Enquanto a vida do Taylor virava de cabeça para baixo, a do Isaac e a do Zac iam muito bem, obrigado. Pelo menos até aquele momento, as coisas corriam incrivelmente bem para ambos.

            Tanto um quanto o outro estavam com o coração devidamente ocupado. A diferença é que o Zac estava "de rolo" oficialmente, já o Isaac não. Ele e a Isadora se viam todo dia, ficavam juntos, mas nenhum deles mencionava nenhuma definição para o que estava acontecendo entre eles. O pequeno apartamento da Isadora era o cenário dos inúmeros jantares deliciosos preparados por ela, e noites inteiras dos dois fazendo amor. Não tinha nada mais gostoso quando a Isadora ligava no celular do Isaac e dizia:

- Vem pra cá.

            Ele ia na mesma hora. Conversavam por horas, até que a Isadora o carregava para o sofá, sentava em seu colo e o calava com um beijo. Com as mãos sobre o peito do Isaac, ela ia tirando sua jaqueta jeans ou de couro (dependia da onde ele estava vindo, se de casa ou do trabalho), sem desencaixar seus lábios dos dele.

            Com o mesmo carinho, o Isaac abria a mini-blusa decotada, jogando-a longe e, enquanto beijava a Isadora intensamente, acariciava seus seios com a ponta dos dedos. Era estimulante ouvi-la respirando de maneira alto com tanto prazer.

            Usando nada mais do que sua pele, o Isaac a levava no colo para a cama de casal no quarto da Isadora e deitavam-se: ele sobre ela. Delicadamente, o Ike começava a beijá-la na ponta dos pés. E subia os beijos um pouco mais. A Isadora adorava. Ele subia um pouco mais, até os joelhos. A Isadora arrepiava. Então beijava uma das coxas, em sua parte interna. A Isadora fechava os olhos e respirava fundo. O Isaac subia um pouco mais e a Isadora ia para trás com o corpo, num gemido sorridente de quem estava vendo a luz.

            Normalmente, as preliminares deles iiiiiam embora, acompanhadas de risadinhas e outras brincadeiras. O que tornava tudo tão agradável era a afinidade que eles haviam conquistado. Davam-se incrivelmente bem e no final de tudo, sempre adormeciam satisfeitos e felizes.

            Além disso, o processo judicial para que a Isadora pudesse ter seu filho de volta, colocavam o Isaac e ela em uma posição de forte união. A cada documento assinado, a cada audiência, a cada desabafo, o Isaac sentia a Isadora mais dentro de seu peito.

            E essas coisinhas pequenas, mas não menos importantes, foram despertando no Isaac um sentimento sincero pela Isadora. Sempre que lembrava-se, comprava algum presentinho bobo, mas que ganhava porte de jóia cara assim que a Isadora abria um lindo sorriso de agradecimento.

            O relacionamento estava com o maior perfil de coisa séria. Em outras palavras, estava na cara que era namoro. E gostando dela como estava, o Isaac queria oficializar a situação.

- Fique pronta que eu vou passar te pegar para nós conversarmos - o Isaac disse para ela no telefone.

            Lá pelas nove da noite, ele estava estacionando na frente do prédio de poucos andares da futura e oficial namorada. Ela já o esperava na portaria, então ao ver a Mercedes azul metálica, correu e entrou no carro.

- Hey - ela sorriu, dando um beijo no Isaac.

- Tudo bem com você? - perguntou, vidrado nos olhos cor de mel da garota.

- Tudo ótimo. E aí, o que você quer conversar comigo?

- Não é nada muito comprido, mas eu preferiria falar no jantar.

- Você vai me levar para jantar? - a Isadora perguntou, sorrindo.

- O que eu quero falar é importante.

- É importante, mas não é comprido. - Ela pensou um minuto. - O que poderia ser?

            O Isaac riu. A Isadora continuou:

- Ah, me conta agora. Eu estou muito curiosa.

- Eu te conto no jantar.

- Não, eu não vou agüentar até lá. Fala agora.

            Soltando a chave na ignição, o Isaac virou-se para a Isadora.

- Ok, ok, eu falo.

- Oba!

- Bom, Isadora, já faz algum tempo que eu estou pensando em te contar isso.

- Antes ou depois do sexo?

- O quê?

- Você começou a querer me contar isso antes de nós transarmos a primeira vez ou depois?

            O Isaac se assustou com a frieza que ela disse aquilo. E respondeu:

- Depois.

- Você arranjou uma namorada. Não é isso?

- Não, não é isso - ele riu.

- O que é então?

- Eu gosto de você, Isadora. E queria muito que a gente namorasse.

- Isaac, Isaac...

- O que foi?

- Você disse que... Que gosta de mim?

- É, eu disse. O que tem de errado?

- Você gosta de mim? Você tem sentimentos por mim?

- Eu... Eu tenho - o Isaac respondeu, confuso. - Ou você acha que eu te ajudei como ajudei por amor de patrão para funcionária?

- Ike... Eu pensei que você estava de acordo comigo.

- Acordo? Como assim?

- Eu pensei que, assim como eu, você também estava só curtindo.

- Eu estava.

- Então por que está falando em "gostar" e "namoro"?

- Eu achei que estava rolando uma coisa um pouco mais profunda do que só curtição.

- E está. O sexo entre a gente é ótimo.

            O Isaac estava chocado.

- Até quando você estava pensando em levar isso sem compromisso?

- Até o momento em que eu ou você decidisse sair com outras pessoas - ela respondeu, séria.

- Oh God... - o Isaac suspirou. - Você não estava pensando em nada sério?

- Ike, você é um amor e eu sinto muita atração por você. Mas eu não posso namorar ninguém agora. Eu quero me concentrar no meu filho e no meu futuro como mãe dele. Eu não quero laços neste momento.

            Silêncio. A Isadora sentiu por ele e, segurando sua mão, disse:

- Eu vou entender se você quiser me mandar embora ou parar de pagar o advogado para mim.

- Eu prometi que ia te ajudar. Então é o que eu vou fazer.

- Entendo...

            Silêncio de novo.

- É melhor eu subir - ela falou. - Eu sou eternamente agradecida por tudo, Isaac.

- Ok...

- Tchau. A gente se vê.

            Não era possível. O Isaac tinha tanta certeza de que era recíproco.

            Observou-a subindo as escadas do prédio, como numa despedida. Olhou para frente e suspirou, falando sozinho:

- Depois dizem que homem é que é galinha.

            Acelerou e foi para o The SS mexer um pouco com os negócios, para distrair.

            O Zackito estava jogando videogame na casa da Ló desde às seis da tarde. Aquela tarde, eles teriam passada juntos, mas o pai da Lynne pediu que ela saísse pagar umas contas para ele, então deu desencontro. Assim que ela chegou em casa, ligou para o Zac:

- Zachary, estou em casa.

- E daí?

- Vem aqui.

- Me dê uma boa razão pra sair da frente da minha televisão pra ir praí.

- Além do meu corpo lindo?

- Eu disse uma boa razão, Lynne.

- Você vem ou não?

- Ok, ok - ele se rendeu.

- Eu aluguei uma fita muito legal do N64.

- Qual?

- Zelda.

- Puta que pariu, Lynne. De novo? Eu terminei essa fita com você semana passada.

- Mas é fofo!

- Fofo... Sei... Pra mim, você tem tara pelo carinha orelhudo de roupa verdinha.

- Bom... Não dá pra negar que ele tem uns puta coxão.

- Sua deturpada.

- Você podia colocar uma roupa igual aquela, toda verde e justinha, pra mim um dia, não podia?

- Meu Deus! - o Zac berrou no telefone. - Sua pervertida! Depravada!

- Zachary, o que é que tem de mais? Duvido que você nunca tenha fantasiado na sua vida.

- Lynne, cala a boca.

- Do que você gostaria que eu me vestisse?

- Caralho, eu não estou ouvindo isso.

- Fala, Zac! Spice Girl, Xena, Bat Girl...

- Eu vou desligar o telefone na sua cara, sua ninfomaníaca.

- ...American Woman, policial, dançarina do ventre... Zac? Zac?

TU...TU... TU... TU... TU...TU...

- Bobo... - ela riu.

            Desde esse momento, eles estavam na casa dela, jogando Zelda. O Zac tentava, pela milésima vez, explicar para a Lynne como terminar o jogo. Por ser muito extenso, ela dizia que não conseguia memorizar tudo.

- E agora? - ela perguntava.

- Tem que matar com arco e flecha e...

- ...e depois dar mais oito espadas - ela completou.

- Uau - o Zac disse. - Vai, Willy! - brincou.

            A Ló deu uma pausa no jogo. Olhou para o Zac séria e disse:

- Zachary Walker, você está me chamando de gorda ou é só impressão minha?

- Você é muito complexada, sabia?

- É você que é muito grosso.

- Puxa, obrigado.

            Ela arregalou os olhos e deu um tapa no braço dele. O Zac riu e disse:

- Vai, continua com o jogo.

            Foi o que a Ló fez. Chegou em uma parte do jogo que, teoricamente, a Ló sempre se confundia. O Zac já adiantou-se a explicar. Mas não precisou porque antes que ele pudesse dizer sequer um "não é aí, sua múmia", a Ló já tinha feito tudo sozinha. Ele fez mais uma piadinha sarcástica com ela sobre o assunto e continuou acompanhando os passos da Lynne. Porém, a medida que ela ia jogando, o Zackito foi notando que, a cada vez que ele ia explicar algo, ela o cortava executando a ação antes de receber as instruções. O Zac protestou:

- Mas você sabe tudo!

- Não, quer dizer - ela ficou sem ação. - Eu sei só algumas coisas.

- "Algumas coisas"... Imagine se o presidente dos Estados Unidos tivesse dito isso na hora de tomar posse do cargo! "O senhor está preparado para governar este país de prosperidade com o seu conhecimento político?". "Ah, eu sei só algumas coisas" - o Zac falou, com uma voz fina de deboche. - Você manja mais do jogo do que eu!

- Tá, digamos que eu sei bastante...

- Isso prova a minha teoria de que você tem tara pelo carinho orelhudo de roupinha verde.

- Zachary, não fala merda... Não é nada disso.

- Sei, sei... Sua pervertida, maníaca sexual.

- Ai, pára com isso.

            Ela ficou olhando para ele, escondendo alguma coisa.

- Que foi que você está com essa cara de dor de barriga? - o Zac perguntou.

- Nada, ué.

- Fala, Malinha.

- Nada, Zachary, que coisa.

- Admita, você é tarada pelo carinha de verde.

- Lógico que não.

- Você alugou a fita só pra ficar alimentando seus desejos psicopatas - ele ria.

- Não é por isso!

- E é por quê, então?

            A Ló ficou um segundinho quieta, sem jeito, mexendo no cabelo...

- Porque... Ah, porque sim, ué.

- Por que você não quer me contar? - o Zac perguntou, intrigado.

- Porque não é nada.

- Claro que é, senão você não estaria enrolando tanto assim.

- Não é nada, já disse.

- Eu não sei por que você ainda insiste em tentar esconder as coisas. You suck at this.

- Não é nada demais... Eu só queria que você viesse me explicar as coisas, só isso.

- Mas por que, se você já sabe tudo?

- Porque eu queria que você viesse, oras.

            O Zac ia retrucar aquilo com uma frase bem sarcástica, cuja principal função seria demonstrar a incompreensão dele, quando ele então se ligou da crueldade que estaria cometendo. Crueldade porque o que a Lynne estava tentando lhe dizer, ali paradinha na frente dele, toda sem jeito, é que ela simplesmente queria um motivo para que ele viesse passar algum tempo com ela. A garota sabia que Zelda era um dos jogo preferidos do Zac, depois dos de corrida, então o alugou novamente para que ele pudesse ajudá-la, estando próximo.

É, eu estou pegando o jeito, o Zac pensou, orgulhoso dele mesmo.

            O que ele quis dizer é que, se fosse há algum tempo atrás, ele a magoaria com alguma frase cretina do tipo "você já sabia de todo o jogo e me fez vir até aqui te agüentar por nada?". Ele falaria sem intenção real, mas conhecendo a Dona Alynne Lóide Green, ela com certeza se magoaria muito.

- Bom, então continua jogando aí, vai - ele disse, meio sério.

- Você já tá indo? - ela quis saber, preocupada.

- Não, eu fico mais um pouco - o Zac falou.

- Oh, ok.

            Toda felizinha, a Ló voltou a se sentar no sofá para jogar. O Zac sentou do seu lado, mas desta vez mais pertinho um pouco. Não falou mais nada o resto do jogo. Como o Zackito não era exatamente especialista em dizer coisas bonitas, ele simplesmente ficou o tempo todo ao lado dela no sofá, demonstrando do jeito dele que ele estaria sempre por perto. E que não sairia deste posto por nada neste mundo.

            Depois de algum tempo de silêncio total e absoluto, o Zac resolveu quebrar o gelo:

- American Woman seria legal.

            A Lynne virou para ele assustada, não entendendo num primeiro momento do que ele estava falando. Mas então desarmou a expressão e sorriu, lembrando-se da conversa no telefone e achando graça do jeitinho dele.

            O Zac completou:

- Um chicote também seria interessante. Eu gosto de umas palmadas.

- Tudo bem, agora você está me assustando.

            O Zac riu. Então inclinou-se para cochichar no ouvido dela. Assim que terminou de sussurrar, a Ló abriu a boca, espantada, e levantou do sofá horrorizada:

- Saia da minha casa agora, seu... seu... Seu perturbado! Vai, anda, sai!

- Lynne, era brincadeira - o Zac ria, sendo esmurrado pela garota.

- Meu Deus, que nojento! Anda, xispa! Saindo!

- Lynne, espera - ele ria.

            A Ló abriu a porta da sala e o colocou para fora.

- Como se você fosse muito puritana, né? - o Zackito falou, malicioso.

- Isso é coisa que se cochiche no ouvido de uma garota? Faça-me o favor!

- Ok, ok, I'm leaving - se rendeu.

            Ele já estava quase na porta do carro, quando voltou correndo e ficou de frente para ela, sorrindo daquele mesmo jeito indecente. Se inclinou, deixando seu lábio próximo ao dela. Quando estes se tocaram levemente, o Zac sussurrou:

- Pois hoje não tem beijo pra você.

            E voltou para o veículo correndo, dando tchauzinhos de longe, rindo bem cínico.

- Seu cretino! Cachorro! Tomara que esse seu beiço apodreça e caia! E que essa sua bunda arrebitada e gostosa - ela sussurrou o "gostosa". - vire pura pelanca! Filho da mãe!

- E do pai! - ele gritou rindo, antes de entrar no carro.

            Só para completar a raiva da Ló, ele fez a volta com o automóvel e passou pela frente da casa em baixa velocidade, com quase todo o corpo para fora da janela, olhando para e passando a língua pela lábio inferior e superior. A Lynne ficou louca!

- Eu não queria mesmo, tá?! Seu... Cretino! Cretino, cretino, cretino!

            E bateu a porta de casa. Viu, escondida na cortina, o Zac acelerando, com aquele sorriso estampado na cara.

- Escroto - ela falou sozinha.

            Fechou a cortina e pensou um minuto. Não teve como segurar: um sorrisão abriu na cara da Lynne e ela foi para o quarto dando saltinhos.

 

Capítulo 39 / Índice / Capítulo 41