Índice
Index
Introdução
A História da Pesquisa
Das Populações Pré-históricas
da Ilha de Santa Catarina
Terminologias e Convenções para
o Estudo da Arte Rupestre
As Possibilidades de Estudo do Material Rupestre
Análise Comparativa
Descrição do Material Rupestre da
Ilha de Santa Catarina
Análise e Documentação
Os Sítios de Arte Rupestre
Considerações Finais
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Existe a possibilidade de se associar a arte rupestre a um grupo ou grupos humanos. Pode ser feita através de paralelos com elementos gráficos de decoração em cerâmicas, cestarias e pinturas corporais. Conseguindo algum paralelo, analisa-se a produção científica direcionada à referente cultura e se possível faz-se prospecções em sítios dentro ou próximo das zonas de arte rupestre. Desta forma consegue-se inferir uma possível data ao sítio de arte rupestre quando esta bate com os elementos gráficos dos objetos de uma determinada cultura. Prous, com as pesquisas em Lagoa Santa, conseguiu inferir uma datação para a arte rupestre daquele local. Através de escavação do abrigo da Lapa Velha, descobriu algumas pinturas de quadrúpedes e alguns sinais geométricos soterrados em meio a camada arqueológica do sítio, à aproximadamente 1,50 m, sendo este nível datado de 3720 ± 120 AP. Considerou que as pinturas deveriam estar ao alcance de uma mão de um homem em pé e que a grosso modo a velocidade de sedimentação corresponde a 1 milênio por metro, atribuiu a data de 5000 AP. Os quadrúpedes que estavam em baixo da camada arqueológica mais profunda são sinais geométricos e que, logo acima, são quadrúpedes geométricos e, finalmente, na parte superior, há quadrúpedes mais detalhados. Isso sugeriu uma evolução de um estilo mais geométrico para um mais naturalista, de onde se produziu uma seriação estilística. No caso específico da Ilha de Santa Catarina os sítios de arte rupestre se encontram nas plataformas de diabásio dos costões das praias, relativamente longe dos sítios de ocupação. Menghin atribui a tradição costeira aos Tupiguarani, pelo fato de possuir um tema linear simples, estando este presente nas cerâmicas desta cultura. Já Prous contraria Menghin alegando que estes temas se repetem também nos ossos de baleia gravados encontrados em sambaquis, afirmando que, pelo fato da arte rupestre se manifestar também em Ilhas e sendo os Tupiguarani navegantes marítimos noviços, não teimariam em ir tão longe para gravar as rochas. Reforça que se basear em elementos geométricos tão elementares é muito arriscado, já que estão sujeitos a frequentes convergências (Prous, 1992:531). No caso de Valcamonica, Itália, a equipe da Cooperativa Archeologica Le Orme dell’Uomo produziu uma excelente seriação através de análise comparativa com elementos da cultura material, identificando os petroglifos do Paleolitico-Mesolítico, Neolítico, Idade do Cobre, Idade do Bronze, Idade do Ferro, Idade Romana e Idade Medieval Recente.2
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2 ARCÀ, Andrea; FOSSATI, Angelo; MARCHI, Elena & TOGNONI, Emanuela .Rupe Magna - La roccia incisa più grande delle Alpi. Sondrio: Edição do Consorzio per il Parco delle Incisioni Rupestri di Grosio, Ministério per i Bieni Culturali e Ambientali e Soprintendenza Archeologica della Lombardia: 1995. |
Discute-se a possibilidade da arte rupestre ter um valor religioso, mágico; uma magia simpática da caça ou culto estelar. (Prous, 1992: 539; Conkey, 1993: 96)
Com base na análise dos elementos e suas repetições, Gorhan verificou que o europeu pré-histórico projetou um pensamento estruturado nas paredes das grutas.
Outro importante dado a ser verificado quando se estuda
a arte rupestre, é a pintura corporal das culturas humanas que habitaram
o local em estudo. A pintura corporal está presente desde os povos
caçadores e coletores, porém, pode-se traçar algum
paralelo com culturas atuais e verificar os seus ancestrais. Nos indígenas
contemporâneos do Brasil, a pintura corporal expressa realidade social,
como identificação de clãs, classe de idade ou indicação
da atividade que vai ser desempenhada pelo portador. (Prous, 1992: 540)
Técnicas de Elaboração
Os petroglifos são inscrições feitas
com instrumentos de pedra. No caso da área estudada, temos duas
categorias:
Polimento: raspa-se a superfície do
corte de incisão até obter-se uma abrasão constante
e arredondada em forma de "U". No interior do sulco tem-se uma superfície
bem lisa e quase uniforme
Picoteamento: através de marteladas com
instrumento de pedra pontiagudo ou cônico, arranca-se pequenas lascas,
dando formato ao motivo através de pontos.
A Datação Direta
Teoricamente, a datação direta seria mais uma ferramenta na identificação de culturas ligadas à arte rupestre.
O método de datação direta baseia-se na teoria do processo de microregressão de cristais, que alega-se poder ser medido com um microscópio de 100X. Acredita-se em uma estabilidade relativa dos fenômenos das erosões microscópicas das fendas das gravações, e com base neste fenômeno pode-se medir a relativa antiguidade. Quem aplica este método acredita que as leis de formações regressivas são universais, aplicadas nos cristais macro e microscopicamente.
É não mais que uma versão atualizada (com mais medições e relações geométricas) dos métodos de Cernohouz e Sale (1966), onde media-se a retirada da suposta borda "fresca" do cristal da borda atual. Acrescenta-se ainda a proporção temporal, onde é possível saber o período de exposição do cristal (geralmente quartzo) trincado pela atividade de engrave.
Este método é criticado por vários cientistas mundialmente respeitados, como Züchner, Zilhão e Arcà. Alegam que há variações climáticas temporais que não são levadas em consideração. Não se pode acreditar que os processos de microerosão são padronizados, tem que se considerar que há "N" fatores que podem alterar o processo, de região para região.
Esse método, apelidado de "método cego"
foi aplicado nas gravuras paleoliticas do vale do Coa, em Portugal, atribuindo
uma antiguidade muito mais recente do que a defendida pelos pesquisadores
(6500 ± 2000 BP para Canada do Inferno). Além do mais, um
erro relativo de 2000 anos é muito grande para validar a datação.
Para saber mais sobre Datação Direta e método AMS:
ARCÀ, A. & FOSSATI, A. A question of Style, Rupestrian Archaeology vs Direct Dating?
ARCÀ, A. & FOSSATI, A. A
question of skin, AMS vs Rupestrian Archaeology?