Travou. Os travões falharam e foi embater contra as árvores verdes, que, curiosamente, eram cobertas por folhagem verde. Depois de abater umas escassas centenas de árvores, a escavadora finalmente travou. Platão interrogou-se se uma escavadora ideal não deveria ter uns travões ideais. Sentia-se enganado. Teve que andar ainda alguns quilómetros a pé até alcançar a aldeia dos desterrados. Vislumbrou uma tenda com um senhor de finos bigodes brancos. Aproximou-se, curioso e musculoso, como era seu hábito. "Quem é o senhor ?" - perguntou. "Sou o grande Cão. Mas não tenha medo : eu não ladro nem mordo !" - respondeu Gengis Cão. "O senhor vai me desculpar, mas um cão que não ladra e que não morde, não é um cão que se preze !". Gengis, benevolente : "O meu amigo está enganado: eu não sou um cão, sou um Cão !". "Ahh, peço desculpa não havia compreendido. Assim, tudo se torna mais claro. Por acaso o senhor não conhece nenhuma oficina de arquétipos de escavadora de túneis por aqui, não ? É que os travões do meu, não estão bons. Sinto-me, naturalmente, enganado.". Gengis, visivelmente ofendido, chamou a sua guarda pessoal a cavalo, ordenando-lhes que bebessem. Cem homens a cavalo os rodearam. Inclinaram-se para a frente, perfuraram os pescoços dos seus cavalos e começaram a sorver o sangue quente que deles jorrava. "Acha que quem possui um exército com cavaleiros que bebem o sangue dos próprios cavalos se dá com vendedores de arquétipos de escavadoras ? Acha ? Acha ?" - berrou o Grande Cão, elevando a sua voz. "Deixe-me pensar um pouco" - respondeu o homem das costas largas. Geengis esperou pacientemente, imóvel.
Hans acordou em sobressalto,
afligido por uma luta de gladiadores entre o homem-de-aço, Stalin,
e uma máquina de chocolates com especificação formal
e barba semi-circular. Olhou em volta - estava no seu quarto de sempre,
o seu doce lar montado sobre uma plataforma móvel no topo do Everest.
Olhou pela janela. Estava tudo como dantes, semelhante a um ramo fino a
rodopiar violentamente por mão dos ventos e a lutar para não
ser arrancado do solo. Hans não conteve uma interjeição
de alívio:
- Hhhhh....
De repente a estrutura hidráulica que prendia o chão ao topo da montanha estalou e a casa cedeu à batalha entre Noto e Bóreas, espiralando nos ares como [PUB] um floco de Chococrispis da Kellog's no leite. Hans accionou o paraquedas da casa, mas não resultou. Era ainda um daqueles modelos antigos, sem cordas. As coisas não estavam realmente a correr bem. "Não é o meu dia...", pensou ele, enquanto observava um exército de elefantes a atravessar os Alpes na direcção de Roma.
Isso era suspeito. Havia qualquer coisa que não fazia sentido. Não era o facto dos Alpes estarem tão próximos do Everest, nem da era ser tão longínqua das guerras púnicas. Era os elefantes. Todos tinham uma barba semi-circular por debaixo da tromba.
Hans acordou em sobressalto. Fora apenas um sonho e estava em Kresp, numa sala de aula, envolto num mar de barbas. Junto ao quadro agitava-se um ponteiro na sua direcção: "segundo Parménides, as coisas são e não são. Prove-o por meio de uma especificação formal". Hans levou a mão ao queixo e notou um estranho fenómeno: a barba crescia-lhe aceleradamente, estava afectado por krespite e a transformar-se num Kresp.
Isso foi demais para Hans. Saiu a correr para a rua, subiu uma montanha e esperou. Como por milagre, a Terra passava perto de Kresp, quase roçando a superfície, de 2E10 em 2E10 anos, e estava ali nesse momento. Hans lançou um gancho ao continente africano e acertou no Kilimanjaro, ficando lá pendurado muito tempo, mas feliz.
Não, não era uma escavadora. Não, não era Platão. Gengis, que apesar de bom retórico era péssimo matemático e não estava a ouvir bem por ter os ouvidos cheios de uma substância odorífera levantado pelos cavalos a partir dos despojos deixados por uma manada de búfalos de digestão fácil e intestinos rápidos, tinha errado nas contas. Aquele que se aproximava vinha a 342 quilómetros por hora, precisamente a velocidade de ponta das diminutas asas de Hermes, o mensageiros dos deuses. Reconhecendo-o, Gengis perguntou : "És Mercúrio ?". O calcanhar de Hermes, que sendo dele não era o de Aquiles, mostrou rapidamente aos dentes do déspota a supremacia dos gregos em relação aos romanos. Poucos segundos depois, ainda cuspindo sangue, Gengis era elevado nos ares, e transportando, aos solavancos, porque Hermes não é bem o concorde, até Veneza, mesmo junto ao pequeno canal onde um italiano inventivo, de nome Marco, se tinha escondido no intuito de enganar com o mais descabelado relato de viagens a ingenuidade dos seus conterrâneos. Gengis voou mesmo a tempo de inspirar o escritor, para depois inflectir a trajectória e ser puxado por Hermes, que já não se lembrava do caminho para o Olimpo, até um pequeno convento em Aquino. Onde foi acolhido sorumbaticamente por um frade gordo que tinha ao pescoço uma placa que dizia em Latim "O boi mudo". Gengis, querendo descarregar a raiva de ter sido raptado, assentou um valente murro na fronha do frade. O qual, de facto, não mugiu. Antes, com um gesto elegante, apresentou-o a um monge de aspecto efeminado e olhar sádico, chamado Sade. Ia a pedir-lhe lições, quando apareceu outro tipo, de nome Dolmancé, que confundindo o tipo efeminado por Masoch, outro dos monges do convento, desatou a desancar o desgraçado, ao mesmo tempo que citava passagens da Filosofia na Alcova. Gengis começou a desejar que a história prosseguisse noutra direcção.
Foi então, que a história levou Gengis na direcção do Quilimanjaro, sem lhe perguntar se era de facto aquela a direcção que ele queria. Hans, que continuava pendurado no pico, olhou para aquela personagem, que lhe era desconhecida, e que encontrava sentada numa cadeira, que balançava alegremente na enconsta escorregadia. "Bom dia" - disse Hans - "Diga-me: o senhor não morde, pois não ?". "O senhor tem que ser mais específico. Não mordo o quê ? Já viu o disparate que está a dizer ? O senhor está a fazer uma pergunta inacreditavelmente ambígua ! Pois eu digo-lhe mais ! Surpresa-surpresa: essa pergunta não funciona em Z, meu caro !". Hans, incrédulo, julgou estar de volta ao planeta Kresp, ou pior ainda, ter trazido consigo algum vírus maléfico e terrivelmente mortífero. Olhou fixamente para a barba do seu interlocutor: que alívio ! Não havia indícios de semi-circularidade. "Desculpe. Queria dizer: O senhor não me morde, pois não ?". "Mas o senhor está a brincar comigo ? Está ? A sua pergunta continua pateticamente genérica ! Depende das circunstâncias, não acha, seu mentecapto néscio ?". "Peço-lhe imensa desculpa, e vou tentar reformular a minha pergunta da melhor forma possível ... O senhor seria capaz de morder um mentecapto néscio no pico do Quilimanjaro, depois de este o ter irritado com algumas ... perdão, duas perguntas ambíguas ?". "Não. Eu nunca mordo mentecaptos néscios, em quaisquer circunstâncias". "Então, muito prazer. O meu nome é Hans". "Eu sou Gengis Cão, o grande Cão da mongólia. Você é alemão não é ? Logo vi, pela quantidade de disparates. Você deve ser jornalista ... os jornalistas alemães já não sabem aplicar os advérbios pronomiais, o que me repugna particularmente.". Um ruído de motor a jacto começou a ouvir-se ao longe. Segundos depois, um Boing 747 parou junto dos dois convivas. "Querem uma boleia ? Vamos na direcção da Sibéria". Hans e Gengis rejubilaram com a proposta e entraram. "Foi uma sorte ter parado aqui. Pelo que tenho ouvido, só há uma carreira que pára aqui. E só pára um dia em cada mês ímpar.". "De facto, embora contra a minha vontade, vejo-me obrigado a concordar consigo, Sr. Néscio". Hans interrogou-se durante longas horas, tentando descobrir como é que Gengis descobrira o seu sobrenome. Entregava-se ainda a estas cogitações, quando o avião se deteve, e entrou um grupo de soldados do exército vermelho: "Os senhores estão prestes a entrar no espaço aéreo da União das Repúblicas Socialistas e Soviéticas. Queiram fazer o favor de nos entregarem os vossos passaportes, para serem analisados e carimbados".
Religiosamente, os membros do exército vermelho com afã recolheram os passaportes e os respectivos vistos a todos os passageiros. Pediram também as folhas com a declaração de bens e males que pudessem estar a tentar introduzir ilegalmente no país. Hans não tinha nada a declarar. O soldado achou muito suspeito e leu-lhe em voz alta as instruções da folha, só para se certificar que Hans compreendera tudo o que lá se encontrava escrito. Hans negou uma vez mais ter algo a declarar. "Venha comigo", ordenou. "Vou levá-lo a alguém que gostará certamente de o revistar". E levou-o para uma cabina separada, onde se encontrava um grupo de chineses, aparentemente apreciadores de caraoque, que lhe pediram para abrir a mala e para afirmar com convicção que os chineses é que eram bons e que os americanos não prestavam. Hans ficou um pouco confuso e alguns segundos mais tarde, o soldado russo reconheceu o seu erro, dizendo a Hans que se enganara na sala. Na outra sala, não estava ninguém. O soldado deixou Hans sozinho por alguns instantes. Mas Hans não estava sozinho. Górgias estava lá, só que não existia. Mas estava lá. E revistou a mala de Hans, que também não existia, pois Hans não levava bagagem. Mas foi passada em severa revista. Ao regressar, o soldado trazia um relatório completo, impresso numa impressora noutra sala, que havia chegado por via telepática a um computador de ADN, fruto da mais avançada tecnologia russa. "Vejo que afinal está inocente, apesar de trazer uns chapéus muito engraçados do nosso exército e da marinha. Fartámo-nos de rir ali na outra sala. Vá. Se quiser, pode sair um pouco para visitar a cidade". Perplexo, Hans saiu do avião e caminhou um pouco pelas nuvens. Um ancião de barbas, corpulento e maciço, dissera-lhe à saída que um tal Sócrates deveria andar por aquelas bandas, a desviar menores do caminho, da virtude ateniense. Hans não viu Sócrates. Também não viu nenhum ateniense. Só viu ruas esburacadas, mercados de livros velhos, sebentos e usados, e ainda um sujeito que se agachava a um canto numa atitude suspeita. Voltou para o veículo, onde Gêngis o esperava com um sorriso terno e sereno. "Confundiram-me contigo e deram-me o teu passaporte. Tive que lhes dizer que se tinham enganado e desataram a rir. Não percebo. Será que já não tenho um perfil hediondo e repressivo?"
O avião arrancou
com suavidade. "Caros passageiros, dentro de momentos chegaremos ao aeroporto
de Pequena-aldeia-que-ficava-rodeada-por-pequenas-colinas-cobertas-por-pequenas-árvores-verdes-enegrecidas".
Hans olhou para a parte de fora da aeronave. Viu Molotov a ler jornal descontraidamente,
na sua poltrona vermelha, firmemente unida à fuselagem da asa esquerda,
que lhe acenou sorridente, antes de voltar a embrenhar-se na sua leitura.
Hans percebeu que Molotov gostava mesmo de climas frios. Algumas horas
depois, o avião amarou no porto da aldeia. Os passageiros foram
levados para terra em cem pequenos barcos a remos, semelhantes a um pequeno
cardume de baleias. Hans não ficou no mesmo barco de Gengis, tendo-o
perdido de vista. Curiosamente, no barco ao lado, Kant tentava convencer
Kresp que o númeno era inalcançável, pelo que seria
impossível especificá-lo formalmente, enquanto Kresp insistia
que bastava que Kant lhe fornecesse a pré-condição
mais fraca do númeno e que ele produziria rapidamente uma especificação
do númeno com dez axiomas por linha, em média. Hans sentiu-se
mais aliviado quando a sua embarcação tomou outra direcção,
não tendo sido enxergado pelos olhos soberbos e desconfiados
de Kresp. Procurou Platão com o olhar mas não o encontrou.
Quando chegou a terra, dois árabes à frente de uma razoável
comitiva aproximaram-se dele. "Leva-nos ao teu rei" - disse-lhe o árabe
mais velho em Servo-croata. Hans hesitou, e respondeu-lhe num Quimbundo
fluente e expressivo: "Eu não tenho rei, mas posso tentar levar-vos
ao presidente desta autarquia". O árabe mais
velho, aparentemente,
traduziu para o mais novo, que lhe indicou uma resposta. "Tenha a bondade
de nos levar até ele, Sr.Bárbaro". Hans sorriu, de um contentamento
imenso, apesar de ignorar o porquê das coisas.
Hans, vestindo agora a pele de bárbaro, que até nem lhe sabia mal, pois provou-a, estugou o passo e começou a andar em círculos, com os distintos cavalheiros árabes atrás de si. Fazia-o porque na realidade não se lembrava quem era o presidente da autarquia. Persuadia-se mesmo que não existia tal personalidade. Muitas voltas volvidas, Hans lembrou-se de uma soluação genial para o problema, que não lhe oferecia problemas de maior. Mais uma vez exprimindo-se num quimbundo fluente, mas desta feita com algum sotaque da ilha do mussulo, em Luanda, perguntou aos seus novos amigos árabes: "Amigos árabes, quem manda nesta autarquia não é uma presidenta qualquer, mas uma deusa. Porventura importar-vos-eis de falar com uma criatura divina de nome Frigg? Ela é a esposa de Odin e acolher-vos-á amavelmente com toda a certeza". O árabe tradutor, com o seu manto branco, comunicou ao seu embaixador, de manto preto, titubeante e algo inseguro o que acabara de ouvir, pois não confiava plenamente nos seus conhecimentos latos de quimbundo. "Uma deusa?", exclamou o outro. "É claro que desejo conhecê-la. Apesar de pagã, não deixa de ser uma pessoa importante. E como embaixador que sou, esperam que fale com pessoas, raios". O tradutor para Hans: "Leve-nos à sua tradutora, Herr Bárbaro. "Concerteza. Só temos que esperar um pouco que ela desça das nuvens, navegando no seu Dracar, que para nós significa barco e dragão ao mesmo tempo, com um dragão na proa. Ela virá, pois é ela que tece as delicadas nuvens que nos dão a água da chuva. Agora o senhor já sabe porque é que não chove nos desertos árabes". O tradutor, um pouco embaraçado, traduziu. O embaixador tornou-se um pouco mais taciturno, mas continuou a sorrir para Hans e apertou-lhe a mão vigorosamente, pedindo às câmaras dos jornalistas que se aproximassem e tirassem muitas fotografias. Com um grande sorriso, enfrentaram ambos as luzes das câmaras, corajosa e dignamente. Hans segurava na sua mão esquerda uma lanterna, que utilizava como farol para o barco de Frigg que se chegava agora.
Hans usava uma lanterna do tamanho de um farol de bolso e apontava-a ao Dracar através do nevoeiro, traçando uma estrada de luz. Frigg reconheceu alguém que confundiu com Hans e acenou à moda dos vikings. Hans julgou distinguir, ao longe, um membro do seu partido e sofreu uma tal inspiração que atirou a lanterna ao solo para esboçar este poema (traduzido):
Múltiplo
é este universo e o Partido
Que
planta uma presença em toda a parte
Para
o futuro crescer tão florido
Como
perfumado pela vermelha arte
Morte
ao dinheiro e à aristocracia
Às
ervas daninhas da burguesia!
O barco de Frigg, sem farol, embateu numa ilha suspensa e afundou-se no céu.
Infelizmente, um farol pode chamar mais do que um barco, e mais do que um remador. A lanterna de Hans chamara gente de outras mitologias, pessoal da Grécia, que se aproximava confundindo Hans com Prometeu, e a lanterna com o tal fogo sagrado. Tirésias, que era quem vira a luz, viajava por ali nessa altura, a expensas da generosidade de Eurípedes, o qual o isentara da peça, a fim de conceder-lhe, por atacado, as férias que há tanto tempo não lhe permitia (o que, sendo mostra de grande filantropia, e apurado sentido de justiça laboral, dificultava porém a leitura de certas partes da obra, devido à ausência das deixas do velho). Enfim, vinha Tirésias, e vinha também Hermes, que confundido por uma nuvem se tinha deixado empalar no mastro principal, e por cima dele, tentando-o convencer das vantagens de tal infortúnio, vinha o divino Marquês, que mal o barco aterrou, tirou uma peruca branca e pôs um bigode, mostrando-se afinal como era, ou seja, a versão filosófica e inteligente de um pobre ditador chamado Adolfo. Hans disse-lhe : "Olá Adolfo". E Adolfo respondeu : "Bon jour, mon chére Hans". Hans ficou a pensar se a ortografia do ditador estaria correcta, e depois deixou de pensar nisso, para passar a apresentá-lo ao embaixador. O qual era o rei das mil e uma noites, Schahriar de seu nome, que pediu ao seu porta-alfange, cujo também sabia traduzir, o alfange que portava, tendo este deportado-o, tornando-se porta-nada, para que sua alteza por sua vez se tornasse porta-isso, e portando-o o brandisse ameaçadoramente em direcção de Adolfo, gritando : "Vou-te matar, Sherazade".
No momento da colisão,
a deusa desequilibrou-se, caiu borda fora e desceu à Terra, batendo
violentamente com a cabeça no chão frio da Sibéria.
Marcelo Rebelo de Sousa, confundido-a com uma outra divindade, afirmou-se
candidato à liderança do seu partido, uma vez que estavam
reunidas as suas pré-condições. A queda da deusa,
provocara uma lomba, como se tivesse magoado o solo, tendo lhe provocado
um galo. Uma pequena multidão foi-se juntando à volta da
colina da deusa, como ficou a ser conhecida desde então. Platão,
que estava a pensar o que responder a Gengis, regressou do seu marasmo,
irritado por Gengis não ter aguardado pela sua resposta. A deusa
acordou e espreguiçou-se de punhos no ar. Hans esboçou um
gesto que não poderia ser considerado apartidário. Ao ver
a multidão olhar para ele, desconfiada, arrependeu-se e conteve-se.
O embaixador árabe rejubilou: finalmente ia ter a oportunidade de
falar com alguém, de ser embaixador, raios !
- Camaradas
plebeus ! - exclamou Frigg - Como já se devem ter apercebido, não
é todos os dias que uma deusa desce à Terra. Tem que haver
uma razão forte.
- É
mentira ! É falso ! Isto está cheio de deuses ! - exclamou
Heraclito, exaltado.
Frigg, ignorando-o,
prosseguiu:
- Há
uma aldeia que está à sombra de um perigo terrível,
uma catástrofe inenarrável prepara-se sub-repticiamente para
se abater sobre ela.
- Claro que
é inenarrável. Eu sempre defendi a incomunicabilidade das
línguas - gritou Górgias, vaidoso e arrogante.
- Meus amigos,
matéria e anti-matéria estão prestes a encontrar-se
nessa aldeia e este encontro, poderá provocar uma devastação
sem precedentes ! É preciso agir ! Como este caso é demasiado
perigoso para uma Deusa, decidi escolher entre vós, uma equipa de
filósofos para debelarem a catástrofe eminente ! Preciso
de 12 homens ! Preciso dos melhores filósofos !
- Pode contar
comigo, senhora deusa - disse Molotov.
- E comigo
! Eu serei o segundo filósofo ! - exclamou vigorosamente um desconhecido
de longas barbas postiças.
- Pode contar
com Platão, Kant e Descartes - gritou Hans, com a mão à
frente da boca para ninguém percerber que era ele quem falava.
Um intervalo,
um silêncio glacial. A multidão olhava para o lado, para o
outro lado, para cima, para baixo, assobiando baixinho, parecendo ignorar
o apelo de Frigg.
- Então
? - perguntou Frigg - Mais nenhum filósofo ? Nesse caso, preciso
de saber se há alguém que não seja filósofo.
- Eu não
sou filósofo ! - replicou Hans, igenuamente excitado.
- Perfeito.
Serás o sexto filósofo e levarás contigo aquele árabe
estúpido que está há que tempos a estender-me a mão,
com um bando de jornalistas atrás. A minha ideia inicial, era que
levassem o meu barco para navegarem até à zona em crise.
Mas uma vez que a incompetência de alguns o levou ao afundamento,
ordeno-vos que ides a nadar até lá. Hugin voará por
cima de vós para vos indicar o caminho. Ide ! Ide !
O estranho
grupo mergulhou nas águas geladas do rio que banhava a aldeia, em
direcção ao mar, seguindo atentamente Hugin. De vez em quando,
Hugin dizia que era proibido parar, pois quem parasse, seria desqualificado.
De cada vez que Hans olhava para o homem das barbas postiças, mais
se convencia já o havia conhecido algures, mas não sabia
dizer onde nem porque é que as galinhas têm asas. Inesperadamente,
o homem das barbas postiças dirigiu-lhe a palavra:
- Por acaso
não conhece nennhum especialista em propagação de
código ?
- Não
...
- Óptimo.
Assim já sei qual vai ser o tema do meu próximo livro: "Propagação
formal de código entre projectos semi-equivalentes".
A pulga, mordia
cada vez mais vezes Hans, atrás da sua orelha. Como era um pouco
bronco, deixou a orelha inchar com picadas de pulga.
Chegaram à
aldeia do Pai Natal.
Nils
Holgerson (contacte-me)
Jigglypuff
(não me diga nada)
Si
Tchou Peq (faça como achar melhor)
Muaméme,
o Profeta (só Alá guia o cálamo com que escrevo)