Certo, então o que é "BDSM"?
Durante muitos anos senti na pele a dificuldade de encontrar
material sério sobre o tema BDSM, algumas vezes cheguei a pensar
que estava sozinho no mundo, que era um maluco ou coisa parecida,
tudo o que via no Brasil era no mínimo medíocre para não
dizer outra coisa. Quando tive contato com a Internet e comecei
a procurar sobre o assunto no exterior. Imagine a minha surpresa
quando descobri que não estava só. O problema era que não se encontra
nada semelhante nessas terras brasilis, principalmente em língua
portuguesa e depois de alguns anos esperando que alguém tomasse
a iniciativa resolvi seguir aquela música que diz "quem sabe
faz a hora não espera acontecer..."
Objetivo aqui não é ser o guia definitivo sobre o tema, principalmente
porque naturalmente serei tendencioso, já que darei ênfase a minha
orientação sexual (sou um submisso), e também porque o tema é
muito vasto, existem muitas variações e nenhum livro ou site poderá,
na minha visão, cobrir todo o assunto. Nem tudo colocado aqui
nesse site é minha opinião pessoal, alguns textos são meus e refletem
exatamente o meu pensamento, mas outros são traduções que achei
interessantes e muitas vezes podem chocar você meu caro internauta.
Aconselho a quem quiser saber mais do assunto a procurar livros,
revistas e outros sites na internet. Nos links Livros
e Revistas, Artigos
e Links tem alguns exemplos,
mas a maioria dos livros ainda está em inglês (parece que as nossas
editoras também não se interessam pelo assunto, a única que tem
algum material e a editora Iglu). Mas aqui temos um paradoxo interessante,
uma das poucas autoras nacionais sobre o assunto, Wilma de Azevedo,
escreve bem, mas fala muita bobagem, até hoje não
sei que diabos ela é.
Agradeço às pessoas sérias que me enviaram e-mails com textos
de apoio, críticas e sugestões e principalmente aquelas pessoas
que entenderam o espírito educativo, gostaria de dizer não sou
agenciador nem conheço muitas pessoas pessoalmente que praticam
o S&M (estou conhecendo algumas pela internet e agora que
participo de um grupo aqui em Brasília). Gostaria de enfatizar
que toda ajuda será bem vinda.
Algumas pessoas me passaram e-mails pedindo ajuda para encontrar
o seu par, a única coisa que posso dizer é "vá a luta",
sei que é difícil e que muitas vezes será incompreendido, tratado
como maluco ou coisa pior, já passei até por situações constrangedoras,
(uma unha grande e bem pintada muitas vezes chama mais a minha
atenção que um rosto bonito).
Bem, se você chegou até aqui, então,
gostaria de saber um pouco mais sobre BDSM.
"BDSM" é um acrônimo "B&D"
(Escravidão & Disciplina), "D&S" (Domínio
& Submissão), e "S&M" (sadomasoquismo)
como já disse no início desse site. "BDSM"
se refere a qualquer uma ou a todas estas coisas, e muitas outras
além disso.
Amarrar o seu amante/parceiro é BDSM; da mesma forma que
açoitar, mandar, dominar ou quaisquer outras de mil coisas.
BDSM é altamente erótico, normalmente (entretanto
não sempre) envolve sexo ou excitação sexual;
e é altamente carregado psicologicamente. Uma pessoa (o
"submisso") concorda em se submeter a outra pessoa (a
"dominante"); algumas pessoas gostam de serem submissas
o tempo todo, outras pessoas gostam de ser dominantes o tempo
todo; ainda há pessoas gostam de trocar, sendo num dia
submisso e dominante noutro.
BDSM não tem que envolver tudo isso.
Existem muitas pessoas envolvidas com o BDSM que gostam de
serem amarradas, outras, de se amarrar elas mesmas (muitas vezes
conhecido como autobondage), mas mesmo no BDSM existem pessoas
que não gostam de dar nem de receber qualquer tipo de
dor. Algumas vezes o parceiro só amarra o outro simplesmente
como preliminar. Da mesma forma, existem muitas pessoas que
gostam do controle psicológico, de que eles conseguem
ordenar seus amantes a fazer coisas, mas não gostam de
ser fisicamente contidos ou amarrados, ou mesmo de amarrar os
seus amantes.
BDSM é tão variado quanto as
pessoas que o praticam.
Algumas pessoas, amam o estético, equipamento de corda
de um elaborar, um elaborado arreio de corda, ou outra elaborada
forma de escravidão; outros simplesmente não estão
interessados em qualquer dos elementos da escravidão.
A chave para todas estas diferentes formas de BDSM, entretanto,
é a troca de poder. Uma pessoa (o "bottom"
ou "submisso") escolhe em permitir à outra
pessoa (o "topo" ou "dominante") ter controle
sobre ele ou ela de alguma forma - talvez permitindo que o dominante
o amare, talvez permitindo os dominantes o espanque ou simplesmente
fazendo qualquer coisa que o dominante instrua.
Definitivamente, BDSM não é
abuso!
As pessoas que estão praticando BDSM em algumas de
suas trilhões de formas estão fazendo isto voluntariamente,
por diversão. É um caminho para se explorar.
Tudo que acontece em um relacionamento de BDSM é consensual;
e acredite nisto ou não, não é sempre
que o dominante consegue o que ele ou ela quer - é
mais fácil o submisso conseguir o que ele ou ela quer.
Uma pessoa que está abusando de alguém não
tem nenhuma consideração para com os sentimentos,
necessidades, ou limites da "vítima". Um
dominante está preocupado acima de tudo com as outras
necessidades e desejos do submisso. Bem direto, realmente.
BDSM não é o que o você
vê em filmes pornográficos.
A imagem do BDSM que é retratada em muitos dos materiais
deste tipo, tem tanto ver com o BDSM como o conto da criança
"Jack e o Pé de feijão Mágico"
têm a ver com agricultura. Estes materiais mostram somente
um pouco mais que mulheres sendo usadas de todas as formas
pouco originais para o prazer dos homens, normalmente utilizando
força bruta. A verdade é que realmente existem
mais submissos que submissas; e que BDSM é uma atividade
mútua, que é dirigida mais pelas necessidades
do submisso do que pelas necessidades dos dominantes.
Sim, acredite nisto ou não, a dinâmica de um relacionamento
de BDSM é dirigida pelo submisso, não pelo dominante.
O submisso fixa os limites; o submisso decide que lugares podem
e que não podem ser explorados; o submisso tem a prerrogativa
de parar uma cena. A dominante, de muitas formas, é simplesmente
um facilitador. É do dominante o trabalho de criar um
cenário onde os "jogadores" podem explorar
as fantasias do submisso.
Isso tudo para benefício do submisso?
Sim, certo. Mas é o submisso que está sendo mandado
ou espancado. Como você pode dizer que isto não é
abuso?
Simples. Dois elementos chave :
Em um relacionamento de BDSM, o submisso
fixa os limites. Uma vítima de abuso não
consegue dizer o que acha; a vítima não pode dizer
ao abusador o que fazer, ou quando fazer. Um submisso fixa todos
os limites - que tipos de coisas podem ser (e não podem
ser) feitas, quanto, e por quanto tempo.
E enquanto todos nós somos sujeitos a limites, existem
muitos mais limites dentro de um relacionamento de BDSM. Todo
mundo tem "limites pesados"
- coisas que eles absolutamente nunca farão, e nunca
serão nem considerados. Algumas pessoas, por exemplo,
gostam de serem presas mas não gostam da idéia
de serem chicoteadas; se elas não permitirão serem
chicoteadas, enão isso é um "limite pesado".
Existem também "limites
suaves" - coisas que alguém não faria
sob circunstâncias normais, mas permitirão se forem
"forçadas" em um contexto ou de uma cena em
particular. A linha divisória entre "limites suaves"
e "limites pesados" é um território
psicológico interessante a se explorar.
Um submisso consegue optar por sair fora de uma cena. Isto pode
ser uma palavra de código, ou um sinal de qualquer tipo;
se o submissos usa desse artifício, ele ou ela para e a
cena está terminada. Uma vítima de abuso não
tem como dizer ao abusador quando parar.
Então, você não tem que ser
um um pouco doente ou pervertido para fazer esse tipo de coisa
?
Não.
Mas, realmente. Eu quero dizer, pessoas se amarrando,
açoitamentos, surras... Não é tão
demente?
Não.
Na sua maioria, as pessoas que estão neste tipo de coisa
são notavelmente bem ajustados. As pessoas envolvidas
com BDSM geralmente não são abusivas nem tem histórias
anteriores de terem sido abusadas, porque as pessoas com esse
tipo de história provávelmente não são
propensas a, sexualmente, dar a outra pessoa o poder sobre elas.
Isso não significa que nenhum relacionamento de BDSM
seja abusivo - desde as pessoas são o que são,
nenhuma forma de interação humana é imune
a abusos. Mas significa que as pessoas você encontrará
á na comunidade de BDSM são, na sua maioria, muito
estáveis. (Na realidade, você ficar envolvido com
esse tipo de coisa, ajuda a forjar o ego e a auto-estima, particularmente
se você for um submisso.)
BDSM não é o que parece
para quem esta de fora. Não é somente
pessoas se amarrando e fazendo sexo, e nem tão pouco
açoitamento de pessoas arbitrariamente . Isto é
tão simples, e um tanto quanto chato. O BDSM é
um tipo de "role-play", onde as pessoas envolvidas
estão atuando em uma fantasia que envolve tomar ou
desistir do poder. Sexo é freqüentemente envolvido,
mas nem sempre.
Atuar ? Fantasia ? Você faz parecer que
isso é um tipo de jogo.
E é. Você está exercitando sua imaginação,
e você está jogando com a outra pessoa. Você
é o dominante; seu parceiro é o submisso; você
está representando o papel do cientista louco que está
só seqüestrado alguém e vai usar uma pobre
pessoa inocente para experiências do mal. Ou qualquer
outra coisa. (existem pessoas que fazem isto o tempo todo -
um sempre como dominante, outro sempre como submisso - você
pode dizer que isso não é um jogo, mas isto é
parte do jogo.)
Ao mesmo tempo, porém, é muito sério.
Você está criando uma ambiente que permite a você
divertir-se e explorar áreas poderosamente carregados
da psicologia humana, e atingir os seus limites ao mesmo tempo.
Deste modo, BDSM pode ser uma ferramenta poderosa para descoberta
própria e exploração do seu ego.
Sim, mas vamos lá. Eu quero dizer,
esta coisa de açoitamento. Isto deveria ser DIVERTIDO??
É divertido, se isto é a sua praia. A
experiência de ser açoitado não é
nada parecido de como você imaginaria que seria.
Para muita gente, o açoitamento está mais estimulante
que doloroso.
Falando honestamente, no início eu achava que não
aguentaria o açoitamento. Eu estava absolutamente certo
que nunca iria, de forma alguma, permita que alguém me
açoitasse. Em min, não senhor.
Entretanto eu tentei, e não é absolutamente nada
do que eu achei que seria.
Você já experimentou uma massagem realmente profunda
? Do tipo que machuca, mas mesmo assim parece bom? É
a mesma coisa, só muito mais.
Além disso, quando você está sexualmente
excitado, todos tipo de estilimação pode ser divertido.
Alguma vez algum amante deixou marcas em suas costas durante
o sexo? Ou deu pequenas mordidas ? É muito apaixonante
e intenso. Se você estiver com o nível de excitação
correto, até um açoitar que deixa vergões
não é realmente doloroso. Mas, se isso não
for para você, não o faça.
Como saber o meu limite ? Quando é demais
?
O seu limite você coloca onde você quiser. Não
existe uma maneira certa de praticar "BDSM", e gosto
cada um tem o seu. Se você gostar ser preso, mas você
não quer ser chicoteado, então não seja
chicoteado! Toda pessoa é diferente; ninguem gosta de
tudo; se você não gostar de algo, não faça.
A maioria das pessoas que praticam BDSM crê no seguinte
"são, seguro, e consensual."
Isso significa : Não faça nada precariamente inseguro;
não tente nada que provávelmente para conseguir
você arrisque matar ou ferir algúem, e não
faça algo se você não estiver certo de como
fazer. Seja razoável e racional. Saiba a diferença
entre fantasia e realidade. Tenha certeza que vocês dois
saibam o que estão fazendo. Faça isto, e você
provavelmente estará certo. É como qualquer outra
coisa; explorar um interesse na boa culinária não
significa que você tem que gostar de ovos de peixe! Se
qualquer coisa não for para você, então
este é o seu limite.
Mas como eu sei se isso é para mim ? Como
eu sei se eu sou um dominante ou um submisso ? Como eu sei se
eu vou gostar de alguma dessas coisas ?
Isso depende de você. Não é existe só
um tipo de pessoa que pratica BDSM; e nem sempre só os
homens são dominantes ou só as mulheres são
submissas. (Prá falar a verdade, em BDSM, a coisa é
um pouco invertida, os homens que são normalmente os
submissos.)
E você não necessariamente tem que ser dominante
ou submisso! Talvez você gosta de experimentar como
é ser preso, ou amarrando por seu/sua amante, ou o
inverso. Esses termos "dominantes" ou "submissos"
não podem se aplicar a você, embora você
queira experimentar um pouco dos aspectos do BDSM. Não
fique preso na terminologia. Realmente não é
tão importante.
Você é alguma coisa mesmo? Bem, isso depende.
Você já teve fantasias sobre ser preso e ficar
impotente enquanto coisas indizíveis são feitas
com seu corpo ? Você já quis que sua amante dissesse
exatamente o que você deve fazer ("Fique de joelhos
e lata como um cachorro!") ? Você pode apreciar experimentar
este tipo de coisa. Ei, existem coisas piores no mundo do que
ter uma interessante e variada vida sexual - e se você
experimentar e decidir não é para você,
que assim seja.
Então...por que? Qual seria o propósito
das pessoas se amarrando ? Por que alguém concordaria algo
assim ?
Estaé uma pergunta complicada.
A resposta é curta : Porque é divertido, altamente
estimulante, e é tremendamente poderoso. É um
grande veículo para explorar vários tipos diferentes
de fantasias e da mesma forma se divertir.
As pessoas são dominantes ou submissas para razões
diferentes. Sendo submissos em uma cena de BDSM pode ser tremendamente
libertador, particularmente para as pessoas que não se
sentem confortáveis explorando sua sexualidade ou seus
limites pessoais. Quando você concordar em agir como um
submisso, você desiste da responsabilidade do que vai
acontecer; você se senta e deixa coisas acontecerem. Desde
que você confie na pessoa que está sendo a dominante,
você mentalmente pode relaxar e se concentrar no papel
que está sendo criado para você.
Como um dominante, o prazer vem de construir o cenário
e atuar nele. Você pode, pelo menos dentro do razoável,
determinar o destino do submisso; você é o roteirista,
diretor, e produtor do show inteiro; você constrói
o mundo de fantasia e faz que se torne real. Ser um bom dominante
dá muito trabalho. Você tem que ser criativo; você
deve ser capaz de improvisar; e você tem que prestar atenção
no seu submisso, manter a ilusão que você está
criando e ter certeza que seu submisso está conseguindo
o que ele ou ela quer da cena. De muitas formas, a pessoa dominante
é um facilitador; o dominante tem o trabalho de criar
uma fantasia que leva o submisso aonde ele ou ela quer ir, e
traz aquela fantasia para a vida.
Para muitas pessoas, o BDSM é
uma intensa e significante experiência pessoal,
tanto de um lado como do outro. Eu sou particularmente sou
submisso. Eu pratico o BDSM porque eu quero mais. Eu quero
mais experiência, eu quero mais intensidade; Eu quero
sentir mais, pensar mais, experimentar mais, ser mais. Eu
quero viver a vida sem moderação; Eu quero experimentar
a intensidade porque eu quero viver intensamente.
Eu me submeto a outra pessoa porque eu quero ser levado para
lugarer onde a razão e o pensamento desaparecem, e
não existe mais nada além do que eu estou sentindo.
E ainda por cima, é muito romântico.
O que? Romântico? Você está
brincando.
Não! Veja, esta é uma das coisas sobre BDSM
que não é óbvio para alguém que
está do lado de fora. Quando um dominante está
criando uma cena de BDSM, os dominantes precisam necessariamente
focar sua atenção completamente no submisso.
Um bom dominante dá toda a atenção para
o submisso - como o submisso está reagindo, o que está
acontecendo em torno do submisso, o que o submisso está
sentindo - tudo. Ter alguém lhe dar toda a atenção
para você necessita. É muito romântico.
Bem, quer saber mais ? Use os links no início dessa página
ou do lado esquerdo....
|