Wen-Do

Caminho das mulheres. Um trabalho de autodefesa pessoal voltado somente para mulheres. Surgiu no Canadá entre a década de 60 e 70 numa família que treinava vários tipos de artes marciais, um dia souberam que sua vizinha que estava sozinha em casa foi estuprada e agredida até a morte. Ficaram revoltados e começaram a pensar como poderia ser evitado esse tipo de caso de forma preventiva, foi então que começaram a desenvolver técnicas faceies para que as mulheres conseguissem usá-las. Apesar de existir características de artes marciais vai, além disso. Tem objetivos de resgatar a auto-estima e a confiança podendo ser usada para defender ataques ou abusos sexuais.
Nunca tínhamos ouvido falar, até que Trude, uma treinadora alemã, deu nossa primeira oficina. Essa oficina tinha um período de dois dias, que passou inicialmente estratégias básicas físicas e psicológicas. Existia uma parte do treino em que podíamos debater sobre alguns temas (violência, machismo, traumas e relatos de abuso), era bastante interessante por que podíamos ir alem do circulo de defesa, que é semelhante a outras lutas, mas questionarmos e falarmos de assuntos mais particulares. O sentimento de coletividade é bem forte, quanto o de liberdade sempre respeitando o limite de cada mulher.
Além das técnicas, ela ensinou estratégias contra de assedio nas ruas, pois como sabemos é muito forte no Brasil e na América do sul. Casos constantes, agressivos e escancarados, tornaram-se algo normal do cotidiano. E como resolver isto? Talvez o primeiro passo seja que você reconheça que estão te assediando, e que não é uma forma de elogiar ou agradar ou algo do tipo. É um ato de abuso.
Outras estratégias também, contra a violência institucionalizada e as mais freqüentes que são os agressores domésticos (familiares, companheiros e vizinhos), por isso a necessidade de que seja totalmente restrito para mulheres, pois em algum momento você pode usar em sua própria casa. Aos poucos começamos a ficar mais atentas e seguras, diante de situações que antes não veríamos solução.
O interessante do wendo é que ele é bem técnico, não necessitando de muita força sendo esta a maior dificuldade que as mulheres tem em fazer outras artes marciais. Os treinos são elaborados em cima de questões especificas nas quais sofrem as mulheres como: sexismo, homofobia, racismo, assédio e etc.
Depois de alguns meses tivemos contato com Andréa da Áustria, e treinamos todos os sábados durante um mês, aperfeiçoando as técnicas já aprendidas.
Após o termino percebeu-se a vontade de passar para outras mulheres o que havíamos aprendido. Onde no III Encontro Internacional Anarco Punk em Salvador, fizemos uma oficina de dois dias. As meninas gostaram pra caramba, mas depois avaliamos que precisávamos nos organizar melhor para que as práticas que ensinássemos tivessem mais eficiência.

Tour WenDo 2003

Em junho deste ano viajamos para a Europa com a intenção de solidificar o conhecimento sobre o WenDo. A idéia da viagem veio como um projeto para o que se aprendesse lá pudesse ser reproduzido aqui. E uma oportunidade lá pudesse para as mulheres da América do sul, depois de terem sido até então exploradas economicamente-socialmente pelas mulheres brancas e européias proporcionando algo de positivo. A organização foi através de projetos e concertos beneficentes de hardcore/punk. Ficamos dois meses treinando, dando entrevistas e palestras sobre a situação da mulher brasileira, principalmente baiana, organização de grupos, e a situação política-econômica do Brasil em várias cidades. Na maioria delas, organizadas por grupos de wendo de mulheres/lésbicas.
Os grupos de feministas são bem organizados e estruturados, mas também há mais facilidades para que isso aconteça. O governo dá subsídios para projetos sociais mesmo sendo grupos autônomos. E conseqüentemente maior facilidade para conseguir espaços para treinar, espaços alternativos, bares, projetos feito por mulheres e para mulheres/lébicas e imigrante tanto grupos autônomos quanto institucionais.
Entre os diversos trinos com temas diferentes, fizemos um workshop em Lê Pouy. É uma pequena vila no sul da França, se encontra desde no começo só participava treinadora da França, Alemanha, Áustria. Mas hoje em dia se encontra em acampamento mulher de todo o mundo, principalmente da Europa. São dez dias de intensos treinos e discussões (raiva, luta livre, intervenção, solidariedade, contra os ismos, etc) para trocar experiências e informações como cada grupo organiza em seus respectivos países.
No começo, sentíamos um pouco confusas com esses termos mulheres/lésbicas*, pois na verdade todas éramos mulheres, além das transgêneros (aí é outra discussão), e por que se expressar desta maneira se nos encontrávamos no meio feminista. O movimento lesbiano está bem relacionado ao meio feminista e para haver uma visibilidade de postura sempre falávamos bem claro para não excluir nenhuma mulher. As ações políticas feitas pelos grupos de mulheres/lésbicas são bem restritas a presença de homens, mas elas têm muitos argumentos para justificar essa necessidade. O que sentimos em alguns momentos um repudio que as pessoas comuns tinham em relação a imigrantes. E uma visão generalizada da mulher brasileira muito difundida no exterior, por sua sensualidade, erotismo e liberdade sexual. Muitas mulheres na América latina vão para Europa buscando melhores condições de vidas, mas sem informação são enganadas como podem viver neste país sem ser ILEGAIS, tornando-se escravas do mercado da prostituição, que por sinal é bem lucrativa para os "empresários".
Esta viagem foi muito importante por que podemos intercambiar com muitos grupos e indivíduos. Tivemos contato além do wendo com squats, movimento de resistência antiatômica, a história nazista de Nünberg (ALE), vokü (comida para os povos), food not bombs e grupos anti-racistas.
Agora temos muitos anseios a pôr em pratica do que vimos, principalmente em relação ao wendo. Começando a organizar o nosso grupo para depois passarmos para outras mulheres que desejam se autodefender, estimular forças que lhe são inerentes, mas desconhecidas.

"Se alguém estiver a lhe aborrecer peça-o para parar. Se ele não parar, destrua-o!"

*xCarolx é baiana e esteve na Europa junto com a xLucianax para aperfeiçoar o WenDo. Ela é uma das treinadoras do grupo wendo ssa e escreve junto com a xLux também o zine "Comodificação" (xcarolx@riseup.net)

 


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