Era quase dez da manhã quando o Taylor acordou e olhou lá fora, pela janela. O dia estava meio nublado, com cara de que ia chover. Levantou, espreguiçou-se e desceu os inúmeros degraus, cobertos pelo caríssimo tapete persa, da mansão dos Hanson.

            Estavam todos na cozinha tomando café. Assim que o Taylor entrou, recebeu um bom dia caloroso de toda a família. Sorriu ao observar aquela cena tão agradável aos olhos... As duas filhas mais velhas rindo alto, a Zöe sentada no colo da mamãe, o Walker ajudando o Mackenzie a abrir a caixa de sucrilhos, a Gina servindo, o Isaac ajudando e o Zac... O Zac?!

- Zac, você não foi correr hoje? - o Taylor perguntou, espantado.

- Não. Hoje eu não quis - respondeu, tomando um gole do iogurte.

- Mas Zac, você corre desde... Desde sempre. Você nunca deixou de correr.

- É, mas hoje eu deixei. Do you mind?

- Ahm... no.

- Thanks.

- Vai querer o quê, querido? - a Diana perguntou para o Taylor. - Café, chá, suco, iogurte, chocolate quente...?

- Chá.

- De pêssego, maçã, frutas vermelhas, camomila, erva-doce, morango...?

- De qualquer coisa, mãe - o Tay respondeu docemente, com aquele mesmo sorriso meigo tão comum em seus lábios.

            As crianças falavam todas ao mesmo tempo, riam, corriam pela cozinha.

- Vamos parar com essa correria? - o Walker dizia. - Diana, peça para as crianças irem lá para fora que eu estou tentando tomar o meu café.

- Meus anjos, vão brincar no jardim, está bem?

            E lá foi a criançada...

- E então, Taylor - o Walker começou. - como está o namoro com a japonesinha faceira?

- Está ótimo, pai.

- Tudo indo como diz o manual?

            O Taylor olhou para a cara do pai não tendo idéia de que manual era esse que Walker falava, mas concordou para não causar polêmica:

- Tudo indo como o manual, pai.

            O Isaac e o Zac se olharam, lembrando da conversa que tiveram sobre a provável mudança de comportamento do Taylor em relação a Patty no dia em que ele e a namorada... Bom... Viram a luz.

- Você a ama, Taylor?

- Amo muito, pai.

- Ai, que lindo, querido - a Diana se manifestou, saindo logo a seguir para olhar as crianças no jardim.

            Aproveitando que a esposa não estava presente, o Walker não podia deixar de perguntar:

- Está usando camisinha, filhão?

- Estou, pai.

- Excelente, excelente... - Pausa. - Então isso quer dizer que estão transando. Muito bom, filho - todo malicioso.

O Taylor sorriu amarelo, mordendo a sua torrada com o desgosto de quem comia cocô.

- Eu lembro que na minha época - Os três já reviraram os olhos. - não tinha uma garota na faculdade a qual eu ainda não tinha pegado. Sim, sim, meus filhos, o pai de vocês era o terror de Tulsa. Eu já contei da vez em que eu fiquei com treze garotas na mesma noite?

- Já pai. Umas quinhentas e quarenta e oito vezes - o Zac suspirou.

- Foi na festa de formatura. Eu estava...

- Estão precisando de alguma coisa por aqui? - a Gina apareceu na cozinha.

- GINA! - os três gritaram o nome da empregada como se fosse um hino de salvação.

- Gininha, eu acho que o meu pai está querendo mais leite - o Taylor improvisou.

- É, atende o velho aqui que a gente vai subir para se trocar - o Zac disse.

- Tchau, tchau, tchau - o Isaac já foi saindo. Os dois irmãos foram logo atrás.

            Subiram as escadas correndo e cada um foi para o seu quarto.

 

...

 

            A Patty estava indo até a casa dos Hanson a pé, carregando um presentinho para o namorado em sua bolsa. Tinha comprado uma porta-retrato lindo e colocado uma foto dos dois, da época do comecinho do namoro.

            Mas é lógico que a Futemminha já não andava nas ruas da cidade com a mesma tranqüilidade que costumava. Ela andava olhando para os lados, desconfiando de toda garota da sua idade que passava por perto. E se passava uma menina bonita então, a Patty começava a tremer e a suar frio. Se era bonita, com certeza já tinha ficado com o Taylor. E se já tinha ficado com ele, considerava a Patrícia uma inimiga. Os últimos acontecimentos não deixavam muitas opções para a Patty: ou ela ficava ligada ou ela ficava ligada.

            E para chegar a casa do namorado, a Patty tinha que passar por uma espécie de praça onde ficavam vários carros estacionados com os adolescentes riquinhos e vazios de Tulsa, exibindo-se o máximo que podiam, esfregando sua vida financeira bem-sucedida na cara de quem fosse. Alegria para uns, medo para outros. Quer dizer, só para a Patty, que andava com pânico desse tipo de gente.

            Quando viu que a pracinha estava se aproximando, a Patrícia respirou fundo e apressou o passo. Colocou o cabelo no rosto e passou pelo outro lado da rua, torcendo para não ser vista. Tinha esperanças de que desta vez conseguiria passar despercebida. Mas infelizmente, o clube do Taylor tinha detector de Futemminha. Uma então gritou:

- Ei, gente! Não é a putinha da namorada do Taylor?

            Um arrepio gelado percorreu a espinha da Patty.

- Está indo para a casa do Taylor, japonesa filha da puta? - outra gritou de cima da camionete do papai.

            Outro arrepio. Agora somado a um de ódio.

- Biscate! Aposto que pagou para o Taylor namorar você!

            Então as garotas começaram a vir em direção a Patty. Ela não pensou duas vezes, começou a correr desesperadamente. Nunca investira tanta força em suas pernas. E dando a volta na quadra, retomou o caminho de casa.

- A gente vai te pegar, japinha! Pode correr o quanto quiser! - elas gritavam e riam enquanto corriam atrás da Patty.

            A Futemminha agora chorava. Chorava de soluçar porque sentia suas pernas doerem já de correr. Além disso, cortava-lhe a pele tanta humilhação. Aquelas meninas a viam como um reles empecilho que precisava ser tirado do caminho o quanto antes, nem que fosse a base do chute. Doía em seu coração o preço alto a ser pago por gostar do garoto mais disputado da cidade. Ela chorava e corria, chorava e corria. E as ofensas continuavam a ser ditas pelas garotas atrás dela.

            Finalmente, a Patty conseguiu chegar em casa. As meninas já não corriam mais atrás dela, riam paradas na esquina da quadra anterior, observando o desespero e a vulnerabilidade da Patrícia. Entrou porta adentro aos prantos, tremendo, nervosa como nunca. Trancou-se no quarto e chorou a tarde inteira convulsivamente.

 

...

 

            O Zac continuava pensativo. Queria ligar para a Ló, mas pensava, repensava e acabava hesitando. Ele estava bem confuso. Bom, mas dá para entender. Não é todo dia que você descobre que "desenvolveu uma resistência sentimental".

            Alguém bate na porta.

- O que é!

- Posso? - o Taylor disse, colocando a cabeça na porta.

- Entra aí.

- Zac, está tudo bem?

- Está.

- Você ficou no quarto o dia todo, não quis andar de carro com a gente, não quis lanchar, não foi correr hoje de manhã...

- Pois é.

- Eu sei que você está um pouco perdido por causa das coisas que o Isaac e eu te dissemos. Mas acredite, vai ser melhor para você. Porque sabendo do problema você vai poder resolver a sua situação.

- Ahan.

            Não demorou muito, o Isaac apareceu.

- Hey Zac. Ainda está chateado?

- Eu não estou chateado.

- Olha, não se sinta mal por ser complicado ou por ter problemas - o Isaac disse.

- É. Todo mundo tem problemas - o Taylor completou. - E também, as coisas se resolvem.

- Você criou esse complexo com sentimentos porque provavelmente você tenha medo de se envolver, de se machucar de novo e se decepcionar com as pessoas, como quando nós éramos famosos.

- Você tem pensar que nós não somos mais famosos - o Taylor observou.

- Eu estou bem - o Zac repetiu. - Dá para vocês pararem de me encher?

- Essa sua agressividade é bem normal agora. Porque depois que você ouve a verdade e descobre as causas, você não quer aceitar. Você nega - o Isaac falou.

            O Zac revirou os olhos.

- O que você sente pela Ló, essa amizade forte que você desenvolveu por ela, fez você entrar em conflito com o seu inconsciente - o Taylor comentou.

- E pode ter certeza de que você vai tentar negar por algum tempo, vai lutar contra isso...

- Você, Zac, criou um casco. Um casco que nunca te permitia se relacionar e se envolver de verdade com as pessoas. Por isso que...

            O Taylor explicava, quando o Zac interrompeu:

- Que porra, eu não estou negando nada! Eu só estou pensando sobre umas coisas e...

- Está vendo? - o Isaac cortou a explicação do Zac. - Você está agressivo.

- Eu sou agressivo por natureza, idiota.

- Não, a sua agressividade está...

- Vocês gostam de analisar os outros? Ótimo. Então que tal isso: Isaac, você não enfia a cara nos livros porque gosta de ler. Você usa o livro como fuga para poder se esquecer totalmente de que, apesar de fazer sucesso com as garotas de Tulsa, você se sente um merda. E só está conseguindo perceber que serve para alguma coisa e reconquistar o seu amor próprio com o The SS. Porque desde que a banda acabou, you became a fucking loser!

            O Isaac ficou sem ação. Zac continuou:

- Taylor, você diz que mudou por ter começado a amar, mas não consegue largar o cargo de Comedor da Cidade. Sempre que pode, você relembra a todos que convivem com você do quanto você é disputado por esse bando de piranhas daqui de Tulsa. Ou seja, necessidade constante de auto-afirmação.

            O Taylor paralisou.

- E como eu temia, a verdade é que agora que você conseguiu comer a Patty, o namoro de vocês já não tem o mesmo valor para você.

            Uma fúria incontrolável fez o sangue do Taylor ferver. Não deu tempo direito nem do Zac terminar a frase. O Cumprido voou para cima dele, acertando o irmão no olho com toda a força. Teria batido mais se não fosse o Isaac segurá-lo pelos braços, pedindo que ele se acalmasse. O Zac caiu deitado na cama, com as mãos no rosto, gemendo de dor. E gritou:

- Tá maluco?!

- Seu, seu... retardado mental! - o Taylor gaguejava de raiva. Seu rosto estava vermelho e sua voz chegava a falhar de tanto que ele gritava. - Como você se atreve a questionar o que eu sinto pela Patty? Eu amo aquela garota mais do que, do que eu! - gaguejava mais. - Eu nunca faria uma nojeira dessas com ela! Caralho, Zac!

- Taylor, calma! - o Isaac pedia, nervoso.

            Avery e Jessica foram até o quarto movidas pelos gritos dos irmãos mais velhos. Ambas começaram a chorar pedindo pela mãe assim que perceberam a gravidade da briga. Era feia mesmo.

- Me solta! - o Taylor gritava. - Me solta que eu, eu vou quebrar a cara desse pirralho de bosta!

            O Zac levantou da cama e começou a gritar também:

- Eu devia socar a sua cara também por você ficar me analisando como se você fosse a porra do Sr. Perfeito!

- Mas eu nunca questionaria a merda do seu caráter como você fez comigo! - o Taylor berrou. - O que você acha que eu sou? Um porco?

- Você passou a sua vida sendo algo bem pior do que isso! - o Zac revidou aos berros.

- Cala a merda da boca, Zac! - o Isaac ordenou.

            O Taylor tentava se soltar agora com mais vontade. Jogava as pernas para a frente, puxava os braços com força para se soltar de Isaac e gritava pedindo para ser solto. Estava decidido a voar no pescoço do Zac.

- Me larga, Isaac!

- Taylor, calma! - Isaac pedia. - Se controla!

            Finalmente, Taylor conseguiu se soltar. E foi para cima do Zac na base de socos. Isaac pulou em cima para tentar separar, mas não adiantava. Eles eram muito fortes. Walker e Diana chegaram correndo.

- Meu Deus, o que está acontecendo aqui? - a mãe questionava aos gritos, assustada.

- Taylor, Zachary, parem! - Walker ordenava.

- Parem! Pelo amor de Deus, parem! - Diana implorava.

            Os irmãos menores choravam no corredor, apavorados. Walker pegou os dois pelos braços e os levantou à força. Taylor e Zac eram fortes, mas o Senhor Hanson parecia mais um touro por ter boa saúde e forma.

- Chega! - Taylor insistia em bater no Zac. - Chega, merda! - Walker gritou.

            Eles então pararam. Silêncio. Só se ouvia as crianças chorando amedrontadas na porta do quarto.

- O que é isso? O que deu na cabeça de vocês? - Walker gritava. - Esqueceram que vocês têm irmãos pequenos?! Esqueceram que isso aqui é uma casa de família?

- Vocês se dão tão bem, o que é que houve, for God's sake? - Diana perguntou, nervosa.

            Nenhum dos filhos dizia uma palavra. Taylor e Zac olhavam para baixo. Diana tirou os filhos menores dali e junto de Isaac foram com os pequenos para o primeiro andar da casa. Achou melhor deixar o marido resolver aquela situação.

- Será que eu vou ter que bater em vocês como eu fazia quando vocês tinham 10 anos? Eu não quero mais saber de brigas aqui dentro! Se eu pegar vocês brigando mais uma vez, eu juro que vou tirar a cinta e dar em cada um! Entenderam?

- Sim, pai - sussurraram.

- Eu não ouvi.

- Sim, pai.

- Taylor, agora vai para o seu quarto e só saia de lá quando eu mandar. A mesma coisa para você, Zac. E tem mais, hein? Vocês estão de castigo. Nada de carro, celular, saídas à noite e namoradas.

- Pai! - os dois falaram juntos, protestando.

- Vocês são dois moleques! Eu pensei que já eram homens, mas já vi que não passam de moleques! E moleque a gente trata assim!

- Pai, eu preciso ver a Patty - o Taylor disse.

- Taylor, eu acho que eu fui bem claro. E você não ouse me desobedecer! Você não sai desta casa nem ela entra. Eu não tenho absolutamente nada contra a Patrícia, você sabe muito bem disso. Mas é para você aprender! Aprender a não bater no seu irmão. Seu irmão, Taylor! O Zac é seu irmão! Ele vai estar com você durante toda a sua vida. Eu não sei aonde vocês aprenderam a brigar assim, mas com certeza não foi o que eu e Diana ensinamos dentro desta casa.

            Os dois olharam para baixo.

- E Zac, controle o seu gênio. Vocês são amigos, pelo amor de Deus! Não foram educados para se matarem!

            Silêncio. Walker deu a última ordem:

- Taylor, vá para o seu quarto.

            Taylor obedeceu e saiu do quarto de Zac sentindo-se horrível. Walker ficou olhando para Zac sério, que sentiu o peso do olhar do pai, mas não conseguia fazer contato visual de tamanha vergonha que sentia.

- Zac, não desperte a fúria no seu irmão. Não é assim que você resolve seus atritos com ele ou com qualquer outra pessoa.

            Walker deixou o quarto e fechou a porta. Durante o resto daquele dia, a casa que sempre era tão barulhenta e cheia de vida, ficou silenciosa como nunca. Não se ouviu um pio por toda a mansão durante horas, que pareciam custosas a passarem.

 

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