O Zac dirigia ouvindo o cd do Dire Straits, emprestado do Taylor. Apesar de ter mudado em algumas coisas, o

Zackito continuava dirigindo todo inconseqüente. Mudanças tudo bem, mas milagres não são assim tão fáceis de acontecer.

            Estacionou e desceu. Apertou a campainha da casa da Lynne.

- Zachary? - a própria disse ao atender a porta, surpresa.

- Oi, Lynne.

- O que você quer?

- Eu queria falar com você.

- Pensei que você me odiasse.

            O Zac suspirou. E disse:

- Por favor, Lynne.

            Ela surpreendeu-se. Tinha alguma coisa diferente... E ela queria muito saber o que era. Então disse:

- Senta aí na varanda. Eu vou me trocar e já venho.

            Só então o Zac notou que ela estava só de camiseta e pantufa. Olhou para suas pernas e voltou a olhá-la nos olhos. A Lynne ficou vermelha. Ele nunca tinha feito aquilo antes.

- Eu, eu já volto - sem jeito.

            O Zac sentou na escada da varanda. Alguns minutos depois, a Lynne chega de moletom e calça jeans. Sentou-se ao lado dele, apoiando os braços nos joelhos. Silenciosamente, o Zac a encarou. Parecia observá-la, espremendo os olhos e, imóvel, deixava o vento levar seu cabelo até seu rosto. Tinha algo diferente... A Lynne mal conseguia fazer contato visual. Os olhos dele estavam observantes demais. Ela não entendia o que era. O Zachary estava mais sério, mas não mais nervoso. Estava... Decidido e inseguro.

- Quanto tempo, não é? - ele finalmente falou.

- É.

- Lynne, eu... Eu não te odeio.

            Ela abraçou mais as pernas.

- Eu não te odeio nenhum pouco.

- Você costuma fazer isso?

- Isso o que?

- Dizer o que não sente só para rimar com o Zac Durão e Grosseiro que você precisa ser o tempo todo?

- É, eu acho que eu faço isso às vezes...

            Silêncio.

- Você me desculpa? - pediu.

            Ela o olhou, séria.

- Me desculpa, Lynne?

- Você está se desculpando porque teoricamente é o que você precisa fazer ou é porque...

- Eu preciso que você me desculpe - ele interrompeu. - É importante para mim.

- Sabe, eu estava com todo um discurso ofensivo e humilhante preparado. Para quando este momento chegasse, eu pudesse jogá-lo em cima de você.

- E você vai fazer isso?

- Não. Porque eu esqueci o discurso.

            O Zac abriu um sorriso, como quem queria rir.

- Você demorou muito para vir se desculpar. Eu acabei esquecendo. Mas ele era genial e ia acabar com você.

- Eu acredito - ele riu mais um pouco. - Você é boa nisso.

- Em fazer discursos ninjas?

- Não, em acabar comigo.

            Silêncio. Aquele semblante diferente de novo. A Lynne olhou para baixo.

- Você ainda quer saber o que eu conversei com o Dave aquele dia no The SS?

- Nossa, lógico.

            Ele riu do jeito que os olhinhos dela brilharam.

- Você vai me contar? - ela perguntou.

- Vou sim.

- Que bom, porque eu pensei que você fosse transformar isso num daqueles segredos de levar para o túmulo.

- Eu poderia fazer isso - ele brincou.

- Tá louco?! Aí quem vai pro túmulo sou eu.

            O Zac riu. E começou a contar:

- Aquele dia eu disse para o Dave algumas coisas que eu pensava.

- Você disse que falou para ele o que ele tinha que ouvir.

- É, também.

- Você brigou com ele?

- Não.

- Você o ameaçou?

- Lynne, o que você pensa que eu sou? Psicopata?

- Ok, ok, desculpe.

- Bom, aquele dia, quando eu o vi conversando com você, eu fiquei meio desconfiado. Eu não conseguia escutar o que ele estava te falando, mas eu imaginava, era óbvio. Ele só podia estar querendo voltar com você. E eu achava isso errado porque... - Ele parou um pouco. - Bom, eu não podia deixar que ele aparecesse na sua vida e te magoasse de novo.

            A Lynne ouvia atentamente.

- Depois que você deixou a gente sozinho, eu comecei a falar o que eu queria...

 

- O que você quer falar comigo, Zachary? - o Dave perguntou, desconfiado.

- Você acha certo isso que você está fazendo? - o Zac perguntou.

- Claro. Eu quero a Ló de volta.

- Dave, eu sei que parece que está no seu direito de querer a Lynne de volta porque você já a teve uma vez. E eu sei o quanto você deve acreditar nisso. Talvez eu não deveria estar me metendo. E o normal seria eu não me meter porque eu sinceramente estou cagando para o que você sente ou deixa de sentir. Não que eu tenha algo contra você, mas é o que eu sinto em relação a pessoas que eu não conheço. E também, não faz nenhum pouco o meu estilo tentar participar do problema dos outros.

- Então por que está se metendo?

- Porque este problema não é dos outros. - Pausa. - Eu não conseguiria ver você entrando na vida da Lynne de novo, depois de tanto tempo, justo agora que ela está me fazendo tão bem. Só parece que você tem o direito de tê-la de volta. Mas a verdade é que você teve a sua chance. Agora eu gostaria muito que você desse espaço para que eu pudesse tentar.

- Ela disse que você e ela são só amigos.

- É isso que eu te digo também. Nós somos só amigos. Eu nunca sequer olhei para ela de outro jeito, nunca toquei nela, nunca tentei nada. Ainda. Porque eu quero curtir a Lynne em cada momento. Por enquanto, eu estou curtindo a minha amizade com ela e eu realmente gostaria que você não estragasse isso. Agora é a minha chance de estar com ela. A sua já passou. E eu não sei se a sua mãe te ensinou, mas furar fila é muito feio.

- E se ela quiser voltar comigo?

- Se ela quiser, ela vai te procurar. E eu não vou fazer nada para impedir. O que eu estou te pedindo é para que você não insista no assunto. A Lynne é muito especial para mim, cara. E eu estou gostando de tê-la por perto. Sabe quantas garotas eu conheci que eram boas de ter por perto? Uma. A minha mãe. Eu nunca tinha conhecido ninguém como a Lynne. E se você a tirar de mim agora, man, I'm gonna be really pissed off.

            Silêncio.

- Ela canta mal, não canta? - o Dave riu.

- Gosh... Ela é uma ameaça.

- Você já reparou como ela fica quando é contrariada?

- Nossa, ela fica puta - o Zac riu.

- Eu gosto dela, mas... Eu acho que você está certo. Talvez eu não deva insistir no assunto.

- Valeu, Dave.

- Ela é complicada, mas é muito legal.

- Complicada? Só complicada? Teve um dia que ela me convidou para cantar num karaokê que ela tinha ganhado do pai dela. Ela escolheu a música. Aí...

 

- Zachary, eu não acredito que você contou a história do karaokê! - a Lynne reclamou.

- Contei.

- Cretino.

            Silêncio. O olhar do Zac voltou a ser observador. A Lynne agora já estava mais confortável. Então disse, sorrindo:

- Você gosta de me ter por perto?

- Claro que eu gosto. Senão eu não vinha te pedir desculpas a cada briga nossa.

- Eu fiquei achando que você me odiava de verdade. Além da sua convicção no telefone ao dizer isso, você demorou muito para aparecer e pedir desculpas.

- Desculpe, Lynne. É que eu fiquei pensando no que eu ia fazer, em como eu ia fazer... Por isso demorei.

            O Zac sorriu meigo. A Lynne nunca o tinha visto daquele jeito, tão acessível e queridinho. Ela retornou o sorriso.

            Ficou olhando para ele... Ele estava bonito. Calça com aspecto de velha, babylook azul-marinho com uma estampa que lembrava mancha de tinta branca. Cabelos soltos. Sorriso solto. Lábios soltos. Lábios carnudos e soltos. Dedinhos gordinhos nas mãos grandes. Perfume Hugo Boss Bottled. Lábios umedecidos e soltos.

            O Zac também olhava para ela, sorrindo de ladinho.

- Sabe qual foi a parte que eu mais gostei da sua conversa com o Dave?

- Não. Qual?

- Quando você disse para ele que eu estava fazendo bem para você. Eu gostei de saber disso.

- Que bom...

- Por isso que você ficou tão quieto aquele dia no The SS, depois que o Dave foi embora.

- Eu fiquei meio preocupado. Porque se você quisesse voltar com ele, eu não ia poder fazer muita coisa.

- Você não ia tentar me impedir, dizendo coisas lindas ou me mandando um buquê de flores ou escrevendo uma carta romântica?

- O que você acha?

            A Lynne pensou um pouco. E respondeu:

- Que não. - Pausa. - Ah, tudo bem. Você romântico deve ficar bem esquisito.

            O Zac riu. Os dois olharam para a rua. A Lynne sentou mais pertinho dele e cochichou, sem olhá-lo:

- Zac? - o cutucando com o ombro.

- Hum?

- Sabe, eu estava pensando que talvez, você podia ser bem grosseiro agora e me agarrar de repente. Tipo incorporar um cafajeste. O que você acha?

- É isso mesmo que você quer? Você é toda sensível, Lynne.

- Aaaah, assim... Quer dizer, como eu disse, eu acho que se você fosse romântico, não ia ter graça então talvez, se você...

            E como era a cara do Zackito, ele colocou a mão no rosto da Lynne e trouxe para pertinho dele. A Lynne paralisou.

- A sua boca está seca - o Zac sussurrou.

            Com aqueles lábios soltos, carnudos e umedecidos, o Zac prendeu o lábio inferior da Lynne entre os seus. E passou a língua por ele, devagarzinho, até que ficasse totalmente molhado. A Lynne fechou os olhos e arrepiou. Então o Zac prendeu o superior, fazendo o mesmo movimento. E aproveitando o embalo, abriu a boca e encaixou na da Lynne. Meu Deus, como o beijo do Zac era bom. Com uma das mãos na nuca da Lynne, ele acariciava o pescoço dela enquanto fazia a Lynne atingir o nirvana com a língua dentro de sua boca e seus lábios gordinhos deslizando nos dela, agora umedecidos com o gosto bom da boca do Zac.

            Puxou o lábio inferior dela e sorriu. A Lynne abriu os olhos devagarzinho, meio tonta, vendo estrelinhas.

- Eu te beijei? Ou a gente transou?

            O Zac riu. A Lynne voou para cima dele toda afobada, caindo sobre ele no chão da varanda. Depois de beijá-lo mais uma vez, ela disse:

- Por quanto tempo a gente foi amigo?

- Mmm... Acho que um ano e pouco.

- Eu não acredito que você ficou esse tempo todo me privando disso.

- Lynne, eu sei que você está muito empolgada com a descoberta de que você gosta do meu beijo, e eu estou muito lisonjeado, mas... Na frente da sua varanda tem uma rua. E na rua tem pedestres. E os pedestres têm olhos, os quais estão todos direcionados para gente agora.

- Ai... Estão olhando?

- Você está em cima de mim, Lynne. O que você acha?

            Ela saiu de cima dele correndo e sentou. O Zac riu do jeito dela.

- Ai, Zachary, que vergonha.

- Eu acho que agora você pode me chamar de outra coisa. Zachary é muito formal.

- Eu vou pensar em alguma coisa assim que eu adquirir a minha dignidade de volta.

            Ele riu. Segurou a mão dela. Ela sorriu e apoiou a cabeça no ombro dele. Ficaram de mãos dadas ali, conversando e namorando o resto da tarde. E a seca do Zac teve um final feliz. Feliz, babado e molhadinho.

 

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