Medicina Humana
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 Depressão 
 

Eu gostaria de trocar algumas impressões e informações sobre a depressão... Tenho visto que muita gente confunde a depressão com doenças mentais, ou com "frescuras" ou com tristezas...

Luciana

 

Luciana:

A depressão é um estado ou condição classificada e vista como uma doença mental, embora alguns mais "organicistas" enfatizem o aforisma de um célebre médico suíço, Griesinger, que dizia: "doenças mentais são doenças cerebrais".

Não deveria ser confundida, é verdade, com esquizofrenia ("loucura"), neurose ou distúrbio de personalidade, pois as condutas para resolver cada um desses problemas (ou "administrá-los", da melhor maneira possível) são muito diferentes.

Pode ser definida como "uma tristeza além do normal", mas pode nem ser claramente percebida pela pessoa e pelos que o cercam, ficando "mascarada" num comportamento de apatia, descrença em valores positivos, falta de iniciativa, "falta de vontade" para fazer as coisas normais do dia-a-dia, como alimentar-se, dormir normalmente ou realizar atos de higiene (o apetite pode diminuir ou aumentar; o sono pode aumentar ou diminuir, mas a pessoa não se sente descansada e, quando está dormindo, tende a um sono superficial, com sonhos incômodos, que causam sofrimento; deixa de escovar os dentes, de tomar banho regularmente; deixam-se de cumprir atividades e compromissos sociais: a pessoa falta ao trabalho ou escola, deixa de pagar contas de água e luz, por exemplo, tornando sua vida cada vez mais complicada e difícil).

Trata-se de uma doença real e muito séria, que ainda não é vista com a importância que tem, até mesmo por médicos.  Os deprimidos precisam de intervenção, de ajuda, de solidariedade.  Sem isso, sozinhos, podem não conseguir sair de seus "labirintos e espirais", ou levar muitos anos para restabelecer uma vida normal que poderia ser sanada muito anteriormente, com ajuda médica adequada.

Pode ser confundida com timidez excessiva, personalidade dissocial ("sociopatas") e até esquizofrenia.  Infelizmente, a capacidade intelectual e a sensibilidade dos médicos vem caindo historicamente, inclusive (ou principalmente?) dentro das academias, o que dificulta, muitas vezes, um diagnóstico e conduta adequados.

Além da psicoterapia, indicada, sobretudo, em casos de depressão com características neuróticas importantes, existe medicação que pode devolver à pessoa uma boa qualidade de vida.

A depressão cursa, muitas vezes, com ansiedade e reações de "hiperatividade", nas quais o indivíduo tenta compensar o tempo perdido na inércia.  Não podem ser confundidas com as "fases maníacas" da depressão bipolar.

O esteio principal do tratamento medicamentoso é feito com drogas anti-depressivas, das quais existem duas classes principais: os "tricíclicos" e os "inibidores seletivos de recaptação de serotonina" (ISRSs).

Os tricíclicos são drogas mais antigas, embora ainda sejam a melhor escolha para muitos casos.  Têm a vantagem de atuar, também, contra a ansiedade. Devem ser evitados ou usados em doses muito pequenas em idosos, pois, neles, seus efeitos anti-colinérgicos tendem a diminuir a capacidade intelectual e a atividade motora.  Tendem, ainda, a provocar obstipação intestinal e gosto metálico na boca.  São exemplos: imipramina, nortriptilina e amitriptilina. De modo geral, a nortriptilina (PAMELOR da Novartis) é a melhor delas, por ter menos efeitos adversos.  Além de casos de depressão, os tricíclicos são usados no tratamento de dor crônica, ejaculação precoce e outras situações. São drogas muito baratas.

Os ISRSs são drogas mais recentes, que trouxeram uma ENORME contribuição ao tratamento da depressão.  Podem aumentar a ansiedade e levar a estados de forte excitação, se não administrados corretamente.  O maior efeito adverso, entretanto, é sobre o bolso da pessoa, pois tais drogas ainda são caras demais, sobretudo neste país repleto de canalhas.  São exemplos: fluoxetina, citalopram, sertralina e paroxetina.  A droga com melhor perfil varia de caso para caso.  O citalopram (CIPRAMIL da Schering-Plough) age mais especificamente sobre os sistemas serotoninégicos, causando menos ansiedade. É crucial não correr o risco de aumentá-la, em muitos casos.  O tratamento com ISRSs pode variar entre R$ 50 e R$ 500 por mês, a maioria ficando entre R$ 100 e R$ 300.

Podem ser usados, como coadjuvantes, benzodiazepínicos (diazepam, oxazepam, bromazepam, os chamados, vulgarmente, de "calmantes") e, em alguns casos e estabilizadores do humor, como carbamazepina (TEGRETOL) ou lítio, mesmo em não se tratando de casos de depressão bipolar.  Em depressão bipolar, o lítio e a carbamazepina são exemplos de drogas principais, específicas, dentro do que conhecemos hoje, para seu tratamento.

É necessário cuidado para que o deprimido não use benzodiazepínicos por um longo tempo, principalmente se deixar de tomar o anti-depressivo.  Isso poderia levar a mais depressão, amnésia, sonolência excessiva, dependência.

As drogas anti-depressivas NÃO causam dependência.

 
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