Era quase oito e meia quando o Zac acordou assustado, dando um pulo. Olhou no relógio e percebeu que estava atrasado para o seu Cooper diário. Mas mais assustado ele ficou ao perceber onde estava. No sofá da sala, com a roupa da noite anterior, com aquele gosto ruim na boca, o que denunciava que a escova de dente não havia tido grande utilidade antes de ele se deitar.

- Nossa.. Eu não lembro de ter deitado aqui - falou sozinho.

            Mas ele não pôde deixar de rir assim que viu a Ló jogada no chão, usando uma almofada como travesseiro, babando com a boca aberta. Além disso, ela fazia uns sons hilários com o nariz.

- Caramba...

            O Zac então levantou e olhou a sala. Estava arrumada, tudo no lugar. Ouviu o barulho da Gina mexendo com as roupas na área de serviço. Espreguiçou-se e alongou os músculos dos braços e das pernas.

- Bom dia, Mr. Diet Shake - o Isaac resmungou ao vê-lo exercitando-se já tão cedo.

- Oi, Ike. É tarde, está na hora de levantar.

- Levantar? Você está louco. Eu acabei de deitar - virando então para o outro lado, dando as costas para o Zac.

- Eu vou correr. Você cuida da Ló aí para mim?

            O Isaac virou lentamente e olhou para o irmão assustado, com os olhos arregalados.

- Lá vem - o Zac reclamou. - O que eu disse desta vez?

- Você deve estar com algum tipo de ressaca ou...

- Eu não bebo, você sabe muito bem disso.

- Você não pode estar no seu estado normal de espírito.

- E eu posso saber o que há de errado com a porra do espírito?

- O seu jeito de falar da Ló. Foi... Foi gentil - o Isaac continuava com uma expressão de espanto.

- Para o seu governo de merda, o meu estado de espírito vai bem, obrigado. E a Ló é legal, oras. Por isso que eu estou, digamos, preocupado. É, isso, preocupado.

- Zac, você está amolecendo. Além do que, você usou as palavras "governo" e "estado" na mesma frase. Anda lendo sobre política?

- Meu, cala a boca. Eu vou me trocar e depois vou correr. See ya later. - Já estava saindo, quando se lembrou. - Ah! se você contar um pedacinho que seja dessa conversa para alguém... - Pausa. - Você termina de contar e já começa a correr. Porque você é um homem morto.

- Já que você me pediu assim, de maneira tão sutil e queridinha, - o Isaac brincou. - eu me vejo sem opções. Eu vou ter de ficar quieto.

- Acredite, é para a sua própria saúde.

- Yes, sir.

 

...

 

- Patty, Patty.

- Ã, quê…?

- Acorda, menina.

- Acordei, acordei. Ah, é você, Ló... Que horas são? - Elas tinham sido apresentadas noite passada, durante o mutirão de limpeza.

- Onze e dez.

- Nossa, tudo isso? - a Patty deu um pulo e sentou na cama. - Meu, como eu dormi.

- Pois é... - a Ló riu do jeito da Futemminha. - Espera um pouquinho... Você dormiu na cama do Taylor?

            É mesmo, o Taylor! A Patty tinha esquecido completamente dele. Compreensível, já que a maioria dos seres humanos ao acordar, não funciona muito bem.

- É, ele ficou insistindo um monte.

- Nossa, estamos podendo, hein? - a Ló brincou, batendo com o seu cotovelo no braço da Patty. - Vai me dizer que ele dormiu aqui com você?

            A Patty ficou muito sem jeito.

- Claro que não, né Ló.

- Bom, mas deixa eu pedir o que eu vim pedir. - Ela encolheu-se, como se fosse um segredo. - Você por acaso trouxe absorvente?

- Deixa eu pensar... Trouxe, trouxe sim. Está na minha bolsa.

- Ai, que maravilha. Eu não queria ter de pedir para a irmã do Zachary, a Jessica.

- Ainda bem que eu trouxe porque - a Patty então se aproximou da Ló, para cochichar. - a Jessica é bem chatinha.

- Eu notei mesmo. - Elas riram cúmplices. - Vamos descer? O Isaac, o Taylor e o Zachary já estão lá. Mas antes, me empresta o moddess, por favor?

- Claro, sem problemas - a Patty sorriu.

            Depois de tudo certinho, as duas desceram. Ao chegarem na cozinha, o Taylor foi o primeiro que a Patty procurou com os olhos, mas não encontrou.

- Bom dia, China in box - o Zac cumprimentou.

- Oi. Cadê o Tay? - ela quis saber.

- Hey Patty - o Isaac disse, virando-se para olhá-la.

- Oi, Ike. Aonde o Tay foi?

- Ele saiu com a nossa mãe um minutinho. Daqui a pouco eles estão aí.

- Ah, ok - disse, decepcionada.

- Mas senta, gente - a Gina aconselhou as meninas.

            Fizeram o que a empregada sugeriu e serviram-se de comida.

            Apesar de estar sem fome, a Patty comeu um pouco. Estava ansiosa demais para colocar algo na boca. Queria ver o Taylor. A revelação da noite passada provocou na Futemminha uma espécie de ligação extra com ele, o que a fazia não querer ficar longe do Taylor por muito tempo. E eles precisavam conversar, trocar um olhar que fosse. A Patty não queria que ele pensasse que ela passaria a agir diferente só porque sabia sobre os sentimentos dele. Talvez ele tivesse saído para fugir, para não encontrar com ela assim, tão logo. Ela não havia decidido nada sobre o que fazer nem sobre o que dizer a ele, mas ficar distante não era o caminho.

            Estava completamente alienada da conversa que rolava ali na mesa. No meio de algum dos assuntos que o Isaac, o Zac e a Ló falavam a respeito, a Patty interrompeu e perguntou:

- Será que o Taylor vai demorar muito?

- Acho que não. A nossa mãe disse que era coisa rápida, que já voltava - o Isaac explicou. - Aconteceu alguma coisa, Patty?

- Alguma coisa? Relacionado a quê? Com a nossa amizade? - A Patty ficou bem nervosa com aquela pergunta.

- Não sei, você parece bem ansiosa para falar com ele, por isso pergunto se aconteceu alguma coisa.

- Não, claro que não, imagina. O que poderia ter acontecido? Eu e o Taylor estamos ótimos. Está tudo ótimo. Nenhum fator diferente, tudo exatamente como antes. Aliás, as coisas nunca estiveram tão normais. Não precisam desconfiar de nada porque...

- Patty, a gente não disse nada sobre estarmos desconfiando de vocês - o Zac estranhou.

- Eu sei, mas eu estou dizendo porque... Bom, é para caso vocês tenham pensado alguma coisa. E seja lá qual for essa coisa, é errada. É muito errada porque eu e o Taylor não somos nada além de bons amigos. Ok? Está tuuuuudo ótimo entre eu e o Taylor, não precisam se preocupar. Aliás, não precisam nem perguntar sobre como nós estamos, sobre se aconteceu alguma coisa entre nós... Não perguntem. Nada aconteceu. Nadinha mesmo. E é isso.

            A Patty levantou e saiu da mesa completamente sem jeito. Todos continuaram quietos, sem entender nada. Foi até o quarto que dormiu e trocou de roupa. Dobrou as vestimentas que o Taylor a emprestou, penteou o cabelo e voltou até a cozinha.

- Gente, eu vou indo.

- Certeza, Patty? Por que tão cedo? - o Isaac perguntou.

- Eu... Eu tenho que ir. Se o Taylor chegar diga que... Que eu... Já fui.

- Ahm... Tá - o Zac não entendeu. - Não prefere esperar?

- Não, eu acho melhor voltar para casa. Depois eu converso com vocês.

- Patty, você está legal? - a Ló quis saber.

- Estou ótima - ela forçou um sorriso exagerado. - Não aconteceu absolutamente nada de anormal. Nada que poderia me deixar perdida ou confusa. Está tudo ótimo.

- Se você diz - a Ló disse; preferiu não insistir.

- Quer carona? - o Isaac ofereceu.

- Não, eu quero andar um pouco.

- Tudo bem.

            E foi assim que a Patrícia deixou a mansão dos Hanson. Completamente atordoada.

            Não deu nem dois minutos, a Diana chegou com o Taylor.

- Cadê a Patty? - o Taylor perguntou, assim que entrou na cozinha.

- Ela pediu para te dizer que já foi - o Zac deu recado, mesmo achando-o bem estúpido.

- Então ela já foi?

- Não, ela mandou dizer isso porque todo domingo de manhã ela manda recados estúpidos. É uma espécie de costume. Na verdade, ela está lá no seu quarto te esperando de biquíni.

- Ela está? - o Taylor perguntou desesperado, respirando alto.

- Zac, não brinque com meninos apaixonados. Rules, my dear - a Ló advertiu.

- Taylor, o que é que está acontecendo? - o Isaac perguntou finalmente.

- Eu contei a ela sobre o que eu sinto e estou começando a achar que a assustei - o Taylor respondeu, já saindo da cozinha.

- Uau, ele contou? - a Ló abismou-se. - Como é que ele fez isso? Que lindo!

 

...

 

            A Patty caminhava pensativa, sem saber por onde começar a pensar. Ela nunca podia imaginar que... O Taylor? Mas como ela nunca tinha percebido? A Patty tinha que ter percebido alguma coisa, pelo menos uma suspeita pequenininha. Mas que nada. Bom, também, como ela poderia imaginar? Quer dizer, ele era tão galinha, tão mulherengo... Como poderia estar gostando de verdade dela?

            Por um momento, a Patty pensou no Taylor. Nada de diálogos ou situações legais que passara com ele. Pensou simplesmente no Taylor, fotografou seu rosto em sua mente e analisou cada detalhe. Viu suas sobrancelhas. Eram lindas. Tinham um desenho perfeito. "Ele tira com a pinça, não é possível", a Patty pensou. E quando ele estava confuso ou chateado? A carinha que ele fazia... A Patty riu lembrando disso. Ele sério, parecia que estava bravo por causa do desenho das sobrancelhas. Mas quando ele ria, era perfeito. Suas covinhas nas bochechas, os olhos azuis apertadinhos, o cabelo que invadia seu rosto. E olha que não precisava ser a mais gostosa das risadas. Só um sorriso do Taylor podia fazer qualquer um mudar sua perspectiva de vida rapidinho e começar a notar como tudo podia ser mais belo. Era lindo demais. O nariz então, todo arrebitadinho, bem daquele estilo que se mete onde não é chamado. Putz, o Taylor era bonito mesmo. Aquela beleza de príncipe encantado de filme da Disney.

- E a boca... - a Patty falou sozinha. - A boca é... Ai, não é a boca, é o beijo - ela lembrou disto e suas pernas tremeram.

            O beijo do Taylor. O beijo do Taylor significava todo o mistério da vida. Era o sinônimo de todas as coisas impossíveis de expressar com palavras. Tudo o que não há explicação. Aquilo que você passa anos tentando achar um jeito racional de entender, mas é bom demais para ser simplesmente desvendado. Isso era o beijo do Taylor. A Patrícia lembrava do modo suave e ritmado com que ele conduzia sua língua e o jeito hipnótico com que o Taylor comandava a situação durante o beijo. Era forte o que ele deixava dentro daquela que beijou. A Patty sentia calores só de lembrar.

Mas a amizade... Ser amiga do Taylor era algo incrível também. Ele era atencioso, preocupado, querido...

- Ei, mas será que... Que ele só era assim comigo porque gosta de mim?

            Ela estava perdida. E com medo também. Medo de apostar no sentimento errado e perder uma das pessoas com quem ela mais se importava no mundo.

- Ai, Taylor... - a Patty suspirou. - Por que você tem que ser assim, tão sem defeitos? Fezes de vida...

 

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