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ENTREVISTAS
ENTREVISTA COM ALAN MOORE
Por Benoît Mouchart
BM: Você ainda está envolvido com os quadrinhos mainstream?
AM: Bem, Eu gostaria de pensar que sim. Uma das coisas que percebi
poucos anos atrás é que os quadrinhos mainstream
- ao menos no Reino Unido e nos EUA - estavam se deteriorando rapidamente,
as vendas de action figures estavam afundando, e parecia cada vez
mais que o público estava escolhendo jogos do Playstation
no lugar de revistas em quadrinhos. Percebi que a indústria de
quadrinhos era muito pequena para ter diferentes divisões dentro
dela. Se os quadrinhos mainstream caírem do precipício,
então os quadrinhos independente e os alternativos decentes o seguirão,
pois isso tudo é uma questão de economia. As lojas que vendem
todos os quadrinhos não podem sobreviver de quadrinhos alternativos;
elas sobrevivem com edições dos X-Men e Spawn.
Realmente não importa se Do Inferno não terá
qualquer efeito no mainstream porque está fora do mainstream,
nós não veremos nenhum deles influenciados por ele. E se
eu tiver que fazer toda uma linha de quadrinhos que parecem ser mainstream,
todos parecendo revistas padronizados de super-heróis, e ainda
assim contendo valores que estão além do mainstream:
inteligência, uma diversidade de estilos de arte, técnicas
de story-telling, invenção e imaginação?
E se me curvasse a todos esses ingredientes dentro do modelo-padrão
mainstream? Essa seria a linha Americas Best Comics,
com a qual estou muito, mas muito satisfeito. Ela parece ter sido bem
recebida, e injetou um pouco de animo dentro dos claramente moribundos
quadrinhos mainstream, de alguma forma. Estou satisfeito e muito
feliz com o trabalho. Então, sim, de certo modo ainda estou envolvido
com os quadrinhos mainstream, e no momento isso parece mérito
meu enquanto investir uns poucos anos tentando revigorar o mainstream.
Paralelamente, também estou trabalhando em outra graphic novel
quase nos mesmos moldes de Do Inferno e será finalizada
lá fim do ano, que é Lost Girls (Garotas Perdidas).
É uma história de 240 paginas, muito complexa e muito dispersa;
é um trabalho maior. Provavelmente me colocará em encrencas,
meus livros serão queimados em praça pública, mas
ficarei muito orgulhoso por isso. Não há razão pelas
quais não possa fazer todas essas coisas. Eu posso fazer uma companhia
de quadrinhos mainstream, eu posso trabalhar em uma graphic novel
fora dos valores mainstream, tentando empurrar os limites do campo
dos quadrinhos um pouco mais além, eu posso também fazer
um trabalho de performance, CDs, como um bom e prolífero
escritor, sem nenhum grande problema. Isso significa uma agenda muito
mais apertada e muito menos tempo, mas pode ser feito.
BM: Você tem algum plano para outros projetos com Eddie
Campbell?
AM: No momento nós estamos, bem, Eddie está
trabalhando em nosso terceiro projeto. Depois da publicação
de Do Inferno, Eddie ouviu um de meu CDs , The
Birth Caul, e ficou impressionado o bastante para decidir adaptá-lo
para os quadrinhos, com resultados com os quais nós ficamos bastante
satisfeitos. Eu dei a Eddie o texto de uma das minhas mais recentes
performances para ele terminar, sobre um culto secreto de Londres chamado
Snakes and Bladders, que fala de muitas coisas: DNA, o surgimento
da vida, Oliver Cromwell, coisas conectadas com este particular
trecho da história de Londres, tudo tramado em um ritual magico
de alguma espécie. Eddie está adaptando isso no momento.
Isso está tomando muito de seu tempo porque acho que trabalhar
em Do Inferno o tem distraído um pouco. Suponho que ele
deve me enviar as páginas em breve; Estou ansioso em vê-las.
Sempre gosto de trabalhar com Eddie, quando as circunstâncias
permitem. É o mesmo com todos esses artistas com os quais tenho
tido muita sorte em trabalhar, pois eles são os melhores. Eles
sempre me surpreendem. Acho que eles mesmos se surpreendem às vezes.
Nós atingimos um trabalho maravilhoso. Eddie é alguém
com quem sempre estarei satisfeito em ter como colaborador ou como amigo.
Nós somos muito próximos, considerando que ele mora na Austrália.
BM: O que você está lendo atualmente?
AM: Estou entre livros no momento. Eu recentemente li House
of Leaves (Casa de Folhas); é um labirinto ou demência
completa que é bastante digno de ser acompanhado. Eu também
tive muita sorte de ler a cópia de pre-publicação
de Landors Tower (A Torre de Landor), de Ian Sinclair,
outro livro maravilhoso.
Eu li um par de romances de crime, uma história de fantasma, estou
a meio caminho de dois ou três livros diferentes de magia, livros-texto,
livros teóricos, tudo muito eclético. Eu estive em um período
de leitura de muitos livros sobre a Máfia, sem nenhuma razão
particular. Então li muitas coisas sobre William Blake porque
fiz uma performance relacionada com Blake. Eu posso repentinamente
ter uma compulsão por livros científicos, às vezes
biografias, Eu estava lendo biografias de comediantes e humoristas um
tempo atrás. Depende do modo de como eu esteja me sentindo realmente.
Não há um modelo coerente a seguir. Eu tento evitar qualquer
coisa que soe muito decente, não leio muito os clássicos
de literatura devido a preguiça intelectual. Eu somente finjo tê-los
lido quando as pessoas me perguntam, mas eu geralmente blefo.
BM: A música é muito importante em sua vida?
AM: Eu realmente não costumo escutar muita música
porque fico trabalhando na maior parte do tempo, e percebi que quase todo
tipo de música poderia interferir em meu trabalho. Pode ser a letra
da canção, que interfere com as palavras que estou tentando
escrever. Pode ser o ritmo, que interfere com o ritmo das palavras que
estou tentando escrever. Por um tempo eu somente ouvia música ambiente,
porque não ter palavras ou um ritmo, mas sua atmosfera interferia
com a atmosfera que estava tentando escrever. Então costumo viver
em silêncio por muito tempo.
Em termos de produzir música - eu devo enfatizar que realmente
não sou o único que produz a música - eu tenho tido
muita sorte de trabalhar com alguns músicos maravilhosos, como
David Jay e Tim Perkins, que é meu principal colaborador
e um compositor maravilhoso. A última performance que nós
fizemos foi Tigers of Rock (Tigres de Pedra) que estava relacionada
com uma exibição de Blake na Galeria Tate.
Ela foi na verdade desempenhada na margem Sul do Tâmisa em Purcell
Rooms; foi uma noite muito boa. Billy Bragg esteve lá, conheço-o
há anos, ele é um homem muito simpático e um letrista
maravilhoso, e foi ótimo vê-lo outra vez. Dave Rowntree,
ele é um sujeito adorável; acho que foi dito que Alex
James esteve lá, mas não é verdade. Acho que
ele estava fora bebendo ou alguma coisa devassa desse tipo. Jah Wobble,
da banda Deep Space, um conjunto incrível. Nós executamos
uma peça de Blake que será apresentada em um CD no
próximo ano. As performances parecem ficar cada vez maiores, nós
temos engolidores de fogo, dançarinos e maquiadores. Elas estão
ficado cada vez mais musicalmente teatrais e verbalmente complexas. Nós
veremos onde será a próxima. Eu espero que não seja
no estádio de Wembley, com shows de laser. É muito importante
e muito interessante para mim, amo trabalhar com a música, há
um elemento musical no modo que escrevo: o modo de como as palavras soam
em conjunto, o modo de como uma linha de palavras soarão, há
espécie de música nisso, mas não música convencional.
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