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não se possa afirmar com certeza, considera-se o ano 260 a.C., como a data de
aparecimento do órgão (do grego organon, "instrumento" ou
"ferramenta"). Segundo várias fontes, este teria sido inventado por um grego de
Alexandria, Ctesíbio. Filho de um barbeiro, não era músico, mas engenheiro; assim além
do órgão criou diversas outras engenhocas: jogos mecânicos, autômatos, chafarizes,
etc. Ctesíbio chamou o novo instrumento de hidraulos, isto é, aulos que funciona com
água (o aulos era um instrumento de sopro bastante conhecido na antiga Grécia, ancestral
do Oboé, consistia de uma cana munida de furos e de palheta dupla). Esse órgão
hidráulico possuía uma fileira de aulos de diferentes comprimentos, que produziam o som
fundamental das várias notas da escala.
arquiteto Vitrúvio (morto em 26 a.C.), descreve um instrumento um pouco mais sofisticado,
provido de duas bombas de pistão e de várias fileiras de tubos (até oito), que podiam
ser utilizados simultaneamente ou separadamente. Vitrúvio já distingue tubos flautados
(labiais) e tubos de lingueta (palheta).
ícero (106-43 a.C.) é o primeiro romano a
mencionar o órgão, instrumento que descobrira na Grécia entre 79 e 77 a.C. Descreve-o
como se fosse uma rara especiaria oriental, uma vez que era desconhecido em Roma. Não se
sabe ao certo quando o órgão apareceu em Roma, país em que a música instrumental era
desprezada (era exercida unicamente por estrangeiros e escravos, gregos em sua maioria). O
filósofo Sêneca (morto em 75 a.C.), conhecia o órgão; o imperador e incendiário Nero
fez, pessoalmente, uma demonstração de um novo tipo de órgão no ano 67 a.C. Esse
instrumento já oferecia diversas possibilidades de registração (combinação dos
diferentes timbres produzidos pelos diferentes tipos de tubos). A partir do século II, o
órgão torna-se bastante conhecido e apreciado em Roma. Era, sempre tocado ao ar livre,
para acompanhar representações teatrais ou combates de gladiadores, sendo
freqüentemente acompanhado de metais - trombetas, trompas, etc.
ão é conhecida a época em que o complicado
mecanismo soprador do órgão hidráulico foi substituído por foles manuais, semelhantes
aos de um ferreiro. O gramático Júlio Pollux (século II), menciona um órgão de foles,
que designa organum pneumaticum (órgão pneumático). Segundo Pollux, o órgão de foles
era menor que o hidráulico, e seu som menos possante. Em 1931 descobriu-se em Aquincum,
Hungria, restos de um órgão de foles datado de mais o menos 228. Possuía 4 registros
(filas de tubos) de 13 notas cada um.
urante muito tempo o órgão hidráulico e o de
foles conviveram lado a lado. No entanto, os primeiros, maiores e mas barulhentos, só
eram utilizados ao ar livre, enquanto os segundos eram instrumentos de salão. Os
imperadores romanos que sucederam Nero apreciavam o órgão e gostavam de tocá-lo. O
historiador Pólio relata, a propósito do imperador Galiano: "Suas saídas eram, com
freqüência, acompanhadas do som de flautas, e suas entradas ao som do órgão, pois ele
queria música em tais ocasiões".
om a invasão do Império Romano do Ocidente
pelos godos (século V e VI) o órgão entra em decadência, e os princípios de sua
construção e da arte de tocá-lo vão sendo, aos poucos, esquecidos. A sociedade culta,
assim como os Padres da nascente igreja católica, desprezavam esse instrumento e até
condenavam seu uso. O órgão só veio a reaparecer no Ocidente por volta do século VIII.
o entanto, o instrumento conheceu um destino
bem diferente no Império Romano do Oriente, sediado em Constantinopla (Bizâncio). Aí o
órgão continuou sendo amplamente utilizado, sempre integrando o "artesanal"
das pompas palacianas. Embora se construíssem órgãos preciosíssimos - o Imperador
Teófilo (reinou de 839 a 842) mandou construir dois deles, em ouro com incrustações de
pedras preciosas, que mais tarde seu filho derreteu para cunhar moedas - o instrumento
não sofreu, até o século XV, grandes modificações técnicas.
omo se vê, o órgão era um instrumento
essencialmente profano, tendo sido excluído do culto católico ortodoxo (que até hoje
não tolera o uso de instrumentos musicais). Nos países árabes, o órgão (al urgana)
também gozava de grande prestígio. Da Síria, este se difundiu para os califados de
Córdoba, do Cairo e de Bagdá. Segundo textos árabes, distinguiram-se quatro tipos de
instrumentos: o órgão bizantino (de foles), tocado nos palácios; o órgão hidráulico,
de uso militar (descrito por Ibn al-Nadim como o "instrumento que se ouve a 60 milhas
de distância"); a magrefa (órgão alimentado por sopro humano) que, segundo se
supõe, foi utilizada no templo de Jerusalém, e os órgãos macênicos automáticos, ou
"árvores de pássaros cantores", muito em voga nas cortes árabes.