D. JOÃO DE CASTRO

(1871-1955)

POEMAS DISPERSOS

No espólio do escritor foram encontrados
muitos poemas dispersos.

Alguns exemplos.

HERCULANO

A figura é de bronze... É contudo, auscultando
No seu fúnebre somno essa escultura antiga,
Sente-se dentro della, arfando de fadiga,
Um pobre coração que envelheceu amando.

Uma vida ignorada agita o bronze... E quando
O seu olhar de estátua ao nosso olhar se liga,
Deixa em nós a visão d'um sonho que se abriga
Dentro d'uma armadura, a morte receando...

Há momentos, emtão, em que uma claridade
Vinda talvez do céu (talvez da terra...) invade
Como a alma d'um Deus a estátua - e de repente


À vida chama enfim a sua vista absorta...
- A figura é de bronze; é certo... Mas, que importa?
A luz do génio torna o bronze transparente!

REGRESSO À TERRA

Cheguei de longe...E agora eis-me cativo
Da terra, a terra antiga que produz
O pão de cada dia - e, envolta em luz,
Comunga o corpo e o sangue de Deus vivo.

Como herdado de um homem primitivo,
Meu coração o seu falar traduz;
Junto dela, com a alma e os olhos nús
De sombras dolorosas, eu revivo!

Das minhas ambições, dessas quimeras,
Que amparam e arruínam como as heras,
Nada conservo, nada me seduz....

Na humildade cristã das ervas raras,
Soergo os braços ao céu, cuido ter asas:
Já não os sinto presos a uma cruz!

1928

As estrelas, do céu, guiam-me com seu lume;

O mar beija-me os pés, se o olho junto à praia;

O sol dá-me o seu oiro, as flores o seu perfume,

Sem que da minha boca uma palavra saia..

Só aquela a quem amo

Nunca, nunca escutou a voz com que eu a chamo!

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