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Estorvo, narrando sonhos, ou não por Vivian Rangel
"Não estou entrando em nenhum lugar,
mas saindo de todos os outros"
(Estorvo, Chico Buarque)
Existem certos livros que deveriam ser obrigatórios para a formação
de um indivíduo. Estorvo, o primeiro romance de Chico Buarque faria
parte dessa lista. Ele foi escrito em 1991, em Paris e desde então,
ganhou um prêmio Jabuti e foi transformado num belo filme, pelo cineasta
Rui Guerra, indo ao festival de Cannes, inclusive. Como o próprio nome
diz, o livro perturba, causa embaraço, atropelo, faz oposição.
Estorvo voltou ao meu pensamento ao ver Cidade dos Sonhos (Mulholand Drive),
filme que está causando um rebuliço no cinema. No fim dos créditos,
várias pessoas reclamaram, do que elas diziam ser um total nonsense,
outras simplesmente detestaram o filme. Eu permaneci estupefata olhando a
tela e me sentindo uma ameba, porque eu havia entendido muito pouco. Foi a
mesma sensação que tive ao ler Estorvo. O filme ainda não
acabou, porque ele continua dançando cenas e me obrigando a pensar.
Estorvo também não acaba, continua questionando muito tempo
depois do fim da sua leitura.
Estorvo não é linear, não obedece ao tradicional início,
meio e fim. E nem vai do fim ao início. A história começa
com uma campainha insistente, um visitante inesperado. Ao receber a visita
dessa pessoa ele sente que deve fugir. Não se sabe se o personagem
principal sonha ou vive, ou a partir de onde sonha. O fato é que a
angústia e o desespero do personagem, constantemente entre realidade
e imaginação dominam o leitor, que passa a viver essa busca.
Numa inquietude absurda , narrada em primeira pessoa, o personagem começa
a fugir de alguém que não sabe quem é. Ele se envolve
numa trama de suspense com traficantes e policiais corruptos e tenta buscar
a proteção da irmã. Tenta rever a ex-mulher, a mãe,
o velho sítio povoado por memórias da sua infância. Mas
não consegue completar sua jornada e não se pode saber se houve
fim pra sua busca. Até porque a busca não foi definida. Visitar
sua mãe é doloroso e ele adia. Visitar sua irmã em busca
de dinheiro é necessário. Sua ex-mulher olha pra ele com pena,
amor e impaciência.
Em cidade dos sonhos acontece o mesmo. Pode-se interpretar o que é
sonho e seguir doze pistas, publicada pelos críticos, para entender
o filme (embora eu não tenha sacado várias delas), mas o filme
provoca a mesma inquietude, angústia e medo. Não há final
feliz. Não há ninguém pra nos acordar e dizer que é
apenas um pesadelo. É um sonho-vida contínuo.
Algumas pessoas lerão estorvo e dirão que se trata apenas de
um livro chato, lento e sem sentido. Outras assumirão ares de intelectuais,
aplaudindo o brilhantismo de Chico Buarque . Mas
no caso de estorvo é mais importante sentir do que entender. Mais que
completar algum sentido, o livro toca e permanece. Tempos depois, ao ver David
Linch dizendo que não faz filmes para que o público entenda
eu me lembrei de Estorvo. Porque eu duvido que algum autor faça alguma
obra que não pretenda tocar o público. Que não haja entendimento
nos moldes tradicionais , tudo bem, mas algo tem que ficar, questionar, perturbar,
mover.
Estorvo é um livro que não vai ser facilmente entendido , pelo
menos aos reles mortais, que não freqüentam o seleto grupo dos
intelectuais da literatura. Mas é um livro que vai ser sempre lembrado.
Não é um romance que deixa um suspiro de alívio e inveja.
É uma pergunta em aberto, é um questionamento infinito. Dessa
vez , não se trata da Ópera do Malandro, com Geni sendo apedrejada,
e saciando assim. a vontade do povo. Não há julgamento final,
porque não há fim, seqüência ou limites, como nos
sonhos.
Ficha técnica
Estorvo, Chico Buarque, Cia das Letras, 1991.
Cidade dos sonhos , "Mulholand Drive" , David Linch, 2001