![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
|||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
|||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||||||||||||||||
![]() |
![]() |
Bukowsi - Um Velho Safado por Guilherme Freitas
"Sabia que tinha alguma coisa fora do lugar em mim. Eu era uma soma de todos os erros: bebia, era preguiçoso, não tinha um deus, idéias, ideais, nem me preocupava com política. Eu estava ancorado no nada, uma espécie de não-ser. E aceitava isso. Eu estava longe de ser uma pessoa interessante. Não queria ser uma pessoa interessante, dava muito trabalho. Eu queria mesmo um espaço sossegado e obscuro pra viver a minha solidão. Por outro lado, de porre, eu abria o berreiro, pirava, queria tudo e não conseguia nada. Um tipo de comportamento não se casava com o outro. Pouco me importava."
Charles Bukowski
era um vagabundo. Passou a vida pulando de um emprego pro outro, vivendo em
buracos malcheirosos, enchendo a cara e correndo atrás de mulheres.
E escrevendo. Nascido na Alemanha, em 1920, publicou sua primeira novela aos
24 anos, já nos EUA ( para onde se mudou aos 3 anos de idade ). Mas
o reconhecimento nulo do público acabou por mantê-lo no ostracismo
por duas décadas, durante as quais vagou pelo país, sobrevivendo
às custas de empregos miseráveis, até voltar a publicar
seus trabalhos novamente, quase aos 50 anos. Bukowski conheceu o sucesso apenas
na velhice, quando se tornou uma verdadeira estrela do submundo da literatura
americana. Fazia turnês pelas principais universidades do país,
realizando leituras de seus poemas ( durante as quais se apresentava, invariavelmente,
bêbado ) para platéias sempre lotadas, formadas quase na totalidade
por jovens. Seu estilo marginal, suas histórias povoadas por personagens
miseráveis circulando sem rumo por cenários decadentes de Los
Angeles afundados em sexo e bebida, fizeram com que Bukowski se tornasse,
involuntariamente, um dos ícones da contracultura dos anos 60 e 70.
"Eu fotografo e gravo o que vejo e o que acontece comigo. Eu não sou um guru ou líder ou coisa do tipo. Eu não sou um homem que procura soluções em Deus ou na Política. Se alguém quiser fazer o trabalho sujo e criar um mundo melhor para nós e se ele puder fazer isso, eu vou aceitar numa boa. Na Europa, onde o meu trabalho tem tido mais sorte, vários grupos se identificaram comigo, revolucionários, anarquistas e outros, porque eu escrevo sobre homens comuns das ruas. Mas em entrevistas lá eu tive que desmentir um relacionamento consciente com eles porque não há nenhum. Eu tenho compaixão por quase todo indivíduo do mundo; ao mesmo tempo, eles me causam repulsa."
Bukowski escreveu mais de quarenta livros, entre prosa e poesia. Destacam-se, em sua vasta obra, os romances Mulheres (1978) e Cartas na Rua (1971) - que cobre os 14 anos em que trabalhou como carteiro em LA - e as antologias de contos Notas de Um Velho Safado(1969), Ereções, Ejaculações, Exibições e Fabulário Geral do Delírio Cotidiano (1972) e A Mulher Mais Linda da Cidade (1983), entre outras incontáveis antologias poéticas. Escreveu também um roteiro para o cinema. Sua relação com a indústria cinematográfica durante a produção do filme Barfly, de 1987 ( Condenados pelo Vício, no péssimo título em português, com Mickey Rourke e Faye Dunaway, dirigido por Barbet Schroeder e produzido por Francis Ford Coppola ) foi contada por ele mais tarde no romance Hollywood (1989), uma de suas últimas obras. O cineasta italiano Marco Ferreri também levou a obra de Bukowski para as telas, em sua adaptação do livro Crônica de um Amor Louco, com Ornella Mutti e Ben Gazara.
"Nada
estava em sintonia, nunca. As pessoas vão se agarrando às cegas
a tudo que existe: comunismo, comida natural, zen, surf, balé, hipnose,
grupos de auto-ajuda, orgias, ciclismo, ervas, catolicismo, halterofilismo,
viagens, retiros, vegetarianismo, Índia, pintura, literatura, escultura,
música, carros, mochila, ioga, cópula, jogo, bebida, andar por
aí, iogurte congelado, Beethoven, Bach, Buda, suicídio, roupas
feitas à mão, vôos à jato, Nova Iorque, e aí
tudo se evapora, se rompe em pedaços. As pessoas têm que achar
o que fazer enquanto esperam a morte. Acho legal ter uma escolha."
Recentemente, foi lançada uma biografia do escritor ( Vida e Loucuras de um Velho Safado, Contraeditora ), mas a melhor forma de entrar em contato com seu universo é, sem dúvida, lendo seus livros. A obra de Bukowski é essencialmente autobiográfica. Seus textos, quase sempre narrados na primeira pessoa, retratam com crueza e humor a vida de um alcoólatra em tempo integral e o mundo distorcido que gravita ao seu redor. Apesar disso, muitos dos fatos descritos em seus livros são, obviamente, criações suas, o que só serve para confundir ainda mais os limites entre realidade e ficção e aumentar a força do mito que se criou em torno do escritor. Seu fiel alter-ego, Henry Chinaski - presente em quase todos os livros de Bukowski e vivido no cinema por Mickey Rourke - é um fiel retrato da personalidade do autor: sempre bêbado, viciado em mulheres e cavalos, bruto e sarcástico, vive cercado pelos tipos mais bizarros. Bukowski diz em uma de suas obras, Ham on Rye (1982), que "apenas os pobres, os perdidos e os idiotas" pareciam querer ser seus amigos. Não é à toa: ele era seu porta-voz.
"A resposta completamente horrível é que ninguém sabia fazer nada: os poetas, escrever poemas; os mecânicos, consertar carros; os dentistas, arrancar dentes; os barbeiros, cortar cabelo; os cirurgiões se estrepavam todos com o bisturi; as lavanderias deixavam as camisas e os lençóis em farrapos e perdiam as meias da gente; o pão e os feijões tinham pedrinhas no meio que quebravam os dentes; jogadores de futebol eram uns poltrões; os funcionários da telefônica estupravam criancinhas; e os prefeitos, governadores, generais, presidentes, tinham tanto juízo quanto as lesmas colhidas por teias de aranha. E por aí vai. Pode dar o que quiser pra raça humana que ela acaba esgravatando, arranhando, vomitando e mijando em cima."
Ao morrer, em 1994, Bukowski era considerado por muitos o maior expoente da literatura americana da segunda metade do século XX. Sartre chegou a chamá-lo certa vez de "o maior poeta americano vivo". Títulos honrosos que Bukowski desprezava categoricamente. Sempre disse que preferia passar seu tempo bebendo ou jogando nos cavalos do que lendo. Rejeitava o convívio com a inteligentsia americana da época. Negava qualquer comparação com outros escritores ou identificação com movimentos literários. De fato, sua únicas admirações declaradas eram pelo francês Louis Ferdinand Céline (1894-1961) autor de Viagem ao Fim da Noite e pelo escritor americano John Fante (1909-1983), citado em Hollywood e de quem chegou a ficar amigo no fim da vida.
"Escrever essas palavras me afasta da loucura total."
Charles Bukowski viveu e morreu como um marginal. Ignorado durante a maior parte de sua vida, foi à forra quando conquistou o devido reconhecimento. Torrava todo o dinheiro que ganhava escrevendo em bebida e cavalos, transava com o maior número de mulheres possível - apesar da reconhecida feiúra - colecionava desafetos e inventava histórias a respeito de si mesmo, enquanto via a lenda em torno de sua personalidade crescer cada vez mais. Aproveitou-se da fama o máximo que pôde. Enquanto a imprensa, os críticos e a comunidade literária em geral tentavam em vão transformá-lo em um fenômeno, ele se divertia. E Bukowski sabia se divertir.
"Não tente." - epitáfio gravado no túmulo de Charles Bukowski (1920-1994).
*trechos em itálico extraídos da obra de Charles Bukowski