Mais um dia na casa dos Hanson. Tudo quase no seu ritmo de normalidade.
Quase. Se não fosse o detalhe de o Zac ainda estar trancado em seu quarto.
O Taylor olhava para a caixinha com os brincos que havia comprado para a
Patty há um ano atrás, dentro de sua gaveta. Ainda não os tinha dado a ela e
não tinha a menor idéia do por quê. Os dois sóis, iluminados como a namorada
dele. Sorriu de saudades dela.
-
Com licença? - o Isaac pediu.
-
Oi, Ike. Entra.
-
Taylor, eu estou preocupado com o Zac.
Direcionou o olhar para a janela e ficou quieto. O Taylor ainda estava
chateado com o irmão mais novo.
-
Tay?
- Não
espere que eu vá bater na porta do quarto dele perguntando se ele está bem. Não
desta vez, Ike.
-
Mas faz três dias que ele não sai daquele quarto. - O Taylor continuou quieto.
- Eu passo pela porta do quarto dele, eeu ouço músicas calmas e barulho de
papel. Dá última vez, ele estava ouvindo Enya. Taylor, Enya! O Zac odeia Enya.
-
Vai ver que começou a gostar.
- E
os barulhos de papel... Eu acho que ele anda lendo.
-
Que ótimo. Assim ele deixa de ser tão ignorante.
-
Taylor, será que você não está nenhum pouco preocupado?
-
É lógico que eu estou. Mas eu cansei de engolir as merdas do Zac. Cansei de
ouvir de mim mesmo a frase "não ligue, é o jeito dele, é o jeito
dele" como se fosse uma desculpa que o Zac tem para agir como ele age. Ele
errou. E se ele está triste por causa disso, é um sinal de que ele começou a
perceber de que está na hora de mudar!
-
Eu vou lá tentar falar com ele de novo.
O Isaac foi. E nada. O Zac nem respondia.
Só se tinha notícias dele pela Gina, que era a única que entrava lá
para levar comida.
Ela dizia que o Zac não parecia melancólico, mas sim pensativo. Que
volta e meia estava parado em frente a janela, encostado com a testa no vidro,
olhando a paisagem concentrado. Assim que ela entrava, ele sorria sereno e
conversava muito pouco com a empregada. Falava o necessário. E quando a Gina
dizia que iria chamar a Diana ou o Walker para vê-lo, o Zac pedia que ela não
fizesse isso, por favor. Queria ficar sozinho mais um pouco.
E assim foi por mais dois dias. O Zac ficou quase uma semana sem sair do
quarto, ouvindo músicas calmas e lendo. Não queria que ninguém entrasse
pedindo para ele sair do quarto, não queria ser tirado de lá se não fosse por
vontade própria. E a família assim o fez, mesmo preocupada, respeitando a
privacidade do Zackito.
Certa manhã de sábado, todos estavam no primeiro andar, fazendo um
daqueles programas de família: no videogame, inclusive a Diana e o Walker,
fazendo um campeonato com seus filhos de joguinhos de luta. O Taylor não estava
tão empolgado assim porque só pensava na hora em que sairia do castigo. E na
hora em que o Zac sairia de seu quarto. Claro que estava preocupado, como não
estaria. Mas não podia simplesmente passar por cima do que tinha acontecido.
Precisava resolver com o irmão mais novo assim que este se dispusesse.
Então subiu para o segundo andar. Talvez fosse dormir um pouco, ainda não
sabia. Passou pela porta do quarto de Zac. Agora estava silêncio. Não se ouvia
nenhum ruído. Ficou com o ouvido próximo a porta mais uns segundos. O silêncio
pesado permaneceu. O Cumprido entrou em pânico.
-
Vamos lá, Zac, faz algum barulho, qualquer coisa - o Taylor cochichou para si
mesmo.
Nada. Estava decidido a tentar entrar, nem que fosse à força. Mas sua
atitude heróica foi cortada pelo barulho de uma porta batendo lá dentro da suíte.
A porta era a do banheiro, mais especificamente. O Taylor aliviou. Ele estava
no banheiro, pensou. E continuou andando.
Sentou-se sobre a escrivaninha próxima a janela e ficou olhando o grande
jardim da casa. Observou a pracinha próxima a mansão e suas crianças
brincando e seus velhinhos sentados nos bancos branquinhos como seus cabelos,
sob as altas árvores. E as famílias, e os casais... As famílias e os casais.
O Taylor percebeu que estava com problemas nestes dois aspectos. E isso o
incomodava.
-
Tay.
O Taylor retornou de seus pensamentos e olhou para a porta.
-
Zac?
-
Eu posso falar com você? - sem jeito.
-
Pode.
- E
entrar? Eu posso?
Preparado
para responder aquilo com hostilidade e sarcasmo, o Taylor levantou. Mas
desistiu, lembrando-se de que este não seria um bom começo. Voltou a sentar-se
na escrivaninha.
-
Pode. Entra.
O Zac entrou e parou, em pé, ao lado da cama.
-
Você ainda está puto comigo? - ele perguntou. O Taylor não respondeu. - Está.
- O
que você esperava, Zac?
-
Tudo bem, tudo bem, eu sei disso tudo já.
-
Isso tudo o que?
-
Isso tudo o que você está pensando. Não precisa falar porque seria a repetição
da repetição. Eu já sei, ok?
- O
fato de você saber não muda muita coisa.
-
Pode não mudar porque normalmente, quando a gente briga, eu sempre sei dos
motivos de você estar bravo. A diferença é que agora eu estou arrependido.
Quer dizer, eu sempre me arrependo também, mas dessa vez eu estou reconhecendo
isso. - O Taylor ficou quieto. - Aquelas coisas que eu disse... Aquelas coisas
foram... - o Zac se esforçava, chateado. - Foram erradas. E mentirosas. Eu não
acho aquilo de verdade. Quer dizer, eu achava. E o meu erro já começou aí.
-
Erro? Só isso?
-
Cara, eu...
-
Você foi um escroto em dizer aquilo! Como você pôde achar que saberia o que
eu sinto baseado só e exclusivamente no que eu fiz de ruim? Como se eu não
tivesse nada de bom!
-
Eu sei, eu sei. Você está certo. Como você disse, eu não podia ter
questionado o seu caráter como eu fiz. Você gosta de verdade da Patty e eu não
sou ninguém para duvidar disso.
-
Então por que você duvidou?
-
Porque, porque... Porque eu não penso ou penso demais, sei lá.
-
Pode ser.
-
Desculpe, Taylor. Desculpe mesmo.
Apesar de nervoso e magoado, o Taylor conseguia notar a mudança em Zac.
Ele estava mais suave e havia uma serenidade em sua voz. Ele se esforçava para
tentar dizer o que sentia, mesmo isso sendo tão difícil para ele, e mantinha a
calma. Mas não contando até dez, como era característico do Zachary, para
controlar sua agressividade. O Zac estava mesmo calmo e arrependido.
Continuou:
-
Eu sei que eu sempre fui assim, meio, como eu posso dizer...?
-
Cavalo?
-
Indelicado.
-
Yeah... Whatever to make you feel better.
-
Mas eu nunca quis te deixar puto ou triste ou... - O Zac respirou fundo. - Eu
nunca quis te, te magoar. Você sabe que... Que você é meu irmão e que... Eu
amo você.
O Taylor, que estava com sete pedras na mão, pronto para jogar assim que
tivesse uma brecha, desarmou ao ouvir aquilo.
- E
eu... Eu não quero ficar brigado com você de novo. Já foi uma bosta da última
vez em que nós ficamos dias sem nos falar e isso foi o suficiente. Até mesmo
para mim.
O Zackinho estava com os olhos brilhando, cheios de lágrimas. Mas
segurava para que nenhuma dessas traidoras caíssem. Ele não podia chorar. Ele
não queria chorar.
Vendo isso, não havia mais o que dizer. O Taylor foi até o Zac e o abraçou
daquele jeito de irmãos homens se abraçarem. Aí o Zackito não agüentou. E
chorou mesmo.
Aí ficou tudo bem. Naquela noite, a Gina fez um jantar lindo para
comemorar a alegria que tinha voltado para a casa da família Hanson.
...
Durante esses cinco dias em que o Zac ficou trancado em seu quarto, pode
até parecer, mas a vida não parou em Tulsa. Aconteceram coisas boas, legais,
engraçadas, ruins e graves. Muito graves.
Na Quinta-feira à tardinha, umas sete horas, a Patty estava voltando da
casa da Belle, sua amiga, a pé. Receosa, morrendo de medo, rezando para ficar
invisível, mas a pé. A Belle tinha se oferecido para fazer companhia, mas a
Patty não aceitou. Se tinha uma coisa que a japonesinha odiava era dar preocupação
e trabalho para os outros. Ela evitava isso de todas as maneiras possíveis.
Ela andava escorada aos muros e escondida atrás das árvores. Toda
garota que ela avistava era motivo de pânico. Ainda mais quando eram lindas,
gostosas e metidas. Essas eram as mais perigosas.
Talvez aquele seria o dia em que ela saiu de casa e não seria
perseguida. Ela estava esperançosa. Porém, a Futemminha se descuidou por não
acreditar que patricinhas se escondiam em becos. E ao passar pela entrada de um,
olhando para a rua ao invés de olhar para o escuro entre os dois prédios, a
Patty sentiu seu braço sendo pego. E foi puxada com violência.
-
Mas se não é a namoradinha piranha do Taylor? - a Gisely disse.
Medo. O mais puro e legítimo medo. Era o que a Patty sentiu ao ver a
Gisely com tanto ódio no olhar e suas duas amigas dispostas a ajudar no que
fosse preciso.
-
Voltamos ao ponto em que eu bato e você apanha.
- Não,
por favor, não faz isso - a Patty pediu.
-
Hoje o seu namorado não está aqui para te ajudar.
-
Por favor, eu...
A Patty nunca terminou aquela frase. Porque o impacto em seu estômago fez com que ela engolisse até mesmo seus pensamentos. E a Futemminha apanhou. Covardemente, a japonesinha de pouca altura apanhou, sendo punida por ter conquistado o garoto mais disputado da cidade. Apanhou por ser feliz e por ter entrado na vida de Jordan Taylor Hanson com a permissão dele. E apanhou, principalmente, por amá-lo e ser correspondida.
Capítulo
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