Quando
a gente vidra nos ponteiros do relógio, eles parecem andar em câmera lenta.
Foi assim com a Patrícia a tarde todinha. Ela não via a hora de chegar logo a
noite para que pudesse ver o Taylor.
-
Patty, concentra aqui só um minutinho - a Lary pediu. - Eu sei que você está
morrendo pra ver o seu homem, mas poxa, dá uma atenção para as suas amigas
também.
-
Ai, gente, desculpa - a Patty pediu. - Eu estou tão distraída. Eu juro que não
é de propósito.
-
Tudo bem, Pá, não esquenta. A Lary está só brincando.
-
Vai, vamos conversar - a Patty falou, tentando se interar do que era comentado.
Durante a tarde, o celular da Patrícia tocou algumas vezes. O Isaac
ligou duas vezes, a Ló três vezes e Taylor uma. E quando era mais ou menos
umas sete da noite, este último ligou novamente. A Patty voltava para o carro
com as amigas, quando o celular tocou. Viu no visor que era da casa dos Hanson e
atendeu ansiosa:
-
Alo?
-
Eu de novo - o Taylor riu.
-
Tay, oi - ela não escondeu a alegria. - Por que está ligando de casa?
-
O meu celular acabou de estragar. Liguei para te avisar.
-
Ah, ok - ela riu.
-
E aí, como está o passeio com as suas amigas?
-
Está ótimo. Nós estamos voltando para casa agora.
-
Sério?
-
Sério.
-
E... Você vai sair comigo hoje à noite?
-
Mmm... Depende aonde você for me levar.
-
Primeiro eu vou te levar jantar e depois... Bom, depois é surpresa.
-
Surpresa? Gostei. Tudo bem, eu saio com você.
-
Eu sabia que você não ia recusar.
-
Que horas você passa me pegar?
-
Às nove você acha que está bom?
-
Está perfeito. - Ela respirou fundo. - Tay, e a Beatriz?
-
O que é que tem?
-
Você falou com ela?
-
Não se preocupe com ela, Patty.
-
Eu não estou preocupada por mim. Estou por você.
-
Obrigado por isso, mas juro que não é necessário.
-
Taylor, você fala como se eu estivesse exagerando.
-
E está.
-
Você tem consciência do seu erro aqui, não tem?
-
Tenho. E eu vou resolver tudo. Mas não hoje, ok?
-
Bom, tudo bem. Você deve saber o que faz.
-
Então... Até daqui duas horas.
-
Até.
-
Um beijo, honey
- ele despediu-se,
carinhoso.
-
Outro.
Desligaram.
-
Amiga... - a Lary suspirou. - Se eu não te amasse tanto, com certeza estaria
fazendo macumba contra você de tanta inveja.
-
Vai, anda, invejosa - a Patty brincou. - Vamos pra casa logo que eu tenho que me
arrumar.
...
Lá por oito e quarenta da noite, o Taylor terminava de se arrumar em
frente ao espelho. Reparava em cada detalhe de seus acessórios, em cada esquina
de seu cabelo, em cada centímetro de tecido disposto pelo seu corpo. Calça
preta social, blusa vermelha de gola alta e sobretudo preto. O garoto estava
im-pe-cá-vel. Passou um perfuminho básico, penteou os cabelos e tchã-nããã,
estava divinamente e irresistivelmente pronto.
Já havia confirmado a reserva no hotel mais fino de Tulsa pelo telefone.
Da mesma maneira, o fez com o restaurante. Faltava agora passar no prédio em
que morava a Belle, para lá finalmente buscar a sua musa de olhos puxados.
Desceu até a sala, apanhou as chaves do carro e se despediu da família.
Seu pai o parou:
-
Filho. - O Tay foi até ele. - Me diz uma coisa... Você está saindo com aquela
japonesinha?
-
Es...Estou - temendo pelo o que vinha.
-
Escondido da Beatriz?
-
Ahm... Por enquanto sim.
-
Estou orgulhoso de você, meu filho - o Walker o cumprimentou com um tapa nas
costas.
-
Puxa, pai. Que surpresa - ironizou.
-
Na sua idade, Taylor, eu era terrível também.
-
Eu já sei, pai.
-
Teve até uma vez que eu cheguei a ficar noivo e, mesmo assim, continuei saindo
com outras garotas.
-
Eu me pergunto como o senhor nunca chegou à presidência.
-
Sabe que eu também? - Walker riu. - Mas vá, meu filho. Eu não quero atrasá-lo.
-
Obrigado, pai. Obrigado mesmo - o Taylor agradeceu de coração a compreensão
do progenitor.
-
Tchau, filho e boa sorte. - Então lembrou de algo. - Taylor, o Zac continua com
a dita da calça lá em cima?
-
Continua. A Gina e a Dona Diana já estão lá acudindo.
-
Claro... Divirta-se, filho.
Noite fria aquela. Saía fumacinha da boca quando se falava. Antes de
sair com o carro, o Taylor ligou o rádio e riu sozinho ao ouvir a música Always,
do Bon
Jovi na
estação que sintonizara. Aquela não era com certeza uma das bandas preferidas
do Taylor, mas mesmo assim saiu ouvindo a canção no último volume,
cantarolando alto enquanto dirigia.
Estacionou em frente ao prédio da Belle, desceu e apertou o interfone. A
própria atendeu:
-
Alo?
-
Oi, Belle, aqui é o Taylor.
-
Olá, Taylor - a Belle cumprimentou, olhando para a Futemminha.
-
É ele - a Patty comemorou baixinho, toda empolgada.
-
Ela já está descendo, ok?
-
Tudo bem, obrigado.
Serelepe como nunca, a Patty deu os último retoques em frente ao
espelho, jogou o cabelo para o lado e ajeitou a saia.
-
Estou bonita? - ela perguntou.
-
Está ótima - a Belle responde, sorrindo. - Agora vai de uma vez antes que ele
vá jantar sem você.
-
Tchau, Belle. - Então beijou a amiga no rosto e foi-se.
Assim que saiu do prédio, a Patty parou nos degraus de entrada do edifício
e já viu quem ela mais queria: encostado em seu carro, com as mãos nos bolsos,
lá estava o Taylor, lindo como nunca, aguardando sua donzela com um suave
sorriso nos lábios. A cena estava cinematográfica. A Patty ficou estática por
alguns segundos, observando o quanto aquele garoto era bonito e tentando
imaginar como ela seria feliz naquela noite ao lado dele.
-
Você pretende ficar parada aí por muito tempo? - ele perguntou, ainda
sorrindo.
-
Ahm... Eu? Não, quer dizer, eu estava só pensando se não esqueci nada...
-
Está tudo bem?
-
Está. Por quê?
-
Porque você continua aí.
Só então a Patty se tocou que não havia dado um passo desde que saíra
do prédio. Rindo, se aproximou do Taylor e o abraçou com força. O perfume
dele estava tão gostoso...
-
Desculpe - ela pediu, ainda rindo.
-
Eu achei que fosse te dar um daqueles ataques de "eu acho que cometi um
erro".
-
Nem em um milhão de anos.
Então, se beijaram.
-
Preparei um noite especial pra você - o Taylor sorriu.
-
Preparou? - toda boba. - Não vejo a hora.
-
Então vamos indo?
-
Vamos.
Eles entraram no carro e foram.
Mas o Taylor e a Patty não foram os únicos que decidiram fazer um
programinha mais romântico naquela noite. Sim, o Zac e a Ló também tinham
resolvido ter um momento mais íntimo.
Para variar um pouco, e surpreender sua namorada, o Zac decidiu leva-la
para jantar. Mas não qualquer jantar. Ele tinha planejado algo bem diferente.
O Taylor e o Zac saíram de casa praticamente no mesmo horário. Só não
saíram ao mesmo tempo porque o Zackito se atrasou com o dito do botão da calça
que descosturou. Daí foi aquela correria. A Gina entrando no quarto com o
estojinho de costura debaixo do braço, toda apurada, com o Zac berrando
"vai, Gina, costura logo que eu estou atrasado, por favor". A Diana
dizia para ele simplesmente pegar outra calça. Mas não, o Zacarias queria
porque queria ir com aquela calça. E ninguém tirava isso da cabeça loira do
garoto.
Bom, acabou que o Zac foi sair mesmo de casa era pra lá de nove e
quinze. Então enquanto o Taylor já estava quase chegando com a Patty no
restaurante onde ele tinha feito a reserva, o Zac estava a caminho da casa da Ló.
-
Nossa, Zachary, pensei que não vinha mais - a Ló disse, quando atendeu a
porta.
-
Desculpe, eu tive uns contratempos.
-
Não, tudo bem. Eu perguntei porque você é tão pontual com tudo...
-
Eu sei. Por isso, me desculpe - ele sorriu.
-
Olha, eu até comprei um vestido novo pra sair com você hoje.
-
Ah... Que legal.
Silêncio. A Ló ficou olhando para ele, as sobrancelhas levantadas, como
quem esperava por algo. O Zac meio desajeitado, tentava decifrar o que aquele
olhar queria dizer.
-
Zachary, essa é a sua deixa para elogiar o meu vestido.
-
Eu ia elogiar. Mas você não me deu tempo de pensar em uma frase boa.
-
Ah, desculpe. - Pausa. - Pensou?
-
Não, espera.
Esperou mais um segundinhos. O Zac a olhava dos pés à cabeça,
analisando a roupa.
-
E aí?
-
Pensei, pensei. Lynne... - Ele respirou fundo. - Você é a garota mais linda
desta cidade - Então ele a pegou pela cintura, puxando-a para bem pertinho - e
eu tenho muita sorte de namorar você.
-
Ai, Minha Tortinha de Limão... - ela sorriu toda boba. E o beijou com todo
carinho.
-
E aí, vamos?
-
Vamos sim - respondeu, faceira, faceira.
E foram para o carro. Cavalheiro, o Zac se apressou a abrir a porta do veículo
para ela entrar.
-
Nossa, Zachary. O que é que você tem hoje? - a Ló se espantou.
-
É o meu amor por você que me deixa assim.
-
Ahan...
-
Ah, Lynne, eu estou tentando ser romântico.
-
Tá, só não força. Porque senão você me assusta.
-
Eu vou tentar me lembrar disso.
E lá foram eles pelas ruas de Tulsa.
-
Aonde você vai me levar? - a Ló especulou.
-
Você vai ver - ele sorriu, misterioso.
-
Eu vou gostar?
-
Bom, a idéia inicial é essa - com ar irônico.
A Ló virou para frente, apertando as mãos entre as coxas, toda feliz.
Mais alguns minutos e o Zac estacionou em frente ao mais importante prédio
da cidade. Era um edifício comercial, onde funcionava os principais escritórios
de Tulsa durante o dia.
-
O que a gente vai fazer aqui?
-
Vai, desce logo.
-
E o velho Zachary está de volta - ela satirizou, saindo do carro.
Ele a pegou pela mão e foram entrando no prédio. O porteiro os parou,
naturalmente, pedindo identificação. O nome inteiro do Zac foi resposta
suficiente para fazer o funcionário sorrir e cumprimentar a Ló com uma
levantada de seu cap.
-
Fiquem à vontade - o porteiro disse, quando o casal já alcançava os
elevadores.
-
Uau... - a Ló disse. - Eu deveria me sentir importante?
-
Claro. Você é minha namorada.
Aquela frase não ficou muito clara para a Ló porque ela não sabia se,
ao dize-la, o Zac vangloriava a si mesmo ou se enaltecia sua garota. Ela
preferiu pensar na segunda opção.
No elevador, o Zac apertou o último andar. Vigésimo primeiro.
-
É alto aqui, não é?
-
É sim.
-
E lá onde nós estamos indo tem proteção nas janelas, certo?
-
Tem sim - ele a olhou, sorrindo.
-
Ai, que bom. - Então ela percebeu que o Zac ria baixinho, olhando para ela. - O
que foi? O que eu falei?
-
Não, nada - o Zac riu mais um pouquinho. - Foi o jeito que você falou.
-
Como eu falei?
- Não
sei, toda medrosa - ele sorriu. - It was
cute.
-
Eu morrendo de medo e você dizendo que é bonitinho.
-
Vem cá.
Então o Zac a apertou contra ele, como se a protegesse. Beijou-a suave,
mas foram interrompidos pelo TIM ,
que indicava que haviam chegado ao último andar.
O corredor em que desceram era largo e todo decorado. Dava para ver que
ali deveriam operar firmas bem sucedidas. Enquanto a Ló olhava o lugar
encantada, o Zac ia puxando-a em direção a uma escada que parecia levar para
um local mais afastado do clima de negócios do prédio. Depois de alguns
degraus, chegaram a uma porta. Então o Zac parou e sorriu, com uma das mãos
sobre o trinco.
-
Fecha os olhos - ele disse.
-
Ai, por quê? - a Ló questionou toda desconfiada.
-
Porque eu vou te jogar daqui de cima pra tentar descobrir se a lenda da Mala
Voadora é mesmo verdadeira - satirizou o Zackito. - Porque é surpresa, né
Alynne Lóide!
-
Ah, tudo bem, tudo bem. Eu fecho, pronto. Ó, viu, olhos fechadinhos.
-
Me dá a mão. - Ela obedeceu. - Agora vem.
Assim que ouviu o Zac abrindo a porta, a Ló sentiu um ventinho de leve e
um ar um pouco mais puro.
-
Posso abrir? - ela perguntou impaciente.
-
Ainda não.
-
E agora, posso?
-
Calma, Lynne. Que garota apressada.
-
Pronto?
-
Lynne, se você perguntar mais uma vez, te faço aprender a voar.
-
Ok, ok.
-
Não abra os olhos até eu dizer que pode.
O Zac então a parou num determinado ponto, soltou da mão dela e correu
para um lugar mais distante.
-
Pronto, agora pula.
-
Zachary! Pára!
Ele riu.
-
É brincadeira, Lynninha. Vai, pode abrir os olhos.
E a Lynne abriu.
-
Meu Deus - com as mãos na boca.
Aquele era sem dúvida um dos cenários mais bonitos que ela já tinha
visto na vida. A Ló olhou em volta e viu só céu e mais céu. Eles estavam em
um terraço enorme, de onde se podia certamente ver Tulsa inteirinha. A noite
estava sem estrelas, porém a figura ainda era belíssima. Era como se, na ponta
dos pés, se pudesse tocar alguma das nuvens de tão pertinho que o céu parecia
estar.
E no centro do terraço, havia uma mesa baixinha, dessas de centro, porém
um pouco maior, com um jantar cuidadosamente arrumado. No lugar das cadeiras,
duas almofadas grandes e confortáveis. Havia velas, louça de porcelana,
talheres que brilhavam e uma toalha branca bordada com fios dourados. E era de lá
que o Zac sorria, com as mãos nas costas, vendo a expressão de surpresa da
namorada.
-
Gente, mas... - a Ló gaguejava, se aproximando. - Que coisa mais linda.
-
Gostou? - o Zac perguntou.
-
Zachary, você organizou tudo isso?
-
Não sozinho, lógico. Eu não sei nem arrumar a minha cama direito, quanto mais
uma mesa assim. Além disso, eu não sou bom cozinheiro. Mas é, a idéia foi
minha sim.
-
Ai, Zackito...
Com os olhos brilhando de emoção, a Ló voou no pescoço do namorado e
o abraçou muito apertado.
-
Eu amo você - ela disse no ouvido dele.
-
Eu também.
E com a Patty e o Taylor as coisas também iam bem.
Estavam sentados, esperando pelos pedidos, tomando apenas um vinho branco
bem suave, que o próprio Taylor tinha escolhido. Sentados um de frente para o
outro, sussurravam conversas e soltavam risadinhas, enquanto brincavam um com a
mão do outro entre as taças, sobre a mesa.
Não demorou muito, chegaram os pratos.
-
Hum... Isso está com uma cara boa - a Patty comentou.
-
Espero que o gosto condiga com o aspecto.
Ambos experimentaram a comida e realmente, estava deliciosa.
-
Parece que vai chover - a Patty previu, olhando pela janela do restaurante.
-
Vai mesmo. Está com cara de chuva.
Silêncio.
-
Nestes dois anos, você namorou alguém em Albuquerque? - o Taylor perguntou.
A Patty terminava de mastigar, quando respondeu:
-
Namorar, namorar, não. Mas é, eu tive uns rolinhos.
-
E antes de você vir pra cá, você estava com alguém?
-
Não. Eu não estava.
Olhando
para a taça de vinho, o Taylor parecia envergonhado.
-
O que foi? - a Patty perguntou.
-
Não, nada... É só que... Bom, talvez eu não tenha deixado muito claro,
mas... Eu também queria estar sozinho agora. Se eu soubesse que você voltaria,
eu jamais...
A Patty ficou quieta. Ele tentou continuar:
-
Quer dizer, você sabe que eu...
-
Eu sei, Tay.
-
Você não está brava comigo por causa da Beatriz?
-
Brava? Não, brava não. Mas incomodada.
-
Eu entendo. E olha, não se preocupe. Eu vou fazer tudo direitinho.
-
Eu acredito - a Patty sorriu, um pouco chateada.
-
Pá, eu... Eu amo você. Eu amo você mais do que tudo. Sempre amei. Eu nunca
consegui te esquecer. Quer dizer, eu estava conseguindo, mas daí você voltou
para cá e... - A Patty riu. - Isso nunca esteve tão claro na minha cabeça.
-
Eu te coloquei de lado por um tempo também. Era o que eu tinha que fazer para
poder continuar vivendo normalmente, sem chorar a cada vez que falassem o nome
"Taylor" perto de mim. Mas eu sabia que se te visse de novo, voltaria
a me sentir exatamente como eu me sentia quando nós namorávamos. - Ela
permaneceu olhando-o mais um tempo. Então sorriu. - Eu também amo você,
Taylor Hanson.
Ele apertou a mão dela e fez carinho em seus dedos.
-
E depois que eu for embora? - a Patty perguntou. - Como vai ser?
-
Como você quer que seja?
-
Eu... Eu não sei.
-
Não sabe? - ele perguntou.
-
Quer dizer, eu sei, mas...
-
Então diz pra mim - o Taylor pediu, meigo, entrelaçando seus dedos aos dela.
Totalmente insegura, ela hesitou. Olhou séria para os olhos azuis a sua
frente e, após respirar fundo, ela disse:
-
Eu quero você de novo na minha vida.
Ele sorriu, de apertar os olhinhos:
-
Here
I am.
-
Você nunca deveria ter saído dela.
-
Não mesmo.
As mãos sobre a mesa permaneceram agradando-se.
-
Quanto tempo falta para você se formar? - ele perguntou.
-
Dois anos.
-
Mmm...
Silêncio. A Patty tomou um gole de vinho e continuou com sua refeição.
-
E... - o Taylor ensaiou. - Os seus pais, como estão?
-
Estão ótimos - ela sorriu.
-
Eles estão casados há quanto tempo?
-
Vinte e quatro anos.
-
E eles são felizes?
-
São sim.
-
Você acredita no casamento?
-
Acredito. Os meus pais são o meu maior exemplo.
-
Ahan...
-
Os seus pai também se dão super bem, não é? - a Patty lembrou.
-
Eles brigam de vez em quando, mas é, se dão bem sim - o Taylor sorriu.
-
Então. Você também deve acreditar em casamento.
-
Eu acredito e muito. - Pausa para um gole de vinho. - Você pretende casar com
quantos anos mais ou menos?
-
Ah, não sei... Acho que uns 25, 26... -
a Patty respondeu, meio sem pensar.
-
Daqui uns três, quatro anos.
-
É, por aí.
-
Então mais ou menos depois que você se formar.
-
Exatamente - ela respondia enquanto saboreava a comida, sem tirar os olhos do
prato. Na verdade, ela não prestava tanta atenção assim na conversa.
-
Porque eu estava pensando... - o Taylor refletia. Agora a Patty tomava um gole
de vinho. - Nós podíamos ir marcando o nosso.
-
O nosso o quê?
-
Casamento.
Com os olhos arregalados, a Patty engoliu a bebida tudo atravessado e
disparou a tossir.
Já o Zac e a Ló não jantavam mais. Tinham comido toda aquela comida
gostosa e agora, deitados nas almofadas, olhavam para o céu, bem abraçadinhos.
E foi nessas condições que eles acabaram cochilando. Fazia algum tempo que
dormiam. Mas estava tão gostoso aquele clima fresco da noite, o vento, os
pingos... Pingos?
Durante seu sono, o Zackito começou a sentir uns pinguinhos bem pequenos
tocarem seu nariz e sua testa. Ele esfregava o rosto e voltava a dormir. De
repente, mais alguns pingos. A Ló aninhava-se mais no namorado, achando que era
um sonho ruim. E mais pingos. Então, numa fração de segundos, os pingos
transformaram-se num toró. O Zac acordou perdido, com aquela chuva toda caindo
sobre eles e fazendo barulhos altos ao tocar o chão.
-
Lynne, Lynne, acorda!
-
Ã? Quê?
-
Acorda logo, Lynne! Tá chovendo!
-
Gente, está chovendo!
Eles saíram correndo em direção a saída.
-
Zachary, isso faz parte do jantar? - a Ló gritou enquanto corria.
-
Eu não tinha te contado, mas passei a controlar as forças da natureza.
Surpresa!
-
E as coisas? Vai molhar tudo!
-
Deixa isso aí. Depois o pessoal do restaurante passa pegar.
Então chegaram à porta e desceram as escadas até o corredor do último
andar, onde havia os elevadores.
-
Bem que eu vi que aquele sonho de eu tomando banho estava real demais...
-
Eu estou ensopado - o Zac reclamou, olhando para si.
-
Que droga... - a Ló reclamou também. - Eu nem consegui aproveitar o meu jantar
direito. E o meu vestido novo molhou todinho.
-
Que merda de chuva que estragou tudo.
-
Tudo bem, Zackito. Na próxima vez a gente lembra de consultar o pessoal da
meteorologia.
-
Merda de meteorologia.
-
Ai, você está todo molhado... - a Ló dizia, enquanto passava as mãos pelo
rosto do Zac afim de tirar aqueles pingos das bochechas.
-
E agora?
-
Bom, agora... Agora a gente vai pra minha casa. Ficar molhado assim é que não
dá.
-
Tudo bem, vamos então. Você está com frio?
-
Morrendo.
O Zac a abraçou e entraram no elevador. Ao passar pelo porteiro, o Zac
agradeceu e disse que o jantar já estava terminado. O porteiro não segurou o
riso ao ver os dois molhados. A Ló riu junto. O Zac segurou para não falar
algo bem áspero para o homem. Só não o fez porque o funcionário já era de
mais idade.
No carro, quase na metade do caminho, o Zac perguntou:
-
O seu pai está em casa?
-
Não, ele foi jogar baralho na casa dos meus tios. Com essa chuva, provavelmente
vai dormir por lá.
-
Iupiii - o Zac sussurrou com uma voz fininha.
-
O que você quer dizer com "iupi", Zachary?
-
Eu? Nada, ué... Iupi é iupi.
-
Iupi é iupi... Sei...
-
O que você acha que iupi quer dizer?
-
Se eu conheço essa sua mente pervertida, eu bem sei o que é iupi.
-
Então fala, o que é iupi?
-
Você sabe muito bem o que é iupi.
-
Não, eu não sei. Conta, o que é iupi?
-
Como que você fala uma coisa que você não sabe o que significa?
-
Lynne, eu só disse "Iupiii" - ele repetiu a vozinha fina.
-
Você poderia ter dito, sei lá, Uêba.
-
Uêba?
-
É, ué. Uêba.
-
Uêba?!
-
É muito melhor do que "Iupiii" - a Ló imitou o jeito que o namorado
pronunciara a expressão.
-
Tá, e o que "Uêba" quer dizer?
-
Quer dizer Uêba.
-
E iupi quer dizer iupi.
-
É, mas iupi tem um tom... Malicioso. Uêba não.
-
Uêba é pior, Lynne.
-
Pior? Rá! - ela se indignou.
-
Claro que é pior. "Uêba"... Meu pai falava uêba! Uêba é pornográfico.
-
Seu pai. Huh! Seu pai.
Silêncio.
-
Que foi? - o Zac perguntou, provocando. - Ficou sem argumentos?
-
Não, não fiquei, não. - Pausa. - Estou só tentando adivinhar o que você
quis dizer com iupi.
-
Lynne, não há o que ser adivinhado sobre o iupi. Ele é só um iupi normal e
cotidiano.
-
É bom que seja mesmo. Porque se você está pensando o que eu acho que você
está pensando, eu... Eu... - ela gaguejava. - Eu não vou deixar!
De repente, o Zac encostou o carro. Desligou o motor e ficou olhando para
ela.
-
Por que você parou? - a Ló não entendeu.
-
O que foi? - ele perguntou sério, encarando-a.
-
O que foi o quê?
-
Estou falando do iupi.
-
Você quer falar disso de novo? Eu já disse que prefiro o uêba e...
-
Lynne. - Ela parou de falar. - Está tudo bem?
Quieta, permaneceu olhando-o.
-
Responde - ele disse baixinho.
-
Es...Está.
-
Você tem medo de alguma coisa? - Mais uma vez, silêncio da Ló. - Eu não sei
se você se lembra, mas eu sou o seu namorado.
-
Eu sei disso.
-
Sabe mesmo?
-
S...Sei.
-
Bom, se você sabe, tudo bem.
O Zac ligou o carro novamente e foram para a casa da Ló.
Como a própria havia dito, seu pai não estava.
-
Quer fazer o quê? - a Ló perguntou.
-
Vamos no seu quarto ouvir um pouco de música.
-
Tudo bem - ela concordou.
Lá, a Ló colocou no aparelho um Cd de sua preferência e, pelo o que se
ouvia, era de um show ao vivo. O Zac na mesma hora enrugou a testa e voltou-se
para a namorada, com dúvida:
-
Quem está cantando?
-
Djavan.
-
Quem?
-
Djavan. É um cantor brasileiro. Você não conhece.
-
Ah... As músicas são boas?
-
São lindas - a Ló apertou as mãos contra a bochecha, com os dedos entrelaçados.
- Como tudo no Brasil.
-
Vem cá comigo - ele a convidou com as mãos.
-
Você não quer se trocar ou tomar um banho?
-
Não. Agora eu só quero que você venha aqui comigo. Depois a gente vê o que
faz com as roupas molhadas.
Sorrindo meio amarelo, nervosa, a garota estendeu-lhe as suas mãos e
sentou-se ao lado do Zac, no chão, entre as almofadas gigantes que ela própria
mantinha em uma das esquinas do quarto. Carinhosamente, o Zackito mexeu nos
cabelos dela e se inclinou para beija-la. Puxando-o para trás entrelaçando os
dedos em seu pescoço, a Ló caiu para trás, trazendo o namorado sobre ela.
E beija, beija, beija...
Depois de algum tempo brincando com os lábios da Lynne, o Zac passou a
beijar o pescoço. Era nítida a sensação que a Ló tinha de seu namorado
tocando-lhe com a língua, na região próxima a orelha. Estava tão gostoso...
Naturalmente, o beijo foi tornando-se mais intenso. Os cabelos do Zac,
antes presos, agora caíam sobre suas costas, arrastados para lá e para cá
pelos dedos da Ló. A boca dele encaixava-se perfeitamente na da namorada. E com
certa violência, ele a beijava com o calor que seu corpo manifestava. Foi aí
que a Ló começou a ficar preocupada.
O vestido da Lynne foi sendo retirado pelas alças, sutilmente, pelos
dedos do Zachary. Desceu-os até a cintura, deixando-a parcialmente despida. A Ló
já respirava mais ofegante, numa mistura de prazer e assombro. Sem que o
namorado visse, ela arregalou os olhos e ficou só observando o que ele estava
por fazer. "Tudo bem, Ló... aproveita o momento", ela pensou. Mais
alguns beijos e já havia até esquecido que estava com metade do corpo nu. Então,
o Zac tocou-lhe os seios. Ela abriu os olhos num estalo, meio assustada. Os
cabelos do Zac tocavam seu tórax e isso impedia que ela visse claramente o que
acontecia.
O Zac deixou um instante a boca da Lynne e beijou seu queixo. O queixo e
então o pescoço. Logo depois, a região do peito e então... Ele beijou o seio
esquerdo. Na mesma hora, a Ló respirou fundo. Completamente desconfortável, a
garota sentia apenas seu corpo virar concreto com tanta tensão. E no momento em
que o Zac traçava caminhos imaginários com a língua pela região, a Lynne deu
um pulo.
-
Pára. Pára tudo - levantando as alças do vestido.
-
O que foi?
-
Não, nada.
-
Como nada? Você dá um pulo desse e diz que não é nada?
Com os olhos de filha que espera uma bronca do pai, a Ló olhava o Zac,
alarmada.
-
Por que está me olhando assim? - ele perguntou.
-
Olhando? Nada, ué - ela respondeu, desviando o olhar. - Eu estava olhando
normal.
-
Não, você não estava olhando normal.
Ela permaneceu quieta. Tentando ser carinhoso, o Zac se aproximou um
pouquinho.
-
Não fica aí tão longe, Malinha. Vem aqui comigo - tocando o ombro da
namorada.
A Ló se encolheu para evitar o toque. E disse:
-
Não, eu quero ficar aqui mesmo.
-
Lynne... O que foi?
-
Nada, já disse.
-
É sempre assim quando nós estamos sozinhos. A gente se beija, fica juntos, aí
de repente você levanta e fica assim.
-
Assim como?
-
Fria, distante, sei lá!
-
Eu não estou fria.
Silêncio. Ele espremeu os olhos, concentrado naquela expressão no rosto
da garota que ele amava.
-
Você... Está com medo?
-
Medo? Do que você está falando?
-
Você está sim.
A Lynne ficou quieta, com os olhos imóveis nos de Zac. E vendo que ele a
encarava com dúvida, adiantou-se:
-
Eu não tenho medo de nada, Zachary, imagina. Não fala besteira. Do que eu ia
ter...
-
Lynne. - Ela parou de falar na hora. - Você está com medo de mim?
Mais uma vez, ela permaneceu quieta, encarando-o, mas dessa vez, querendo
chorar.
-
Malinha - ele sussurrou -, responde.
Nada.
-
Você está com medo de mim - o Zac colocou a mão na boca, com os dedos
escorregando para o queixo.
Os olhos da Alynne brilhavam. Como quem estava sendo assaltada, sentia
que estava próxima a hora em que o Zac finalmente ia lhe tirar aquilo que achou
que seu namorado jamais fosse conseguir.
-
Eu... Eu não tenho medo de você, Zachary - ela respondeu com a voz trêmula.
-
Você tem medo de eu querer fazer algo que você não queira - ele falou como se
não tivesse ouvido a resposta dela. Analisava a situação com aquele ar de sábio
que às vezes dava de incorporar.
O lábio inferior da Ló tremia com o choro entalado. Mesmo com a cena
cortando-lhe o coração, o Zac não deixou de mostrar sua surpresa.
-
Lynne, o que você acha que eu ia fazer?
-
Eu não acho nada, Zachary.
-
Você pensou que eu fosse te forçar?
Então a Ló soltou um leve suspiro e as lágrimas caíram.
-
Lynne, como que...
-
Eu achei que você fosse brigar quando eu dissesse que não queria, eu achei que
você ia exigir que a gente transasse, como nos filmes em que, em que o garoto
pressiona a menina e ela, ela não quer e o namoro termina - a Ló disparou a
falar, chorando e gesticulando nervosa -, eu sei que você nunca precisou
esperar, esperar que, que a garota tomasse coragem, eu sei que você sempre
esteve com meninas experientes e, e eu fiquei com medo porque eu não sou assim,
eu não sou experiente, e eu não estava esperando que você entendesse como eu
sou, por isso eu fiquei com medo, com medo que você me pressionasse e eu não
estivesse preparada e desse tudo errado e doesse e sangrasse e eu ficasse sem
andar e ficasse brava com você e a gente brigasse e o namoro terminasse e eu te
perdesse por causa do sexo e... - Ela falava atropelando as palavras, tentando
engolir o choro. - E eu fiquei com medo porque eu amo muito você e eu queria
estar preparada, eu queria muito, mas eu não estou e eu tive medo que você não
entendesse isso porque eu te conheço e eu sei que você não tem muita paciência
pra ficar esperando eu me decidir, quer dizer, eu sei que eu sou um pouco lerda
e que, e que você se irrita porque eu demoro pra tomar coragem pras coisas e...
-
Lynne, Lynne.
-
Zac, por favor, não fica pensando que eu estava com medo de você ou com medo
do seu toque ou que eu estava te vendo como um, um psicopata, porque não era
isso, eu estava com medo de, disso tudo que eu te falei e...
- Sugar,
please, calm down
- o Zac pediu com carinho.
Enxugando as lágrimas, a Ló o olhava com uma carinha que o fazia querer
cuidar dela e abraça-la para sempre.
-
Eu jamais te obrigaria a fazer algo, Malinha. E eu não estou falando só de
sexo. É tudo. Eu não estava pensando em te convencer a dormir comigo. - Ele
respirou fundo como se o que fosse dizer em seguida pedisse maior esforço. - Eu
gosto de estar com você, Lynne. Seja deitado assistindo TV, seja te beijando. E
fazer amor com você é uma coisa que eu quero muito. Mas porque... Porque eu
amo você, porque eu te quero só para mim. E não porque eu só estive com
garotas experientes, ou porque eu tenho medo que você morra a qualquer momento
virgem, ou porque, sei lá, sexo é bom... Nada disso. Quer dizer, sexo é
bom, - a Ló riu - mas esse não é o principal motivo que me faz querer
executar o ato com você.
Um sorriso enorme brotou no rosto da Ló.
-
E... - ele continuou. - Eu vou esperar. Vou esperar até o dia em que você virá
até mim e dirá: "Zackito, estou preparada para dar a minha flor pra você"
- ele a imitou com voz fina. A Ló riu e jogou uma almofada na cara dele.
Depois das risadas, a Ló sentou no colo do Zac e se aninhou, como tanto
adorava fazer. Deixou que ele a abraçasse forte e ficou quietinha uns segundos.
-
Entendeu, Malinha?
-
Entendi, Zackito. - Pausa. - Eu amo tanto você... Tanto que às vezes eu até
me perco e faço essas besteiras.
O Zac riu. E disse:
-
As malas não tem mesmo o menor senso de direção.
-
Eu posso até me perder... Mas eu sempre acabo aqui. - Então levantou a cabeça
e tocou o pescoço do Zac com a ponta do nariz.
-
Ainda bem... - ele sussurrou, apertando-a contra ele.
-
Vamos tirar essas roupas?
-
Nossa, Lynne, já? A conversa do "eu quero dormir com você porque eu te
amo" foi tão eficaz assim?
Rindo, a Ló socou o estômago do Zac de levezinho.
-
Você entendeu o que eu disse.
-
Às vezes é tão conveniente se fazer de besta...
-
Você vai pro chuveiro primeiro - ela disse, levantando.
-
Por que eu primeiro?
-
Porque é menos arriscado. Anda, vai de uma vez.
-
Sim, senhora - ele fez continência.
Enquanto isso, o Taylor e a Patty saíam do restaurante. De mãos dadas,
eles deixavam o estabelecimento cheios de sorrisos e carinhos um com o outro.
Entraram no carro e foram.
-
E agora, para onde nós vamos? - a Patty perguntou.
-
É surpresa - ele sorriu.
-
Eu acho que nem vou tentar insistir para você me contar, porque pelo jeito, não
vai adiantar muita coisa.
-
É, não vai, não.
-
Tudo bem, eu já desisti.
-
E então? - o Taylor a olhou rapidamente, não deixando de se concentrar no trânsito.
-
E então o quê?
-
O que você achou da minha idéia?
-
Ahm... Idéia?
-
É. Aquilo que nós conversamos no restaurante.
A Patty então se lembrou sobre o papo do casamento.
-
Eu acho que você bebeu vinho demais.
-
Ah, Patty, não fala assim - ele riu. - Você por um acaso não se casaria
comigo?
-
A questão não é se casar com você. A questão é se casar.
-
Você disse que acredita no casamento.
-
Eu também disse uma vez que compraria uma Mercedes. Você está me vendo com
uma agora?
-
Tudo bem, Patrícia Futemma, tudo bem - o Taylor sorriu. - Mas não se
surpreenda se, daqui a alguns anos, você se pegar entrando em uma igreja com
flores nas mãos, vestindo uma roupa especial.
-
Nesse dia, eu terei virado coroinha.
Rindo, o Taylor estacionou o carro. A Patty olhou pela janela e viu através
do vidro o hotel mais luxuoso de Tulsa.
-
Por favor, diga que a surpresa é essa - a Patty sorriu.
-
A surpresa é essa.
-
Caramba! - a japonesinha comemorou.
No mesmo instante, um funcionário se aproximou do veículo e abriu a
porta para a Patty sair. O Taylor também saltou do carro e foi cercado de mais
funcionários.
-
Senhor Hanson, por aqui, por favor - um deles o direcionou.
-
Senhorita - outro abriu passagem para a Patty.
Rapidamente, Taylor confirmou sua reserva na portaria e assim que tudo
foi acertado, ele e a Patrícia (que agora era Patrícia Colgate), tomaram o
elevador até a suíte presidencial.
-
Eu juro que o meu sonho sempre foi ver esse hotel por dentro - ela falava,
empolgada.
-
Além do seu sonho ter sido realizado, ele foi incrementado: você não apenas
viu o hotel por dentro, como está hospedada nele. E o melhor é que junto
comigo.
Com toda sua ternura aflorada por causa daquele loiro com traços
delicados e tendências a ser seu marido, a Patty sorriu. E o beijou no
elevador, agradecendo a seguir:
-
Obrigada, Tay. Obrigada mesmo.
-
Eu teria feito muito mais se eu pudesse, Pá.
Tim!
No
painel do elevador piscou o andar de número 10. No corredor tocava uma música
ambiente em francês que chamou a atenção do Taylor. Parou de andar.
-
O que foi, Tay?
Ele então curvou-se e, como os cavalheiros de antigamente, a convidou
para uma dança. Sorrindo, a Patty entrou no clima e curvou-se também para
agradecer, puxando o vestido imaginário. E começaram então a bailar pelo
corredor naquele estilinho dois-para-lá-dois-para-cá. A música responsável
por isso? Volare (Nel Blu Di Pinto
di Blu), cantada por Domenico
Modugno.
-
Tomara que não apareça ninguém - a Patty disse enquanto era levada pelo seu
par.
-
Não vai aparecer. O andar é todo nosso.
Algumas funcionárias passavam pelas escadas, descendo do 11º andar,
onde ficava a sala com os materiais de limpeza, e conversavam sobre assuntos
quaisquer.
-
Hei, Damares, olha aquilo - a mais gordinha apontou assim que viu os jovens dançando
despreocupados.
-
O que foi? - a outra, mais seca e comprida, perguntou.
O casal deslizava pelo mármore do chão como se sob seus pés houvesse
rodas. Os cabelos da Patty giravam no ar cada vez que o Taylor a rodava
segurando em uma de suas mãos, e a enrolava e desenrolava em seus braços. Eles
riam quando erravam alguns passos e olhavam-se como se no mundo só existisse
eles e aquela música.
Com tantos sorrisos de Taylor e Patrícia, as mulherzinhas foram tomadas
por aquele sentimento. E decidiram dedicar alguns sorrisos a eles também.
Suspiravam ao verem tanto amor e cumplicidade e olhavam-se aos risos desdentados
cada vez que o cavalheiro da cena manifestava um ato de cortesia para a sua
senhorita. Ah, como eles estavam felizes... A alegria da cena contagiava. E
tanta graciosidade em meio a tantos passos desengonçados, fez com que aquele
casal parecesse ainda mais apaixonado.
Da maneira com que Taylor se preocupava em levar sua amada, do modo como
ela deixava-se ser conduzida, da dança afetuosa entre eles, exalava o mais puro
amor. Eles próprios não percebiam o quanto aquele momento envolvia carinho e
os sentimentos mais verdadeiros de ambos. Pelo corredor, por todos os cantos e
paredes, parecia existir mágica. Dessas mágicas que são impossíveis de se
transmitir em filmes ou em livros. Essas mágicas da vida real, que a gente
sente formigar na barriga e na espinha cada vez que percebemos estar dentro de
um momento incrível da nossa vida. Aquela mágica de ser correspondido, a mágica
que te percorre todo o corpo quando você avista aquela pessoa, e te tira a fome
só de lembrar daqueles olhos.
As funcionárias que assistiam a tudo de pertinho sentiam isso no ar
fortemente. E fora exatamente tal percepção dos acontecimentos que fez com que
seus olhinhos se enchessem de lágrimas.
Assim que a música terminou, Taylor beijou sua dançarina e entraram no
quarto de mãos dadas, rindo alto e cantarolando a música de há pouco.
-
Ai, Damares... Só de lembrar que no começo o meu marido era assim também... -
a gordinha lamentou. - E eu era tão magrinha e bonita...
-
Gente - a Damares limpava as lágrimas toda desajeitada. - Essa foi a coisa mais
linda que eu já vi na minha vida.
-
Lindo, lindo mesmo. Ai, ai - a gordinha suspirou. - Mas vamos voltar ao trabalho
que a gente tem que limpar aquela cozinha ainda.
- Eu acho que eu vou começar a me arrumar mais, sabia? É, comprar umas roupinhas, cuidar do cabelo... Quem sabe até fazer um tratamento para arrumar os dentes. Por que não? - a Damares falou antes de elas continuarem descendo as escadas.
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