Na posição normal, as palavras-chave que definem O Louco são
inconsciência, alienação, impulsividade, passividade, inocência,
ingenuidade, despreocupação, irresponsabilidade, confusão,
inconstância e isolamento. Invertido, suas palavras são apatia,
desequilíbrio, falta de segurança, automatismo, loucura, desregramento,
insensatez, auto-destruição e falta de objetivo.
À primeira vista, parece uma carta extremamente negativa, em ambos os
sentidos. No entanto, lembrando que o Tarô retrata um símbolo do
inconsciente, é fácil descobrirmos que essa é a visão que o
inconsciente coletivo tem a respeito do nosso “ego moderno”,
excessivamente apegado às palavras, ao concreto e objetivo mundo de
Descartes.
O louco, então, é o símbolo do homem, aquele que inicia sua viagem
em busca de auto-conhecimento sem, contudo, dar-se conta de que toda sua
vida tem por único objetivo levar-lhe à ampliação de sua consciência.
Caminhamos pelas cidades modernas, imbuídos de acumularmos conosco a
maior quantidade de bens e poder que pudermos abarcar. Queremos chegar ao
final de nossa vida escorados em toda sorte de status e segurança
material. Mas esquecemos de que o mundo concreto é apenas um símbolo do
mundo interno e que todos os nossos valores e são apenas e tão somente
criação de nossa mente. Caminhamos como O Louco, alheios ao abismo que
se abre diante de nós e se nesse arcano o inconsciente não é nada
lisonjeiro com o ego, parece está a nos dar o troco por nos considerarmos
tão ‘racionais’.
Este Arcano nada mais é senão nós mesmos, com nossas dúvidas e
confusões, lançando-nos num abismo de idéias. Retratado, na maior parte
dos baralhos como um bobo da corte, seu olhar está perdido no espaço e
ele traz às costas uma sacola onde esconde todos os seus dramas e
problemas da alma. Ali está sua herança paterna, seus valores profundos.
Sua sacola é sua Sombra e o melhor que ele faria seria sentar-se
confortavelmente, ainda que à beira do abismo, e verificar detalhadamente
cada objeto escondido ali dentro.
Em boa parte das cartas, ainda, encontramos um cão ou outro animal
qualquer a lhe morder seu calcanhar, em um claro indício de que são as
partes ditas ‘irracionais’ que poderão, ao final, evitar que caiamos
no abismo da inconsciência absoluta. Assim como os bobos da corte podiam
usar sua máscara de loucura e humor para dizer grandes verdades sem
correrem o risco de serem punidos, o arquétipo do Louco surge em nossa
vida provocando situações constrangedoras ou bem-humoradas para que nos
lembremos que, afinal, por trás do ‘irracional’ existem grandes e
sábias verdades.