m 757,
Pepino o Breve (714-768), rei dos Francos, foi apresentado com um órgão pelo imperador
de Bizâncio, Constantino V (741-775). Esse fato marca o reaparecimento do instrumento no
Ocidente. Os cronistas da época mencionaram a chegada do órgão à corte do rei dos
francos como o evento mais notável daquele ano. A maior parte deles afirma que esse
instrumento era, então, desconhecido na França, o que mostra que o órgão antigo,
certamente utilizado na Europa ocidental à época da dominação romana, tinha caído no
esquecimento. No entanto, esse instrumento terminou por desaparecer em circunstâncias
ainda não explicadas, e os artesãos da corte não estavam à altura de substituí-lo.
Assim, em 826. Luís, o Bom, chamou o padre italiano Jorge de Veneza - que provavelmente
aprendera sua arte em Constantinopla - para construir um órgão na cidade de Aix. Foi
esse o primeiro órgão a ser montado no Ocidente após mais de 4 séculos, alimentado por
dois foles e munido de vários jogos de tubos (registros). Era utilizado no palácio e ao
ar livre, para acompanhar paradas militares.
órgão passou dos palácios às igrejas de maneira bastante brusca aos olhos dos
historiadores do instrumento, sem que estes pudessem atinar com as causas reais dessa
transferência. Uma hipóteses é a de que o padre Jorge de Veneza teria transmitido os
segredos da construção a alguns monges, seus alunos. Assim, durante os séculos
seguintes a manufatura do órgão teria estado exclusivamente a cargo dos religiosos
(ademais, estes representavam, na época, a classe mais culta e intelectualizada).
a verdade, porém, a introdução do órgão no
culto cristão deve ter sido cautelosa, já que os padres da Igreja tinham completo
desprezo pela música instrumental. Ademais, não se sabe de nenhuma decisão papal que
tenha, à época, oficializado o uso sacro do instrumento, o que só ocorreria a partir do
século XVI. A difusão do instrumento nos templos iniciou-se, pois, longe dos olhos de
Roma no norte dos Alpes, onde os alunos de Jorge de Veneza teriam ensinado a arte da
organaria. No início, os órgãos eram utilizados nas igrejas como instrumentos
didáticos, destinados ao ensino da Música. Em torno de 900 aparecem os primeiros
tratados acerca dos tamanhos dos tubos e dos diferentes métodos de construção do
órgão. Mas é preciso esperar pelo inicio do século X, para se ter certeza de seu
aparecimento nas igrejas. Em 915, o Conde Atton mandou edificar um convento em honra a S.
Apolônio e ofereceu à Igreja um cálice de ouro e um órgão.
Crônica da Vida de Santo Osvaldo narra
que no ano de 992... "em louvor a Deus e a S. Benedito, bem como para ornar a
igreja..." ele adquiriu trinta libras de cobre, que destinou à fabricação de tubos
de órgão. Com as pontas orientadas para baixo, estes se inserem, em cerradas fileiras
nos orifícios correspondentes; e nos dias de festa produzem, graças ao sopro possante
dos foles, uma melodia doce e encantadora, que se pode aperceber de longe". À mesma
época o inglês S Dunstan, futuro arcebispo de Cantenbury, ofereceu um órgão ao
convento de Malmesbury. Sobre uma placa de bronze podia-se ler: "O prelado Dunstan
(fez) este órgão em honra a Aldheim. Que todo aquele que quiser tirá-lo daqui perca o
reino da eternidade". Em 950, construiu-se na Igreja de S. Pedro de Winchester um
órgão monumental com dez fileiras de 40 tubos, num total de 400 tubos. Eram precisos
dois organistas para tocá-lo e setenta fortes homens para acionar os seus 26 foles.
ssim, após ser utilizado por onze séculos nas
cortes e ao ar livre, o órgão insinua-se discretamente na Igreja e vai, aos poucos,
identificando-se com as pompas do culto, a ponto de seu uso profano ser com freqüência
ignorado pelos cronistas até épocas bastante recentes. No século XII, o órgão é tão
apreciado pelos padres que é até objeto na maior parte das igrejas da Europa - mesmo nas
maiores, como as catedrais de Reims e Paris -, e em inúmeros conventos. Mas seu uso sacro
ainda é objeto de controvérsias. Enquanto o Concílio de Milão (1287) admitia a
participação do órgão nas cerimônias do culto, o capítulo de Ferrara (1290), entre
outros, decide excluí-lo da missa.
EVOLUÇÃO TÉCNICA
o século XIII ao XV, o órgão conheceu
uma importante evolução técnica, no curso da qual adquiriu boa parte de seus elementos
essenciais. Foram as seguintes as modificações estruturais que o beneficiaram: sistema
de tração reduzido, abandono do diâmetro constante dos tubos, pedaleira,
multiplicação dos teclados manuais, redescoberta da registração, construção do
bufê. A construção de órgão de grandes dimensões, como o de Winchester, esbarrava na
inexistência de um sistema de tração apropriado (transmissão do movimento das teclas
às válvulas que permitem a entrada do ar nos tubos); assim, era preciso repartir as
teclas por toda a extensão do instrumento. Ara tocá-lo, eram necessários dois ou mais
organistas, no caso de instrumentos grandes. Com a descoberta do sistema reduzido, origem
do teclado, foi possível reunir as teclas no centro do instrumento que, então, já podia
ser tocado por apenas um organista. Graças a esse sistema, o número de teclas também
pode ser aumentado para o grave e para o agudo.
odos os tubos de uma mesma fileira (registro)
tinham o mesmo diâmetro, sendo a altura da nota determinada unicamente pelo comprimento
destes. Ora, com isso só é possível até uma certa extensão - duas ou três oitava
(além da qual os tubos graves se tornavam estreitos demais, e os agudos largos demais) -
o acréscimo de notas no agudo e no grave determinaram o abandono desse sistema, passando
os tubos a ter diâmetros diferentes, Isso permitiu a construção de instrumentos bem
maiores.
em cedo os órgãos foram equipados com
bordões para as notas sustentadas do baixo; com esse dispositivo, os tubos eram acionados
não pelo teclado, mas por válvulas colocadas do lado esquerdo do instrumento, à altura
das mãos do executivo. Depois, passaram a ser acionadas com os pés, constituindo, já
uma espécie de pedaleira. Em seguida, uma pedaleira formada por teclas - um teclado para
os pés - passou a ser acoplada ao teclado manual e, por fim, tornou-se independente,
contando com os jogos de tubos próprios.
multiplicação dos teclados manuais, teve
início no século XV, até então, a maioria das igrejas possuía dois tipos de órgãos:
o grande órgão, destinado a inundar o templo de som; e o positivo, órgão bem menor que
servia para acompanhar o coro. O primeiro era fixado à parede enquanto o segundo podia
ser transportado. Isso obrigava o organista a se deslocar constantemente durante a missa,
fato bastante incômodo. Assim surgiu a idéia de fixar o positivo à balaustrada da
tribuna, atrás do organista (daí ser chamado "positivo de costas"),
superpondo-se os dois teclados. Mais tarde, desenvolveu-se um mecanismo que permitia
acoplar os dois teclados.
órgão antigo possuía fileiras de
tubos com timbres totalmente diferentes, utilizáveis separada ou conjuntamente. Durante a
Idade Média, o órgão sofreu tantas modificações que terminou por perder sua
registração (jogos de tubos de diferentes timbres); além de fileiras serem
constituídas por tubos semelhantes, estas só podiam soar juntas, daí o instrumento ser
designado "organum plenum". No final da Idade Média, verificou-se um retorno a
idéia de destacar certas fileiras de tubos e utilizá-los separadamente, individualizando
seus timbres. A partir de então, há uma preocupação em se conseguir novos timbres,
produzindo-se tubos diferentes dos já conhecidos quanto à forma e ao material de que
são feitos.
gualmente no fim da Idade Média surge o bufê,
caixa de madeira que abriga os tubos e é aberta na parte superior, onde são dispostos os
tubos da fachada. O bufê destinava-se unicamente a proteger o órgão. Não entanto, foi
em pleno século XX que se descobriram suas propriedades acústicas (reverberação e
projeção do som), quando sua construção foi momentaneamente abandonada pelos
construtores.