Era quase onze da manhã quando o Zac estava chegando em sua residência, todo suado, com a garrafa de Gatorade vazia em mãos. O Isaac estava jogado no sofá, lendo "A Canção do Mar", de Pat Conroy.

- Hey - o Zac cumprimentou.

- Como está o nariz? - o Isaac perguntou, sem tirar os olhos do livro.

            O Zac colocou uma das mãos sobre o curativo no rosto e disse:

- Nariz? Ah, você está se referindo a panqueca de dois buraquinhos no meio da minha cara? Está ótima.

            O Isaac abaixou o livro e disse:

- A sua amiga te acertou em cheio mesmo, huh?

- É... Por causa dela, eu estou tendo que usar esse lençol sinalizador que vai de ponta a ponta do meu rosto.

- Que exagero, Zac. O curativo não está tão escandaloso assim. Se servir de consolo, combinou com o seu tênis.

- Puxa, Isaac. Obrigado. Eu estou me sentindo bem melhor agora.

- Sempre que precisar - voltando a olhar o livro.

- O Taylor está aí?

- Te dou três chances para você adivinhar: a) o Taylor saiu escalar o Everest; b) o Taylor está estudando biologia no quarto dele; c) o Taylor foi se inscrever num curso de para-médico; d) o Taylor está com a Patty.

- Se eu errar, eu tenho segunda chance? - o Zac satirizou de novo.

- Mas daqui a pouco ele está aí. Só foi pegá-la na faculdade.

            Já que o Taylor não foi tentar cursar a para-medicina, fica fácil de contar. Lá estava ele na frente da faculdade da Patrícia, encostado em seu carro preto, esperando-a sair da última aula. Um veículo próximo estava com o porta-malas aberto, com as caixas de som salientes para fora do carro, tocando no último volume a música She got the look, da banda Roxette. O Taylor, de óculos escuros, lindo como sempre, batia um dos pés no pneu do carro e movia os dedos de maneira ritmada, de acordo com a música, com os braços cruzados. As meninas que já haviam saído das salas de aula, o encaravam incansavelmente. Esforçavam-se para receber uma olhadinha de retorno que fosse. Mas o Taylor não cedia. Ele estava literalmente ignorando todos os olhares por ali que não fossem os da Patty.

            E quando o Jordan pensava que já tinha visto de tudo na vida, uma das meninas mais atrevidas do grupinho que pairava por ali, começou a dançar de modo sugestivo, encarando o Taylor com toda a malícia do mundo. Mas a coitada não teve lá muita atenção, porque segundos depois, a Patty apareceu no portão da faculdade e, ao avistar o namorado, correu abraçá-lo. Ela pendurou-se no pescoço dele e entrelaçou as pernas em sua cintura. E com os cabelos da Patty caídos sobre seu rosto, o Taylor a beijou com todo o carinho de um garoto sinceramente apaixonado. A nossa dançarina fajuta só faltou lançar raios em direção a Futemminha, de tão mal intencionado que foi o olhar que ela alastrou.

- Nossa, eu não acredito - a Patty disse. - Que surpresa legal - sorrindo.

- É, não é todo dia que um loiro de olhos azuis vem te buscar na faculdade com uma BMW Z3.

- Ah, se for assim, duvido que alguma vez na sua vida você já tenha saído com uma japonesinha miúda tão linda quanto eu.

            O Taylor riu. E disse:

- Linda que nem você? Eu não era tão bom assim, Patty.

- Aaaww, how sweet  - a Patty sorriu e o beijou.

- Eu fiquei com medo que você não tivesse a última aula hoje.

- Amanhã eu não tenho.

            Então a Patty virou para dar tchau para suas amigas. Reparou que metade da faculdade olhava os dois.

- Tay, vamos embora. Todas as mulheres daqui estão te encarando.

- Ah, deixa elas...

- Ahan, claro. Você é meu, querido. Ninguém tem nada que ficar te olhando.

- Nossa, como a minha namorada é possessiva - ele brincou.

- Da próxima vez que você vir me buscar na faculdade, dá para vir um pouquinho menos bonito, por favor? Obrigada.

            O Taylor riu e entraram no carro. Ele acelerou e foram embora.

 

...

 

            O almoço estava sendo servido na casa dos Hanson. A Gina colocava o suflê de milho na mesa, quando o Taylor entrou pela porta principal acompanhado da namorada. E correndo para a cozinha lá foi a Gina apanhar mais um prato para colocar na mesa para a japonesinha. E sorriu grande quando ouviu a confirmação de que a Patty iria ficar mesmo para almoçar.

- Eu preparei uma comidinha bem gostosa, viu? - a mulher de pouca estatura disse, com as mãos apertadinhas contra o peito.

            O Zac apareceu logo que todos se sentaram. Ele veio descendo as escadas, totalmente desanimado, sério, com seus olhos castanhos esverdeados cheios de prostração. O quadro estava de dar dó. E aquele curativo enorme no rosto dele então só tornava a figura do garoto mais pedinte de compaixão. Ele não aparentava tristeza, mas um sério desânimo.

- Oi, Zackito - a Patty cumprimentou.

- Hey.

- Nossa, filho, que cara é essa? - a Diana perguntou.

- Como se não bastasse ontem, a Lynne bateu na minha cara de novo. Só que dessa vez, foi o telefone.

- Você ligou para ela? - o Isaac perguntou.

- Liguei. Mas ela desligou assim que eu disse "alo". Passa a salada, por favor, alguém aí da ponta.

            Todo mundo percebeu que o Zac não queria comentar o assunto, então simplesmente não comentaram. Mudaram de tópico depois de ficar um silêncio pesado na mesa.

            Após a refeição, todos foram para a sala de televisão jogar videogame. Foi uma disputa acirrada, porém muito divertida. Só o Zac que não entrava no espírito. Ele ficava completamente na dele, não fazia os comentários sarcásticos de sempre; jogava, ganhava todas e só. O Taylor estranhou:

- Zac, o que foi?

- Não foi nada, por quê?

- Você não jogou na minha cara ainda nenhuma vitória sua, não ficou relembrando das vezes que você me humilhou no jogo de luta nem ficou inventando estatísticas estúpidas sobre o jogo.

- I'm just not in the mood today - o Zac resmungou.

- Zac, você está resmungando - o Isaac observou.

- E...? - o Zac não entendeu.

- O que é que houve, Zac? - a Patty perguntou, cautelosa.

- Eu estou me sentindo um merda, se é o que vocês querem saber - se exaltou um pouco. Lá vinha o desabafo bem a lá Zackito. - E tudo por causa daquela Lynne idiota!

- Especifique "idiota" - o Taylor não entendeu.

- Que porra... Se ela não tivesse chegado chorando aqui em casa ontem, nada disso teria acontecido. E eu não teria que estar usando esse curativo escroto - o Zac reclamou.

- Mas você tentou falar com ela hoje, não tentou? - a Patty perguntou.

- Tentei. Mas ela desligou na minha cara. O pior é que eu estou me sentindo mal pelas coisas que eu disse a ela. Porra! Eu odeio isso! A Lynne, ela consegue me fazer pensar nas coisas que eu faço e me faz querer ser delicado com ela e faz com que eu me arrependa das minhas atitudes! Eu não consigo simplesmente mandá-la à merda como eu sempre faço com quem me enche o saco!

- É porque a amizade dela significa pra você - a Patty explicou, assustada com os berros do Zac.

- Que bosta! A garota quase desloca o meu nariz para a minha testa, me faz ter que usar essa coisa ridícula na cara e ainda se vê no direito de ficar brava comigo? E por que é que eu me importo?! Damn!

            O Zac então respirou fundo e se acalmou.

- Ufa, valeu. Estou me sentindo bem melhor - ele sorriu de ladinho.

            Todos olharam espantados e sorriram amarelo, retribuindo o agradecimento.

- Talvez eu devesse, sei lá... Just play a little and forget about Lynne.

- É, talvez - o Isaac disse, ainda meio assustado.

- Ok, Taylor. Zachary está de volta - o Zac anunciou. - Pode começar a tremer, irmãozinho.

- So much better now - o Taylor sorriu.

 

...

 

            Eram quase nove horas da noite quando o Taylor estacionou o carro em frente à casa dos Futemma. Abaixou o som e, usando um pouquinho da força, colocou a Patty em seu colo, ajeitando-a em seu corpo.

- Woohoo - ela brincou. - Como o meu namorado é forte.

- Não, Patty, é você que é muito leve.

            Ela riu e então tocou os lábios do namorado. O Taylor retribuiu com o mesmo carinho e, abrindo sua boca lentamente, massageou o céu da boca da Patty com sua língua. O beijo foi ficando cada vez mais gostoso, as respirações mais ofegantes, a temperatura da pele elevou-se. A Patty acariciava a nuca do Taylor com força e alternava seus beijos entre os lábios dele e seu pescoço. Ele então desceu as mãos para as coxas da Patrícia e, após um tempo, subiu-as por debaixo da blusinha da namorada. E tocou seus seios. A Patrícia respirou fundo e mordeu o lábio inferior do namorado levemente, sinalizando o prazer forte que sentiu. E ainda tocando a namorada carinhosamente, ele a trouxe para mais perto e beijou sua orelha, descendo para o pescoço e sentindo assim o cheiro que ele tanto amava.

- E se alguém aparecer? - a Patty sussurrou preocupada.

- Não tem problema, o vidro é fumê.

            Ela riu. E continuou beijando-o. O Taylor então apertou o botão que fazia o banco baixar. A Patty caiu sobre o namorado, rindo baixinho do susto que a suave queda a fez levar.

- Surpresa - ele sorriu, falando baixinho.

            Beijaram-se novamente. Com delicadeza, o Tay levantou a blusa da Patty na parte de trás, deixando as costas dela expostas. E passou a deslizar as mãos nas laterais de seu corpo, colocando os dedos para dentro da calça da Patrícia.

            Foi quando, de repente, do além mesmo, o Tay pára tudo e, sério, olha para a namorada:

- Patty?

- O quê?

- Seria realmente interessante se rolasse agora, mas... Eu não quero que a nossa primeira vez juntos seja dentro do meu carro.

- Mas é uma BMW - a Patty brincou.

            Ele riu. A Patrícia sorriu, olhou um momento para o nada e pensou.

- Eu quero que seja especial - o Taylor explicou.

            A Patty sorriu e, balançando a cabeça positivamente, disse:

- É, você está certo. Tem que ser algo para ser lembrado.

- Dentro do carro é tão... Sei lá, batido.

- Iam perguntar para mim: "Como foi a sua primeira vez com o Taylor?".

- "Foi dentro da BMW dele" - o Taylor completou o raciocínio dela. - How dirty is that? - fazendo expressão de aversão.

- Nossa, ainda bem que você pensou nisso, Tay. É por isso que eu te amo tanto.

- Por que eu penso na nossa primeira vez?

- Fala sério, quantos namorados fazem isso? Nenhum. Só você. - Beijou-o rapidamente.

- Eu só faço isso porque eu realmente gosto de você, Pá - colocando o cabelo dela atrás da orelha.

- Eu sei - ela sorriu. - Eu acredito.

            Silêncio.

- Quer namorar comigo? - ela perguntou.

- Todo dia - ele sorriu.

            Então a Patty o beijou uma última vez, se despediram e ela desceu. O Taylor deu a volta com o carro e, quando colocou o rosto na janela para acenar, viu a namorada caída no chão, com a testa ensangüentada.

 

Capítulo 23 / Índice / Capítulo 25