(1642-1727)
05/17
O primeiro cientista
moderno O espantoso era ninguém ter decifrado isso antes. Além do mais, é difícil dizer por quê. O fato simples é que, por serem os prismas considerados brinquedos, os cientistas nunca se preocuparam em fazer experiências com eles. Aqueles que estudaram os prismas antes de Newton, no passado, não levaram as coisas longe o suficiente para descobrir algo realmente proveitoso e estavam satisfeitos em se encantar com o efeito arco-íris produzido pelo prisma. Isso requeria um gênio com a habilidade de Newton para galgar um degrau a mais: investigar por que o arco-íris emergiu quando a luz branca incidiu sobre o prisma e, então, ver se as diferentes nuanças poderiam ser separadas infinitamente, exatamente como acontecera com o primeiro feixe luminoso. Newton registrava suas descobertas e conjeturava sobre o que significavam. Ele media a largura de cada faixa, alterava a distância entre o prisma e a parede e testava todas as possibilidades. Então, e somente então, ele poderia colocar todas as suas descobertas em linguagem matemática, que lhe permitisse formular teorias para explicar o que acontecia. Isso era típico de Isaac Newton. Não satisfeito apenas em fazer observações, ele sempre traduzia o que via para a linguagem matemática e avançava com teorias gerais. Era o que o fazia tão diferente de outros cientistas de seu tempo. Cientistas modernos usam esse método de trabalho e, porque já o usava há trezentos anos, Isaac Newton é considerado o primeiro cientista moderno. Newton passou muitos meses trabalhando com seus prismas, maquinando mais e mais experiências em seu quarto, em Cambridge. De vez em quando extenuava-se com a sobrecarga de trabalho e, em mais de uma ocasião, John Wickins o encontrou esparramado sobre os papéis em sua mesa, caído no sono, depois de lutar com um problema particularmente difícil. Muitas vezes, esquecia as refeições, e seu gato engordava, comendo o prato intocado deixado para esfriar na borda de sua mesa. Depois de concentrados esforços, ele concluiu que nós vemos os objetos porque toda luz que nos circunda é refletida ou devolvida, seja o que for que estivermos olhando, e essa luz chega aos sensores em nossos olhos. Então, ele foi além. Baseado em experimentos, Isaac Newton descobriu que a luz visível, a luz que nos possibilita ver o mundo, é feita de todas as diferentes nuanças do arco-íris. Quando elas são fundidas, nós vemos uma luz branca. Quando uma parte do espectro se extravia, a luz não mais aparenta ser branca -ela é colorida. Muitos cientistas pararam neste ponto. Mas Isaac sempre mergulhava em um problema até sentir que não havia nada mais para aprender sobre ele. Tendo estabelecido que a luz se originava dos diferentes matizes do espectro, ele quis ver se poderia recombiná-los para conseguir a luz branca novamente. Acoplou a cartolina à janela e, outra vez, permitiu que alguma luz passasse através do orifício. Essa luz passou através do prisma exatamente como na primeira experiência. Realmente, lá estava o espectro na parede. Desta vez, entretanto, ao invés de bloquear todas, menos a faixa vermelha, ele deixou todo o espectro produzido pelo primeiro prisma passar por um segundo prisma, colocado perto do primeiro. Então, com grande ansiedade, ele voltou-se para o lado oposto do segundo prisma para ver o que havia acontecido. Lá estava um solitário feixe de luz branca emergindo de sua base de vidro. Newton foi, provavelmente, a primeira pessoa na história a juntar todas as cores do arco-íris em um único feixe luminoso de luz branca. Ele havia desfeito um arco-íris. O círculo giratório Como se todas essas evidências não bastassem, Newton realizou outra experiência para ter certeza de que suas descobertas teriam crédito. Ele logo compreendeu que o espectro não é formado de quantidades iguais de cada feixe luminoso - em um arco-íris, há sempre mais azul que vermelho. Então, ele simulou o modo como a natureza combina um arco-íris. Newton recortou um pequeno círculo de cartolina, com cerca de 10 centímetros de diâmetro e dividiu-o em sete setores de tamanhos diferentes. Os setores representavam as sete faixas visíveis do arco-íris com as quais ele coloriu cada um. Em seguida, acoplou o círculo de cartolina sobre um eixo e girou-o o mais rápido que pôde. Olhando fixamente, de certa distância, parecia branco. Ele havia surpreendido seus próprios olhos. Como o círculo rodava muito rapidamente, os diferentes feixes luminosos, em suas corretas proporções, pareciam fundir-se e, juntos, produzir a luz branca. Newton estava extasiado. Mais e mais refeições eram desperdiçadas enquanto passava longas horas anotando detalhadamente suas descobertas para legar às futuras gerações os benefícios de suas experiências. Uma visão mais clara Newton não publicou seu trabalho imediatamente e suas descobertas sobre a luz não foram conhecidas senão muitos anos depois. Mas, mesmo assim, outros cientistas foram rápidos em tirar vantagens delas. No século 17, óculos eram objetos raros, usados somente pelos ricos e, mesmo assim, de qualidade sofrível. Poucas décadas depois de suas publicações, as pesquisas de Newton ajudariam a produzir importantes avanços no desenho de lentes e na produção de óculos. O microscópio fora inventado mais de cinqüenta anos antes do nascimento de Newton, mas era um aparelho primitivo, produzindo imagens imprecisas e manchadas. Antes do século 18, a aplicação das descobertas de Newton o transformaria em um instrumento sofisticado, propiciando avanços em muitas áreas da Biologia e da Medicina. Provavelmente, o resultado mais importante dos estudos de Newton sobre a luz, durante os meses em Cambridge, seria a criação, mais de cem anos depois, de uma completa e nova ciência - a Espectroscopia, que é o estudo da luz emitida pelas chamas produzidas quando um material é queimado. As chamas do fogo aparentam ter uma infinidade de diferentes vermelhos, púrpuras e azuis saltando entre elas. A razão disso é que, quando diferentes materiais são queimados, produzem luz composta de diferentes quantidades de cada feixe luminoso do espectro. Fazendo com que passe através de um prisma, os cientistas podem dividir a luz em suas partes componentes, exatamente como Newton fez com a luz do sol. Dessa maneira, eles podem descobrir qual a substância química existente nos materiais que estão sendo queimados. Fugindo da Grande Peste Newton havia concluído todas essas grandes descobertas antes de se formar. Em abril de 1664, depois de três anos de estudos, ele se tornaria um aluno da faculdade. Fora promovido da condição de serviçal e não teria mais que realizar as tarefas esperadas dele, um pobre não-graduado. Um ano depois, em 1665, seria Bacharel em Artes, título concedido automaticamente depois de quatro anos de universidade. Significava que ele poderia passar mais quatro anos vivendo no Trinity College, prosseguindo em qualquer área de conhecimento que desejasse estudar. Newton imediatamente se empenhou em desenvolver suas idéias sobre o mecanismo da luz e, ao mesmo tempo, iniciou suas pesquisas no campo da gravidade e sobre a forma como os planetas se movem em suas trajetórias. No entanto, suas primeiras experiências em Cambridge tiveram de ser interrompidas. No verão de 1665, uma grande calamidade estava prestes a se abater sobre o país. Ninguém a poderia evitar e contra ela havia uma insignificante defesa - a Grande Peste estava chegando. A peste começou em Londres, onde a população vivia em espaços exíguos e em condições anti-higiênicas. Devastou a cidade. Milhares de pessoas morriam com horríveis sintomas. As vítimas tinham uma febre terrível e seus corpos eram cobertos por imensas feridas supuradas antes de morrerem, lentamente, consumindo-se em dores. Os cadáveres eram coletados e transportados através da cidade em enormes carroças, e então queimados em valas comuns, longe das principais áreas habitadas. Em alguns distritos, os mortos e agonizantes ultrapassavam o número de vivos. Então, durante os meses quentes de 1665, a peste começou a se espalhar além da capital. Pessoas saiam de Londres carregando a terrível doença para outras cidades e infectavam suas populações. Por volta de junho de 1665, Cambridge se tornou muito perigosa para viver, e a universidade foi fechada. Junto com os outros estudantes, Newton deixou Cambridge. Voltou para Lincolnshire, onde pôde continuar seus estudos na casa da fazenda. |