<%@ Language=VBScript %> Literatura de cordel  - Fatos da história política e econômica - Santa Cruz do Capibaribe/PE

 

A literatura popular traduz bem a realidade

VERSOS POPULARES

 

 Folheto canta sulanca

 

        A manifestação popular no folheto seguinte (literatura de cordel) traduz bem o que já era a sulanca nos idos de 1985:

     

Sulanca 

 

 

A cidade de Santa Cruz
em uma fábrica se transformou.
A rede Globo esteve aqui,
e para o Brasil anunciou
o progresso da cidade,
do nosso interior.

 

É uma fábrica de confecções.
O seu nome veio mudar
para o nome de sulanca.
Tornando-se um nome popular,
está ao alcance de todos
pra quem quer negociar.

 

É uma fábrica moderna.
Não há poluição no ar.
Não há patrão ou gerente
para administrar.
As famílias trabalham pra si
dentro do seu próprio lar.

 
Um verdadeiro formigueiro,
dia e noite a trabalhar,
aumentando a produção
para distante negociar,
em Pernambuco e todo Nordeste,
e até Belém do Pará.

 

Os velhos pioneiros
os retalhos vão comprar
no estado de São Paulo
e aqui negociar
com os seus conterrâneos,
para sulanca fabricar.

 

Trabalho de comum acordo,
procurando facilitar,
aumentando o progresso
do nosso querido lugar.
Há gente de toda a parte
que vem comprar.

 

Graças a essa fonte de renda,
que vem sendo a solução
para um povo sem trabalho
nesta pobre região
nos anos de estiagem,
sem-trabalho e sem-pão.

 

O trabalho é a esperança
do futuro e do lugar.
Quem trabalha Deus ajuda,
vamos unidos trabalhar.
Na indústria da sulanca,
fonte de renda do nosso lugar.

 

Neste solo agreste,
entre relvas e flores,
ergueram uma cruz
para grandes esplendores.

Este símbolo de fé
que padre Ibiapina edificou.

 

Neste solo sagrado
a cruz do Senhor,
entre seus braços,
a cidade se edificou.
Neste solo sagrado
reina a Cruz do Senhor.  

 

Folheto  Feira da sulanca. 

Pedro Prudêncio de Carvalho – Recife/1985.

 

Ibiapina - José Antônio Maria Ibiapina, nascido no Ceará em 1806. Em 1833, foi nomeado Juiz de Direito. Eleito deputado geral para o período 1834 -1837. Abandonou a política para dedicar-se à vida eclesiástica. 

          

           Ordenado padre,  tornou-se missionário, a percorrer grande parte do interior do Nordeste. Por onde andava liderava, com ajuda do povo, a construção de capelas, casas de órfãos, cemitérios, açudes da caridade etc. 

           Foi um real desbravador num tempo em que não havia sequer estradas.Virou grande líder religioso na época e autêntico evangelizador. Esteve em Santa Cruz (1874), onde liderou reformas na capela e, com certeza,  a construção do ainda hoje conhecido açude da caridade. Morreu na Paraíba em 1883. 

 

Outros assuntos

 

 
 

Fatos da história política e econômica  

          

         Até por volta dos anos 50, a então vila de Capibaribe, hoje Santa Cruz do Capibaribe, era uma contramão geográfica e política no estado. Somente iam lá, em geral, os poucos que visitavam parentes, voltavam para casa ou tinham negócios bem como políticos em época de eleições. 

          O caminhão nesse período teve papel destacado. Ainda hoje é básico na economia santa-cruzense. Abaixo, foto de um de um deles, um dos primeiros do local, carregado de algodão e de pessoas:

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      O desprezo histórico de governos estadual e federal esquecia até de cobrar impostos no lugar e contribuía para criar uma cultura de sonegação.  Formou-se um círculo vicioso, então: o povo não queria pagar impostos porque esses governos  pouco ou nada faziam pela localidade. Estes agiam assim em face de sua exígua ou nula arrecadação nela. 

          Para ilustrar esse abandono, cite-se: independente o lugar, tentaram em vão derrubar sua autonomia, depois fecharam a agência dos correios e o posto médico bem como extinguiram a comarca.  Para ver recortes de jornais da época, que tratam desse assunto, clique no botão abaixo:

 

O primeiro hospital da cidade, surgido há cerca de 20 anos, foi particular. A crônica falta d'água se arrasta por mais de 50 anos. O temporal de janeiro passado encheu cisternas, barreiros e açudes mais distantes, mas não há adutoras para a cidade, existindo só um canal a céu aberto com seus inconvenientes. O efetivo policial é insuficiente. E vai por aí. Alguma melhoria  veio mais por imposição do avanço da sulanca, como a pavimentação do trecho Pão-de-Açúcar-Santa Cruz. Mais fatos haveria para provar esse descaso.

          Porém, a força do povo santa-cruzense, dando a volta por cima, reabriu o que fecharam e está a vencer esses dissabores, inclusive os do clima adverso, fazendo, com seu trabalho, um modelo de crescimento com renome nacional.

         Do advento  da sulanca  para cá, a população santa-cruzense cresceu mais de trinta vezes.  Governos estaduais sobretudo não fizeram os investimentos necessários em setores básicos, razão por que a cidade enfrenta hoje o agravamento de problemas nas áreas de Saneamento, Educação, Saúde e Segurança. 

           Os santa-cruzenses, cosendo-se com as próprias linhas, sempre buscaram opções de sobrevivência. Vários ciclos econômicos teve o lugar.  Já  no século 19, Major Negrinho se destacava em suas atividades empresariais. José Moraes da Silva se distinguiu como comerciante dos anos 20 do século passado. Em 1930, Cesário Abílio Aragão, filho do Major Negrinho, era pioneiro na fabricação de bebidas, de que o rótulo abaixo é uma amostra:

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           Com a independência em 1953, o quadro  começou a mudar, apesar de ter sido feita na época muita restrição à criação de municípios  "pequenos sem condições",  tipo  Santa Cruz, então Capibaribe, Toritama e outros, então criados. Esse argumento retardou a autonomia de Santa Cruz, pelo menos, em uns 30 anos. A realidade provou o contrário, de nada valendo só estatísticas apuradas, porque uma força maior pode comandar o destino de pequenas localidades. Estatísticas, em geral, caducam logo, desmoralizadas pelo processo histórico.

           A sulanca iniciou sua disparada. Ao longo dos anos, a coisa cresceu do quase nada e chegou ao nível atual. A sonegação funcionou como incentivo básico ao crescimento. Fato passado evidencia bem isso. Quando o governo estadual notou que esta havia crescido muito, começou a fazer algumas estocadas fiscais. Mas sempre foi contido por pressões políticas e pelo medo de o remédio matar o doente. Afinal, a sulanca era e ainda é uma das raras coisas a darem certo no estado. 
           No presente, com mais de mil lojas, cerca de três mil e quinhentas fábricas (médias, pequenas e de fundo de quintal) e oito mil feirantes, a maioria informais, fica mais difícil fazer o controle fiscal. A amostra a fiscalizar seria muito grande para os fiscais disponíveis ou muito pequena para o todo.  Agora, cobram o imposto por antecipação na entrada da matéria-prima no estado. Tirados os exageros, isso pode ter resolvido o problema.

           O progresso da sulanca diversificou e fez crescer o comércio na cidade, com maior arrecadação de tributos. Com isso, a receita estadual no município
passou de R$1,97 milhões em 1996 para R$4, 15 milhões em 2000, com aumento de 110% em apenas quatro anos e crescimento médio de 28% ao ano, em período de inflação reduzida e em clima nacional de recessão. Aí talvez esteja incluída certa queda da sonegação histórica. 

           A lógica aponta para criação de um incentivo tipo zona franca, com redução de base de cálculo e/ou de alíquota. Isso pode ser difícil, mas seria reconhecer uma situação de fato que existe de todo modo. É o que se tem tentado fazer. A evasão de impostos reduz muito o que seria a principal receita do município: participação no imposto estadual. Com o estímulo, essa posição poderia ser invertida.

 

Apelidos curiosos

 

              Os grupos políticos que disputam a Prefeitura são conhecidos aqui por bocas-pretas e cabecinhas, sejam quais forem suas eventuais siglas partidárias. Isso desde antes da ditadura militar quando os últimos tinham a alcunha de cabeçãos, ganhando o diminutivo depois. Há algum tempo, surgiu o subgrupo taboquinhas, vinculado aos cabecinhas. Outros apelidos curiosos existem, pelos quais são conhecidos e atendem esses políticos santa-cruzenses:

Zé Cueca - abastado empresário, foi cotado para candidato a prefeito ou vice-prefeito nas próximas eleições;

Dr. Nanau, médico, vereador, candidato a prefeito nas próximas eleições;

Véio de Mãozinha, Preto de Mãozinha e Zéboi, vereadores. tentam a reeleição. E vai por aí.


Fato - O índice de participação dos municípios no ICMS, computado pela Secretaria da Fazenda, era calculado (e ainda deve ser) com base sobretudo no VA (valor agregado) de cada município, diferença entre vendas e compras, informada pelos contribuintes. Pois esse VA  de Santa Cruz do Capibaribe (ao lado de raras comunas em todo o estado), foi negativo em anos seguidos, ou seja, comprava-se mais que se vendia, apesar da explosão da sulanca que se verificava.  Isso evidenciava forte omissão de vendas na escrita fiscal e fazia estagnar o principal item de receita do município ao longo do tempo. Hoje, o quadro pode ter mudado.

 

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Atualizada em 01/08/2004