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Decorando a Prateleira
Na
Era do Curto, Bonito e Auto-explicativo por Rony Maltz
Já
é mais do que sabido que a internet e toda a parafernália tecnológica
que a escolta vêm fazendo com que as pessoas leiam menos. É claro
que, pode-se argumentar com razão, essa nova e ilimitada ferramenta
de acesso permite que você encontre praticamente qualquer material de
leitura que possa interessar sem se levantar da cadeira. Diários e
revistas do mundo inteiro de graça e livros quaisquer pelo preço
do papel da impressão soaria utópico a alguns anos. Hoje isso
é possível sem ao menos se precisar ir à banca de jornal
ou a biblioteca. O fato é que, entretanto, quem não usa a internet
para receber e enviar e-mails, compartilhar mídia, fazer pesquisas
ou ver mulher pelada é por que não usa a internet. Não
que quem adquiriu o hábito da leitura durante a vida vá perdê-lo
porque o entretenimento se tornou intoxicantemente preguiçoso, porém
os que já crescem acostumados a trocar palavras por símbolos
e leitura por imagens, esses não vão usar a internet para imprimir
livros, acredite. A geração que nasce no auge da era da informação
instantânea e concisa já moldou o mercado a sua maneira: seriados
a filmes; filmes a livros; livros às traças.
Ocorreu-me agora que boa parcela da culpa pelo desinteresse dos jovens pela
leitura é da própria escola. A obrigatoriedade de ler obras
pré-determinadas, dentro de prazos e sob a ameaça do fracasso
em testes de conhecimentos sobre as mesmas não só falha no intuito
de incentivar as crianças a ler como as traumatiza neste sentido. Isto,
pois, além de impor aos alunos leituras quem nem sempre agradam a seus
gostos pessoais, tal rigidez vai de encontro a um conceito básico da
psicologia de crianças e adolescentes que qualquer um que já
tenha tido contato com estas espécies conhece muito bem: a imposição
de qualquer coisa é diretamente proporcional a sua rejeição.
Fora o fato de que resenhas de todos os livros do previsível arsenal
da literatura escolar já estão a disposição de
qualquer aluno mais desleixado na internet, às vezes já devidamente
acompanhadas das respostas dos seus respectivos testes, com um pouco de sorte.
Mas se engana quem pensa que é preciso saber ler para chegar ao final
do livro. Não é de hoje que qualquer cineasta mais malandro
se aproveita de excelentes obras literárias para ganhar dinheiro na
grande tela provido de não mais do que nenhuma originalidade, um produtor
ambicioso e dois ou três nomes de peso na frente das câmeras.
E o público não só acata como agradece o efeito deste
tipo preguiçoso de caça-níquel, que já vem com
a idéia mastigada, compactada e exposta por gente realmente muito bonita.
Costumo dizer que esta espécie de produção é o
passo seguinte aos pocket books, aquelas reedições de grandes
sucessos de vendagem impressas em papel de jornal e tamanho reduzido: não
têm capa-dura, porém são muito mais baratos. Regra de
fato é que não há um filme que tenha superado sua obra
inspiradora; a bem da verdade, a imensa maioria não chegou nem perto
de uma equiparação.
Pivô sempre em evidência dos "inspirados na obra de",
seja por vender ingressos ou por já estar morto a mais de século,
Willian Shakespeare é um que já cansou de ter espasmos na cova
devido a reproduções de versões nauseantes de suas peças
(exceção honrosa para a versão Troma de "Romeu e
Julieta"). Dostoievski também já sofreu com uma lamentável
alusão a sua obra-prima 'Crime e Castigo', de veiculação
homônima na tela grande, e mais recentemente observou-se 'A Fogueira
Das Vaidades' fazer fortuna às custas de Tom Hanks e da deturpação
dos escritos de Tom Wolfe, cujo livro emprestou o mesmo nome ao filho mal-criado.
Não que por regra filmes baseados em livros sejam todos ruins; 'Laranja
Mecânica' e 'Shortcuts', por exemplo, baseados nas obras de Anthony
Burgess e Raymond Carver, respectivamente, desbancam tal hipótese.
Mas a assistir a um par de horas de projeção com base em livros
tão bem recomendados, dê preferência aos originais, ora!
O mercado do entretenimento anestésico já está tão
adaptado e organizado que livros já têm contratos assinados para
estrelar no cinema antes mesmo de a tinta secar no papel de impressão.
Romances como os de John Grisham (que hoje está para as histórias
de advogados como Stephen King para as de suspense), por exemplo, já
são praticamente escritos em forma de roteiro, de maneira que não
raro figurões da indústria cinematográfica se acotovelam
pelo direito de transformar as ficções do ex-advogado em fáceis,
rentáveis e sempre digeríveis filmes de tribunal. E todo mundo
adora filmes de tribunal. Foi assim com 'A Firma', 'O Cliente', 'O Dossiê
Pelicano', 'O Júri', 'O Homem Que Fazia Chover' e 'Tempo de Matar',
entre outros. O próprio Stephen King já deu suas escorregadas
para a telona, normalmente com mais sorte, como no caso de 'Um Sonho de Liberdade'
(adaptado de um de seus contos) e do sempre assustador 'O Iluminado'. Não
que eu conteste o mérito dos escritores, muito pelo contrário;
admito inclusive ser leitor assíduo de Grisham, pela mera razão
de que o rapaz, de fato, escreve muito bem. Muitos que não eu, porém,
preferem resistir ao lançamento em capa dura, à publicação
em capa convencional, à edição de luxo e à reimpressão
em papel de jornal; e eu não lhes tiro a razão: muito mais econômica
(e tempo também não é dinheiro?) é aquela impressão
sucinta e auto-suficiente - tinta roxa no papel manteiga - nos ingressos dos
melhores cinemas mais próximos de você.
Em suma, dia oito de junho último meu irmão completaria quinze
anos, e eu fiquei satisfeitíssimo com a idéia de presenteá-lo
com nada menos do que a mais recente edição de 'O Apanhador
no Campo de Centeio', o melhor presente que eu esperaria ganhar de um irmão
desendinheirado para um meu aniversário de quinze ou dezesseis anos.
Pelo menos seriam os vinte e dois reais mais bem gastos com o Bernardo em
toda minha vida. Enfim, fiz o investimento. Chega então o dia, e, esperançoso
de instigar no garoto a mesma paixão pelos livros que herdei do meu
pai, entrego-lhe ritualisticamente o impecável embrulho, não
poupando elogios à obra prima de Sallinger. Bem menos empolgado do
que eu, contudo, ele então rasga o papel de embalagem como quem rasga
papel de bala e fita burocraticamente o fino exemplar - realmente o livro
não contém figuras ilustrativas e a capa não é
nada apelativa, mas afinal, é O Apanhador! - Foi no que, entre um discurso
diplomático, com palavras cuidadosamente escolhidas, o Be perguntou,
meio dissimulado, nitidamente preocupado em não frustrar o meu entusiasmo:
"..mas Rony, se o livro fosse mesmo assim tão bom, já não
teria virado filme?..." Ao que eu respondo de bate-pronto, camuflando
alguma insegurança e um certo desespero: "talvez por ser tão
bom até agora ninguém teve coragem de fazer um filme..."
E por enquanto O Apanhador continua decorando a prateleira do quarto do meu
irmão, bem ali, ao lado do Sidney Sheldon.