Eu sou normal, acredite
Sentem-se,  o show vai começar
Proteja-se: você pode ser o próximo
Mudando um pouco seu dia-a-dia
Tudo que você sempre quis ser, mas tinha vergonha
Se quiser, ponha açúcar
Got popcorn?
Let's swing, babe
Plante uma árvore, tenha filhos, escreva um livro
POW! CRASH! TUM! SNIKT!
O que você está olhando?
Porque o importante é vencer
 : )
You're hot - come on in
Veja tudo que você nunca quis ver
Saiba quem são os culpados por isso
Seja experto! Gaste pouco e ganhe muito
Sugestões? Comentários?
Perdeu algo de bom? Garanto que não

Decorando a Prateleira
Na Era do Curto, Bonito e Auto-explicativo por Rony Maltz

Já é mais do que sabido que a internet e toda a parafernália tecnológica que a escolta vêm fazendo com que as pessoas leiam menos. É claro que, pode-se argumentar com razão, essa nova e ilimitada ferramenta de acesso permite que você encontre praticamente qualquer material de leitura que possa interessar sem se levantar da cadeira. Diários e revistas do mundo inteiro de graça e livros quaisquer pelo preço do papel da impressão soaria utópico a alguns anos. Hoje isso é possível sem ao menos se precisar ir à banca de jornal ou a biblioteca. O fato é que, entretanto, quem não usa a internet para receber e enviar e-mails, compartilhar mídia, fazer pesquisas ou ver mulher pelada é por que não usa a internet. Não que quem adquiriu o hábito da leitura durante a vida vá perdê-lo porque o entretenimento se tornou intoxicantemente preguiçoso, porém os que já crescem acostumados a trocar palavras por símbolos e leitura por imagens, esses não vão usar a internet para imprimir livros, acredite. A geração que nasce no auge da era da informação instantânea e concisa já moldou o mercado a sua maneira: seriados a filmes; filmes a livros; livros às traças.
"ser tosco ou não ser, eis a questão": versão troma para romeu e julieta.
Ocorreu-me agora que boa parcela da culpa pelo desinteresse dos jovens pela leitura é da própria escola. A obrigatoriedade de ler obras pré-determinadas, dentro de prazos e sob a ameaça do fracasso em testes de conhecimentos sobre as mesmas não só falha no intuito de incentivar as crianças a ler como as traumatiza neste sentido. Isto, pois, além de impor aos alunos leituras quem nem sempre agradam a seus gostos pessoais, tal rigidez vai de encontro a um conceito básico da psicologia de crianças e adolescentes que qualquer um que já tenha tido contato com estas espécies conhece muito bem: a imposição de qualquer coisa é diretamente proporcional a sua rejeição. Fora o fato de que resenhas de todos os livros do previsível arsenal da literatura escolar já estão a disposição de qualquer aluno mais desleixado na internet, às vezes já devidamente acompanhadas das respostas dos seus respectivos testes, com um pouco de sorte.

Mas se engana quem pensa que é preciso saber ler para chegar ao final do livro. Não é de hoje que qualquer cineasta mais malandro se aproveita de excelentes obras literárias para ganhar dinheiro na grande tela provido de não mais do que nenhuma originalidade, um produtor ambicioso e dois ou três nomes de peso na frente das câmeras. E o público não só acata como agradece o efeito deste tipo preguiçoso de caça-níquel, que já vem com a idéia mastigada, compactada e exposta por gente realmente muito bonita. Costumo dizer que esta espécie de produção é o passo seguinte aos pocket books, aquelas reedições de grandes sucessos de vendagem impressas em papel de jornal e tamanho reduzido: não têm capa-dura, porém são muito mais baratos. Regra de fato é que não há um filme que tenha superado sua obra inspiradora; a bem da verdade, a imensa maioria não chegou nem perto de uma equiparação.

Pivô sempre em evidência dos "inspirados na obra de", seja por vender ingressos ou por já estar morto a mais de século, Willian Shakespeare é um que já cansou de ter espasmos na cova devido a reproduções de versões nauseantes de suas peças (exceção honrosa para a versão Troma de "Romeu e Julieta"). Dostoievski também já sofreu com uma lamentável alusão a sua obra-prima 'Crime e Castigo', de veiculação homônima na tela grande, e mais recentemente observou-se 'A Fogueira Das Vaidades' fazer fortuna às custas de Tom Hanks e da deturpação dos escritos de Tom Wolfe, cujo livro emprestou o mesmo nome ao filho mal-criado. Não que por regra filmes baseados em livros sejam todos ruins; 'Laranja Mecânica' e 'Shortcuts', por exemplo, baseados nas obras de Anthony Burgess e Raymond Carver, respectivamente, desbancam tal hipótese. Mas a assistir a um par de horas de projeção com base em livros tão bem recomendados, dê preferência aos originais, ora!

O mercado do entretenimento anestésico já está tão adaptado e organizado que livros já têm contratos assinados para estrelar no cinema antes mesmo de a tinta secar no papel de impressão. Romances como os de John Grisham (que hoje está para as histórias de advogados como Stephen King para as de suspense), por exemplo, já são praticamente escritos em forma de roteiro, de maneira que não raro figurões da indústria cinematográfica se acotovelam pelo direito de transformar as ficções do ex-advogado em fáceis, rentáveis e sempre digeríveis filmes de tribunal. E todo mundo adora filmes de tribunal. Foi assim com 'A Firma', 'O Cliente', 'O Dossiê Pelicano', 'O Júri', 'O Homem Que Fazia Chover' e 'Tempo de Matar', entre outros. O próprio Stephen King já deu suas escorregadas para a telona, normalmente com mais sorte, como no caso de 'Um Sonho de Liberdade' (adaptado de um de seus contos) e do sempre assustador 'O Iluminado'. Não que eu conteste o mérito dos escritores, muito pelo contrário; admito inclusive ser leitor assíduo de Grisham, pela mera razão de que o rapaz, de fato, escreve muito bem. Muitos que não eu, porém, preferem resistir ao lançamento em capa dura, à publicação em capa convencional, à edição de luxo e à reimpressão em papel de jornal; e eu não lhes tiro a razão: muito mais econômica (e tempo também não é dinheiro?) é aquela impressão sucinta e auto-suficiente - tinta roxa no papel manteiga - nos ingressos dos melhores cinemas mais próximos de você.

Em suma, dia oito de junho último meu irmão completaria quinze anos, e eu fiquei satisfeitíssimo com a idéia de presenteá-lo com nada menos do que a mais recente edição de 'O Apanhador no Campo de Centeio', o melhor presente que eu esperaria ganhar de um irmão desendinheirado para um meu aniversário de quinze ou dezesseis anos. Pelo menos seriam os vinte e dois reais mais bem gastos com o Bernardo em toda minha vida. Enfim, fiz o investimento. Chega então o dia, e, esperançoso de instigar no garoto a mesma paixão pelos livros que herdei do meu pai, entrego-lhe ritualisticamente o impecável embrulho, não poupando elogios à obra prima de Sallinger. Bem menos empolgado do que eu, contudo, ele então rasga o papel de embalagem como quem rasga papel de bala e fita burocraticamente o fino exemplar - realmente o livro não contém figuras ilustrativas e a capa não é nada apelativa, mas afinal, é O Apanhador! - Foi no que, entre um discurso diplomático, com palavras cuidadosamente escolhidas, o Be perguntou, meio dissimulado, nitidamente preocupado em não frustrar o meu entusiasmo: "..mas Rony, se o livro fosse mesmo assim tão bom, já não teria virado filme?..." Ao que eu respondo de bate-pronto, camuflando alguma insegurança e um certo desespero: "talvez por ser tão bom até agora ninguém teve coragem de fazer um filme..."
E por enquanto O Apanhador continua decorando a prateleira do quarto do meu irmão, bem ali, ao lado do Sidney Sheldon.