A janela do quarto do Isaac estava entreaberta. O dia havia amanhecido levemente frio, mais uma daquelas manhãs de usar moletom. Dias os quais atraíam menos pessoas às ruas de Tulsa.

            Era quase dez horas quando a Patty sentiu aquela brisa fresca entrando e se aninhou no corpo ao seu lado. Lembrando-se que não estava sozinha, abriu os olhos devagar e viu Taylor dormindo silencioso ali à sua esquerda. Sorriu toda apaixonada e falou sozinha, sorrindo:

- Dois anos... E olha eu aqui de novo.

            Bocejou, olhando ao redor, e tentou ajeitar seu cabelo. Já imaginava a bagunça que devia substituir a sua cabeleira naquele momento. Encontrou, jogada no chão, a camisa do Taylor e debaixo da vestimenta, sua meia calça e suas roupas íntimas.

- Na próxima vez que eu for tirar a roupa assim, eu preciso me lembrar de dobrar tudo - comentou consigo mesma.

            Apanhou a camisa dele do chão pensando em colocar.

- Aonde você pensa que vai?

            A Patty levou um susto e virou-se para o Taylor.

- Bom dia - ela sorriu. - Desculpe, eu não queria te acordar.

- Tudo bem... Eu já estava acordado há algum tempo.

            Então permaneceram calados, sorrindo, olhando um para o outro.

- Vem aqui - ele disse baixinho. - Vem aqui comigo.

            A Patty permaneceu calada. E deitou-se sobre o peito dele, olhando Taylor nos olhos. Ele sorriu. Fez beijinho de esquimó e depois apenas tocou seus lábios. A Patty abriu um sorriso grande no rosto e encaixou seu corpo no do Cumprido. Ele respirou fundo para sentir o perfume do cabelo dela, deslizando os dedos pelo braço da Patty.

- O que você está pensando? - ele perguntou.

- Que o que aconteceu foi tão importante pra você como foi pra mim.

- Convencida - ele brincou.

            Convencida, porém certa. O Taylor não tinha realmente se incomodado com aquele comentário da Patty. Era bom saber que ela estava ciente de tudo o que estava acontecendo ali. Talvez não devesse ter sido assim, pode ser que o correto seria o Taylor ter encarado aquela noite com a Patty como "um pulinho de cerca". Mas não era como ele se sentia. Tinha significado muito para ele e a Patrícia podia ver isso nos olhos azuis dele. E a única coisa que ela conseguia fazer era retribuir na mesma intensidade.

- Mas tem uma coisa que está me incomodando... - a Patty disse, levantando-se.

- E eu já sei o que é. Não se preocupe, eu vou ajeitar as coisas. Mas por favor, não vamos falar disso agora.

            A Patty concordou.

- Deita aqui comigo. Eu quero ficar juntinho.

            Como quem se aconchega no mais macio dos veludos, na mais perfumada das superfícies, a Patty deitou sobre o Taylor e fechou os olhos assim que ele a apertou contra seu corpo.

- Que música ficaria bem de fundo agora? - ele sussurrou.

- Acho que... Always, do Bon Jovi.

- Nossa, mas essa música é muito clichê. Aliás, Bon Jovi é clichê.

- É para combinar com a cena, ué.

- Você acha que a gente aqui ficou clichê?

            A Patty levantou o rosto e o olhou:

- Claro. Quando éramos mais novos, nos apaixonamos. Então terminamos do jeito mais cruel possível e eu me mudei com os meus pais da cidade. Dois anos depois eu volto e descubro que ainda sinto alguma coisa por você e nós acabamos aqui.

- É... Always é perfeita - ele riu.

- Ah, mas... Eu não tenho nada contra clichês.

            O Taylor então olhou a sua volta, olhou para eles ali deitados e disse:

- Olha... Eu também não.

            Rindo, a Futemminha o beijou.

- E que tal ficaria Bed of Roses agora? - ela perguntou.

- Nah... Always  é mais melosa.

- Verdade... É que, não sei, Bed of Roses... Cama de rosas... Não sei, soou bem "romancezinho barato".

- Puxa, encantadora a sua maneira de definir o que nós temos.

- Ih! - a Patty tapou a boca, rindo. - Desculpe. Não foi isso que eu quis dizer.

- Nossa, sabe o que eu acabei de me lembrar?

- O quê?

- O Isaac. Será que ontem ele não voltou mais de propósito?

A Patty deu de ombros, sinalizando que não fazia idéia.

 

            Naquele exato momento, o Isaac terminava de tomar café na casa dos pais. Não havia conseguido dormir direito, mas nem por isso sentia-se menos disposto. O Zac havia ido correr (sim, ele continuava com este saudável hábito). As crianças brincavam no jardim, a Gina cuidava da louça e Diana e Walker liam o jornal na mesa da sala de jantar.

- Já comeu, filho? - a Diana quis saber.

- Já sim.

- Você deveria vir pra cá mais vezes, querido. Depois que foi morar sozinho, nunca mais veio nos visitar com calma.

- É que não dá tempo, mãe - o Isaac explicou, meio sem paciência.

- O Taylor ficou no seu apartamento? - o Walker perguntou.

- Ficou. Ficou sim.

- E a Patrícia? Diga a ela para passar aqui uma hora - a Diana disse.

- Ela está com o Taylor. No meu apartamento.

            O Walker tirou o olho do jornal e virou assustado para o filho. A Diana arregalou os olhos, demonstrando também estar espantada.

- Eu pensei que ele estivesse namorando firme a Beatriz - a Diana falou.

- E está.

- Esse é o meu filhão - o Walker mexeu no bigode, rindo, voltando-se para o jornal.

- Walker, eu não acredito que você concorda com isso.

- O que é que tem, Diana? Deixe o Taylor. Ele não está casado com ninguém. E se ele ainda gosta da japonesinha... Não vejo nada de mais.

- Era só o que me faltava, Walker! Você apoiar o nosso filho a trair a namorada.

- Mas eu não estou apoiando ninguém. Não vai me dizer que achava que o Taylor realmente gostava daquela Beatriz?

- Bom, se ele estava com ela, naturalmente que algo ele deveria sentir.

- Ah, Diana, por favor. Se for assim, eu sou apaixonado pelo meus cadarços.

            Pelo jeito, a discussão ali ia embora. Com tal conclusão em mente, o Isaac levantou da mesa e subiu apanhar os documentos do seu carro. Na volta, despediu-se dos familiares e foi saindo.

- Aonde você vai agora, querido? - a Diana perguntou.

- Acho que vou para o The SS, não sei ainda.

            O Zac, que chegava bem na hora que o Isaac estava indo embora, assustou-se com a velocidade do seu carro subindo pela rua.

- Nossa, aquilo era o Isaac? - perguntou.

- Pois é - a Diana respondeu. - Ele está estranho.

- Eu sei.

 

...

 

            Faltava uma hora para o horário do almoço, mas a Patty e o Taylor insistiram em tomar café juntos. Enquanto a Patty trocava os lençóis da cama de casal e deixava tudo arrumadinho no quarto, o Taylor improvisava uma mesa de café com ares românticos. Ambos haviam tomado banho e apresentavam-se vestidos para deixar o apartamento assim que comessem. Depois de tudo pronto, a Patty foi até a cozinha, desembaraçando os cabelos molhados com os dedos.

- Que mesa bonita - ela falou. Então enrugou a testa ao ver aquele copinho de água no centro com um raminho de temperinho verde. - Taylor... O que é isso?

- Eu não encontrei nem uma florzinha de plástico nessa casa. Daí foi temperinho mesmo.

            Nossa, como a Patty riu. Quanto mais ela ria, menos saía som.

            No meio da refeição, cortando as risadas e as brincadeiras sobre o temperinho, o celular do Taylor tocou. Ele olhou no visor do aparelho e sua expressão na mesma hora tornou-se mais grave. Atendeu:

- Oi, Bia.

            A Patty direcionou os olhos para sua xícara.

- Tudo e com você? ... Que bom. - Pausa. - Eu não liguei porque eu saí e só agora eu... - Ela pareceu interromper. - É, eu saí ... Com o Ike, o Zac e a Patty ... Mas é que não tinha nada a ver você ir, Bia. ... Porque era para relembrar os velhos tempos, amigos de infância, essas coisas ... Ahan ... Mas você ia ficar deslocada. ... Frio? Eu estou frio? Eu não estou frio. ... Como você sabe que eu dormi fora? ... Ah ... Bia, eu estou um pouco ocupado agora, será que a gente podia se falar depois? ... Eu estou tomando café. ... Tá, eu passo aí depois. Outro. Tchau. - E desligou, guardando o celular no bolso.

- Tudo bem? - a Patty perguntou.

- Tudo. Tudo ótimo.

- Você vai passar na casa dela?

- Vou sim.

- Ah...

- Patty? - Ela o olhou. - Não se preocupe.

- Eu vou tentar - sorriu.

            Juntos, os dois tiraram a mesa e guardaram as coisas. Então a Patty ligou para a Belle, pedindo uma carona.

- Belle, será que você podia passar aqui no apartamento do Isaac para me buscar? É que a gente está aqui sem carro e... Sério? Obrigada. Anota aí que eu te explico.

            Vinte minutos mais tarde, a Belle e a Lary estavam estacionando em frente ao prédio. E não contiveram as caras de susto e empolgação quando viram a amiga sentada na escadaria do edifício, entre as pernas de Jordan Taylor Hanson.

- Essa cretina conseguiu de novo - a Lary riu.

- Hey guys! - a Belle gritou da janela do veículo. - Se vocês querem mesmo essa carona, é melhor se apressarem.

- Oi, gente - a Patty cumprimentou as amigas.

- Olá, meninas - o Taylor sorriu.

- Vocês podiam deixar o Taylor na casa dele, por favor?

- Mas é claro - a Belle respondeu.

- Então pelo jeito estamos diante aqui de um Taylor e Patty 2, a Vingança - a Lary brincou. - Ou, se formos analisar a situação do Taylor isoladamente, podemos chamar de Mudança de Hálito.

            Todos no carro riram.

- Eu poderia ficar o dia inteiro inventando nomes de filmes inspirados em vocês dois - a Lary sorriu. - Pattyman, o Retorno; Eu Até Imagino O Que Vocês Fizeram Noite Passada, Patty Potter  e o brinco filosofal...

            Se tinha uma pessoa neste mundo que conseguia quebrar gelos, essa pessoa era a Lary. Ela era craque nisso.

            Chegando na mansão dos Hanson, a Patty e o Taylor desceram. A Lary e a Belle deram um tchau rápido para o Taylor do carro mesmo e ficaram esperando os dois se despedirem.

- Bom... - ele suspirou.

- Bom - ela sorriu.

- Posso te ligar hoje à noite?

- Claro que pode.

- Você vai amanhã embora?

- Vou. Depois do almoço.

- Pena... Eu queria que você ficasse mais.

            Ela sorriu. E o abraçou com força. Ficaram segurando-se por algum tempo. O Taylor beijou-a devagarzinho.

- A gente se vê? - ela perguntou.

- Ainda hoje - ele sorriu.

- Hey Patty! - o Zac berrou da janelinha do banheiro do segundo andar. Estava de cabelo ensaboado e a mão com a qual acenava cheia de espuma. A cada aceno, um leque branquinho se fazia no ar de tanta espuma que voava - E aí, China in Box?

- Zac, oi! - ela ria. - Tudo bem?

- Tudo beleza!

- O que você está fazendo?

- Cuidando da minha higiene "cabelau", oras!

            Ela sorriu e deu mais um tchau. O Zac deu o aceno final e fechou o vidro.

- Tay, eu vou indo...

- Ok. Eu te ligo depois então.

- Vou esperar.

            Os dois sorriram, se beijaram mais uma vez e, no abraço de despedida, a Patty cochichou no ouvido dele:

- Eu também senti muito a sua falta.

            Este comentário causou mais um beijo. A Belle buzinou:

- Pombinhos, eu não tenho o dia inteiro aqui!

- Desculpe, Belle - o Taylor riu. - Tchau, Patty.

- Tchau, até depois.

            E a donzela finalmente retornou à carruagem.

            Depois de saírem com o carro e já estarem bem distantes da mansão, as amigas da Patty olharam para ela e, como se as três lessem pensamentos, deram um grito muito empolgadas. E foram passear por aquela Tulsa que agora parecia inofensiva para a Futemminha.

            O Taylor? Nem foi ver a Beatriz aquela tarde. Ficou suspirando por umas horas na cama, olhando para o teto, só lembrando dos acontecimentos. Disse para a namorada pelo telefone que não poderia vê-la porque à tarde teria de ir providenciar umas coisinhas. A Beatriz não gostou muito porque o Taylor não quis contar que "coisinhas" eram essas, mas não protestou tanto. Bom... Se bem que não teria feito muita diferença para o Taylor se ela tivesse reclamado...

 

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