Retrospectiva
Kenji Mizoguchi
Treze filmes de Kenji Mizoguchi: grande possibilidade de estrar em contato com um dos universos mais apaixonantes da história do cinema. Buscando unir o melodrama como paixão narrativa e o realismo como profissão de fé, Mizoguchi fez várias obras-primas, colocando na maior parte das vezes o foco na situação da mulher japonesa, considerada como ícone maior do sofrimento pela exploração, pela dominação e pela intolerância. Cineasta com motivações sociais, Mizoguchi primava sempre por dar a dimensão social da história a ser contada. Realizador afeito às emoções humanas, não deixava escapar os detalhes das personagens principais, acompanhando-as com seu apuradíssimo plano-seqüência, cuja invenção, aliás, muita gente tributa a ele.O plano-seqüência (uma cena toda acontecendo sem cortes, apenas com os movimentos de câmera para enquadrar os personagens) é o elemento estilístico mais presente em Mizoguchi. E não é por acaso. Pois o maior mérito do plano-seqüência é dar a duração exata de um acontecimento. Tanto para o realismo quanto para o emocional: o plano que abre A Nova Saga do Clã Taira, tão bonito quanto longo, dá a dimensão econômica e política daquele momento do século XII (ao menos no tocante aos interesses do filme). Os planos finais de O Intendente Sansho, por sua vez, são uma maravilha de sentimento humano, respeitando o deslocamento dos personagens e a força da locação.
O ambiente, por sinal, é outro fator que merece ser destacado nos filmes de Mizoguchi. A liberdade de mise-en-scène que o plano-seqüência dá permite a Mizo-san (como era chamado pelos amigos íntimos) colocar os personagens "engolidos" pelo seu ambiente, erigindo uma combinação dramática de grande intensidade.
Kenji Mizoguchi teve, ao longo de sua carreira, vários problemas com a censura. Isso foi determinante sobretudo no período da 2ª Guerra, em que teve que fazer, contra vontade, filmes patrióticos, de samurai (dos quais o mais famoso é A Vingança dos 47 Ronin) e finalmente, para tentar imprimir uma maior reflexão social a seus filmes dessa época, uma trilogia sobre artistas.
Entretanto, nos períodos em que teve liberdade por parte dos produtores (a censura oficial só existia à época da Guerra). Sua primeira grande fase vai de 1936 até 1939, de onde saíram Conto dos Crisântemos Tardios, As Filhas de Gion e Elegia de Osaka. No final dos anos 40, com a união de várias companhias cinematográficas em uma só (Daiei), Mizoguchi iniciou a fase mais prolífica de sua carreira, que vai de 1947, com o filme As Mulheres da Noite, até seu último filme, A Rua da Vergonha, de 1956. Quase todos esses filmes falam da condição da mulher japonesa. Dessa fase, os filmes mais famosos são Contos da Lua Vaga, Os Amantes Crucificados e O Intendente Sansho.
O roteirista Yoshikata Yoda trabalhou com Mizoguchi em quase todas suas obras-primas. A seguir você verá, para cada filme, um texto de um de nossos redatores e um comentário de Yoda sobre a produção, a realização ou a filmagem. Todos esses comentários são retirados do livro Souvenirs de Kenji Mizoguchi, de Yoshikata Yoda (Éditions de l'Étoile, Cahiers du Cinéma, 1997).
1933 O Feiticeiro da Água (Taki no shiraito)
1936 A Elegia de Osaka (Naniwa erejii)
1936 As Irmãs de Gion (Gion no kyodai)
1939 Conto dos Crisântemos Tardios (Zangiku monogatari)
1946 A Vitória das Mulheres (Josei no shori)
1948 Mulheres da Noite (Yoru no onna tachi)
1951 Senhorita Oyu (O-yu-sama)
1952 A Vida de Oharu (Saikaku ichidai onna)
1953 Contos da Lua Vaga (ugetsu monogatari)
1953 Os Músicos de Gion (Gion bayashi)
1954 O Intendente Sansho (Sansho dayu)
1954 Os Amantes Crucificados (Chikamatsu monogatari)
1955 A Nova Saga do Clã Taira / O Herói Sacrílego (Shin heike monogatari)