Lira, a Moeda
Italiana
A história da
Lira vem de muito longe: era unidade de peso dos Romanos, Carlos Magno a
transformou em unidade monetária abstrata e Napoleão, primeiro, fundiu uma de
metal. Ao tempo do Imperador Carlos Magno, seus legisladores adotaram a
"libra" - até então, apenas unidade de peso - para indicar um certo
número de moedas chamadas denaro. A libra romana equivalia a 325 gramas atuais.
Carlos Magno quis estender às terras ocupadas na Itália, o sistema que o pai
dele, Pipino Breve, tinha adotado no reino franco. Carlos Magno instituiu o
monometalismo de prata com uma única moeda legal, o denaro, correspondente à
240.ma parte de uma libra. Precisamente 240 denari "pesavam" ou
valiam uma libra de prata. Era o tempo em que o dinheiro se constituía de
moedas metálicas cujo valor correspondia ao real valor da prata ou do ouro
nelas contido. Na realidade a moeda chamada "libra" não existia, mas
a palavra adquiriu uma nova conotação, tornando-se unidade de contagem. Era
muito mais fácil dizer uma lira que 240 denari. A moeda que circulava antes da
reforma, o soldo, começou a valer 12 denari, isto é, 20 soldos valiam uma
libra. Essa divisão correspondia à situação monetária da Grã Bretanha até 1971,
com a libra dividida em xelins e penny, como nos tempos de Carlos Magno. De
igual maneira os franceses mantiveram a lira turonensis até a Revolução,
dividida em 20 e 12 partes. Com o fim da Lira italiana e, futuramente, da Lira
(Libra) inglesa, ficarão, apenas liras na Turquia, em Chipre, Malta e
Israel.
Valor
Quando o império fundado por Carlos
Magno desabou, cada Estado começou a cunhar sua própria moeda, mas com o
conteúdo de prata, inferior ao das moedas de Carlos Magno e diferentes entre
si. Chegaram as liras paveses, milanesas, veronenses, luccheses sempre de 240
denari, mas eram denari de Pavia, Milão, Verona, Lucca, cada uma de diferente
valor, e todas abstratas, no sentido de que a lira era apenas uma unidade de
contagem, pois seu valor era, ao longo dos séculos, muito grande para uma única
moeda. Aos poucos, porém, este valor foi diminuindo e, a partir da metade do
século XVIII, em algumas regiões da Itália foi possível ter as liras no bolso.
Neste mesmo período, exatamente em 1746, apareceram as primeiras liras de
papel, pelo edito real de Carlo Emanuele III de Savoia. Este papel não tinha o
valor de um metal semiprecioso, mas continha a promessa de poder ser trocado
com seu relativo valor em ouro. Baseando-se sobre esta garantia - não sempre
respeitada pelos governantes - foi assim possível fazer com que o povo
aceitasse esta mudança traumática, pois os governosprecisavam sempre de mais
dinheiro e não era possível ficar ligado, para produzi-lo, aos estoques de ouro
ou prata. As notas se tornaram, ao longo do tempo, sempre mais aceitáveis, mas
o processo de desenvolvimento dos instrumentos de garantia foi demorado,
problemático, difícil e repleto de desastres. Com a revolução francesa, a
antiga lira turonensis - da cidade de Tours - teve seu crepúsculo. Em 1793,
nascia a Lira, nova moeda francesa, dividida em décimos e centésimos e,
finalmente, em 1795 a lira passou a ser chamada de franco. Napoleão Bonaparte
levou pela Europa o novo sistema monetário. No Reino da Itália, recebeu o nome
de lira italiana. Com a derrota de Napoleão, tentou-se retornar ao sistema
antigo, mas a racionalidade da divisão em centésimos e decimais resultou na
aceitação do sistema napoleônico. O Reino de Sardenha instituiu, em 1816, a
Lira Nuova di Piemonte, por vontade do rei Vittorio Emanuele I.
Definitiva
No ano seguinte nasceu a lira italiana
definitiva em moedas e notas. Definitiva na substância, não na forma, pois os
antigos bancos que emitiam as várias moedas antes da unificação continuaram
suas emissões e, assim, cada banco punha em circulação suas notas e os
italianos tiveram que conviver com notas da Banca Romana, do Banco di Napoli,
do Banco di Sicilia, da Banca Nazionale Toscana di Credito per le Industrie e
il Commercio, da Banca Nazionale del Regno d’Italia e outros bancos menores. Em
1893, boa parte destes Institutos se uniu para formar o Banca d’Italia que, aos
poucos, absorveu os outros. Este processo terminou em 1926. Nestes últimos 139
anos foram postas em circulação cerca de 500 diferentes tipos de notas. Tivemos
muitas desvalorizações da moeda, as mais dramáticas depois das duas guerras
mundiais.No tempo de Carlos Magno, com uma lira podia-se comprar um escravo e
dez carneiros. No final do século passado, 2 500 liras eram o salário de um
funcionário do correio, hoje são apenas suficientes para comprar um sorvete.
Reis, artistas, cientistas e benfeitores, italianos ilustres além de uma longa
série de invenções, de criaturas alegóricas (Justiça, Comércio, Lei, Itália,
Roma, Veneza, Gênova...) e de inúmeros desenhos fantásticos foram utilizados
para ilustrar as notas e dificultaro trabalho de falsários. Temos que
acrescentar, ainda, obras de arte, cenas de trabalho ou imagens significativas.
Nas notas mais antigas, os protagonistas são os reis; o fascismo deu mais
importância às alegorias, enquanto a república privilegiou os personagens.
Naturalmente, em todas as épocas houve exceções. As moedas, então, sempre eram
caracterizadas por signos mais sintéticos, mas de grande significado simbólico.
Além dos perfis de reis, encontramos ao longo dos anos quadrigas, deuses,
peixes, laranjas, abelhas, espigas, caravelas ect. As moedas italianas mais
requintadas e elegantes foram emitidas durante o reinado de Vittorio Emanuele
III, pois este rei foi um apaixonado por numismática. Além do dinheiro que
podemos chamar de normal, existiram notas quase desconhecidas (as emitidas
durante o século passado por pequenos bancos, por exemplo). Outras estão ligadas
a um certo triste período de nossa vida recente, como as famigeradas "AM
Liras", que os aliados despacharam a mãos-cheias a partir de 1943,
contribuindo bastante para a dramática desvalorização da moeda deste último
pós-guerra.
Com a chegada do euro, a lira italiana
se tornará um verdadeiro fantasma, uma relíquia que continuará lembrando aos
italianos as travessias, os acontecimentos, os sonhos, a vida de todos os dias
de um não longínquo passado.
A lira e alguns de seus protagonistas
Montessòri (Maria), pedagoga e educadora italiana (Chiaravalle, Ancona, 1870 -
Noordwijk, Olanda, 1952). Foi a primeira mulher, na Itália, a conseguir a
láurea em medicina; dedicou-se, após os estudos universitários, à cura das
crianças afetadas por doenças mentais, chegando logo à conclusão que o
tratamento educativo conseguia resultados mais positivos que as curas médicas
tradicionais. Depois ter dirigido a Scuola Magistrale Ortofrenica de Roma
(1899-1900), iniciou a atividade diretamente educativa fundando (1906) a «casa
dei bambini», (casa das crianças), destinada aos filhos das famílias operárias
do bairro San Lorenzo em Roma. A Montessori deixou a Itália em 1936; foi em
várias partes do mundo, da Índia aos Estados Unidos, da Suécia à China, onde
cuidou do rápido florescer das escolas montessorianas e terminou seus dias num
vilarejo de pescadores holandês perto da cidade de Léida, que tinha escolhida
como sua residência definitiva. A ideologia da Montessori funda-se sobre o que
foi chamado o «messianismo da criança», isto é, sobre a atribuição à criança de
energias criativas e de disposições morais, o amor, que o adulto possui
comprimidas dentro de si tornando-as inativas. Por isto o adulto tende a
reprimir a criança, impondo um ambiente feito em outra medida, obrigando-o,
desde a primeira infância a formas e ritmos de vida inaturais. Por esta razão,
a escola montessoriana se caracteriza, em primeiro lugar, por ambientes
construídos a medida das crianças, depois pela ativação da vida ambiental, com
uma oportuna adequação das ocupações e com a utilização de materiais de
desenvolvimento (encaixas, fios coloridos, ecc.). O método montessoriano,
apesar de algumas reservas, é atualmente largamente difundido, sobretudo no
exterior. Obras principais:
Il metodo della pedagogia scientifica applicato alla educazione infantile nella
casa dei bambini (1909), L’autoeducazione nella scuola elementare (1916),
Manuale di pedagogia scientifica (1930), Educazione e pace (1949), Il segreto
dell’infanzia (1950), La mente del bambino (1952). Desde 1990 a efígie da Montessori aparece nas notas italianas de 1.000
liras.
A segunda nota considerada,a é a de
cinco mil liras, que reproduz o retrato de um compositor, Vincenzo Bellini
Bellini (Vincenzo),
compositor italiano (Catania 1801 - Puteaux, Parigi, 1835). Pertencente a uma família de músicos originários dos Abruzzi, demonstrou
precoces atitudes musicais e cumpriu as primeiras experiências assistido pelo
avô e pelo pai; ao mesmo tempo, cultivava o estudo das letras. Depois de uma
conspícua produção juvenil, entre elas merecem ser lembradas as óperas Adelson
e Savini, Bianca e Fernando e Il pirata, uma doença no verão de 1830 e a crise
espiritual que seguiu, produziram em Bellini a forte aspiração a uma
purificação artística, que está à base das duas obras-primas de 1830 e de 1831:
La sonnambula e Norma. Poucos meses depois, pelo reagravar-se da doença
no fígado, faleceu antes de completar seus 34 anos, chorado pela Europa
inteira. O corpo do maestro foi embalsamado, e, em 1876, transportado em
Catánia. A produção belliniana, limitada ao decênio 1825-1835, além dos
melodramas já lembrados, compreende música sacra (entre elas duas missas,
Magnificat, Salve Regina, Credo, Te Deum), sinfônica e de câmara (seis
sinfonias, concerto para oboé, muitas árias, romanze e cantadas). Na ópera
teatral a personalidade de Bellini teve a força de reagir seja ao influxo da
escola napolitana, seja ao prepotente domínio do ímpeto rossiniano, afirmando
seu próprio mundo interior, através da pureza de um lirismo absoluto e
universal. Não meditou novas estruturas na arquitetura do melodrama, mas inovou
a livre conduta das árias e o significado dramático dos recitativos. As quatro
operas milaneses (Pirata, Straniera, Sonnambula, Norma) marcam a separação do
"setecentístico" melodiar de Paisiello e de Cimarosa. Wagner, a
propósito de Norma escreveu: «A ação, sem efeitos vistosos, nos lembra a
dignidade da tragédia grega».
Continuamos com um dos gênios italicos,
o pai da eletricidade, Alessandro Volta.
Volta (Alessandro), físico italiano (Camnago, hoje Camnago Volta, Como 1745 -
Como 1827). Volta nasceu em Como, cidade à beira do lago homônimo, onde viveu e
conduziu suas pesquisas que o levaram a descobrir, entre outras coisas, o gás
metano, o micro-eletroscópio e a publicar as leis sobre a dilatação isóbara do
ar, antes de Gay-Lussac. Em 1792 inicia sua disputa com Galvani, sobre a
natureza da eletricidade. Em 1799 constrói a primeira pilha e, no mês de março
de 1800, numa célebre carta endereçada ao Presidente da Royal Society podia
comunicar, dois anos depois, a invenção da pilha elétrica, dando o ano
sucessivo em Paris, uma demonstração pública à presença de Napoleão Bonaparte
que lhe conferiu, pela importância da descoberta, medalha de ouro. Com a pilha,
inicia a era da utilização da eletricidade.
Terminamos essa breve viagem pelas
moedas italianas com um dos maiores pintores da Renascimento. Trata-se de
Michelangelo Merisi, dito o Caravaggio.
Caravaggio, apelido de Michelangelo MERISI (o MERIGHI o AMERIGHI), pintor italiano
(Caravaggio, 1571 cerca, Porto Ercole 1610). Caravaggio revelou-se como pintor
em Roma com pequenas telas de aparência humilde, mas de conteúdo e matéria
pictórica elevados e já revolucionários: o Ragazzo con il cestino di frutta e
il Bacchino malato (Roma, Galleria Borghese). Seguiram obras jà mais maduras
como Il Riposo in Egitto e La Maddalena (Roma, Galleria Doria Pamphili), la
Cena in Emmaus (Londra, National Gallery), obras nas quais a perspectiva se
amplia, aparece a paisagem e faz seus primeiras ensaios sobre aquela irepetível
luz caravaggesca que se tornará o elemento originalíssimo de tantas composições
sucessivas. Esta
primeira atividade culmina nas telas pintadas entre 1598 e 1600, para a capela
Contarelli in San Luigi dei Francesi: la Vocazione e il Martirio di san Matteo.
Entre 1600 e il 1601 Caravaggio pintou para a capela Cerasi in Santa Maria del
Popolo, sempre em Roma, a Crocifissione di san Pietro e a Conversione di san
Paolo, o quadro sacro mais revolucionário do século. Os primeiros anos do século XVII foram caracterizados por uma longa série
de desventuras que levaram Caravaggio à morte, dia 18 de julho 1610.
Despedida para a lira
No fim de julho/2000, aconteceu um
fato histórico: a impressão da última nota, em liras, na história da Itália. Já
as moedas de 50, 100, 200 e 500 pararam de ser cunhadas em 1999, e a de 1 mil
liras, em 1998. De agora em diante apenas euros serão produzidos. A história da
Lira vem de muito longe: era unidade de peso dos Romanos, Carlos Magno a
transformou em unidade monetária abstrata e Napoleão, primeiro, fundiu uma de
metal. Ao tempo do Imperador Carlos Magno, seus legisladores adotaram a
"libra" - até então, apenas unidade de peso - para indicar um certo
número de moedas chamadas denaro. A libra romana equivalia a 325 gramas
atuais. Carlos Magno quis estender às terras ocupadas na Itália, o sistema que
o pai dele, Pipino Breve, tinha adotado no reino franco. Carlos Magno instituiu
o monometalismo de prata com uma única moeda legal, o denaro,
correspondente à 240.ma parte de uma libra. Precisamente 240 denari
"pesavam" ou valiam uma libra de prata. Era o tempo em que o dinheiro
se constituía de moedas metálicas cujo valor correspondia ao real valor da
prata ou do ouro nelas contido. Na realidade a moeda chamada "libra"
não existia, mas a palavra adquiriu uma nova conotação, tornando-se unidade de
contagem. Era muito mais fácil dizer uma lira que 240 denari. A moeda
que circulava antes da reforma, o soldo, começou a valer 12 denari, isto
é, 20 soldos valiam uma libra. Essa divisão correspondia à situação monetária
da Grã Bretanha até 1971, com a libra dividida em xelins e penny, como
nos tempos de Carlos Magno. De igual maneira os franceses mantiveram a lira turonensis
até a Revolução, dividida em 20 e 12 partes. Com o fim da Lira italiana e,
futuramente, da Lira (Libra) inglesa, ficarão, apenas liras na Turquia, em
Chipre, Malta e Israel.
Com a chegada do euro, a lira
italiana se tornará um verdadeiro fantasma, uma relíquia que continuará
lembrando aos italianos as travessias, os acontecimentos, os sonhos, a vida de
todos os dias de um não longínquo passado.
Texto de Edoardo Pacelli – extraído do
site www.italiamiga.com.br
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