![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
|||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
|||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
Praia em dia de frio por Vivian Rangel
Foi
andando pela praia achando que a paisagem cinza-claro-azulada estava tão
linda que doía. Estranhamente as coisas mais tristes eram as mais surpreendentemente
lindas. Um dia ensolarado jamais traria tanto sentimento. Estava finalmente
aproveitando alguns momentos de paz. A agitação constante de
todos os dias o deixava mal-humorado ou simplesmente servil e indiferente,
mecânico como Chaplin, apertando parafusos. Precisava de intensidade
e não se importava essa intensidade seria benéfica ou não.
Mas que pudesse sentir. Que não tivesse que se conter. Simplesmente
sentir. Pensar em coisas profundas ao lado de outras sem sentido. Sem ajuda,
dessa vez. Precisava provar a si mesmo que podia ser o que quisesse, sem ajuda
de maconha, álcool ou sexo. Precisava bastar a si mesmo.
Ia anoitecendo. As ondas batiam mais fortes. Ele deitou nos grãos de
areia gelados e sentiu a sensação de espuma nos pés.
Sentiu cócegas e se lembrou de sua infância. Ouviu as risadas
de sua irmã ao decepar o rabo de uma lagartixa que continuava se mexendo.
Um homem que tira a vida de outro perde totalmente o respeito por qualquer
outra vida. Mas não era assim tão trágico. A irmã
só matava lagartixas. E formigas. E talvez um gato ou outro. Nunca
entendera esse sadismo gratuito. Uma onda mais forte chegou aos joelhos, molhando
a barra da bermuda. Lembrou-se então do pai, batendo-lhe nas costas
e dizendo-lhe para ser mais homem, mais agressivo. “- Meu filho, esse
mundo é o das imagens. Não importa o que você é.
Não chore, não fraqueje”. Em uma outra ocasião,
voltando de uma festa, seu pai parou-lhe na sala de tv:
- Como foi a noite?
- Boa.
- Como boa? Só boa? Você tá chegando tarde. Alguma mocinha
mais benevolente? Sua mãe falou que você saiu com uma menina..
- Ângela, pai. Não é uma menina, é minha namorada
há dois meses.
- Não importa. Ela e você.. Vocês...
- Vou subir pai, com licença. Estou cansado.
Seu pai nunca lhe perdoou por não se interessar verdadeiramente por
garotas. Para ele, conhecer mulheres era o que havia de fundamental na vida.
Mas seu pai não era apenas retórico. Morreu aos sessenta de
câncer de próstata. Sem chorar, sem demonstrar nenhum medo da
morte. Deixando as duas amantes um bom dinheiro. À mulher e aos filhos,
um bom seguro de vida.
Estava totalmente escuro. Na praia, só o barulho das ondas, que já
lhe molhavam a cintura. Estava dormente, mas a sensação de formigamento
era boa. Sentiu aquela pontada de urgência, aquele sentimento de culpa,
de que precisava fazer algo. Mas por quem? Era domingo, não tinha trabalho,
os pais estavam mortos e a assassina de animais estava casada e feliz, com
uma prole de três. Ele não tinha ninguém. E hoje, não
ter ninguém não era libertador. Lembrou-se da Ana, a namorada
mais solícita que já tivera. Ana fazia tudo por ele. Faltava
a qualquer compromisso, a cada pequeno sinal que ele desse, de estar precisando
de algo. De sexo a lenços de papel. Era cômodo ter a Ana. Depois
de alguns meses, Ana era uma sombra insuportável. Quando eles terminaram,
ele foi ao Arpoador, subiu nas pedras e gritou : - Eu sou livre! , repetidas
vezes. E isso o fez bem, o fez sentir-se dono de si e dono do mundo e de todas
as suas novas oportunidades. Hoje o “eu sou livre”, havia virado
“eu não tenho ninguém”. E a realidade era cruel:
voltar pra a Ana não mudaria nada. As velhas e boas soluções
não estavam servindo , aos novos tempos.
Levantou-se completamente molhado, tiritando de frio. Ainda era domingo, ainda
era noite, embora todas essas lembranças parecessem ter ocupado muito
tempo. Andou até o carro, passando por dois casais de namorados, em
carros com vidros embaçados. Pediu uma dose de vodka num quiosque,
incrivelmente ainda aberto. Agora podia. A catarse havia acabado. Além
disso, era em nome do frio.
Entrou no carro e uma criança correu, em busca de um real. Baixou o
vidro e perguntou, olhando nos olhos do menino, que não tinha mais
que sete anos, o que ele faria com o dinheiro. “-É pra comprar
pão, tio. Minha mãe não tem emprego”. Entregou
cinco reais ao menino, que não sorriu, nem disse obrigado. Então
gargalhou rindo de sua própria tentativa desesperada, de comprar o
alívio com cinco reais. Seria mais decente comprar mais uma dose de
vodka.
O carro deslizou pela orla da cidade maravilhosa e o corcovado o vigiava.
A semana começaria, a rotina começaria, mas ele tomou uma grande
decisão: não morreria de câncer. Cirrose talvez, câncer
jamais. Estava cansado de fracassar em agradar o pai, enganando a si mesmo,
fingindo que não se importava. O pai estava morto. E ele quase. Aos
novos tempos, fez um brinde imaginário. Um novo personagem entra em
cena. De agora em diante, fracassaria em ser si mesmo.
E-mails para esta coluna: vivian_rjbr@yahoo.com.br