - Já disse que não é incômodo. Você na minha cama e eu no sofá. A questão não está aberta a discussões.

- T...Tá - ela concordou, gaguejando.

            Ele sorriu mais uma vez e foi trocar-se. Saiu do banheiro de cueca de seda e sem camisa. A Patty já estava deitada e não disfarçou tanto ao vê-lo em tais trajes.

- Boa noite - ele disse, antes de apagar a luz e deitar-se.

- Boa noite.

            Silêncio. Mas e quem é que conseguia dormir? Depois daquele quase-beijo, o Taylor não conseguia parar de pensar em outra coisa. Com os olhos abertos, olhava as estrelas na grande janela do quarto e pensava. Lembrava do perfume da Patty quando a abraçou para dançar, recordou-se dos narizes tocando-se, do selinho... Mais uma noite que ele iria passar no silêncio, sem dizer o que sentia. Olhou no relógio. Cinco e meia.

- Patty, está dormindo? - ele sussurrou.

- Não. Você está?

- Também não.

- Por que você não está dormindo?

- Estou pensando em umas coisas... Você?

- The same - a Patty respondeu.

- Quer conversar?

- Sure.

            O Taylor levantou e foi até sua própria cama de casal, onde a Patrícia estava deitada. A Patty podia vê-lo no escuro. Não totalmente, lógico, mas apenas um vulto. Ouviu os passos se aproximando. Sentiu quando o Tay deitou-se ao seu lado e cobriu-se até a cintura. Os dois se olhavam. Seus olhos azuis estavam claramente visíveis.

- No que você está pensando? - ele perguntou.

- Em hoje.

- Em que parte de hoje?

- Na parte da garota, quando ela disse aquelas coisas sobre gostar de você.

            Silêncio.

- E você? No que estava pensando? - a Patty perguntou.

- Em hoje também.

- Em que parte?

- Na parte em que eu quase te beijei.

            Silêncio de novo.

- É, eu pensei nisso também - a Patty confessou.

- Muito ou pouco?

- Um pouco. - Pausa. - Ok, um poucão.

            O Taylor sorriu. E disse:

- Você é diferente de tudo o que eu já vi, Patty.

- Obrigada. Você também é.

- Nah... Eu sou comum. Loiro de olho azul. É o que mais tem por aí.

            A Patty riu.

- Não estou falando da sua aparência.

- Jura?

- Juro.

- Você acha isso mesmo? Que eu sou diferente?

- Acho. Você é muito especial.

- Eu... Eu preciso te contar uma coisa.

- Estou ouvindo.

- Eu... Eu gosto de comer batata-frita molhada no cappuccino - o Taylor falou, totalmente amedrontado. - E agora? Você continua achando que eu sou especial?

            A Patty começou a rir daquele jeito dela, baixinho, sem deixar escapar muitos sons. O Taylor amava aquela risada.

- Mas é bobo mesmo... - ela ria.

- Não, sério, vai. Fala.

- Lógico, né? Você é especial para mim de qualquer jeito. Mesmo com um gosto tão bizarro.

- Que bom - ele aliviou.

            Silêncio.

- Patty?

- Que foi?

- Eu amo você. E não é como amigo. É daquele outro jeito.

 

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