Cabeceira gótica da Igreja de S. Domingos

Cabeceira gótica da Igreja do Convento de S. Domingos, dedicado a Nossa Senhora dos Mártires

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Curiosa é a história das duas imagens da padroeira, Nossa Senhora dos Mártires, que se sucederam como fulcro da devoção na igreja: a primeira é uma majestosa peça em mármore, quase em tamanho natural, com importantes vestígios de policromia; seria, segundo Eurico Gama, a imagem da ermida original, tendo depois passado para o mosteiro, onde se manteria até ao século XVI, altura em que uma nova imagem, em massa e igualmente policromada, a substituiria. O destino da primeira - que Gama afirma ser ainda do século XIII, talvez feita em oficina de Coimbra ou Évora e, portanto, passível de ter sido venerada no templo anterior - foi um nicho sobre a Porta dos Mártires da cerca fernandina, para onde terá sido mandada levar por D. João II, que terá decerto oferecido a outra, mais de acordo com o gosto quinhentista; ali se terá mantido até à construção da muralha seiscentista, altura em que voltou ao convento para, já neste século, ter transitado para o Museu Municipal.

 

Vista geral do convento de S. Domingos
Monumento Nacional
16/06/1910

 

A Igreja e Convento de S. Domingos, ou de Nossa Senhora dos Mártires, seu orago, ergue-se na freguesia de S. Salvador, encostada ao pano nascente da muralha fernandina, no local onde estivera a Ermida de Nossa Senhora dos Mártires, memória dos cristãos tombados na conquista de Elvas.

Fundado por Afonso III em 1267, para além de convento vai ter também a funcionar uma albergaria e um hospício, que, quando Cosmander o faz demolir, devido a imperativos da construção das muralhas seiscentistas, era o maior da cidade. E, se o convento não existe já, transformado no século passado em quartel, a igreja conserva o essencial da sua estrutura primitiva - dentro dos padrões da arquitectura mendicante medieval - com três naves de altura desigual, sendo a central mais elevada, cobertas por um tecto de madeira; estão divididas em cinco tramos por grossos pilares de oito colunas enfeixadas, rematados por arcos ogivais. O transepto, mais largo que o corpo do templo, acompanha a altura da nave principal e a largura da cabeceira, formada por uma extraordinária abside poligonal - que Chicó considerava uma das mais perfeitas peças do gótico português - e quatro absidíolos quadrangulares. Toda em cantaria, esta complexa cabeceira tem igual esplendor vista do interior, com a abóbada da ousia sustentada por finas nervuras e os largos janelões rasgados no topo, como do exterior, com os elegantes contrafortes em degraus e umaGárgulas e modilhões da cabeceira curiosa teoria de gárgulas e medalhões, apresentando alguns destes últimos motivos decorativos claramente arcaizantes (faces humanas distorcidas, animais fantasistas), mais próximos do romântico do que do gótico.
Quanto à fachada, não é já a primitiva, demolida que foi por D. João III em 1553, sendo de novo substituída pela actual, do século XVII e algo pesada: tem três portais, sendo o central encimado por uma composição onde relevam as armas reais e da Ordem de S. Domingos, seguras por dois anjos; os laterais, mais pequenos, têm frontões curvos com pequenos pináculos, correspondendo a cada um dos portais, no nível superior, um janelão rectangular com seu frontão; finalmente, no corpo central, mais elevado, abre-se um nicho com uma imagem de S. Domingos, com volutas pouco graciosas a fazer a ligação com os corpos laterais, mais baixos. No interior constatam-se igualmente as modificações do período barroco, sendo as mais interessantes as relativas às bases dos pilares - já rocaille - em mármore branco e negro de Estremoz.
À esquerda a ante-sacristia, hoje forrada de azulejo, ostenta uma bela abóbada em estrela com bocetes decorados por cruzes de Cristo, obra do século XV. Segue-se a sacristia, antiga casa do capítulo conventual, verdadeiro panteão dos Sequeiras, seus padroeiros e que ali conservam as sepulturas rasas.

Outros monumentos funerários dignos de registo encontram-se na nave, numa arca tumular ainda duocentista em arco sólio, no transepto, onde estão a arca e edícula brasonada seiscentistas, de João Rodrigues do Amaral, ou na ante-sacristia, onde permanece a sepultura igualmente brasonada de D. Isabel do Couto de Ataíde, datada de 1621. Outras peças interessantes so as quatro grandes tábuas quinhentistas de escola portuguesa, datáveis de cerca de 1555 (do período de intervenção de D. João III), representando A Virgem no Templo, A Adoração dos Magos, a Fuga para o Egipto e o Menino entre Doutores, faltando no entanto a peça pictórica mais notável da igreja: o grande retábulo maneirista de Simão Rodrigues, executado com a colaboração do entalhador Gaspar Coelho, c. 1590, e que, como refere Vítor Serrão, era constituído por oito tábuas, desmontadas aquando das obras de restauro empreendidas pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (que apenas se detiveram quando conseguiram fazer regressar a ousia do templo à sua «pureza» gótica), peças que se conservam hoje no Museu Municipal.

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