retornando...sobre a Internet
Ao criar o texto desta forma, se teve, como já foi dito, o objetivo de produzi-lo simultaneamente em um ambiente pós-moderno, já que este suporte nos parece fundamental à definição e desenvolvimento de características totalmente novas, próprias deste momento cultural. Ao lado do desenvolvimento do capitalismo, desde a etapa de capitalismo organizado, à de capitalismo desorganizado, segundo Harvey (1992), motor ideológico e cultural da pós-modernidade, em seus mais variados aspectos, a noção rede (net) como suporte à globalização, atualmente exercido pela Internet, parece ter criado uma via para sua concretização. É ineludível a necessidade de comunicações instantâneas para manter o efeito de compressão tempo-espaço, características das economias em espelho da pós-modernidade. Nos dias atuais se pode observar como economias de países antes considerados estáveis podem ruir em 24 horas no pregão das Bolsas de Valores. A Internet é o aparelho cardiovascular da pós-modernidade, atingindo de todas as formas até mesmo quem dela não tem notícia. Criada anos depois de seu início, talvez como uma destas idéias óbvias que necessitam de um gênio para pensá-las, o que sustenta sua existência e seu crescimento extremamente rápido, é a mesma necessidade que empurra as informações em forma de bits pelos diversos nós e conexões, a informação precisa ou mais precisamente a localização de suas fontes e o colabamento tempo-espaço. É mais fácil e rápido enviar um email e receber resposta no mesmo dia útil, de um indivíduo que mora no outro lado do mundo, do que ir de uma cidade vizinha a outra para falar com alguém. Uma carta enviada pelo correio comum, chamado jocosamente de "snail-mail" (correio-lesma) pelos internautas, leva o dobro do tempo no mínimo para ser respondida por um receptor que mora na mesma cidade, desde que este tenha pressa em responder e esteja disposto a ir até uma agência do correio.
Como vamos apreciar, a Internet, a despeito do desdém de alguns ambientes que ainda resistem à sua utilização, arriscando a anquilose comunicacional, invadiu a vida de todos nós porque é o veículo ideal para as ideías, ou pelo menos para a difusão de suas fontes. Isso é muito importante quando pensamos na tarefa psicoterapêutica, onde o tempo dificilmente pode ser acelerado. Mas será realmente assim? Não proliferam atualmente as técnicas breves e focais? Algumas com um forte substrato teórico-científico, mas nem todas. Não há tempo, não há tempo, o resultado deve vir em seguida ou então voltamos ao mercado em busca de outra modalidade, ou outro profissional, na abundante oferta do dia-a-dia. A prateleira da biblioteca mal pode suportar a quantidade de livros de auto-ajuda, a maioria escrita por autores de competência duvidosa, ou então outros que, mesmo pisando no terreno da terapia não assumem sequer a responsabilidade pelos seus efeitos, como Paulo Coelho, que em seu último romance, Veronika decide morrer, toca o problema do suicídio declarando-se publicamente, possivelmente num gesto de auto-defesa antecipada, como não mais que um escritor. Claro, não é o primeiro, mas seu site na Internet, suas entrevistas em todos os canais de TV, em todos os talk-shows da atualidade, apontam a uma severa crítica contra as instituições psiquiátricas, contra a abordagem científica das enfermidades mentais e contra a razão como princípio ativo dos tratamentos das doenças mentais, que ele nem considera como tais. A força que empurra estes dados nas artérias da comunicação global não é outra que a necessidade de vender livros, em busca da necessidade de vida emocional das pessoas em geral, cada vez mais privadas do convívio, este sim, o leito da psicoterapia. O vínculo do terapeuta-paciente, elemento básico por onde todas as técnicas tem forçosamente que transitar, está reduzido a uma imagem que fala na TV, e que pode ser resgatada nas palavras escritas do livro que se encontra em qualquer prateleira de best-sellers do mundo inteiro. Rápido, global, encontrável on-line e na TV. Será assim o psicoterapeuta da pós-modernidade?
economia e política na modernidade e na pós-modernidade
a clínica nos tempos pós-modernos