O Isaac estava sentado em seu quarto assistindo a um filme qualquer. Qualquer porque ele não estava prestando a menor atenção nas cenas de ação que aconteciam na tela. Estava concentrado em outras coisas. Pensava nos irmãos... A Patty havia aparecido na vida do Taylor e finalmente "galinha" deixara de ser uma de suas principais características. O Zac continuava grosseiro, sincero em excesso e nervoso, mas agora, tendo a Lynne como melhor amiga, ele passara a se preocupar mais com os sentimentos dos outros.

Que bom..., o Isaac pensava.

            Mas percebera que nada de interessante andava acontecendo em sua vida. E ele não agüentava mais esse marasmo. Estava cansado de apenas ficar feliz pelos irmãos e pelas coisas boas que lhes vinham ocorrendo. Queria mudanças para si também. Queria acontecimentos novos, uma garota para se gostar, quem sabe, um emprego ou talvez algum negócio próprio. Uma casinha na montanha, esposa, filhos, um lugar para chamar de seu. Ok, ok, nem tanto, mas que o Isaac refletia seriamente sobre querer coisas novas, ah! isso ele refletia.

Mas como eu faço para atrair mudanças...?

            Ele não tinha idéia por onde começar. Então virou o rosto e olhou no espelho em sua parede. E sorriu ao perceber que deveria começar pelo seu visual. Chega de camisas listradinhas, xadrezinhas, calças normais e um visual totalmente sem graça. Era isso, o Isaac andava muito com cara de nada. Ele só usava camisas, o quão broxante é isso? Tudo bem que ele fazia sucesso com as meninas da cidade mesmo com esse look, mas a questão não era mudar para agradar aos outros ou fazer mais sucesso. Era vontade de ter um estilo diferente.

Eu acho que eu vou precisar de ajuda com isso...

            Desligou a televisão, levantou e correu para o telefone ligar para o Taylor.

- Alo? Tay?

- Oi, Ike.

- Aonde você está?

- Acabei de deixar o George e agora estou no carro, indo para casa.

- Great.

- Por quê? Aconteceu alguma coisa?

- Até que enfim aconteceu - o Isaac sorriu.

- Ahm... ok. Você me explica isso quando eu chegar em casa - desligando então o celular.

            O Zac também foi convidado e foram os três para o shopping. Explicado os motivos do Isaac, o Taylor e o Zac deram o maior apoio para o irmão mais velho.

- Finalmente você vai parar de usar esse bando de roupa de velho. - Eu preciso citar quem foi que disse isso? Acho que não, né...

            Passaram o fim de tarde todo procurando roupas descoladas para o Isaac. Entravam naquelas lojas caríssimas e levavam desde chaveirinho até, sei lá, ombreiras. As vendedoras traziam inúmeras opções de vestimentas, atenciosérrimas, vendo nos irmãos Hanson o aumento de números despontar nos lucros ao final do mês.

            As garotas que passeavam no shopping, aquelas, famosas, que estariam em todos os locais em que eles estivessem, seguiam os três de longe. De vez em quando, alguma tomava coragem e vinha puxar conversa com algum dos irmãos, mas era logo cortada pela delicadeza galopante do Zac:

- Garota, vai procurar cliente em outra esquina, tá legal?

            Grosseiro ou não, funcionava. Tudo bem que ele fazia umas chorar, mas ah, esse é o jeitinho do Zackito.

            Entraram na Gap, umas das lojas preferidas do Zac, e começaram a fuçar em umas camisas mais modernas para levar.

- Putz, mas é um lixo ficar provando roupa - o Isaac desabafou.

- Eu gosto - o Taylor disse.

- Fruta - o Zac xingou.

- Fuck yourself  - o Taylor retrucou.

- Eu tenho mesmo que provar? Não dá para simplesmente levar?

- Pô, Ike, e você vai perder de ir aos provadores dessa loja maravilhosa? - o Zac perguntou indignado, fazendo aquela propaganda básica.

- Eu já disse que eu odeio ficar experimentando roupa.

- Mas Isaac, você tem que entender que na Gap tudo se torna mais divertido.

- Whatever...

- Mas é sério! Olha que vendedores simpáticos. Olha quanta gente bonita e...

- Dá pra voltar ao estado natural de garoto-ferradura, Zac? - o Isaac se encheu dos comentários legais do irmão.

- E aí, Isaac? Vai ou não vai experimentar? - o Taylor cortou a discussão.

- E eu tenho escolha? Esperem aqui que eu já venho - indo para o provador.

- E eu vou arranjar uma opinião pública para opinar sobre as roupas do Ike - o Zac disse, já caminhando para fora da loja.

- Você vai o quê? - o Taylor não entendeu.

- Quando eu voltar você vai entender.

            Alguns minutos depois, o Isaac estava com as vestimentas que havia escolhido. Olhava-se no espelho do provador e gostava do que via. "Definitivamente ficou bom" ele falou sozinho. Anunciou que estava saindo e abriu a cortina.

- E aí, o que acharam?

            Mas levou o maior susto ao deparar-se com mais cinco meninas ao lado de Zac.

- Quem são essas? - o Isaac estranhou.

- Hi - elas disseram juntinhas, sorrindo sem jeito.

- São a sua opinião pública - o Zac explicou. - Nada melhor do que mulher para dar uma opinião sobre roupas de homens.

            O Taylor só ria.

- Ahm... Ok - o Isaac concordou, ainda surpreso. - So, girls...? What you think?

            Dadas as opiniões positivas e negativas, o Isaac escolheu o que ia levar e os três saíram da loja cheios de sacolas. As garotas empolgaram-se um pouco e deram a entender que iriam acompanhá-los durante o passeio no shopping. E mais uma vez, o problema foi rapidamente resolvido pela delicadeza e finess do nosso amigo Zackito:

- Ir com a gente? Ah, claro... Aí então vocês caíram da cama e acordaram. Podem ir chispando. Xô, xô - como quem espanta galinha.

            Andaram mais algumas horas e resolveram parar para comer alguma coisa na praça de alimentação. E o fã clube, lógico, sempre atrás seguindo os seus ídolos.

- Ainda bem que a Patty não está aqui. Ela ia se estressar com essas garotas - o Taylor sorriu ao lembrar-se do ciúme da namorada.

- E ela nunca mais levou nenhuma pedrada perdida na idéia? - o Zac perguntou, com um certo ar de deboche.

- Thank God no.

- Sabe que eu achei que ela sofreria bem mais represálias do povo feminino de Tulsa? - o Isaac disse. - Até que não tem aparecido muitas desaforadas protestando o namoro de vocês.

- É verdade. Ainda bem. Eu não quero que a Patty sofra por causa das cagadas que eu já fiz.

- Cagadas? Você fez verdadeiros montes de bosta - o Zac deu aquela cutucadinha básica. - Se cada menina com quem você transou ttivesse ficado grávida, você provavelmente seria preso por aumentar o número de pessoas no planeta Terra...

- ...a ponto de seres humanos terem de aderir à vida aquática por falta de lugar para morar na parte terrena - o Isaac completou.

- Não é assim também - o Taylor protestou o exagero.

- Claro que não. É pior - o Zac disse.

- Bom, mas o que importa mesmo - o Isaac interrompeu. - é que eu comprei tudo o que eu queria. Agora estou pronto para receber algumas mudanças na minha vida.

- Ike, você sabe que não é só variando as suas roupas que você vai conseguir mudar sua vida, não sabe? - o Taylor observou.

- Ah não? - o Zac perguntou brincando.

- Eu sei, Tay, não se preocupe. Esse é só o primeiro passo.

            O Taylor sorriu. E voltaram para casa.

 

...

 

            Sábado de manhã o Zac levantou para o seu cooper querido e básico. O dia estava do jeito que ele gostava, meio acinzentado, ventinho frio, sem sol forte. Mesma cerimônia: levanta às oito da matina, coloca as roupas apropriadas, amarra o cabelo, toma um iogurte, pega o Gatorade e sai.

            Lá ia ele correndo pelo parque de sempre, com as mesmas meninas de sempre e o mesmo percurso de sempre. E ele correu. Mas desta vez, correu muito. Mais do que o normal. O cansaço parecia não vir nunca e a vontade do Zac de correr crescia cada vez que o vento tocava os seus cabelos longos e loiros, a cada passo largo que ele dava. E ele corria. Pensava e corria ainda mais. Corria não, o Zac parecia estar voando de tão veloz que suas pernas se movimentavam. Ele estava angustiado, com o peito apertado, nó na garganta.

            Então, meio que sem perceber, ele saiu do parque e começou a correr pela rua. E correu, correu, sem dar ouvidos aos constantes assovios das meninas que passavam e sem se irritar com os olhares maliciosos das mais oferecidas. Correu feito um louco, suor de todo o seu corpo sendo deixado para trás, os cabelos já quase molhados totalmente, pele úmida, regata ensopada e colada ao corpo. Os músculos das coxas inchados e a perna latejando de cansaço. Mas ele não parava de correr.

            Até que chegou em frente à casa da Ló e finalmente parou. Colocou as mãos nos joelhos e respirou ofegante. Tossiu algumas vezes, o corpo anestesiado de canseira, o peito doído por causa da respiração afobada. Ergueu-se e voltou-se para a casa. Os cabelos bagunçados, fios por todo o rosto e colados na pele com o suor. Foi andando em direção ao portão, então o degrau do alpendre e por fim a campainha.

- Zac? - a Ló atendeu, de pijama e cara de sono. - O que você está fazendo aqui às... - Olhou no relógio da sala. - Oito e meia da manhã?

            Ele respirava forte o que dificultava a fala. Tinha corrido muito mesmo.

- Nossa... Você quer um copo d'água? - ela ofereceu, vendo o estado dele.

            O Zac balançou a cabeça negando e sorriu agradecendo.

- E o que você quer então?

            Ele fez sinal para ela esperar um pouco. Tomou um gole do Gatorade.

- Está tudo bem com você? - ela perguntou.

            Fez positivo com o dedo, ainda respirando acelerado.

- O que você quer então?

- Eu... queria... fazer... um... negócio - ele disse pausado.

- Fazer o que nesse estado, meu santíssimo?

            Então o Zac a puxou para um abraço.

- Zac, você está nojento! - ela reclamou do suor no corpo do amigo.

            Mas ele nem deu ouvidos. Abraçou-a bem forte, com todo o carinho do mundo. Vendo que era sério o negócio, a Ló arregalou os olhos assustada e ficou paradinha. O Zackito a segurou por uns segundos, bem junto dele, sorrindo com o rosto apoiado no ombro da amiga. Então se afastou, ainda morto de cansaço, e sorriu com as mãos sobre os ombros dela:

- Lynne, eu te adoro.

            Ela continuou com os olhos arregalados, muda. O Zac sorriu e saiu correndo, acenando para ela de longe, sumindo uns segundos depois no fim da rua. A Lynne ficou parada, boba, dando tchau para o nada, sem reação. E o Zac voltou para a casa com o coração aliviado e o peito solto que mais parecia estar flutuando.

 

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