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Dalton
Trevisan - O Vampiro de Curitiba
por
Guilherme Freitas
"Um moço em Curitiba só tem um remédio: afogar-se. Como não há mar, um tonel de rum serve. Mas nem todos encontram coragem ou lucidez para o tonel de rum. Há então o noivado, ser noivo de alguma coisa ou pessoa, evitar a garoa das noites, encontrar uma sala com sofá e o retrato de um parente morto suspenso na parede, tomar o café que lhe traz a futura sogra, e, aos domingos, há o ajantarado pegajoso da província: a noiva bordará, costurará, fará qualquer coisa com as mãos, talvez uma carícia. As mulheres estarão sempre costurando, solteiras, casadas, viúvas, velhas ou moças terão os dedos picadinhos de agulha, até que um dia o ovo de costura rolará de suas mãos e a cabeça tombará para sempre - não, nada é para sempre, ainda com o ovo de costura caído no chão, o pescoço é alvo útil para a navalhada."
Carlos Heitor Cony, sobre a obra de Dalton Trevisan
Existe toda uma lenda em torno de artistas que decidem, por um motivo ou por outro, retirar-se da vida em sociedade (entenda-se aqui "sociedade" como a vida num ambiente onde você é acessível aos outros), pra se dedicar à sua arte, às suas vacas, ao seu Deus, ou coisa que o valha, e passam a vida bombardeando o mundo real com sua obra, sem que ninguém saiba muito bem de onde as bombas estão vindo. Na presença de alguém assim, cria-se logo um mito, e não é raro observar o surgimento de uma espécie nociva de "culto" em torno de sua personalidade, sendo que talvez isso tenha sido o que o artista mais quis evitar quando decidiu se retirar. É comum ver as pessoas se perguntando "por que ele fez isso?" (ou "como ele teve coragem de fazer isso?", pra usar as palavras certas), tentando entender uma atitude tão radical. É difícil dizer, não sendo um deles, mas é de se imaginar que eles simplesmente tenham ficado de saco cheio de tudo.
No Brasil, o caso mais célebre de Grande Artista Solitário é,
sem dúvida, o de Dalton Trevisan. O escritor paranaense, nascido em
1925, passou as últimas quatro décadas bombardeando o mundo
real com sua obra, refugiado em algum canto de Curitiba, à salvo da
perseguição de críticos e fãs. Usando como única
arma seus contos, Trevisan criou uma obra extremamente original, que o coloca,
na opinião dos que entendem do assunto, ao lado de grandes mestres
do gênero, como Tchekov e Maupassant. Seu estilo conciso, de frases
curtas e secas, elimina os traços mortos da narrativa pra colocar em
destaque a perversão que corre abaixo do cotidiano tranqüilo da
cidade que escolheu pra retratar.
No começo da carreira, desviando das tradicionais dificuldades em publicar seus trabalhos de jovem escritor, Trevisan criou a revista Joaquim, que reunia contos seus e de outros novos autores brasileiros, ao lado de traduções de grandes escritores estrangeiros, como Joyce e Kafka, e inéditos de brasileiros como Drummond e Carpeaux. Além disso, Dalton publicava seus primeiros contos em folhetins e os distribuía aos amigos, hábito que iria manter durante todas a carreira, mesmo quando seus livros já eram lançados pelas grandes editoras.
Já em seu primeiro livro, "Novelas Nada Exemplares", de 1959, aparece com toda a força o estilo que iria desenvolver ao longo de sua carreira. Os temas quase repetitivos - a vida da cidade provinciana, seus bêbados, suas noivas, os retratos dos mortos nas paredes - são abordados com uma linguagem violenta e sincopada, que expõe discretamente o drama das vidas comuns ali contadas. O livro (que, na verdade, foi o terceiro lançado por Dalton; o autor renega os dois primeiros), ganhou o Prêmio Jabuti na época, e abriu caminho pra afirmação do escritor como o maior contista nacional da segunda metade do século passado.
Ao sucesso do livro de estréia seguiram-se outros clássicos como "Cemitério de Elefantes" (1980), "Guerra Conjugal" (1973) - adaptado para o cinema em 1975, por Joaquim Pedro de Andrade, e "O Vampiro de Curitiba" (1978). Este, considerado seu maior clássico, é uma coleção de 15 contos sobre o mesmo personagem, Nelsinho, um pervertido que vara Curitiba atrás de toda espécie de rabo de saia disponível. Com a evolução de seu estilo, sua linguagem tornou-se cada vez mais sintética, e, nos últimos livros, Dalton tem se utilizado cada vez mais apenas de aforismos e frases soltas, num estilo muito semelhante aos haikais orientais. Sua conhecida obsessão pela revisão dos próprios textos faz com que as vezes contos inteiros sejam reeditados por causa de uma única frase. Muitas das frases soltas contidas em livros como "111 Ais" ou "Ah, é?" são apenas versões levemente modificadas de trechos das obras anteriores do autor.
Mas o que chama mais atenção em Dalton Trevisan não é a repercussão alcançada por seus textos, mas sim a forma como ele lida com isso. Desde o começo da carreira, o escritor manteve-se afastado de qualquer tipo de badalação em torno de sua obra, e, mesmo ao ganhar o maior prêmio literário do país logo em seu primeiro livro de destaque - fato que certamente mexeria com o ego do mais frio dos artistas - mandou um representante para receber a honraria. O mesmo aconteceu nas outras vezes em que recebeu prêmios, como o outro Jabuti por "Cemitério de Elefantes" e o prêmio do Pen Club, por "Morte na Praça", entre outros. Sua única foto conhecida é esta que ilustra a matéria, e diz a lenda que foi tirada de trás de uma árvore, por um desocupado portador de uma teleobjetiva, que passou dias a fio esperando Dalton sair de sua casa, em Curitiba. Comenta-se que mesmo os mais íntimos não possuem seu número de telefone, e que Dalton só se comunica com os amigos através dos folhetins, que ainda distribui, periodicamente.
São
fatos difíceis de acreditar, mas, por eles, pode-se ter idéia
da dimensão do mito que se criou em torno deste escritor. Seus livros
já foram publicados em diversos países, da Alemanha aos Estados
Unidos, alcançando uma repercussão rara entre os artistas nacionais
contemporâneos e colocando Dalton Trevisan entre os maiores nomes da
literatura mundial no último século. Mas ele não parece
ligar muito pra isso.