PATRIMÓNIO NATURAL

        

RIBEIRO DA RAINHA,  FLORA  E  FAUNA 

 

 

 

       1. RIBEIRO DA RAINHA

 Vila Deanteira tem a felicidade de ser atravessada por um ribeiro, um fio de água no Verão e um turbilhão no Inverno. Num mapa antigo é denominado pelo belo e poético nome de Ribeiro da Rainha.

O ribeiro outrora era fonte de vida, tanto pelos peixes e enguias que nele se criavam, como pelos milheirais e outras culturas que ele regava ao longo do seu curso, desde a nascente, nas Relvas, até desaguar no rio Mondego, no lugar denominado de Ranha. Era por isso apaixonadamente limpo e as suas águas disputadas pelos agricultores da nossa terra.

A introdução sistemática dos motores de rega, a abertura de poços e o posterior abandono das terras de cultivo levaram a que o ribeiro fosse esquecido. E assim chegou aos nossos dias imundo, assoreado e com as margens ocultas por silveirais. Mesmo dentro da povoação!

Longe também vai o tempo em que as mulheres da aldeia nele lavavam a roupa. Ficaram as pedras-lavadouros, mas já não se houve o barulho do bater da roupa e da água a escorrer; permanecerá, no entanto, na memória, se não deixarmos destruir as marcas dessa vivência.

O Ribeiro da Rainha na sua passagem pela povoação de Vila Deanteira ainda há-de rejuvenescer. Limpo há alguns anos pela juventude da terra, voltou a sujar-se com obras que nunca acabaram. No entanto, será ele um dia o potenciador da criação de um Parque Multiusos - o seu leito, circundando o Parque, deverá ser regularizado de modo a criar-se um espelho de água, que embelezará o espaço, convidará ao repouso, servirá de superfície reflectora da agitação da miudagem e dos momentos festivos, e, ao mesmo tempo, criará o microclima necessário à existência de uma variedade de espécies botânicas. 

Os miúdos terão o seu espaço e os graúdos também, uma vez que, dada a sua localização, o Parque constituirá um local privilegiado de convívio. Espaço agregador, ponto de encontro e de reforço dos laços da gente da terra, desempenhando, assim, o papel dos "terreiros" de outros tempos, espaços imprescindíveis das aldeias e que as exigências da movimentada vida actual fez desaparecer. 

Ao local desse futuro Parque associa-se, por tudo isto, uma enorme carga social e cultural, mas também uma importante carga histórica, uma vez que o futuro Parque Multiusos englobará o Jardim Silva Carvalho, onde se perpetua em busto um filho da terra, José da Silva Carvalho (1782-1856), figura de relevo nacional, obreiro da Revolução de 1820 e ministro de D. João IV, de D. Pedro IV e de D.ª Maria II; o local é ainda enquadrado a nível patrimonial pelo "solar" onde nasceu aquele ilustre estadista e pela capela de S. Silvestre (séc. XVIII).

O facto da juventude da terra ter participado na sua limpeza, tem um duplo significado: por um lado demonstra a consciência ecológica dos jovens, fruto dos tempos e da educação ministrada nas escolas, por outro lado, demonstra a sua vontade de participar no nascer e no devir de algo perene e que portanto não se esgote no rebentar do último foguete ou no apagar das luzes do arraial.

         2. A FLORA DA ALDEIA

Não será de desprezar o importante património botânico que a aldeia possui em redor do Jardim Silva Carvalho, tanto pela diversidade de espécies, como pela existência de notáveis exemplares de árvores antigas (ex. magnólia Magnolia grandiflora e cedros centenários) que, no entanto, vão a pouco e pouco desaparecendo....

         3. A FAUNA DA ALDEIA

Vila Deanteira por possuir nenhum animal endémico.

É comum, no entanto, encontrar-se javalis, texugos e o milhafre-real, bem como uma variedade ainda enorme de pássaros: melros, tordos, pintassilgos, canários, rouxinóis, etc.

O Milhafre-real:

O milhafre que penso que há aqui na minha terra é o milhafre-real. E é conhecido como “mataranho”.

Este milhafre-real tem cauda longa, dividida em dois, ou seja bifurcada, e é normalmente de cor vermelho-ferrugem.

As aves jovens têm a cauda menos bifurcada e a cauda é num tom de areia.

Esta cor distingue-o do milhafre-preto, que me dizem que também existe nesta zona.

Por cima da minha terra voam muitos milhafres, mas vêem-se mais frequentemente por cima do Rio Mondego e na Pedra da Sé.

O milhafre faz os seus ninhos na nossa região. Nas áreas de criação, o milhafre-real emite um som agudo parecido com um «hiah-hi-hi-hi-hi-hi-hiah».

Durante o Inverno estas aves juntam-se muitas vezes em bandos, ao anoitecer, para passar a noite nos bosques ou soutos. Caçam em terrenos abertos e alimentam-se de pequenos roedores, aves, insectos, etc.

Quando comprar uns binóculos, eu depois esclareço as minhas dúvidas.

               Sara Neves (9 anos, 2003)  

          

           Ceterach officinarum


            "
Rizoma cespitoso, revestido de páleas negras com margen ciliado. Frondes (3)5-15(25) cm, persistentes, en fascículos densos; pecíolo 1/6-1/3 de la longitud de la lámina, generalmente castãno negruzco en la base; lámina (2,5)4-12(20) x (0,5)1,5-2(3) cm, de lanceolada a obovado-lanceolada, verde ± oscuro y mate en el haz, con páleas brillantes, de plateadas a ferrugíneas, en el envés; pinnas 8-10 x 4-6 mm, 6-15 pares, alternas, ovadas u oblongas, redondeadas en el ápice, enteras o crenadas. Esporas (30)36-45(46) μm de diâmetro, castaño-negruzcas. 2n = 144; n = 72 ".

            Pois é... assim se descreve na "Flora Ibérica", vol. I, pág. 107-109, Real Jardín Botánico, Madrid, 1986, um "feto" simpático que vive nas juntas barrentas de um muro nas traseiras da minha casa.
            A "Flora Ibérica" é uma obra fabulosa publicada pelo Real Jardim Botânico de Madrid em 21 volumes e que tem como coordenador português o Prof. Dr. Jorge Paiva do Instituto Botânico da Universidade de Coimbra.
             Bem... sobre o Prof. Dr. Jorge Paiva falaremos em breve. Foi um dos mais queridos professores da UC.
            O "nosso feto" chama-se vulgarmente por
doiradinha
e é uma planta bem adaptada à secura, de tal modo que em tempo seco as folhas murcham completamente, parecendo que a planta morreu, mas com as primeiras chuvas reverdescem e ficam viçosas.
            Nós, de cá de casa, fartos de ver o muro coberto de "fetos mortos" e gostando de os ver ressuscitar, atiramos-lhes, de vez em quando, uns baldes com água...

(Blogue Vila Dianteira - Segunda-feira, 2 de Fevereiro de 2004, 20:13)

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      Ribeiro e pontão velho

 

Ribeiro e lavadouros de cima

 

Ribeiro e lavadouros de baixo

 

Ribeiro e ponte sobre a estrada

 

Carvalhas e cedros imponentes. As carvalhas já são saudade...

 

Milhafre-real e Milhafre-preto

(in Lars Jonsson - "Os Pássaros", pág. 34, Círculo de Leitores, 1976)

 

 

Ceterach officinarum

Ilustração de E. Sierra Ràfols