Após o traumatizante embarque da Patty, o Taylor esperou um dia para começar a ajeitar sua vida. Combinou de pegar a Beatriz às três da tarde para conversarem melhor. E ao estacionar em frente à casa da ex-namorada, viu a própria parada no portão com seu pai ao seu lado, com pose de guarda-costas de celebridade. O Taylor riu sozinho, lembrando do papelão que havia sido a conversa dele com os pais da Beatriz. Mas não guardava mágoas. Sabia que Karl só estava tentando proteger a filha.

            A Beatriz se aproximou do carro, arrumando os longos cabelos em um rabo de cavalo, como quem se preparava para uma prova árdua e seus fios pudessem atrapalhar sua concentração.

- Oi, Bia - o Taylor cumprimentou, sorrindo um pouco receoso.

            A garota respirou fundo e deixou escapar em sua resposta a afeição que ainda mantinha pelo ex-namorado:

- Oi, Taylor.

            Alívio para o Cumprido.

- Entra.

            Ela entrou.

- Vamos dar uma volta?

- Eu preferia que nós ficássemos aqui - a Beatriz disse.

- Tudo bem, você quem sabe.

            Silêncio. Silêncio total e absoluto. O Taylor não tinha idéia de como começar aquela conversa. "Bom, então, Beatriz, desculpe por ter traído você e ter mentido que a amava". Não, esse não era um bom começo.

- Eu sei que eu não tenho o que dizer para me desculpar com você - o Taylor começou. - E eu nem vou tentar também porque eu ssei que não existe justificativa para o que eu te fiz.

            A Beatriz o olhou séria. Ele continuou:

- Tudo o que eu quero te pedir é perdão, eu deveria ter falado com você antes e...

            Inutilmente, o Taylor tentava encontrar certo conforto no olhar de Beatriz, mas deparava-se apenas com a ausência de qualquer compaixão dentro daquele olhar. Ela parecia irredutível.

- Bia, olha... Eu queria que você entendesse que eu gostei de você. Que você foi importante pra mim e que o nosso namoro foi ótimo nesses quatro meses.

- Você não dormiu com ela? - a Beatriz interrompeu.

- O quê?

- Eu quero saber se por acaso ela não quis dormir com você.

- Qual o propósito desta pergunta?

- Não, nada... Eu só estou tentando descobrir por quê tanto encanto com a japonesa.

- E o que influencia o fato de eu ter dormido com ela ou não?

- Bom, homem quando não consegue dormir com uma mulher, a venera pelo resto da vida.

            O Taylor suspirou, passando a mão pelo rosto, olhando pela janela do motorista. E disse:

- Não, Bia, não tem nada a ver com isso.

            Silêncio.

- Eu sei que você está magoada e que...

- Taylor - ela o interrompeu com um alterado tom de voz. - Você não sabe de nada - disse, pausadamente.

            Silêncio novamente. A Beatriz permaneceu encarando-o, como se fosse continuar. E ela continuou:

- Você é uma das pessoas mais mesquinhas, egoístas e desprezíveis que eu já conheci. Em todos esses quatro dias que essa garota ficou aqui, você não pensou por nenhum segundo em mim. Você não pensou que tinha um compromisso comigo e que devia fidelidade a mim.

- Desculpe, Bia. Mas é que a Patty...

- Eu não ligo se você ama essa Patrícia. Isso não justifica a humilhação que você me fez passar. Eu era sua namorada. Queria sair com ela? Ótimo. Mas me tirasse dessa zona antes. Você não tinha o direito de me envolver nisso.

- Eu sei.

- Sabe porra nenhuma - ela aumentou mais o tom de voz. - Como você acha que eu vou ficar conhecida na cidade? A Beatriz coitadinha que fui humilhada pelo namorado sacana? Não, Taylor. Eu serei a eterna corna e você o garanhão. Você pensou nisso antes de me trair? Pensou no que iam falar de mim?

            Pausa. O Taylor estava se sentindo péssimo.

- E não, eu não te perdôo e nunca vou perdoar - a Beatriz disse. - Nunca mais dirija a palavra pra mim, nunca mais olhe pra mim, não ouse nem pensar em mim.

             Então, ela finalizou:

- Você e aquela Patrícia se merecessem mesmo...

            A Beatriz saltou do carro com os olhos brilhantes de lágrimas raivosas acumuladas. E por mais chateado que o Taylor estava com aquele desfecho horrível para o seu namoro com a Beatriz, ele também sentia-se aliviado. Ele sabia que merecia aquele sentimento de rancor e não esperava menos vindo dela. Seria ilusão demais achar que a ex-namorada tomaria a postura de legalzona e aceitaria os acontecimentos na maior das boas vontades.

            Deu a partida e voltou para casa.

 

...

 

            O Taylor ligou para a Patty assim que terminou oficialmente, e decentemente, com a Beatriz. Lá em Albuquerque, quando a Futemminha viu na telinha do seu celular o número do Taylor acusando, ela pensou seriamente em não atender, de tão chateada que estava. Mas como nessas horas, quem comanda os nossos movimentos não é o cérebro e sim o coração, a Patty deixou que este levasse seus dedos a atenderem o telefonema.

- Oi, Tay. - Ela já atendeu assim.

- Patty, que bom ouvir você.

            Suspirando e se rendendo, ela respondeu:

- É bom ouvir você também.

- Você me odeia?

- Claro que não, Tay...

- Desculpe pelo aeroporto, Pá. Eu juro que eu corri. Eu corri muito. Mas se você soubesse como foi horrível com a Beatriz... O pai dela e a mãe dela me obrigaram a explicar tudo na hora, eu tentei explicar o mais rápido possível e eles não me deixavam sair de lá...

- Tudo bem, Tay, esquece isso.

- Sério?

- Sério - ela sorriu, segurando o telefone como se tivesse nas mãos os cabelos loiros que ela tanto amava.

- Desculpe, eu não queria ter perdido o seu vôo.

- Você perdeu o meu vôo. Só isso.

- Como é bom ouvir isso...

            A Patty sorriu.

- Ainda bem que o Isaac estava lá - o Taylor comentou.

- É, ainda bem...

- Você já namorou à distância? - ele perguntou.

- Nunca.

- Nem eu.

            Pausa. O Taylor então molhou os lábios e suspirou, sereno:

- Patty?

- Mmm?

- Quer namorar comigo?

            Sorrindo, ela respondeu:

- Todos os dias.

 

Capítulo 49 / Índice / Parte IV