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Inteligência à prova

Quem nunca precisou se debruçar sobre um teste de QI (quociente de inteligência) vai achar a informação esdrúxula, mas o resultado desse tipo de prova pode salvar sua vida -literalmente, se você for um criminoso norte-americano. Desde junho do ano passado (2002), uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos proíbe a execução dos condenados à morte que fizerem 70 ou menos pontos no teste, valor considerado diagnóstico de retardo mental. O que os magistrados de Washington não sabem, porém, é que o desempenho médio nos testes de QI tem aumentado até 20 pontos por geração no mundo todo, de forma que a pessoa não muito esperta, mas normal, de ontem poderia facilmente ser considerada o deficiente mental de amanhã. Esse tipo de paradoxo está levando psicólogos, educadores e cientistas sociais a questionar cada vez mais o que o tal quociente de inteligência é realmente capaz de medir e sua relação com o conceito (cada vez mais fugidio) de inteligência.

O próprio número que costuma ser associado ao desempenho num teste de QI é mais ambíguo do que parece. Surgiram diversos tipos de teste desde que o psicólogo francês Alfred Binet (1857-1911) idealizou o primeiro deles, em 1905. O objetivo inicial era descobrir quais crianças tinham capacidades mentais abaixo do normal e precisariam de educação especial. Com o passar do tempo, foi definida uma escala comparativa de desempenho, que sempre leva em conta a faixa etária de quem faz os testes. O desempenho da média de um grupo da mesma idade é sempre 100, enquanto um desempenho igual ou menor a 70 pontos indicaria deficiência mental.

Muitos psicólogos postulam que, a partir dos testes, é possível chegar ao chamado "fator g", uma medida de inteligência pura que não dependeria do grau de treinamento ou da escolaridade da pessoa testada, mas representaria a faculdade mental responsável pela maior parte de um bom desempenho no teste ou em outras atividades. O grande problema dessa estratégia é que, conforme uma série de estudos vêm demonstrando desde os anos 80, os desempenhos têm melhorado em cerca de 15 a 20 pontos de geração em geração e na maioria dos países do mundo.

No centro da controvérsia que essa descoberta intrigante tem alimentado está o americano naturalizado neozelandês James Flynn, 69, do Departamento de Estudos Políticos da Universidade de Otago.  Ele é o descobridor do bizarro aumento nas pontuações de QI, batizado de "efeito Flynn". Sob todos os aspectos, Flynn é um estranho no ninho: "Acredito que muitos problemas requerem uma combinação de filosofia e ciência social, e isso é especialmente verdadeiro na relação entre QI e raça", afirma. Diversos estudos nos EUA mostravam uma diferença média de 15 pontos entre o QI de brancos e o de negros americanos, e isso motivou Flynn a tentar achar buracos nesses dados, que pareciam condenar os cidadãos de origem africana a um status geneticamente subalterno.

Flynn não achou o que procurava, mas acabou tropeçando num dado ainda mais precioso: pessoas que passavam raspando na média (100 pontos) nos anos 70 faziam 108 pontos nos testes mais antigos. "Claramente, os americanos tinham ganhado oito pontos de QI num período de 25 anos", afirma. O pesquisador neozelandês foi em busca dos dados em diversos países e revelou uma surpresa ainda maior: um aumento por volta de 20 pontos em cada geração de 30 anos em 20 países (hoje, Flynn tem dados de 23). A lista inclui Holanda, Bélgica, França, Noruega, Argentina, Israel, Quênia, Brasil, China e todos os países de língua inglesa.

Para Flynn, as implicações da maleabilidade do QI levam a repensar o tal "fator g" e o próprio conceito de inteligência. É isso que o uniu ao economista americano William Dickens, da Brookings Institution, em Washington. Dickens contou à Folha que se envolveu no debate sobre os testes de QI durante a controvérsia que cercou o lançamento do livro "The Bell Curve" (A Curva do Sino), de Richard Herrnstein e Charles Murray, em 1994.

Apresentando as estatísticas que mostravam o atraso dos negros nos testes de QI, o livro classificava de inútil toda a política de cotas educacionais e ação afirmativa para afro-americanos. "Escrevi um artigo refutando o livro, e meu editor pediu comentários de outros pesquisadores para publicá-los junto com o meu texto. Sugeri o nome de Flynn, e começamos a nos corresponder", afirma Dickens.

O modelo que a dupla está desenvolvendo para explicar os ganhos maciços de QI leva em conta principalmente as mudanças sociais desde o começo do século 20. Flynn sugere que o aumento da escolaridade nas nações industrializadas teve algo a ver com isso até os anos 50, mas que o efeito desse processo deve ter cessado, porque os testes que medem o conteúdo aprendido na escola tiveram um aumento desprezível na última geração. Por outro lado, o fator por trás do desempenho batendo no teto pode estar relacionado ao aumento de ocupações que exigem mais iniciativas, a famílias menores que dão mais atenção e incentivo aos questionamentos infantis e ao aumento do lazer.

"As várias avaliações são usadas dependendo do que você quer medir. Nem todos os pesquisadores acham o teste útil", diz Celso Goyos, do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos (SP), que trabalha com crianças que têm dificuldades de aprendizado. A influência do ambiente nos resultados é uma tese com a qual a maioria dos especialistas concorda. De acordo com Irai Cristina Boccato Alves, 53, do Instituto de Psicologia da USP, "é preciso levar em conta a vida da pessoa e a sua condição física e social", pondera a psicóloga. "A criança, por exemplo, tem de ser avisada previamente de que vai fazer o teste, porque isso influencia no tempo de reação dela às questões", diz Olga Rolim, do Departamento de Psicologia da Unesp de Bauru (SP). Dickens diz não estar convencido de que não houve algum aumento real nos níveis de inteligência: "Temos visto um progresso enorme em inúmeros campos num período muito curto. Mas, se nosso modelo está certo, o conceito do 'fator g' terá de ser profundamente questionado. Nosso modelo mostra que os resultados podem ter mais a ver com a exigência das habilidades por parte do ambiente do que com qualquer capacidade cognitiva inata", diz o economista. "Eu acredito que há ganhos cognitivos reais", pondera Flynn. "Mas eles são surpreendentemente compartimentalizados! Não dá para simplesmente descrevê-los como ganhos de inteligência”.O neurocirurgião do Hospital das Clínicas da USP Joel Augusto Ribeiro Teixeira, 35, presidente da Mensa Brasil (sociedade internacional que reúne pessoas de QI alto), concorda que a escolaridade e outros fatores externos podem tornar o índice maleável, mas defende a validade dos testes. "É o único instrumento de medição que nós temos. Todo o resto é subjetivo", afirma. Para o neurocirurgião, há uma tendência da sociedade de encarar a inteligência como tabu. "A sociedade, inclusive os psicólogos, não quer comparar as pessoas. No fundo, todos querem ser considerados inteligentes", diz.

Reinaldo José Lopes - Free-lance para a Folha de S.Paulo - Caderno Sinapse

 


Na onda do conhecimento

 

A importância do conhecimento não é uma descoberta nova, pois ao longo da história mundial, poderemos constatar que desde épocas remotas, os homens que se encontravam na vanguarda do conhecimento, destacavam-se dos demais. Não era portanto desconhecido, o fato de que possuindo conhecimento, o triunfo poderia ser mais facilmente alcançado. O grande problema, foi que durante muitos séculos, o acesso ao conhecimento ficou restrito a privilegiados, que não raro, utilizaram- no como meio de domínio e opressão. 

O conhecimento foi, é, e sempre será uma trunfo competitivo de extremo poder, sendo considerado mais precioso do que os recursos naturais, indústrias poderosas ou até mesmo mais valioso do que o próprio dinheiro. 

Há, porém, que atentar para a importância não só da aquisição, mas também para a necessidade da criação e transferência, lembrando que conhecimento sem ação é nulo, ou melhor, nem pode ser considerado como tal.

Querido leitor, a excelência da aptidão mental está manifesta em toda parte, e com certeza não dá para ficarmos alheios, caso contrário corremos o sério risco, de sermos excluídos do contexto. Que tal então, navegarmos na Onda do Conhecimento?  

O que é afinal Conhecimento?

Penrose (1959) já alertava para as dificuldades de abordagem do tema: "Os economistas..... descobriram que o tema do conhecimento é demasiadamente escorregadio para ser abordado" 

Sem sombra de dúvida, não é tarefa das mais fáceis defini-lo, tendo em vista sua característica de intangibilidade. Entretanto, sem tecer outros comentários, apresentaremos a seguir definições de estudiosos sobre o tema: 

  • Segundo Platão, filósofo da Grécia Antiga. "conhecimento é a crença verdadeiramente justificada". (apud in Nonaka e Takeuchi , 1997 : 24)
  • Para Nonaka e Takeuchi (1997) "O conhecimento é um processo humano dinâmico de justificar a crença pessoal com relação à verdade"
  • Sveiby (1998) baseado em Michael Polanyi e Ludwig Wittgenstein define conhecimento como "uma capacidade de agir".
  • Para os japoneses (apud in Nonaka e Takeuchi, 1997 : 33) "conhecimento significa sabedoria adquirida a partir da perspectiva da personalidade como um todo".
  • Dado, Informação, Conhecimento, Saber. Afinal, qual é a diferença entre eles?

Com a crescente disseminação da literatura acerca do tema , é muito comum haver uma certa confusão com estas palavras que acabam sendo usadas como sinônimos. Elas devem ser vistas como entidades distintas: 

Segundo Nonaka e Takeuchi (1997) a informação é um meio ou material necessário para extrair e construir o conhecimento, constituindo-se em um fluxo de mensagens. Assim, o conhecimento é criado por esse fluxo de informações, porém ancorado nas crenças e compromissos de seu detentor e está diretamente relacionado à ação humana : é sempre conhecimento com algum fim. 

Segundo Sveiby (1998) na teoria da informação e na ciência da computação temos dois fenômenos distintos: a informação, em forma de números, símbolos, fotos ou palavras exibidas em uma tela, e o conhecimento, que é o que a informação passa a ser depois de interpretada. O autor reconhece a noção radical de que "a informação é desprovida de significado e vale pouco", acrescentando que o valor não está na informação armazenada, mas na criação do conhecimento de que ela pode fazer parte.

Resumidamente faremos uma distinção entre os termos mencionados: 

Dado é um registro a respeito de um determinado evento (um sinal) para o sistema

Informação é um conjunto de dados com um determinado significado para o sistema

Conhecimento é a informação que, devidamente tratada, muda o comportamento do sistema.

Saber é um conjunto de conhecimentos a respeito de um determinado tema utilizado para a resolução de problemas no sistema.

Este surpreendente Conhecimento!

"...O pensamento é volúvel, intangível, indestrutível. Está no ar que respiramos. Na época da arquitetura, o pensamento se tornou uma montanha, e se apoderava audaciosamente de uma era ou de um lugar. Agora, torna-se um bando de pássaros que se espalham pelos quatro ventos do paraíso, e ocupam ao mesmo tempo todos os pontos do ar e do espaço...É possível demolir uma pilha. Mas como destruir a onipresença?" (Victor Hugo)

O conhecimento, possui características tão maravilhosas e surpreendentes que, ao pensarmos sobre elas, naturalmente sentimos a grandeza da criação divina: 

  • É intangível, impalpável, porém sua existência é tão poderosa, que transforma pessoas, organizações e países, deixando marcas indeléveis
  • Existe independente de espaço, e por isto, o fato de o adquirirmos, não reduz absolutamente a nossa capacidade de obter mais. 
  • Curiosamente, quanto mais usamos, ao invés de se deteriorar, mais robusto fica
  • É mágico, pois é fonte inesgotável, e mesmo abusando de seu uso, ainda assim, ele nunca se esgota 
  • Não se adapta aos lançamentos contábeis, pois não se deprecia com o uso, ao contrário, se valoriza
  • É extremamente altruísta e fiel, pois podemos doá-lo sem limites, e ainda assim, ele jamais nos deixará. 
  • É volátil e onipresente, adentrando em fronteiras, onde o tangível não pode passar e pode estar também em mais de um lugar ao mesmo tempo.
  • É valorizado com a abundância, contrariando os ensinamentos de economia, que afirmam que o valor deriva da escassez 
  • É justo, não reconhecendo e não premiando os que guardam o conhecimento só para si 

Querido leitor, este tal conhecimento, não parece mesmo algo de outro mundo? Porém, lembremos, que por sua característica de obsolescência, é imprescindível que uma vez iniciado o processo, ele seja interminável e atualizado continuamente.

Quão poderoso és, Senhor Conhecimento!

Há muito se enfatiza a importância e o poder do conhecimento: 

Nos disse Victor Hugo (romancista e poeta francês) que uma idéia oportuna é mais importante que todo o poder armado do mundo.

Donald A Laird (1959 : 1) alertou-nos que "o grande desenvolvimento dos recursos materiais corria paralelo à lamentável negligência quanto aos recursos mentais do homem". E acrescentou : "O pensamento humano! Eis a verdadeira fonte de toda a energia e de todo o poder social, econômico, industrial e individual!

Napoleon Hill já na década de 30, enfatizava que um cérebro competente, vendido eficazmente representava uma forma muito mais desejável do capital. Segundo ele (1997 : 50) o poder humano é o conhecimento organizado que se expressa por meio de esforços inteligentes.

Peter Drucker ( 1993) por volta de 1960 cunhou os termos "trabalho do conhecimento" ou "trabalhador do conhecimento" e afirmou que na nova economia, o conhecimento não é apenas mais um recurso ao lado dos tradicionais fatores de produção – trabalho, capital e terra, mas sim atualmente, o único recurso significativo. Afirmou que o fato do conhecimento ter se tornado o recurso, muito mais do que apenas um recurso, é o que o torna singular na nova sociedade.

Toffler (apud in Nonaka e Takeuchi, 1997 : 5) afirma que o conhecimento é a fonte de poder da mais alta qualidade e a chave para a futura mudança de poder. Segundo o autor, o conhecimento passou de auxiliar do poder monetário e da força física à sua própria essência e é por isso que a batalha pelo controle do conhecimento e pelos meios de comunicação, está se acirrando no mundo inteiro. Ele acredita que o conhecimento é o substituto definitivo de outros recursos.

Quinn (1992) nos diz que o poder econômico e de produção de uma empresa moderna, está mais em suas capacidades intelectuais e de serviço, do que em seus ativos imobilizados, como terra, instalações e equipamentos.

Brown (1992) argumentou que as organizações do futuro serão refinarias do conhecimento.

Segundo Stewart (1998) o conhecimento tornou-se um recurso econômico proeminente, mais importante do que a matéria-prima e mais importante muitas vezes, que o dinheiro.

Até o Papa João Paulo II (apud in Stweart, 1998: 11) reconheceu a importância do conhecimento, escrevendo em sua encíclica Centesimus Annus (1991) "Se antes a terra, e depois o capital, eram os fatores decisivos da produção...hoje, o fator decisivo é cada vez mais o homem em si, ou seja, seu conhecimento". 

Tipos de Conhecimento

Nonaka e Takeuchi (1997) classificam dois tipos de conhecimento: 

Tácito - é muito difícil de ser expresso por meio de palavras e é adquirido com a experiência, de maneira prática.. Segundo os autores, o aprendizado mais poderoso vem da experiência direta. É subjetivo, prático, análogo.

Segundo Stweart (1998) a maior virtude do conhecimento tácito é que ele é automático, exigindo pouco ou nenhum tempo ou reflexão. Porém, ele pode apresentar três problemas:

  • pode estar errado; 
  • é difícil modificá-lo; 
  • é difícil comunicá-lo.

Explícito- pode ser facilmente expresso em palavras, números e pode ser prontamente transmitido entre pessoas, formalmente e sistematicamente. Envolve o conhecimento de fatos . É objetivo, teórico, digital.

Conhecimento tácito Conhecimento explícito
Subjetivo Objetivo
Da experiência (corpo) Da racionalidade (mente)
Simultâneo (aqui e agora) Sequencial (lá e então)
Análogo (prática) Digital (teoria)

Fonte: Adaptado de Nonaka e Takeuchi (1997 : 67) 
 

"No princípio, criou Deus os céus e a terra...e criou ... o homem à sua imagem... fez brotar ... a árvore do conhecimento..." 

Tudo começou com um ato de criação. Deus criou os céus e a terra e tudo mais e criou o homem e lhe deu inteligência para continuar criando.

A criação do novo conhecimento começa pelo indivíduo, como observa Howard (1993) : "A criação do novo conhecimento.. na verdade, trata-se de uma atividade subjetiva e extremamente pessoal". 

O conhecimento é criado por pessoas e portanto uma organização necessita de gente para criar. Entretanto, é imprescindível que as empresas ofereçam um contexto apropriado para geração do conhecimento, pois nenhuma das mais modernas práticas de criação funcionará, a não ser que as organizações criem um clima favorável para tal.

Uma organização empresarial do mundo moderno em sintonia com a era do conhecimento deve desenvolver estruturas voltadas para o conhecimento e equipar-se com capacidades estratégicas para gerar o conhecimento de forma contínua. 

Segundo Nonaka e Takeuchi (1997) a criação e acúmulo de conhecimento em nível organizacional ocorre por meio de um processo o qual eles denominam de "espiral do conhecimento", descrito através de cinco condições capacitadoras

Intenção: é a aspiração de uma organização às suas metas. Atua como um elemento regulador no processo de geração do conhecimento. Para criar conhecimento, as organizações devem estimular o compromisso de seus empregados, formulando e propondo uma intenção organizacional.

Autonomia: todos os membros de uma organização devem agir de forma autônoma conforme as circunstâncias, pois desta maneira a organização amplia a chance de introduzir oportunidades inesperadas. Idéias originais emanam de indivíduos autônomos, difundem-se dentro da equipe, transformando-se então em idéias organizacionais.

Flutuação e Caos Criativo: a flutuação trata-se de uma ordem cujo padrão é difícil de prever inicialmente. Quando é introduzida em uma organização, seus membros enfrentam um "colapso" de rotinas, hábitos ou estruturas cognitivas e têm a oportunidade de reconsiderar o pensamento e perspectivas fundamentais. Esse processo contínuo de questionamento e reconsideração estimula a criação de conhecimento organizacional. Alguns chamam este fenômeno de criação da "ordem a partir do caos".

O caos criativo é gerado naturalmente quando a organização enfrenta uma crise real ou pode ser gerado intencionalmente quando os líderes tentam evocar um "sentido de crise".

Redundância: é a existência de informações que transcendem as exigências operacionais imediatas dos membros da organização. O compartilhamento de informações redundantes promove o compartilhamento do conhecimento tácito, pois os indivíduos conseguem sentir o que os outros estão tentando expressar. Deve-se estabelecer uma relação de compromisso entre a redundância e a eficiência no processamento de informações. Uma forma objetiva é a proposta pelos sistemas de informação que criam verdadeiros mapas para o conhecimento organizacional.

Variedade de Requisitos: pode ser obtida de diferentes formas, organizacionalmente e no desenvolvimento dos recursos humanos. O importante é promover a interdisciplinaridade e multidisciplinaridade na resolução dos problemas implícitos ao desenrolar do processo.

Criado o Conhecimento, será que é simples transferi-lo?

Não, não é nada simples, porque na verdade temos dificuldade para exprimir com fidelidade aquilo que pensamos, até porque , existem conceitos muito complexos para serem expressos por meio de palavras. Por esta razão utilizamos também os gestos corporais como um sistema de comunicação. 

De acordo com Sveiby (1998) a transferência de conhecimento se dá através de duas maneiras: por meio da informação e/ou da tradição.

Informação: em muitos aspectos a informação é ideal para transmitir o conhecimento explícito: é rápida, segura e independente de sua origem. Porém, o risco é que o transmissor ou interlocutor atribua à informação algum tipo de significado de acordo com seu modelo mental de mundo. Cada interpretação é única para cada indivíduo. Portanto, a informação é um método não confiável de transferência de conhecimento, quando tratada a nível interpessoal, o que não ocorre quando articulada em um sistema computacional, por tratar-se de um consenso organizacional .

Tradição: segundo Polanyi (1966) é o processo no qual o aprendiz recria pessoalmente as habilidades do mestre. 

Consiste na transmissão de conhecimento do mestre para o aprendiz. Os mestres mostram aos aprendizes como se fazem as coisas, estes tentam imitá-los e, depois, os mestres julgam seus esforços. Gradativamente, os aprendizes aprendem a aplicar sozinhos as regras e adquirem mais proficiência.

Já está comprovado que a competência é transmitida com mais eficácia quando o receptor participa do processo, portanto este mecanismo continua sendo a melhor maneira de transferir competência. 

Donald Laird ( 1959) já dizia que "é preciso fazer, para aprender. Quem faz aprende."
 

Informação Tradição

Transfere informações articuladas Transfere capacidades articuladas e não articuladas 

Independe do Indivíduo Dependente e independente

Estática Dinâmica 

Rápida Lenta

Codificada Não codificada

Fácil distribuição em massa Difícil distribuição em massa 

Fonte: Sveiby (1998 – pg 54)

Nonaka e Takeuchi (1997) postularam quatro modos diferentes de conversão do conhecimento ( interação entre conhecimento tácito e explícito ): 

SOCIALIZAÇÃO (tácito para tácito): é o lugar onde o processo de criação inicia. Através do compartilhamento das experiências, da observação, imitação e prática . As experiências face-a-face são a chave para a transferência do conhecimento tácito. 

EXTERNALIZAÇÃO( tácito para explícito): é mais conscientemente construída. Modelos mentais individuais e habilidades são transformados em conceitos comuns. Dois processos ocorrem na interação: compartilhamento dos modelos mentais e a análise. O diálogo é a chave para tal conversão e o uso de metáforas é uma habilidade requerida. 

COMBINAÇÃO (explícito para explícito): É o processo de sistematização de conceitos existentes em um novo sistema de conhecimentos. A combinação de um novo conhecimento explícito com uma informação e conhecimentos pré existentes gera e sistematiza o conhecimento explícito por toda a organização..

INTERNALIZAÇÃO (explícito para tácito): consiste basicamente no exercício continuado que enfatiza e treina certos modelos/padrões. Focaliza o treino com mestres experientes e colegas. Em vez de ensinar baseado em análise, ensina pelo contínuo processo de auto aprimoramento., onde a ativa participação é enfatizada. 

Para ser considerado Conhecimento, tem que fazer diferença...caso contrário foi apenas uma tarefa inútil

Aprender, simplesmente por aprender, sem direcionar o aprendizado para um fim útil, é uma tarefa inglória, pois não faz diferença para alguém, para alguma organização e muito menos para o mundo. Por isto, conhecimento pressupõe ação.

Napoleon Hill (1997) há muito tempo nos afirmou que todos os triunfos são baseados sobre o poder e que o poder é fruto do conhecimento organizado e expressado em termos de AÇÃO. (grifo do autor)

Muitas correntes filosóficas (apud in Nonaka e Takeuchi , 1997 : 29 a 31) contrariaram o dualismo cartesiano entre mente e corpo, enfatizando a importância de alguma forma de interação entre o eu e o mundo externo na busca do conhecimento.. 

Segundo Nonaka e Takeuchi (1997) a base das empresas japonesas bem-sucedidas está na compreensão de conhecimento, que vê o corpo e a mente como um todo. 

Segundo Martin Heidegger (corrente fenomenológica) somos um "ser no mundo" "relacionados com alguma coisa", como "produzir algo" ou "fazer algo". Para ele há um relacionamento íntimo entre o conhecimento e a ação.

O movimento filosófico e literário conhecido como "existencialismo" enfatiza que se quisermos conhecer o mundo, temos de agir rumo a um fim. Jean –Paul Sartre, existencialista francês afirmou: "Para a realidade humana, ser é um ato...o ato precisa ser definido por uma intenção....Como a intenção é uma escolha do fim e como o mundo se revela pela nossa conduta, é a escolha intencional do fim que revela o mundo"

Willian James (movimento pragmático) argumentou que, se uma idéia funciona, é verdadeira, desde que faça diferença para a vida em termos de valor real, é significativa. Johen Dewey (Pragmatismo) argumentou que "as idéias não têm valor, exceto quando passam para as ações que rearrumam e reconstroem de alguma forma, em menor ou maior medida, o mundo no qual vivemos". 

Ludwig Witgenstein (filosofia analítica) no final de sua vida afirmou que saber é uma ação corporal com o desejo de proporcionar mudanças no estado das coisas, e não uma postura de afastamento com relação ao mundo.

Nesta pequena estória, há uma valiosa lição que demonstra, que aquilo que poderia ter sido transformado em conhecimento, transformou-se, pura e simplesmente, em uma tarefa inútil. 
 
 
A tarefa inútil
( Henryk Bzdok – Letra Livre – Separata literária n. 3 - ) 

"Perdido nas montanhas da Albânia, num vilarejo de poucos habitantes, vivia um homem que não necessitava trabalhar, por ter herdado alguns haveres de seu pai.

Viver na ociosidade , porém, não era de seu feitio. E resolveu preencher o tempo gravando em forma de letra, os acontecimentos de sua terra.

Começou a transcrever, em grossos cadernos, fatos sem importância do cotidiano da aldeia. Para tanto, dia após dia, corria as ruas de ponta a ponta, ouvindo e anotando.

Anos decorridos, já velho e cansado, a casa tornara-se um verdadeiro entulho de papéis rabiscados. E aconteceu que, por negligência ou fatalidade, uma fagulha se alastrou, abraçando, com língua voraz, a papelada. Todo o acervo contido naquele reduto foi levado de roldão. O fruto de anos e anos de trabalho destruiu-se em poucos instantes.

Depois do acontecido, abatido e melancólico, o escritor compreendeu a loucura de seu intento. Gastara uma existência num mister fatigante e sem valor, pois jamais a sua obra fora motivo de consulta por parte de seus concidadãos." 

Conclusão

É inquestionável o fato de que estamos vivendo em uma época de mudanças radicais e decisivas, onde o capital intelectual se transformou na nova riqueza das organizações e no fator mais importante de produção. 

Nestes novos tempos, onde a principal fonte de riqueza é o conhecimento, as empresas têm a obrigação de oferecer um contexto apropriado para as atividades de criação e transferência , apoiando-as e estimulando-as. 

É portanto, condição sine qua non aprender a administrar o conhecimento, mostrando como ele pode ser medido e gerenciado, para que as organizações possam tirar proveito e prosperar na era do conhecimento.

Sem dúvida alguma, progredimos bastante nestes últimos anos, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. A história mal está começando, porque apesar da tentativa de tornar esta idéia generalizada, a grande verdade é que a maioria dos executivos ainda não atinou a sua grandeza , e muitos, nem ao menos sabem por onde começar. 

Por isto mesmo, caro leitor, não há mais tempo a perder: é hora de mergulharmos de corpo e alma na onda do conhecimento.

Referências bibliográficas

BROWN, J.S. Reflectioons on the Document Mimeografado, Xerox Palo Alto: Research Center, 1992.

BZDOK, Henryk. A tarefa inútil. In: Letralivre-separata literária. n3. 1999

DRUCKER, Peter. Sociedade pós-capitalista. São Paulo: Pioneira, 1993.

HILL, Napoleon. A lei do triunfo. 18 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.

HOWARD, R. The Learning Imperative: Managing People for Continuous Innovation. Boston: Harvard Business School Press, 1993. 

LAIRD, Donald A . O segredo da eficiência pessoal. São Paulo: Instituição de Difusão Cultural S.A, copyright 1925.

NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação do conhecimento na empresacomo as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

PENROSE, E.T. The Theory of the Growth of the firm. Oxford: Brasil Blackwell, 1959. 

POLANYI, Michael . Personal Knowledge: Towards a Post-Critical Philosophy. Londres: Routledge & KEGAN Paul, 1958. 

_______. The tacit dimension. Londres: Routledge & Kegan Paul, 1966.

STEWART, T. A. Capital intelectuala nova vantagem competitiva das empresas. Rio de Janeiro : Campus, 1998.

SVEIBY, Karl Erik. A Nova riqueza das organizações. Rio de Janeiro : Campus, 1998.

 


"Não basta dar os passos que nos devem levar um dia ao objetivo, cada passo deve ser ele próprio um objetivo em si mesmo, ao mesmo tempo que nos leva para diante."

Goethe, Johann


 

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" Os espinhos que me feriram foram produzidos pelo arbusto que plantei." (Byron)

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