IMPACTO DE MUDANÇAS NO USO DO SOLO NAS CARACTERÍSTICAS HIDROSSEDIMENTOLOGICAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JOANES E SUA REPERCUSSÃO NA ZONA COSTEIRA
 

 
ÍNDICE CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 5 CAPÍTULO 6 ANEXOS
 
CAPÍTULO 2: ÁREA DE ESTUDO

 

2.1 Generalidades

A área de estudo compreende a bacia hidrográfica do Rio Joanes (Figura 2.1), totalmente inserida no Estado da Bahia, localizada entre as coordenadas de 12;30’e 12;55’ de latitude sul e de 38;07’e 38;45’ de longitude oeste. Limita-se a norte e leste com a bacia hidrográfica do rio Jacuípe, ao sul e sudoeste com as bacias hidrográficas da área urbana da cidade de Salvador e a sudeste o limite da bacia é definido pelo Oceano Atlântico.

A bacia hidrográfica do Rio Joanes tem área de aproximadamente 755,4 km2, com um comprimento de talvegue de 73,2 km. Sua principal nascente está localizada na Fazenda Campinas à 2,5 km da cidade de São Francisco do Conde. Seus principais afluentes são os rios Jacarecanga e Ipitanga. Além desses formadores principais existem diversos arroios afluentes, de menor porte, muitos dos quais drenam vilas, povoados, cidades, indústrias e lixões, os quais também têm importância tanto no regime hidráulico, quanto na qualidade das águas do rio Joanes.

Os municípios que compõem a bacia hidrográfica do rio Joanes são Lauro de Freitas, Camaçari, Simões Filho, São Sebastião do Passé, São Francisco do Conde, Candeias, Salvador e Dias D’Ávila. Destes municípios apenas os três primeiros tem a sua sede dentro dos limites da bacia.

A seguir é feita uma descrição sucinta das características físicas da bacia hidrográfica do rio Joanes e um breve histórico da ocupação humana e principais usos do solo identificados.

 

Figura 2.1: Bacia Hidrográfica do rio Joanes

2.2 Caracterização do meio físico da bacia hidrográfica do rio Joanes

2.2.1 Geologia

A caracterização geológica da bacia hidrográfica do rio Joanes é descrita a partir de informações contidas na Proposta de Enquadramento da Bacia Hidrográfica do Rio Joanes (SEPLANTEC, 1995a) e no Projeto RADAMBRASIL (MME, 1981). Nesta bacia ocorrem basicamente três domínios geológicos:

Ø Rochas cristalinas pré-cambrianas – este domínio constitui o Embasamento Cristalino e compreende rochas do tipo piroxênio-granulitos e hornblenda-piroxênio granulitos, cortadas por zonas de cisalhamento, representadas por falhas com direção geral SW-SE, coincidentes com a foliação metamórfica. Estas direções influenciam geotecnicamente na estabilidade de muitas encostas existentes, constituindo locais susceptíveis a ocorrência de deslizamentos e escorregamentos.

Ø Rochas sedimentares mesozóicas e terciárias - compreende as rochas sedimentares pertencentes ao Supergrupo Bahia, assim constituídas:

Formação Barreiras: é constituído por sedimentos arenosos de granulometria grossa a média, de coloração branca, amarela e vermelha, intercalados com lentes de argila caulinítica de pequena espessura e de coloração vermelha. São bastante friáveis e susceptíveis à erosão pluvial. Em locais onde a cobertura vegetal foi removida, é comum a ocorrência de ravinamentos e voçorocas.

Formação Marizal: é constituída em geral por arenitos variegados mal selecionados, cauliníticos, pouco micáceos, com intercalações argilosas e siltosas, dispostas em camadas horizontais, exceto em trechos localizados onde apresentam mergulhos acentuados. Apresentam espessura inferior a 30 metros, são bastante susceptíveis a erosão, sendo frequente a presença de ravinamentos e voçorocas.

Formação São Sebastião: é constituída predominantemente por arenitos grosseiros, mal selecionados, friáveis, de coloração cinza-esbranquiçada, cinza-amarelada e cinza-avermelhada, intercalados com argilas avermelhadas, podendo ocorrer, localmente, delgadas lâminas de óxido de ferro. Seus sedimentos são bastante susceptíveis à processos erosivos, quando ocorre a retirada da cobertura vegetal.

Grupo Ilhas: é constituída por siltitos cinza-esverdeados, calcíferos, micáceos e carbonatos plaqueados, arenosos ou não, interestratificados com folhelhos.

Ø Sedimentos Quaternários - constituem os sistemas deposicionais reecentes existentes dentro dos limites da bacia hidrográfica do rio Joanes, sendo representados por sedimentos inconsolidados de origem fluvial, eólica e marinha:

 

2.2.2 Geomorfologia

A caracterização geomorfológica da área é apresentada a partir de informações contidas na Proposta de Enquadramento da Bacia Hidrográfica do Rio Joanes (SEPLANTEC, 1995a) e no Projeto RADAMBRASIL (MME, 1981). A área de estudo pode ser dividida em dois compartimentos distintos:

Ø Baixo Planalto Interior: corresponde às áreas de ocorrência das unidades meso-cenozóicas da Bacia Sedimentar do Recôncavo e encontra-se em posição altimétrica muito rebaixada, não ultrapassando os 100 metros. As formas de relevo mais destacadas são os tabuleiros e os morros ou colinas isoladas, de topo plano, com vertentes convexas.

Ø Planície litorânea: são representadas por unidades geológicas pertencentes ao período Quaternário que, em geral, ocorrem paralelas à linha de costa. As formas de relevo mais destacadas são as dunas, terraços marinhos, mangues, pântanos de água doce e planícies de inundação no trecho situado próximo à desembocadura.

 

2.2.3 Solos

As várias tipologias dos solos na bacia hidrográfica do Rio Joanes estão identificadas no Plano Diretor de Recursos Hídricos do Recôncavo Norte e Inhambupe (SRHSH, 1996) e Projeto RADAMBRASIL (MME, 1981). As classes identificadas apresentam as seguintes características principais:

Ø Latossolo Amarelo Álico - solos profundos, bem drenados a moderaddamente drenados, textura média argilosa, com saturação em bases baixa (distrófico) e alto grau de saturação de alumínio (álico);

Ø Latossolo Vermelho Amarelo Álico - apresentam as mesmas características físicas e químicas da classe descrita anteriormente, diferenciando-se principalmente quanto a coloração amarelo brunada e amarelo avermelhada;

Ø Podzólico Vermelho Amarelo Álico e Distrófico - solos profundos, moderadamente drenados, com textura diferenciada entre horizontes superficial e subsuperficial, com saturação em bases inferior a 50%(distrófico) e saturação em alumínio alta superior a 50% (álico);

Ø Podzol Hidromórfico - solos minerais, hidromórficos coom horizonte B espódico, originados de sedimentos areno-quartzosos, e que apresentam baixa saturação em bases, portanto, com baixo potencial agrícola;

Ø Areias Quartzosas Marinhas - muito profundos, bem drenados a excessiivamente drenados, ácidos, com baixa saturação em bases e alta saturação em alumínio trocável, ocorrendo em superfícies planas.

 

2.3 Histórico da ocupação humana na bacia hidrográfica do rio Joanes

De acordo com Sousa (1938), os primeiros habitantes que ocuparam a região em que se insere a bacia hidrográfica do rio Joanes, foram os Tapuias, seguidos dos Tupinaês e Tupinambás. Estas tribos exploravam a terra e garantiam a sua sobrevivência, sendo responsáveis pelas primeiras atividades antrópicas de que se tem notícia na região. Estas atividades consistiam basicamente da roçagem, seguida de queimada para a limpeza da terra.

Em 1549 aportava na Bahia a caravana de Tomé de Souza, para implantar o governo geral. Com ele veio Garcia D’Ávila que se transformou em pioneiro do bandeirismo, desempenhando papel de realce no desbravamento e conseqüente colonização da região onde esta inserida a bacia hidrográfica do rio Joanes (CONDER, 1992).

Nesta época surgiram vários vilarejos, que deram origem aos municípios que hoje compõem a bacia hidrográfica dios Inhambupe e Jidade de Salvador foi criada em 1549, as margens da Baía de Todos os Santos. O município de Simões Filho tem sua origem marcada pela herança colonialista portuguesa através da devastação de suas matas para a produção açucareira. No local onde hoje é a sua sede, funcionava a usina de Engenho Novo, entre outras usinas espalhadas pela região. O núcleo que deu origem à cidade de Candeias foi o Engenho-Pitanga (CONDER, 1992).

O atual município de São Francisco do Conde teve origem no ano de 1559 a partir da sesmaria doada por Mem de Sá, 3º Governador do Brasil, à Fernão Rodrigues Castelo Branco. Já o município de Camaçari teve sua origem a partir de uma aldeia formada por grupos indígenas, em que predominava a etnia Tupinambá, que recebeu dos jesuítas o nome de Aldeia Espírito Santo (CONDER, 1992).

A área municipal de Dias D’Ávila tem origem a partir do surgimento da primeira feira do Estado da Bahia, a Feira Velha do Capuame ou Feira de Santo Antônio do Capuame que serviu, em determinados momentos da luta pela independência da Bahia, como centro de abastecimento (CONDER, 1992). Já o município de Lauro de Freitas teve sua origem com a fundação da Freguesia de Santo Amaro de Ipitanga (CONDER,1995).

De um modo geral na época colonial as atividades que predominavam na bacia hidrográfica do rio Joanes eram a pecuária próximo à costa e o cultivo da cana-de-açúcar continente à dentro, tendo sido a Mata Atlântica gradativamente substituída por este cultivo. Nesta época predominava o modelo agro-exportador, incentivado pela estrutura sócio-econômica colonial. Este modelo foi a base da economia da região até a década de 50 (século 20), quando o surgimento da indústria de transformação deu um novo impulso a reestruturação do espaço geográfico da região.

A implantação da RLAM-PETROBRÁS na década de 50, impulsionou a construção e pavimentação de estradas, bem como criou um pólo de atração para novas indústrias em função da matéria-prima produzida. Como conseqüência ocorreu a desestruturação das atividades rurais dos municípios próximos, notadamente Candeias e São Francisco do Conde, os quais apresentaram acelerado crescimento urbano (SEPLANTEC, 1984). Na década de 60 com a criação do Centro Industrial de Aratu-CIA, o processo de urbanização tem um novo impulso. Na década de 70 ocorre a consolidação do processo de organização espacial iniciado na década de 50 com a criação da Região Metropolitana de Salvador-RMS e dos municípios de Candeias, Lauro de Freitas e Simões Filho e implantação do Pólo Petroquímico de Camaçari-COPEC.

Com a industrialização da área, a necessidade de vias de acesso cresceu, e no decorrer das últimas décadas a malha rodoviária da bacia aumentou, contando hoje com a seguinte estrutura viária: (i) BR 110 e BR 324, que atravessa a bacia ligando os municípios de Candeias e São Sebastião do Passé; (ii) BR 512, que liga os municípios de Camaçari, Dias D’Ávila e São Sebastião do Passé; (iii) BR 526, que liga os municípios de Lauro de Freitas e Simões Filho, cortando a bacia na altura das represas Ipitanda II e III; (iv) BA 093, que corta a bacia na altura da represa Joanes II interceptando a BR 512; (v) BA 535, que corta a represa Joanes I interceptando a BR 512 e Br 526 e (vi) BA 099 conhecida como linha verde, que segue paralela à linha de costa até o Estado de Sergipe. Esta última rodovia é apontada como a principal responsável pelo grande adensamento verificado na faixa litorânea, abrindo definitivamente o litoral da região para a exploração turística.

A industrialização da área e o crescimento da população urbana dos municípios da bacia hidrográfica do rio Joanes ao longo dos anos, condicionou a busca de soluções que viabilizassem uma maior disponibilidade de água face ao crescimento das demandas. A solução encontrada foi o abastecimento de água através de captação subterrânea principalmente para as indústrias, cidades e vilarejos da bacia. Entretanto para Salvador foi adotada a captação superficial, sendo os rios Joanes e Ipitanga, dois dos seus principais mananciais de abastecimento de água.

Visando principalmente o abastecimento de água da cidade de Salvador foram construídos um total de cinco barragens na bacia hidrográfica do rio Joanes. Em 1936 foi construída a primeira delas, a barragem de Ipitanga I no rio Ipitanga. Em 1955 foi construída a barragem de Joanes I no rio Joanes à cerca de 10 km da foz. Em 1971 foram construídos mais dois barramentos, um no rio Joanes, a barragem de Joanes II, situada à montante da barragem Joanes I e o outro no rio Ipitanga, a barragem de Ipitanga II, situada à montante da barragem de Ipitanga I. O quinto e último barramento construído foi resultante do desmembramento do antigo lago da represa Ipitanga II, fato este ocorrido em função da construção da BR 526 em 1972.

Além da agropecuária e indústria, duas outras atividades destacam-se na bacia hidrográfica em estudo, a saber: a silvicultura, representada pelos projetos de reflorestamento com pinus e eucalipto, e a mineração, com extração de areia e de caulim no município de Camaçari, e de cascalho e pedras na região das barragens de Joanes I e Ipitanga II e III, para construção civil (SRHSH, 1996).

Do exposto, pode-se observar que a bacia hidrográfica do rio Joanes sofreu intensas modificações no uso do solo ao longo dos anos, com progressiva substituição da mata nativa por outros tipos de vegetação, e um intenso processo de urbanização. Associado a isto o rio Joanes teve o seu curso d’água barrado, bem como o de seu principal afluente, o rio Ipitanga. Todas estas interferências na bacia hidrográfica do rio Joanes condicionaram a escolha desta bacia como estudo de caso.
 



 
 
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