![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
|||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
|||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
Diga Amém Porque Eu Digo por Daniel Tavares
Não
estou certo de que as pessoas sejam capazes de julgar situações
as quais não têm nenhum controle. Pelo menos não mais,
depois daquele casamento. Imparcialidade ? Nada mais que um bom argumento.
Visão crítica, um discurso convincente ? Genéricos para
doentes diferentes; toxinas para o formigueiro vizinho, mas nunca o meu. Realmente
vale a pena pensar em acreditar em coisas que outras pessoas lhe dizem ser
verdade ? Apostar em opiniões alheias ? Ah, sim, aquele casamento.
Na cerimônia, sem assunto. Era um tanto quanto estranho, as irmãs
no último banco da igreja, discretas. Uma pessoa ria ao meu lado, enquanto
uma outra balançava a cabeça, a minha frente. O padrinho tinha
chegado um pouco tarde, mas por pura preguiça, pensei, quando ele estendeu
o braço ao noivo que virava a cara. Não me pareciam empolgados
os convidados, ao menos uma parte deles. Em suma, era um casamento como qualquer
outro. Chato ? Talvez. “Somente o amor salva irmãos!” -
o padre nada convencional disse. Eu discordava daquilo em meus pensamentos
arrogantes, esboçando um pequeno sorriso irônico de quem ouvira
suficientes argumentos para tachar a senhora ao lado de idiota quando ela
sorria ao ouvir aquilo. “Irmãos, o matrimônio hoje é
um contrato social ! E é por essa mesma falta de esperança,
confiança e segurança que o mundo hoje parece estar errado,
com tantas guerras, conflitos e desentendimento entre os povos !” Neste
momento eu e a senhora ao lado trajávamos um sorriso, todavia não
pelo mesmo raciocínio provavelmente. Ela realmente parecia acreditar
nas palavras de quem o seduzia ali. E parecia feliz com aquilo. “ O
casamento, meus amigos, deve ser um cordão de três dobras ! Um
laço entre o noivo, a noiva e Deus, porque é da vontade dele
que surgiu a família !” Neste momento pensei que se não
tivessem me automatizado a criticar aquele discurso, talvez gostaria muito
de comprar aquela atitude. Como não ? Todas as pessoas ali pareciam
querer acreditar naquilo e se empenhavam para tanto. “Diga Amém”
- ouço alguém dizer ao fundo. E logo surgiriam vários
em resposta. Foi assim o tempo inteiro. “Fé, meus queridos irmãos,
se trata de fé !”. Fui à festa.
O convite individual estava no bolso. Não sei como, mas estava rasgado.
Talvez eu seja muito relaxado mesmo. De qualquer jeito, eu estava lá
rindo com algumas pessoas que faziam piadas inoportunas com os garçons.
“São os cordeiros do sacrifício” - pensei, achando
que tinha construído uma ótima ironia. Na verdade nem sei se
os cordeiros são ou foram um dia objetos para sacrifício. Olhava
então o casal, agora marido e mulher, pareciam felizes nos seus gestos
e cumprimentos. Eram muito jovens, por sinal. Mas a festa me parecia normal
demais. “Que os noivos sejam felizes !” brindavam.
Não sei se foi a demora da comida de péssima qualidade, ou se
era o absurdo daquela bandinha falsa que se apresentava no palco. Eu estava
bastante ocupado tentando imitar os outros nas suas convicções
para perceber. Mas um clima pesado parecia chegar. “E Jesus disse, irmão,
comes o pão de quem lhe quer mal” ouvi na mesa ao lado. O calvo
senhor era o anjo da trombeta que anunciava o apocalipse ? Na verdade, era
o prenúncio de uma fofoca. Ah, fofocas. Elas não dão
trégua. Então elas começaram a aparecer, tímidas.
“Porque as irmãs estavam no último banco ....” “
porque ele não trabalha e nem estuda ...” “porque ninguém
gosta do noivo, ele é seboso ...” “ porque aquele vestido
não combina” “porque dizem que ele quase bateu nela ....”
“porque quem bancou a festa foi o tio e o pai da noiva ....” “porque
aquela mulher deu um tapa naquele cara porque ele terminou com ela”.
Ou seja, fofocas surgiam. Emanavam. Por ora pensei, isso não é
nada parecido com o que escutei na igreja. E o teor dos comentários
foi ficando mais ácido. O marido da prima de segundo grau da mãe
da noiva, nessa altura, já tinha péssimos conceitos do pobre
noivo. Em cada conversa paralela, as pessoas julgavam aquela união.
“Ora, aquela união não foi presidida e aceita pelo Senhor
?” - pensei. “Então como as pessoas podem estar julgando
aquela situação ? As pessoas estariam julgando o poder de benção
do Senhor ou ainda criticando suas decisões ?” Eu estava ficando
confuso, ao mesmo tempo que passava fofoca diante. Afinal, o serviço
da festa estava muito, muito ruim. Pessoas aplaudiam a apresentação
daquela miserável bandinha, com gargalhadas nada silenciosas e totalmente
irônicas. “Pobres cordeiros” - pensei de novo, rei da analogia
de araque. Os convidados iam embora á medida que outros, ainda à
mesa, indignavam-se naquela rede de fofocas. Algum outro ainda falava “Quem
sabe ele muda, as vezes dá certo.” Uma senhora que passava disse
“Agora fiquei triste, olha como ela é tão bonitinha ...”
Pessoas sentiam pena de alguém por uma situação a qual
talvez nem existisse. “Eu não quero isso no meu casamento”
dizia a menina. Na hora da saída, todos cumprimentavam a noiva, o noivo.
Comiam o bolo, riam dos garçons.
“Diga Amém” ouvi de novo. “Diga amém porque
eu digo” completei. E algumas pessoas lançaram olhares furiosos
na minha direção. Mas aquilo era muito pequeno para desviar
meu olhar de uma menina linda na outra mesa. Era também muito pouco
para desviar o olhar do padre que mirava o brilho do sapato. Era também
quase nada para o noivo que fazia pose. Tampouco era algo para aquela senhora
que passava uma fofoca adiante. Aquele comentário era então
praticamente nada. Aquele teatro para mim era o mesmo teatro para os outros.
Era o genérico para todos aqueles descrentes, confessos ou não,
fingidos ou não, fiéis ou não. A toxina impregnava o
formigueiro do vizinho, mas quem se importa ? Depois de tudo, o padre continuou
a pregar em outras cerimônias. Algumas pessoas continuaram a cantar
e a dizer Amém. Aquela senhora continuou a falar fofocas. Os garçons
continuaram a ter que lidar com a insatisfação dos convidados.
A bandinha continuou a receber aplausos irônicos. O noivo continuou
a bater na noiva, a noiva continuou a fazer pose e bancar o noivo. No final,
como sempre, as estórias se repetirão. O mesmo discurso, a mesma
atitude.
E nessa insensatez inerente, meu café sim, já estava morno.
E-mails para esta coluna: dan_tavares@ig.com.br