Harry
Potter e a Filha do Auror
by
Talita Teixeira
Capítulo 11 ~ O que Harry ouviu
Já
era bastante tarde quando Madame Pomfrey liberou Harry da ala hospitalar. O
menino ainda não sentia muito bem os dedos, mas percebera que seu braço
lentamente voltava ao normal. Saiu pelos corredores vazios um pouco tonto, esbarrando
nas paredes. A única coisa que desejava era voltar para a torre da Grifinória.
Só então lembrou-se de algo extremamente importante.
Ele
não sabia a senha de entrada.
Segurando
a cabeça com as mãos, Harry ficou com muita raiva de si mesmo.
Se fosse pego nos corredores, iria certamente perder pontos para a Grifinória.
Estava, além disso, cansado e com sono. Como diabos não lembrara-se
de perguntar a Katie Bell, a nova monitora chefe da Grifinória, a senha
para entrar no salão comunal? De qualquer forma, talvez tivesse a sorte
de que Rony ou Hermione dessem pela falta dele e o fossem procurar pelos corredores.
Do contrário, teria que se enrodilhar em algum tapete por aí.
Harry
conhecia muito bem boa parte do imenso castelo que abrigava Hogwarts. Depois
que os gêmeos Weasley lhe presentearam com o Mapa do Maroto, então,
suas possibilidades de investigação aumentaram, pois o mapa mostrava
exatamente quem e onde estava qualquer pessoa dentro de Hogwarts. Muito útil
quando se queria evitar Fich ou Snape. O mapa, no entanto, estava em poder de
Dumbledore desde o final do quarto ano letivo, e Harry não via a mais
remota possibilidade de tê-lo de volta.
Caminhando
sorrateiramente pelos corredores, Harry procurava estar atento a qualquer movimento
suspeito. Não queria, tampouco, topar com Madame Nor-r-ra em algum canto.
Quando dobrou o corredor que levava a torre da Grifinória, seu coração
deu um grande e perigoso salto.
O
Barão Sangrento, que era o fantasma da Sonserina, atravessou a parede
brandindo sua espada. Seus grandes olhos arregalados fixaram-se nos de Harry,
e o garoto por pouco não saiu correndo. Um segundo depois, o Barão
Sangrento continuou o seu caminho e Harry respirou fundo antes de prosseguir.
"Se ainda fosse Nick...com certeza eu já saberia a senha...".
Nick
quase-sem-cabeça era o fantasma da Grifinória, e Harry achava
que não havia fantasma melhor em toda Hogwarts.
Harry
continuou caminhando lentamente, e então parou em frente ao quadro da
Mulher Gorda.
_
Suco de abóbora?
A
Mulher Gorda vestida de rosa agitava suavemente a cabeça.
_
Cavalo-Marinho? Comichão? Verruga de porco?
Cinco
minutos depois, Harry desistiu de tentar adivinhar a senha. Era melhor ficar
ali do lado de fora, esperando alguém abrir a porta, do que repetir palavras
sem sentido como um tolo. Sentou-se no chão duro e frio e ajeitou-se
o melhor que pode quando, subitamente, ouviu passos apressados que vinham das
escadas do corredor oposto ao que ele viera.
Engolindo em seco, maldisse a sua sorte inúmeras vezes antes de atinar o que deveria fazer, mas logo decidiu-se e mergulhou, veloz, atrás das tapeçarias suspensas que haviam próximas ao lugar onde ele esteve sentado.
Procurou
ficar muito quieto, apesar do seu coração dar pulos revoltados,
e espiou por entre as tapeçarias.
Os passos avolumaram-se, aproximando-se cada vez mais, até que Harry
pode observar, muito claramente, a silhueta de uma mulher magra passando ao
lado da tapeçaria onde ele estava escondido. Não era a profª.
McGonagall, tampouco Sibila Trelawney. Harry ousou colocar a cabeça um
tanto mais para fora da tapeçaria e então pode ver que se tratava
da nova professora que Dumbledore contratara.
Luna
Cortazar dirigia-se às escadarias que levavam a um dos terraços
do castelo. Harry considerou, por um minuto ou menos, o que a professora poderia
estar fazendo aquela hora, zanzando pelos corredores. Teria algum encontro,
ou saíra apenas para apanhar um ar? Mais uma vez, sua curiosidade o venceu
e ele a seguiu.
Muito cautelosamente, Harry chegou às longas escadarias circulares e
subiu degrau por degrau sem fazer ruído algum.
O
terraço próximo a torre da Grifinória era um dos lugares
onde eles tinham aulas de Astronomia. Harry conhecia-o muito bem, mas não
tinha boas recordações do local: fora para ali que ele e Hermione
levaram Norberto - o dragão que Hagrid ganhara de Quirrel num bar - há
quase cinco anos atrás, e o entregaram aos amigos de Carlinhos, o irmão
de Rony que tratava dragões na Romênia. Fora ali, também,
que eles esqueceram a capa da invisibilidade e onde Filch os apanhara para sua
primeira detenção, dada a cumprir com Neville e Draco na Floresta
Proibida.
Agora, o terraço estava soturnamente silencioso. Harry chegou ao topo
da escada e deitou-se no chão, nos degraus mesmo. Sabia que poderia se
esconder nas sombras e espiar sem ser visto. A noite estava escura, e densas
nuvens ocultavam uma grande lua cheia no céu.
No
entanto, quem quer que a professora fosse encontrar, já estava lá
esperando por ela.
Harry
ergueu-se um pouquinho e pode ver alguém escorado no parapeito do terraço.
De
repente, as nuvens se abriram e a claridade da lua focou um homem magro, vestido
de negro, com uma longa capa que se enfunava às suas costas.
_
Professor Snape! Usted é sempre assim tão pontual?! - Luna tentava
dar um tom divertido a sua voz, mas Harry reparou que ela tremia um pouco.
Snape
virou-se para a nova professora e a encarou com aqueles olhos frios e profundamente
negros.
_
Diga logo o que tem para dizer, Srta. Cortazar.
Sua
voz era fria e cortante.
Luna
avançou dois passos na direção de Snape, mas estacou, temerosa,
e falou decidida:
_
Você não precisava agir daquela maneira, Severo. Dumbledore....como
você pode dizer todas aquelas coisas na frente
de Dumbledore?
Snape
virou-se novamente para o parapeito do terraço. Luna ficou parada por
um instante e então avançou na direção do professor.
Harry acompanhava tudo sem sequer piscar, e achou que ela fosse jogá-lo
do terraço. Ela parou às costas do professor e então o
puxou pelos ombros, forçando-o a se virar e encará-la:
_
Diga porquê, diga porquê! - Luna sacudia Snape pelos ombros, e Harry
não precisava ter muita experiência com garotas para reconhecer
uma totalmente descontrolada. Snape permaneceu calado e, quando a professora
finalmente o soltou e recuou para trás, ele falou, numa voz repleta de
frio desdém:
_
Porque a senhorita não tem competência para ser professora em Hogwarts.
Harry
arregalou bem os olhos e ficou com muita pena da nova professora, que deu um
gritinho abafado e levou as mãos a boca. Seu corpo tremia todo e, por
um instante, Harry achou que ela fosse desmaiar; balbuciava palavras em outra
língua que Harry não compreendia. Subitamente, ela virou-se de
costas para Snape e Harry abaixou-se rápido. Quando voltou a olhar, ela
já estava virada para o professor novamente:
_
Pois saiba você...- Harry percebeu que ela controlava o choro - ....saiba
você que eu tenho muita competência para estar em Hogwarts! - e,
para o horror de Harry, ela virou-se e encaminhou-se decidida para a escada.
Harry desejou ardentemente que sua capa da invisibilidade estivesse ali. Porém,
se ficasse, estaria perdido.
Pulando
os degraus de três em três, ele alcançou o pé da escada
circular e correu para a tapeçaria.
A
professora Luna, pelo que Harry deduziu, descera com muita dificuldade a escadaria,
pois só passou por ele no corredor minutos depois. Seu rosto estava lívido
pelas lágrimas, e ela soluçava tanto que Harry sentiu vontade
de chorar também. Depois que ela passou, o menino sentiu muita raiva
por Snape ter feito uma mulher tão bonita quanto aquela chorar daquela
maneira. Naturalmente, a nova professora não sabia da terrível
fama de tirano que Snape possuía.
Alguns
minutos depois, o quadro que dava acesso a sala comunal da Grifinória
abriu-se e Harry pode ver a cabeça de Rony espiar para fora:
_
Psiu, Rony...! - Harry chamou, baixinho - ...o corredor está livre?
Rony
viu o amigo e espiou para ambos os lados do corredor:
_
Sim... venha!
Harry
saiu de seu esconderijo atrás das tapeçarias e, aliviado, entrou
finalmente na passagem secreta que levava a sala comunal da Grifinória.
Olhou com carinho para as poltronas fofas e as mesas de estudo da sala comunal
onde passara tantos e tantos momentos agradáveis.
_
Onde você estava? A Mulher Gorda nem queria mais abrir a passagem para
mim!
Harry
jogou-se numa poltrona e fez um sinal para que Rony se sentasse. Nesse instante,
Hermione saía do dormitório feminino fechando o robe:
_
Que cara é essa? - disse Hermione, sentando-se em outra poltrona.
Certificando-se
de que a sala comunal da Grifinória estava vazia, Harry contou aos amigos
o que ouvira. Rony rilhava os dentes com raiva, enquanto Hermione parecia feliz
e muito convencida:
_
Então é isso...muito simples!
Harry
e Rony olharam desconfiados para a menina.
_
O que é muito simples?
_
Ela está aqui por algum favor! Se Snape falou que ela não tem
competência, então deve estar certo, pois Snape é um professor
muito competente!
Rony
parecia que havia sido estuporado:
_
Como? Eu não estou ouvindo bem? Desde quando você virou fã
do Snape, Srta. Sabe-tudo Granger?!
Hermione
virou-se para Rony com os olhos em fogo:
_
Quer você queira, quer não, ele é um professor competente,
e, além de tudo, Dumbledore confia nele! E eu não o estou defendendo,
se você quer saber!
Harry
achou que Hermione tinha alguma razão.
_
No entanto, Mione...- Harry começou - ele também foi contra a
nomeação de Lupin....
_
Sim, eu sei disso - Hermione prosseguiu -, mas você sabe que ele foi o
primeiro que desconfiou de Quirrel, antes mesmo de Dumbledore!
Rony
agitava a cabeça e pediu que os amigos parassem de falar:
_
Gente...gente...vocês não estão desconfiando que a professora
Luna seja ruim, não é? Isto é, que seja partidária
de Você-sabe-quem e dos Comensais da Morte, não é? Não
é?
Hermione
limitou-se a lançar um olhar feroz a Rony; Harry deu de ombros: não
sabia o que pensar.
_
Mas não....- Rony balbuciava, incrédulo - ...não...ela
é tão bonita....
Foi
demais para Hermione, que se ergueu e, sem sequer olhar para trás, caminhou
com passos decididos até o dormitório feminino.
_ O que deu nela? - Rony ainda tentava entender.
No
café da manhã do dia seguinte, o humor de Hermione tinha, decididamente,
ficado para trás. Ela nem olhava para eles, e preferiu ir sentar-se com
Lilá Brown, que agora estava bastante sozinha, pois Parvati Patil e Simas
Finnigan andavam sempre juntos.
_
Espero que tenhamos hoje mesmo aula de Astronomia! - Rony esfregava as mãos,
excitado.
Harry
também queria que tivessem logo logo aula de Astronomia, mas quando Katie
Bell deixou a grade de horários com eles, Rony murchou. Teriam aula com
a nova professora somente nas quintas-feiras à noite.
Subitamente,
Rony deu grito:
_
Harry, Harry! Veja! Quinta-feira é apenas a aula prática! Teremos
dois períodos com ela na quarta a tarde e um na sexta pela manhã!
Harry
também ficou contente. Olhou distraído para o lado de Hermione
e viu que a amiga atirara o horário com força dentro da mochila.
_
Oi Harry, oi! - uma vozinha aguda veio da outra ponta da mesa. Colin Creevey
o observava e esperava, angustiado, por um aceno seu.
_
Oi, Colin! - Harry falou, sem entusiasmo - Oi, Denis!
E
então seus olhos correram o salão e ele encontrou Cho. A garota
retribuiu o olhar com um sorriso tímido. Harry sentiu as bochechas arderem.
Rony cutucou-o, tirando-o da atmosfera de sonho:
_ Olha como ela está bonita...
Harry
observou a nova professora de Astronomia e surpreendeu-se.
Luna
trajava vestes verde-água que deixavam seus ombros a mostra. Seus longos
cabelos caiam pelos lados como raízes escuras. Era realmente uma mulher
muito bela; Harry achou, porém, que ela tinha uma expressão muito
triste no rosto. Rony parecia enfeitiçado:
_
Puxa...será que ela é veela?
_
Claro que não, seu bobo! - Hermione aproximou-se deles por trás
e ouvira o comentário do amigo - veelas são nórdicas, e
ela é espanhola!
Foi
a vez de Harry surpreender-se:
_
Como é que você sabe disso?
Hermione
parecia muito cheia de si quando respondeu:
_
Quando ela invadiu a nossa cabine, eu deduzi, pelo sotaque, que ela não
era daqui. Além disso, o nome e o sobrenome dela são espanhóis!
- Harry odiava quando Hermione agia e falava daquela maneira.
_
Obrigado pela informação, Mione...- Harry sorriu para a amiga
e, olhando significativamente para Rony _ ...ouvi dizer que os espanhóis
são um povo de sangue muito quente .... você sabe, tem as touradas
e tudo o mais...
Hermione fulminou-o com o olhar e Rony continuou, para irritá-la ainda
mais:
_
Hum...essa nova professora parece ser mesmo muito quente....
Hermione
olhou para os dois com muita raiva:
_
Pudera, vestida dessa maneira! - e virou-se furiosamente para sair.
_
E você está com ciúmes dela! - Rony ainda gritou enquanto
ela dava as costas para os dois. - O que temos agora, Harry ?
Harry
consultou a tabela de horários:
_
Hum...dois períodos de Adivinhação e depois....Feitiços.
Depois do almoço teremos dois períodos de Herbologia e dois de
Transfiguração....com a Corvinal.....
Harry sentiu seu coração bater estranhamente ao ler "Corvinal", e só então lembrou-se que Cho estava um ano mais adiantada que ele.
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