E como não podia deixar de ser, à noite, o Taylor ligou para o George para ver aonde eles iriam festejar. Foi até o escritório, onde o Zac mexia no computador, para telefonar. E foi o que ele fez. Mas como a vida é uma caixinha de surpresas, o George surpreendeu o amigo Taylor com uma gripe que ele tinha pegado aquela tarde.

- Maus, Tay. Tô sem condições de sair hoje.

- That's ok, George. Get better, dude.

- Pode deixar, eu vou tentar.

- Um abraço. Tchau. - O Taylor desligou o telefone. - Putz.

- Que foi? - o Zac perguntou.

- O George está doente.

- O que é que ele tem? - o Zac perguntou, colocando a TV no mudo.

- Gripe. Ele está de cama.

- Poor guy.

- Pena... Eu estava muito a fim de sair hoje - o Taylor lamentou.

- Veja pelo lado positivo: amanhã ninguém vai ter que te agüentar rastejando pela casa, vomitando nos cantos e espalhando doenças para as pessoas felizes desta casa - o Zac dramatizou.

- A única coisa que eu poderia lhe transmitir seria um rastro mínimo de inteligência - o Taylor disse, meio puto.

- Com licença, mas quem é que reprovou a primeira vez no exame de habilitação porque respondeu que o significado da placa com um garfo e uma faca era "Permitido comer no carro"?

- Fuck you!  Você também não sabia o que era!

- Mas eu tinha uma noção de que tinha alguma relação com restaurantes!

            Pausa.

- Eu e o Ike não vamos sair - o Zac comentou.

- Não? - o Taylor juntou as sobrancelhas, curioso.

- Nope. Nós vamos fazer uma sessão de cinema aqui. Vai ter pipoca doce e tudo - o Zac sorriu.

- Só vocês dois?

- Claro que não. Qual seria a graça? A Patty vem.

- Ah... Legal. - O Taylor levantou. - E eu posso me juntar a vocês?

- Claro, brother. - O Zac levantou. - Tudo para não te ver bêbado de novo - disse, dando um tapinha nas costas do Taylor.

- A Patty chega que horas?

            O Zac olhou no relógio e disse:

- Daqui uma meia-hora, eu acho.

- Bom, eu vou tomar banho então. Que filme vocês vão ver?

- A Patty vai trazer quando estiver vindo.

- Ela vai escolher?

- Vai. Te dou um doce se você adivinhar de quem foi a idéia.

- "Imagine, Patty. Você escolhe o que nós vamos assistir. O que você escolher, pra nós estará ótimo" - o Taylor imitou o irmão mais velho.

- Bingo.

- Bom, mas a Patty tem bom gosto. Eu tenho fé naquela menina.

- Eu imagino como deve ser graaande a sua fé nela - o Zac ironizou.

- O que você está tentando dizer com isso?

- Eu me admiro a Patty continuar zanzando por aí intacta com você por perto.

- Zac, eu não sou essa pessoa que você pensa que eu sou.

- Taylor, você beijou até a enfermeira do hospital que você nasceu - o Zac disse, sarcástico.

- E daí se eu gosto das mulheres? - o Taylor disse, saindo do quarto.

- Você devia tentar gostar de uma só, para variar um pouco - indo atrás do irmão.

- Quando eu começar a gostar de alguém de verdade, aí vai ser só aquela pessoa pra mim - o Taylor falou, com um ar romântico.

- Deus queira.

- O que você quis dizer com "Deus queira"?

            E por aí foi a conversa deles. Eles foram nesse ritmo de papo não-cutuca-que-eu-cutuco-também até chegar à cozinha.

- Meninos, não discutam - a Gina reclamou. - Eu não gosto quando vocês discutem.

- A gente só está conversando, Gina - o Zac explicou, sem paciência.

- Não esquenta, não, Gina - o Taylor disse carinhoso. - Agora é só uma conversa mesmo. Lembra da última vez em que eu e o Zac discutimos de verdade?

- Lembro. Você acabou com a boca sangrando e o Zac com um roxo no olho - a Gina relembrou. - Graças ao meu Bom Deus vocês pararam de se pegar como costumavam. Todo dia, eram metros de esparadrapo e litros de mercúrio pela cara e corpo de vocês.

            O Isaac entrou na cozinha.

- Qual é o assunto? - perguntou.

- Estávamos falando mal de você - o Zac retrucou.

- De mim? - o Isaac fez cara de perdido. - Mas por quê?

            O Zac bocejou e deixou o lugar.

- Eu vou tomar banho - o Taylor pensou em voz alta.

- Mas por que vocês estavam falando de mim? Foi alguma coisa que eu fiz?

- Tchauzinho - o Taylor disse, saindo. - Gina, depois vê pra mim a minha camisa que está para lavar?

- Já levo lá pra você, Cumprido.

- Obrigado - o Taylor agradeceu. E então deixou a cozinha.

- Gina, o que eles estavam falando? - o Isaac perguntou mais uma vez, realmente preocupado.

- Nada, Clarke Isaac - ela respondeu paciente e com o mesmo sorriso nos lábios. - Você é o anjinho da casa, ninguém poderia falar mal de você.

            Desde pequeno, a Gina chamava o Isaac de anjinho. Enquanto o Taylor e o Zac saíam aprontando, o Isaac era comportado, educadinho e não fazia arte nenhuma. Brincava com os irmãos, mas quando eles resolviam inventar alguma moda que o Isaac sabia que ia resultar em castigo, preferia trancar-se no quarto e viajar na batatinha lendo o monte de livros que ele tinha na estante. E acreditem, eram muuuitos.

            O Taylor já tinha saído do banho e estava agora escolhendo a roupa que ia colocar. As portas do guarda-roupa abertas, o som no último tocando The Indigo Girls com a música I don't wanna talk about it e o Taylor olhando para as muitas camisas, babylooks, calças e acessórios dele, tentando escolher a roupa mais apropriada para assistir filmes aquela noite. Foi quando a Gina entrou no quarto com uma outra camisa engomada nas mãos:

- Aqui está, Cumprido.

- Gina, não fica me chamando assim. Eu não sou mais só um magrelo desengonçado. Eu sou mais do que isso agora - ele brincou, com um ar sério.

- Claro. Agora você é um magrelo que vive de regatas.

- Aliás, o que você acha que eu devo usar hoje à noite?

- O que você vai fazer hoje?

- Vou ficar com o Ike e o Zac.

- Eles não vão sair hoje. Vão ficar em casa - a Gina avisou.

- Eu sei. A Patty vai vir pra cá e nós vamos assistir a alguns filmes.

            A empregada ficou boquiaberta, olhando para ele com uma cara muito espantada.

- Nossa, Gina, o que é que foi?

- Eu ouvi o que eu ouvi ou eu ouvi errado?

- O que foi que eu disse de tão absurdo? - ele perguntou, gesticulando, com as mãos na altura do peito.

- Cumprido, você está querendo dizer que vai deixar de sair à noite, beber, ir para a farra, como você sempre faz, para ficar aqui em casa com o Isaac e com o Zac assistindo filmes?

- O que é que tem? - o Taylor continuou não entendendo.

- Você detesta esse tipo de programa.

- Comecei a gostar. Qual é o problema?

- Não, nada, oras... Você ainda quer ajuda com a roupa?

- Quero sim. A Patty vai vir aqui então eu não posso estar de qualquer jeito.

            Espremendo os olhos, a Gina ficou observando-o um tempo. Ele fuçava nas roupas e ia falando sozinho:

- Não, camisa não. Tinha ser algo não tão formal, mais à vontade. - Encontrou então um de seus babylooks favoritos, um azul-marinho escrito em branco "Harvel. Excellence by Design". - Essa! O que você acha, Gina?

            A Gina continuava observando.

- O que foi?

- Você é amigo da Patrícia?

- Sou. Ela é muito legal - ele disse, todo feliz. - Eu até comprei um par de brincos para ela hoje no shopping com o Zac. Quer ver? - O Taylor foi até a caixinha sobre a cama e estendeu para a Gina. - São dois sóis. Eu achei a cara dela, então comprei.

            Ela analisou o brinco, disse que gostou e os guardou na caixa novamente. Então a Gina abriu um sorriso.

- What now? - O Taylor já estava ficando sem paciência.

- Nada, Cumprido, nada não. Essa blusa aí está muito bonita. Se você colocar com aquela sua calça jeans, vai ficar bom.

- Você acha? - ele perguntou, preocupado.

- Acho - ela respondeu, ainda sorrindo da mesma maneira desconfiada. - Você tem bom gosto, Taylor. O que você escolher vai ficar ótimo. Só não coloca nada de colorido e brilhante, como você faz de vez em quando.

- Pode deixar - ele sorriu.

- Posso ir agora?

- Pode sim, valeu.

            Ela sorriu uma última vez e saiu do quarto.

            A Patty tocou a campainha da casa dos Hanson uns minutos antes de o Taylor terminar de fechar o seu cinto marrom que tinha escolhido para dar um toque no visú. Afinal, você sabe, não é. Taylor Hanson é sinônimo de acessórios.

- Oi, Patty. Entra - o Isaac a recebeu.

- Tudo bem? - ela sorriu. - E aí? A pipoca doce já está pronta?

- Não sei, tem que ver com a Gina e o Zac lá na cozinha.

- O Zac? O Zac está ajudando a Gina?

- Bom, diz a lenda, né? Se ele está mesmo ajudando, aí é um mistério - o Isaac brincou.

- Claro, claro... Provável que ele esteja atrapalhando a coitada da Gina.

- Isso porque você perdeu o dia em que ele resolveu fazer o café da manhã. Foi a primeira omelete com granulado branco que eu comi na minha vida.

            A Patty riu. E então perguntou:

- E a sua mãe e o seu pai?

- Estão lá em cima. Eu pedi para que eles não deixassem a pirralhada invadir a sala de TV enquanto nós estivéssemos assistindo.

- Imagine, eu não me importo, não - a Patty sorriu, sempre faceira.

- Vem, vamos lá na cozinha ver como é que está o Zac e a Gina.

            Entrando, a Patty já conseguiu sentir que faltava um pouco de entrosamento no time cozinheiro. O Zac tentava colocar mais açúcar na pipoca doce, mas a Gina gritava "Zac, vai queimar!". E ele rebatia: "Mas eu gosto com bastante caramelo!". A Patty e o Isaac ficaram assistindo aquela cena alguns minutos, antes do Taylor entrar na cozinha.

            Ah, o Taylor... Ele estava lindo. O cabelo bagunçadinho, o babylook bem justo ao corpo, a calça e o cinto. Ele era mesmo bonito. O desenho da boca, a cor dos olhos, os cabelos... O Taylor era uma harmonia de traços. E foi pensando assim que ele adentrou à cozinha, com toda aquela confiança de que iria agradar. E era isso que ele mais amava sobre a beleza dele: essa capacidade que ele tinha de impressionar a quem ele quisesse pelo simples prazer de se sentir atraente.

- Oi, Patty - ele disse quase que sussurrando, sorrindo todo cheio de intenções.

- Olá, Taylor - a Patty olhou-o rapidamente sorrindo, simpática como sempre, e retornou sua atenção ao Zac.

- Tudo bem com você? - ele perguntou, com o mesmo tom de voz sedutor.

- Tudo ótimo.

            Era só isso? Nem uma olhada diferente, nem um comentário elogiando a roupa dele, nada? A Patty não tinha nem notado a produção potente que ele tinha feito. Mas o Taylor não desistia fácil. Ele faria a Patty reparar nele de qualquer jeito.

- A pipoca está quase pronta - a Gina disse, cansada. - Apesar de o Zac quase ter explodido a minha cozinha, a pipoca vai sair.

- Zac, você não nasceu para ser pipoqueiro - a Patty brincou.

- Foi a Gina que ficou bloqueando o meu instinto nato para cozinhar - o Zac brincou, mas com a expressão séria.

- Instinto? Zac, você não sabe de cor nem como fazer um miojo. Quem dirá uma pipoca doce - a Gina disse.

- Aaah - ele resmungou. - Grandes merdas também. Eu não preciso saber fazer uma pipoca para ser alguém importante na vida.

- Será que nós podíamos discutir o futuro culinário do Zac mais tarde? - o Isaac interrompeu. - Eu estava realmente a fim de assistir filmes.

- Eu vou arrumando. Onde é a sala de TV mesmo? - a Patty perguntou.

- Vem, eu te acompanho - o Taylor se ofereceu.

            E lá foram os dois para a sala de TV. O Taylor não parava de tentar fazê-la enxergar o que era tão óbvio na opinião do Taylor: ele estava lindamente vestido aquela noite e merecia um reconhecimento por isso. Mas a Patty não parecia estar se importando muito com as roupas descoladas que ele usava ou com a maneira perfeitamente desalinhada que o cabelo dele estava ajeitado.

- Nossa, isso é uma televisão? Não é uma janela? - a Patty perguntou ao ver o tamanho do aparelho.

            Então o Taylor correu e se meteu na frente da tela, aproveitando que a Patrícia direcionava o seu olhar para lá.

- Pois é, grande, não é mesmo?

- O DVD já está arrumado, né?

- Já sim.

            Foi nesse momento que a Patty começou a olhá-lo séria, daquela maneira de olhar que uma pessoa que está observando atentamente a alguém, olha. O Taylor ficou muito feliz. Parecia que ela havia finalmente notado o quão belíssimo ele estava.

- Taylor, você vai sair?

- Não, vou ficar aqui.

"Ela deve estar pensando em como eu me arrumo bem, até mesmo para situações não tão importantes, como uma simples sessão de filme em casa", o Taylor pensou.

- Mmm... - ela resmungou.

- Por quê, Patty? - o Taylor perguntou, sorrindo charmoso, louco para ouvir a resposta.

- Não, é que... - Ela puxou a sobrancelha para baixo, intrigada. - Você não acha que essa roupa está muito chic para ficar em casa?

- Muito chic?

- Sei lá, você está em casa. Uma roupa mais confortável faria você se sentir melhor, eu acho - observou, cuidadosa. - Sei lá, é só um comentário - ela finalizou, sorrindo.

            O Taylor neste instante sentiu toda a sua tão produzida beleza escorrer pelas suas unhas do pé. A Patrícia não tinha gostado. Mas como ela poderia não ter gostado? Estava tudo combinando da maneira que a moda indicava, com a pitada de bom gosto que o Taylor carregava felizmente em sua personalidade. O cinto combinava com o ar desleixado da calça e a blusa azul-marinho valorizava o visual. Tudo lindo e formoso. Como a Patty podia não ter gostado?

            Bateu uma tristezinha no Taylor e ele se achou meio sem graça por um instante. Ele nunca tinha se sentido assim. Era estranho não ser notado por uma garota. Ele ficou pensando nisso um tempo.

- Taylor?

- Ãã?

- Está tudo bem?

- Desculpe, eu estava distraído.

            A Patty sorriu.

- Você não quer saber os filmes que eu peguei?

- Ah, claro. Quero sim.

            Ele se aproximou dela e começou a olhar os títulos. Ficou ouvindo a Patrícia falar de cada filme empolgada e pensando em como ela era diferente das outras meninas. Quer dizer, como ela poderia simplesmente deixar o físico do Taylor passar batido assim? Chegava a ser estranho. "Será que ela é lésbica?", ele chegou a pensar. Então lembrou-se do dia na boate em que ela ficou com o tal do Eduardo. "Tudo bem, ela não é", ele pensou. "Mas eu sou mais bonito que ele. Por que ela olhou para ele e não está olhando para mim?". Ele simplesmente não entendia. "O que é que tem errado então? Será que é o cinto? Ela não gostou do cinto? É, talvez seja o cinto", ele concluiu em pensamento.

- Patty? - o Taylor interrompeu o discurso dela sobre o filme "Gladiador".

- Mmm?

- Você não gostou do meu cinto?

- Quê? - ela não entendeu o propósito da pergunta.

- O cinto que eu estou usando. É o cinto o problema na minha roupa?

- Eu estava falando do Gladiador e você comentou do seu cinto... - Ela pensou um minuto. - Te juro que não entendi a relação de um assunto com o outro - ela brincou.

            O Taylor ficou meio sem graça e disse:

- Ah, claro. Desculpe, nada a ver, não é?

- Imagina, eu estava só brincando.

- É o meu cinto?

- Não sei, se é você quem está usando, deve ser seu sim.

- Não! - ele riu. - É o meu cinto o problema da minha roupa?

- Não, ele ficou legal aí - a Patty disse, ainda não entendendo direito. - Por quê?

- Você gostou?

- Gostei.

- Mas então por que você disse que não gostou?

            A Patty riu. E disse:

- Taylor, a sua roupa está linda. Eu só falei aquilo porque, bom, eu acho que você iria ficar mais confortável com uma roupa não tão incrível. Só isso. Mas para mim não faz diferença. Desde que você esteja aqui, tudo bem.

            Então o tempo todo era isso? A roupa não importava para ela? Nossa... Realmente, por essa o Taylor não esperava. Ficou abismado. Como uma garota podia não reparar em como ele estava vestido? E já desistindo de tentar entender, deixou aquilo para lá e se preocupou mais em ajustar os cds no DVD. Logo depois, o Zac e o Isaac entraram com uma bacia gigante de pipoca doce e outra de salgada. A Gina vinha logo atrás com uns refrigerantes. Tudo na mesinha de centro, o DVD colocado, era só dar play e começar a assistir.

            Durante o filme, o Taylor continuou pensando sobre o assunto de a Patty ser diferente das outras meninas. Ele ficou refletindo... Então, se ele estivesse usando uma outra roupa qualquer, uma rasgada talvez, não faria diferença para ela? O Taylor olhou então para o Zac e para o Isaac. Ambos estavam usando calças largas e camisetas. Voltou a olhar para a tela. Talvez ele deveria ter feito a mesma coisa sobre as roupas. Talvez a Patty só estava pensando no bem estar do Taylor ao comentar sobre a roupa dele.

            O primeiro filme terminou. A Patty já levantou empolgada:

- Nossa, que filme perfeito! Really, really cool.

- Eu também gostei. Principalmente as cenas no Coliseu: muita porrada e cabeças rolando. I loved it - o Zac comentou.

- Esse filme é meio açougueiro - o Isaac comentou. - Mas é muito bom, reproduziu bem o cenário romano.

            O Taylor permaneceu quieto. Com o queixo apoiado nos dedos, ele olhava para o chão pensativo. A Patty primeiramente não perguntou nada, mas ele estava com uma expressão de quem estava intrigado com alguma coisa. Talvez fosse o filme que tinha um desfecho um tanto confuso.

- Você não entendeu o final? - a Patty perguntou.

- Final? - o Taylor perguntou. - Entendi. Entendi sim - ele sorriu.

- Então fala o que você achou.

- Ah... Sei lá.

- Vai, Tay, fala - o Zac disse, sem paciência. - O filme é um tesão e você diz "sei lá"?

- Eu gostei, mas não é o meu estilo de filme - o Taylor explicou.

- Não? E qual é o seu estilo? - a Patty perguntou.

- Mmm... - Ele pensou um segundo. - Filmes com trama inteligente. Ou que fale de coisas simples da vida. Coisas que, às vezes, por mais simples que pareçam, você não tem dentro da sua própria vida.

- Putz, quanta merda, Tay - o Zac disse, batendo na testa. - Esse negócio de "coisas simples da vida" que ele está falando, é para não dizer "filme romântico". Para não pegar mal.

- Shut up, Zac - o Taylor protestou.

            O Isaac só ria.

- O que seria do verde se só gostassem do amarelo, não é mesmo? - a Patty tentou descontrair para mudar de assunto e evitar brigas. - Cada um gosta de uma coisa.

- A gente vai assistir outro agora? - o Isaac falou, depois de um tempo em silêncio.

- Não sei, vocês que sabem.

- Qual mais você trouxe aí, Patty? - o Isaac perguntou, olhando dentro da sacola da locadora.

            Enquanto eles iam falando, o Taylor continuava pensando. O que era difícil para ele entender era que, nem todas as situações do mundo pediam um bonito visual. Estava acostumado a viver em um meio em que o melhor só vencia se estivesse com roupas magníficas. Como a Gina comentou, ele detestava mesmo aquele tipo de programa caseiro. Ele não gostava de fazer coisas que não exigiam dele estar bonito. Lugares que não pediam para que ele ficasse com alguma menina e bebesse até cair. O Taylor gostava disso, desse agito da noite. E não era o que estava acontecendo ali. Assistir filmes na sala da sua casa com uma amiga e os irmãos jamais passara pela sua cabeça como algo a ser considerado um programa.

            Mas por alguma razão totalmente desconhecida pelo Taylor, ele estava gostando de ficar ali. Estava divertido. Tudo bem que não tinham bebidas, nem música alta, nem aquele monte de mulheres perfeitas a disposição dele, mas tinha a Patty, o Isaac e o Zac. O que poderia ser mais legal?

- Taylor! - o Zac berrou.

- Ãã? Quê?

- Porra, até que enfim!

- Desculpe, eu não estava ouvindo.

- Jura? Nem tinha notado.

- O que nós vamos assistir agora? - o Taylor perguntou.

- "A Lenda do Cavalheiro Sem Cabeça" - a Patty disse, tirando o DVD da sacola. - O que você acha?

- Por mim, beleza. Só esperem um pouco que eu vou lá no quarto e já venho - o Taylor falou, saindo da sala de TV.

            Subiu ao seu quarto e abriu o guarda-roupa.

- Vou trocar só a calça. Uma mais larga talvez fique melhor - o Taylor falou sozinho.

            Pegou uma calça baggy creme, colocou-a e, quando estava voltando para a sala de TV, encontrou com a Gina no meio do caminho.

- Trocou de roupa de novo, Cumprido? - ela perguntou.

- Não, só a calça.

- And why is that?

- A Patty disse que eu ficaria melhor com uma roupa mais confortável.

- E desde quando você obedece ao que uma mulher diz?

- Nada a ver, Gina. Ela só deu uma idéia e eu concordei.

- Ahan... Sei... - desconfiada.

- Assim ficou legal? - ele perguntou, olhando para a roupa.

- Ficou sim. Vai logo, Taylor, senão o filme começa sem você.

- Tá - ele sorriu e saiu correndo.

            A Gina só deu uma risada, feliz pelo Taylor. Ele saiu do quarto de um jeito que parecia criança indo atrás do doce. "Acho que ele está tomando jeito", a Gina pensou.

            Quando entrou na sala de TV, o Taylor sentou rapidinho. A Patty percebeu que ele tinha mudado a calça. O Isaac notou que tinha algo diferente no Taylor, mas não sabia o que era. O Zac nem notou nada, mas é claro que ele não deixou de reclamar pela demora do irmão e comentou qualquer coisa sobre o Taylor ser muito enrolado.

 

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