Eu sou normal, acredite
Sentem-se,  o show vai começar
Proteja-se: você pode ser o próximo
Mudando um pouco seu dia-a-dia
Tudo que você sempre quis ser, mas tinha vergonha
Se quiser, ponha açúcar
Got popcorn?
Let's swing, babe
Plante uma árvore, tenha filhos, escreva um livro
POW! CRASH! TUM! SNIKT!
O que você está olhando?
Porque o importante é vencer
 : )
You're hot - come on in
Veja tudo que você nunca quis ver
Saiba quem são os culpados por isso
Seja experto! Gaste pouco e ganhe muito
Sugestões? Comentários?
Perdeu algo de bom? Garanto que não

Já não se fazem fãs como antigamente por Thais Selkie

Quando você sai para comprar um disco, que disco você compra? Não importa. Mas de quando é esse disco? De 60? 70? Início de 80? Isso também não é importante. Ou não.
Quantas vezes você se pegou comprando o que o seu pai provavelmente ouvia quando tinha a sua idade? Muitas, não é? Então leia esse artigo com atenção.
Você está sofrendo de uma doença muito séria. Comprar discos de vinil empoeirados te deixa estranhamente satisfeito, ouvir as músicas com aquele chiado característico te faz sentir nostálgico e você acha que devia ter vivido para ver 1974, o ano em que o rock atingiu sua perfeição, como dizem em um dos seus filmes preferidos.
Eu sinto em dizer que você perdeu, pirralho. Muitas das bandas que prestam, surgidas nos últimos 10 anos, já não existem mais devido à baixas ou à frescura dos integrantes. O seu dinheiro não é suficiente para comprar todas as quinquilharias de divulgação e os cds com preço astronômico que as bandas lançam. E a música, ah, a música, já não é mais a mesma. O que nos leva de volta à década de 60.
A casualidade do rock dessa época faz você suspirar. Era sempre a mesma coisa: alguns amigos que sabiam tocar instrumentos e se reuniam para levar um som. Três ou quatro acordes depois, pronto. Pete Townshend compunha I'm a Boy, assim, sem mais nem menos. Desse jeito também, os Beatles cuspiam Rubber Soul neles. Os Stones engatinhavam e lançavam o After-Math. Que desagradável. Surgiam também os primeiros acordes de uma série genial, por Roger Waters e David Gilmour. É, mas a lista é bem mais extensa do que isso. Jim Morrison e os rapazes do Doors, Ron Wood & Rod Stewart juntos, Elton John, David Bowie, Lou Reed, Nico, Joe Cocker, Jimi Hendrix, e você não sabe nem por onde começar. Neil Young, Bob Dylan, Page, Plant e o seu dinheiro já acabou faz tempo. Num último esforço de se sentir parte de tudo isso você aluga o vídeo do Festival de Woodstock de 69 e fica tocando air guitar e rindo dos doidões fodendo no mato, na frente de todo mundo.
Década de 70. Você senta para conversar com o seu pai e ele ri da sua cara porque você não sabia que Elton John, Eric Clapton e Tina Turner faziam participações em Tommy. Você só pode assistir o Festival da Ilha de Wight pela tv. Os seus ídolos morreram, suas bandas preferidas terminaram, o Punk surgiu. Você também queria cuspir nos outros, rasgar as suas roupas, fazer moicano, furar seu rosto com alfinetes, fugir de casa, largar a escola, morar com oito pessoas num apartamento de dois quartos na periferia de Londres, fazer uns bicos para ter o dinheiro da comida e, é claro, bater cabeça com o Sid Vicious nas primeiras rodas de Pogo nos shows do Sex Pistols. Mas você não pode. Os Ramones te fascinam, é o auge da cagação. E não é só isso. O seu sangue neguinho faz você balançar ao som de Jacksons Five, Marvin Gaye, Barry White, Isaac Hayes e o "homem", James Brown. Você suinga sozinho, na sala de casa, imaginando como seriam os dias da Motown.
Fim da década de 70, início da de 80. Finalmente, você nasceu. E enquanto você ainda mamava no peito da sua mãe, The Artist, então Prince, mamava em vários peitos por aí. Bruce Springsteen se trancava no porão da casa dele com um violão e uma gaita e criava um disco chamado Nebraska. O U2 ficava conhecido, com as músicas de protesto, e você sentava no sofá da sala e pedia ao seu pai para colocar o disco do Balão Mágico na vitrola. Mas nem tudo ia bem. Foi só você nascer e o Genesis começou a entrar em decadência. O Who sucumbiu às brigas e à vaidade de Roger Daltrey e Pete Townshend. Apareceu o Duran Duran. Tudo ficou meio colorido e brega demais. Tudo bem que tinha o Metal. Mas isso você só iria descobrir aos treze anos. Tarde demais. O mal já estava feito. Nada era como antes. Nos anos 90, quando você começou a se dar conta do que era música, ainda pôde aproveitar o Nirvana, Faith no More, Alice in Chains (Lane!), Soundgarden, Pearl Jam, todos no auge. Mas tudo o que é bom dura pouco. Você não contava com a morte de Kurt Cobain, com o fim do Soundgarden, com a insanidade do Mike Patton... é claro que ainda podia ouvir Beastie Boys, Rage Against the Machine, Radiohead e aproveitar o restinho do tempo legal do rock nacional, mas você sabia que as coisas estavam mudando.
Hoje você ainda escuta umas bandas boas que aparecem ocasionalmente, umas que sobreviveram aos anos noventa, um pouco de Britrock (porque todo mundo é um pouco gay), mas sabe que está sofrendo daquela doença. Você simplesmente não consegue se desvencilhar daquilo que não teve. Virou um rato de sebos de vinil, porque não esquece daquela época. Bons tempos aqueles, não? E como você saberia? Eis que surge a questão: esse comportamento é saudável? Não sei. Mas você pode descobrir. Se daqui a vinte anos, seus filhos te disserem que descobriram uma banda muito foda, dos anos noventa, cujo vocalista se matou com um tiro na cabeça, ficarem te importunando com perguntas sobre o seu gosto musical na adolescência e roubarem as suas bolachas e cds, você vai ver que não tinha problema nenhum. Ou não. O seu filho pode ser tão débil mental quanto você.