As Dez
Chaves para uma Era de Mudanças
O.k., sua empresa precisa se
mexer.
Passo a passo, como envolver as pessoas nesse processo.
Se
você pudesse transformar uma cultura baseada em antagonismo, jurisdicismo e política
numa cultura baseada em leis ou princípios naturais, a recompensa seria enorme.
Seria possível economizar muito dinheiro aproveitando melhor as energias e os
talentos das pessoas. O mundo está passando por transformações revolucionárias
que vão mudar para sempre o modo pelo qual muitas empresas operam. Pessoas,
produtos e empresas que não estiverem antenados nessas transformações vão
ficar obsoletos em pouco tempo.
Não
podemos falar seriamente sobre transformar organizações sem primeiro falar
seriamente sobre transformar a nós mesmos, individualmente. A chave para
influenciar as massas é atingir cada um, pois aquilo que é mais pessoal é
também, em última análise, o mais universal. Pense nisso. Não é ridículo
imaginar que seria possível transformar uma cultura sem que os indivíduos que
a compõem se transformassem primeiro? Para mim isso é evidente e, no entanto,
este tipo de pensamento é comum e corriqueiro: tudo nesta organização precisa
mudar, menos eu. Se você fizer de você mesmo a exceção, esqueça a
transformação -- ela não vai acontecer. A transformação tem início no
momento em que você se compromete a mudar. É quase axiomático dizer que a
transformação pessoal precisa acompanhar a transformação organizacional, senão
a duplicidade vai gerar cinismo e instabilidade.
PRIMEIRO OS MÚSCULOS, DEPOIS
O TÊNIS
Tentar
transformar sua cultura ou estilo de direção sem primeiro transformar seus próprios
padrões de hábito é como tentar melhorar seu tênis sem primeiro desenvolver
os músculos que permitem jogar melhor. Algumas coisas necessariamente precedem
outras. Não se pode aprender a correr sem antes ter aprendido a andar, e não
se aprende a andar sem antes ter aprendido a engatinhar.
O
que acontece quando as pessoas entram num ambiente político e sentem que estão
sendo injustiçadas? Elas organizam manifestações e procuram atribuir a culpa
pelas injustiças que estão sofrendo a pessoas e condições que estão fora de
seu controle direto. Desse modo, alimentam sentimentos de opressão, de serem
"vítimas do sistema". Elas reclamam a correção de injustiças
percebidas como tais. Talvez formem um sindicato, procurem criar uma legislação
social ou ofereçam resistência coletiva.
Essas
medidas satisfazem a necessidade social de fazer parte de um todo maior, a
necessidade psicológica de fazer uso de energias e talentos criativos e a
necessidade espiritual de ter uma meta. Mas muitas vezes a organização se
torna um lugar onde quem manda é a política. Culturas desse tipo geram dependência,
e não se pode conferir poder a pessoas dependentes. É por isso que a maioria
das iniciativas no sentido de conferir poder às pessoas não funciona.
Nada
vai mudar do jeito que gostaríamos que mudasse em nossas famílias, organizações
e nações até que nós mesmos mudemos e nos tornemos parte da solução que
buscamos. A verdadeira transformação começa comigo mesmo, com minha própria
família, na minha própria casa. Na organização, ela começa quando eu
reconheço que, se tiver de acontecer, isso depende de mim: "Meu círculo
de influência não apenas precisa ser maior e expandir-se constantemente, mas a
própria natureza das minhas atividades precisa mudar para que eu esteja
alinhado com a natureza das atividades que funcionam no mercado".
Imagine-se
tentando criar uma cultura que seja veloz, flexível, centrada e amistosa sem
que os indivíduos que a compõem sejam mais velozes, amigáveis, flexíveis e
centrados. O psicólogo William James disse que, para mudar nossos hábitos,
primeiro assumimos um compromisso profundo de pagar o preço que for preciso
para mudar o hábito. Em segundo lugar, aproveitamos a primeira oportunidade que
aparece para fazer uso da nova prática ou habilidade. Depois, não permitimos
quaisquer exceções até que o novo hábito esteja firmemente enraizado em
nossa natureza.
DEZ CHAVES MESTRAS
São
estas as dez chaves para a transformação, que funcionam em qualquer lugar, a
qualquer momento:
1.
A transformação começa com a consciência da necessidade de mudar. Precisamos
ter consciência cada vez maior de onde estamos em relação a onde queremos
estar. Não podemos negar a necessidade de transformação ou o tipo de
engajamento e esforço que ela exigirá.
2.
O passo seguinte é entrar num processo de "missões conjuntas",
alinhando sua missão pessoal com a missão de sua organização. Esse processo
de "juntar as missões" pode ser melhor realizado por meio do
envolvimento e da participação. As pessoas têm de decidir por si sós que
impacto as transformações exercerão sobre elas e sua esfera de influência.
Quando seu pessoal compartilhar a mesma missão você terá um reforço natural
na cultura para ajudar a perpetuar as transformações.
3.
Construa um senso de segurança interior. Quanto menos segurança interior as
pessoas têm, menos elas conseguem adaptar-se à realidade externa. Elas
precisam ter algum sentimento de que a terra não irá se mover sob seus pés.
As pessoas não irão mudar por conta própria a não ser que tenham segurança
interior. Se aquilo que lhes dá segurança é algo que está fora delas, elas
enxergarão as mudanças como ameaças. Precisamos de um sentimento de permanência
e segurança. Viver sobre um chão sempre instável é como vivenciar um
terremoto todos os dias.
4.
A seguir você precisa legitimar as transformações a nível pessoal. Se você
oferecer às pessoas uma experiência de aprendizado profundo sobre ouvir com
empatia, por exemplo, no dia seguinte elas poderão fazer algo a respeito. Sem
isso, elas se revoltarão. Podem dizer, por exemplo: "O que você está
tentando fazer? O que há de errado com o nosso jeito?". As pessoas
precisam reconhecer: "Preciso de uma coisa que ainda não tenho". E
elas sabem que não vão conseguir essa coisa se apenas ficarem esperando por
ela e imaginando-a. É preciso proceder a uma mudança de mentalidade e de
conjunto de habilidades. Para conseguir o que querem elas precisam pagar o preço
em termos de processo de desenvolvimento.
5.
Assuma responsabilidade pessoal pelos resultados. Executivos e funcionários
muitas vezes discutem a questão de "até que ponto esse desenvolvimento
deve caber à organização e até onde deve ir o papel e a responsabilidade do
indivíduo". Acho que, em última análise, cabe ao indivíduo ser
competente. O indivíduo deve dizer: "Para mim, a or-ganização é um
recurso. Posso lançar mão desse recurso ou buscar outros. Se a organização
mostrar não ser um recurso para mim, então terei de adquirir o conhecimento,
as habilidades e o treinamento por conta própria".
Mas se olharmos o treinamento do ponto de vista da direção da empresa, eu
diria: "Sim, em última instância o responsável é o indivíduo, mas
precisamos criar um ambiente que dê apoio a ele e fornecer alguns recursos que
ajudem as pessoas a desenvolver as competências de que precisamos para sermos
competitivos".
6.
Enterre o velho. Freqüentemente é necessário haver um "batismo" --
um enterro simbólico do corpo antigo para assumir um novo corpo, nome, posição,
lugar, linguagem e espírito. Isso simboliza não apenas a rejeição do que é
velho, mas o fato de que você está construindo com base no velho e avançando
em direção ao novo. Já vi isso ser realizado de maneira muito bem-sucedida
quando as pessoas se reúnem e enterram as práticas antigas e toda a carga de
culpa associada a elas. O processo se transforma num momento de transição. Em
seu livro Passagens, Gail Sheeley escreve: "Como a lagosta, nós também
precisamos nos libertar de uma estrutura protetora a cada passagem de uma etapa
do crescimento para outra. Isso nos deixa expostos e vulneráveis, mas também
nos devolve a condição de embrião, que possibilita o crescimento e nos
capacita a nos esticar de maneiras antes desconhecidas".
7.
Abrace o novo caminho com espírito de aventura. O próprio processo de
transformação precisa se transformar. Em primeiro lugar, a organização
precisa ser centrada em leis naturais e princípios duradouros. Não se pode
transformar um local de trabalho politizado numa cultura de qualidade, a não
ser com base em princípios. Caso contrário não se terá o fundamento necessário
para dar suporte às iniciativas de reforma.
Os líderes centrados em princípios criam uma visão comum e procuram reduzir
as forças limitadoras. Os líderes centrados nos lucros freqüentemente tentam
aumentar as forças motrizes. Eles podem conseguir implementar melhorias temporárias,
mas elas criam tensões -- e essas tensões se transformam em novos problemas,
que por sua vez requerem novas forças motrizes. À medida que as pessoas ficam
cansadas e se tornam cínicas, o desempenho cai. O gerenciamento por impulsos
leva ao gerenciamento de crises.
8.
Esteja aberto a novas opções. As grandes transformações requerem um espírito
de aventura, já que você pisa em território desconhecido. Vamos começar
tendo em mente a meta final. O objetivo é que encontremos uma solução melhor
do que a que qualquer um de nós está propondo agora. Não sabemos qual será
essa meta final. É algo que precisamos encontrar juntos. O que buscamos é a
sinergia. O fato de mantermos um espírito aberto nos dará mais imunidade ao
pensamento à base de dicotomias, o pensamento ou-isso-ou-aquilo. Assim, da próxima
vez que surgir um problema entre nós, poderemos buscar algo melhor -- uma
terceira alternativa.
9.
Busque sinergia com outros interessados no processo. Outro dia eu estava fazendo
uma visita ao principal executivo de uma empresa, ajudando-o a preparar um
discurso importante no qual ele queria tratar dos "relacionamentos
deteriorantes" no interior de sua organização. Sugeri a ele que
relacionamentos tensos muitas vezes são sintomáticos de males maiores no
interior da cultura -- males tais como o espírito de contenção e o espírito
de antagonismo na maneira com que as pessoas resolvem os problemas.
Mostrei ao executivo como os hábitos de interdependência, empatia e sinergia
representam uma forma de lidar com questões difíceis e continuar mantendo bons
relacionamentos de trabalho. Ele disse: "Outro dia me encontrei com um
adversário e disse a ele: 'Vamos deixar que o espírito de sinergia seja o espírito
de nossa interação mútua'. Ele concordou, e nosso encontro teve bons
resultados! Fiquei muito satisfeito, mas agora já voltamos a nossas posições
antagônicas anteriores". Quando não existe confiança suficiente para uma
sinergia, pelo menos se pode chegar a um meio-termo respeitoso. Quando a
diversidade é apreciada surge lugar para a sinergia, e a sinergia cria
transformações. Quando as pessoas se sentem compreendidas e valorizadas, elas
podem transformar-se a seu próprio modo em vez de mudar seguindo alguma norma,
algum clone ou algum mandado.
10.
O fator-chave é o propósito transcendental. Hoje em dia vivemos tão
soterrados debaixo de interesses particulares e especiais que não
compartilhamos um propósito transcendental. Outro dia, quando me reuni com um
grupo de generais, observei que era muito mais difícil para eles afirmar sua
missão em tempos de paz do que em tempos de guerra. Eles são muito mais
centrados quando têm um inimigo a combater. Mas a maioria das batalhas
territoriais bloqueia as transformações, porque você fica preocupado demais
em proteger seus interesses especiais para poder ter o incentivo e a motivação
para se transformar. Quando você enxerga o mundo em termos de "nós contra
eles", você entra num processo de transações, não de transformações.
Os
líderes efetivos "transformam" pessoas e organizações. Promovem
transformações em suas mentes e seus corações, ampliam sua visão e sua
compreensão, esclarecem as metas, tornam os comportamentos congruentes com as
crenças, os princípios e os valores e implementam transformações
permanentes, que se autoperpetuam e cujo ímpeto é cada vez maior.
O americano Stephen R. Covey é autor dos livros Os Sete Hábitos
das Pessoas Muito Eficazes e Liderança Baseada em Princípios, co-autor do
livro First Things First -- Como Definir Prioridades num Mundo Sem Tempo e
presidente do Covey Leadership Center. Este artigo foi publicado originalmente
na revista Executive Excellence com o título "Keys to
Transformation".
Por Stephen
R. Covey, www.calidad.org
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