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TIMOR GEOGRAFIA ECONOMICA - PRODUÇÃO: - Agricultura:
Pela sua proximidade da Austrália (600 Kms ou 325 milhas marítimas) a flora de Timor pertence ao domínio vegetal do Equador como as ilhas de São Tomé e Príncipe, enriquecido pelas espécies da Austrália, de que pode considerar-se como um prolongamento. Os terrenos são propícios a cultura do café, noz moscada, pimenta, sândalo branco, palmeira, coqueiro, tabaco, milho, arroz, abacate, algodão, mandioca, sagu, cana-sacarina, batata doce, sumaúama, manga, jaga, anona, ananás, papaia, banana, batata, laranja, toranja e outras citrinas, figo, melão, melancia e todas as espécies hortícolas da Europa. Como essências florestais contam-se o famoso sândalo branco, a cânfora, a árvore da quina, o pau tintorial, o pau-rosa, a teca, o pau-ferro, aicérios e aimaras, a árvore de fruta-pão, de fruto alimentar muito estimado pelo timorense; há a arenqueira, a cameleira, grande maciços de bambus; e, como essências já do domínio australiano, as cazuarinas, que bordam as margens das ribeiras, a orla das praias, e os eucaliptos que nas margens das ribeiras, nas planícies, nos lombos das serras, se amontoam em altas e frondosas matas. Timor é, porém, fracamente arborizada. As maiores manchas florestais, de valor botânico e utilitário para materiais de construção, são a mata de Loré e o revestimento florestal da Coblac e de seus contrafortes, na direção Sul e na contra-costa.
Desde os princípios do séc. XIX, com os grandes governadores Alcoforado, Afonso de Castro, Hugo de Lacerda, Celestino da Silva e, já no século atual, Filomeno da Câmara, o principal objetivo era a cultura extensiva do café, interessando nela a gente indígena, para se constituir um colonato rural que se tornasse um verdadeiro e profícuo critério de colonização. A enorme distância à Metrópole, a carência de meios financeiros, agravada pela nula liberdade de ação, a indisciplina, insuficiência e péssima qualidade do funcionalismo, a rebelião endêmica do gentio, a encapotada hostilidade holandesa, a agitação política, a ação do clima, etc., tudo concorria para que os melhores esforços se perdessem ou resultassem inúteis. Mesmo depois da sua elevação a distrito autônomo, independente do governo de Macau. Timor viveu quase sempre de subsídios da Metrópole ou de empréstimos de outras províncias ultramarinas mais ricas, como São Tomé. Os rendimentos próprios não chegavam para cobrir as despesas da administração. A sua balança comercial conhecia raros períodos de equilíbrio, com desafogos que os prêmios de transferências, o pagamento de juros e o preço dos fretes logo absorviam para se recair no regime deficitário. A guerra de 1914-1918, pela dificuldade de transporte e instabilidade dos mercados, etc., tornou a abalar a sua frágil economia. E quando se acentuava, depois dessa guerra, o movimento ascensional - favorecido pela perfeita pacificação da Província, desde o governo de Filomeno da Câmara - foi possível aos governadores que se sucederam providenciar medidas de protecionismo e fomento para se orientar a economia da Província no seu melhor rumo. Em 1921, o ilustre colonialista almirante Ernesto de Vasconcelos, escrevia: "Apesar da riqueza e importância do solo de Timor poucos são os proventos que de lá se têm tirado, principalmente por se terem deixado aos povos indígenas entregues a si próprios, sem os chamarmos ao nosso convívio, e a má orientação dada à colonização e, portanto, à exploração agrícola, mineira e industrial da ilha. A iniciativa particular, pouco dedicada a empresas coloniais, quase nada tem concorrido para a colonização de Timor. Contudo várias sociedades portuguesas para exploração agrícola da ilha constituíram e a elas se deve o aumento de produção da interessante colônia. Com o desenvolvimento que o governo da Colônia tem dado à plantação do café e fomento agrícola de Timor é de supor que o movimento colonial tivesse tido bastante incremento, se não foram as causas a que atrás nos referimos. Os terrenos propícios à cultura do café, do cacau, do coqueiro, da borracha, são outras tantas fontes de riqueza a explorar. O café é de ótima qualidade, muito superior à da parte holandesa e outros pontos vizinhos. Tem mercado garantido em grande parte de Macassar e em Sidney (Austrália). A região produtora é no reino de Motahel e nos terrenos entre as ribeiras Cômoro e Lois. Os governadores têm, em geral, promovido a cultura do café e do cacau desde 1860, subordinando as culturas às práticas melhores e mais geralmente adaptáveis. Solo, clima e altitude não são apenas propícios às culturas das ilhas de São Tomé e Príncipe (café e cacau) mas também à do milho e do arroz, sustento geral da população, para o que há terrenos admiráveis. Em 1920 já quase não se importou arroz. É na parte oriental que mais se cultiva o milho, o arroz, o coqueiro, o abacate, o algodão. A oeste, aquém do meridiano de Dili e perto da fronteira holandesa, cultiva-se especialmente o café, o cacau e outras essências próprias das grandes altitudes, como as quais ali prevalecem e as que lá se podiam ensaiar". Timor era essencialmente agrícola, como de todos os relatórios de governo se fazia conclui. De todos esses esforços se inferiu que além da exploração agrícola de Timor tem os seus melhores valores no café, no cacau, na borracha, no tabaco e nas oleaginosas copra e camim e que essas culturas para exportação podem ser da exploração direta do indígena, amparada e fiscalizada pelo pessoal administrativo simultaneamente com a de empresas de capitais europeus, com segura gerência técnica e administrativa. - Pecuária Timor é zona de confluência das faunas das Malucas e da Austrália. A cordilheira central da ilha é a sua linha divisória - ao Norte a transição entre a fauna das malucas e a da Austrália; ao Sul as espécies já nitidamente continentais como os marsupiais, o veado, e certas aves, nomeadamente a Scytropo novae Hollandiae, cujo grito estridente e repetido anuncia as chuvas e os súbitos nevoeiros. As espécies mais comuns e úteis são: o búfalo, o cavalo, o boi, o suíno, o cão, a ovelha, a cabra, os galináceos, os gansos e outros palmípedes, além de um sem número de pássaros de bela plumagem, cujo catálogo se desconhece por completo. O búfalo (Bós afer) presta os melhores serviços à agricultura indígena. É da espécie da Índia, donde deve ter sido importado, bem como o zebu, também altamente útil à agricultura. O cavalo, o famoso garrano de Timor ou Kudo, muito desejado para sela e tiro nos estreitos e costas dos mares da China, e de raça pequena, talvez uma degenerescência do cavalo árabe, importado nos séc. XVI e XVIII, mas muito rijo e resistente, como o de Cabo Verde. Extraordinariamente rústico, trepa sem custo as mais íngremes barreiras e desce sem vacilar os mais ásperos declives. Os indígenas hábeis cavaleiros, têm-no no maior apreço. De répteis - pouco variados, citam-se serpentes venenosas, a píton, os crocodilos, e os lagartos. A fauna marítima é pouco variada. Os mares são pouco piscosos e de espécies das águas quentes, pouco comestíveis. Abundam os zoófitos, moluscos e crustáceos; entre os equinodermes destaca-se a Loluturia(bicho do mar) que os malaios colhem nas praias em grandes porções para, conjuntamente com os "ninhos de andorinha", exportarem para a China, onde são delícia de gastrônomos. A pecuária é uma das maiores riquezas de Timor, dadas as excepcionais condições do seu clima. Atesta-o a sua atual densidade de gados que é representada por 23,9 cabeças por km2., apesar do armentio desta província ultramarina, ainda não estar refeito das perdas que sofreu durante a ocupação japonesa na Segunda Guerra Mundial. Atesta-o ainda a diversidade das espécies domésticas existentes, pois encontram-se em Timor as mais comuns do ocidente e oriente, como os bois, os búfalos, os suínos, os ovinos, os caprinos e os equídeos. Os búfalos são a principal espécie de grande porte utilizado na ilha, pois os nativos usam estes animais para o trabalho agrícola e de transporte. O porte é variável, vendo-se animais muito volumosos e outros de corpo muito pequeno. Estes animais dão-se melhor nas montanhas, dado que o clima aqui é mais fresco que à beira-mar. Os bois existem em Timor em menor número que os anteriores, pertencendo a grande maioria (99%) à raça ou Balinesa, Bibos Banteng (= sondaícus Müll) ou também conhecida vulgarmente, por raça dos "fundilhos brancos", em virtude de possuir duas malhas brancas na face posterior das coxas. Além destas malhas características têm ainda os membros abaixo dos joelhos e curvilhões, igualmente brancos. Quem observe estes animais de perfil nota que o dorso é mais elevado, devido ao fato das apófises espinhosas da 3a. à 11a. vértebras dorsais serem mais compridas. Os bovinos de Bali são, certamente, aparentados com os Zebus, resistem bem ao calor, e dão excelente carne gorda. Além desta raça, existem em Timor algumas dezenas de bovinos mestiçados, na maior parte com os Hereford, Shorthorn e Jérsei. A espécie cavalar é, como a bufalina, empregada largamente na agricultura do indígena que a utiliza não só nos trabalhos do campo, como no transporte de mercadorias e pessoas. É um animal de pequeno porte, perfeitamente adaptado ao clima e ao tipo de terreno onde vive; tem os cascos muito duros. Os ovinos em Timor estão quase exclusivamente concentrados na Circunscrição de Baucau, região planáltica de altitude média de cerca de 600 m. e comum substrato calcário acentuado. Os ovinos timorenses, cobertos de pêlo cábrio, têm o corpo pequeno e pernas altas e finas; dão carne inferior. As cabras ocupam o segundo lugar dentre aqueles animais mais numerosos em Timor. São animais bem adaptados ao meio, muito prolíficos, dando vulgarmente 3 crias, sendo raro só um filho. A produção leiteira destes animais é fraca. Os porcos de Timor são extremamente rústicos, alimentando-se de raízes e ervas o que contribui para o seu grande número existente. São animais pequenos, pretos, focinho comprido, de desenvolvimento muito lento, muito prolíficos, não sendo raro encontrarem-se porcas que dêem de uma só barriga 15 crias. Estes porcos têm grande aptidão para constituírem, espessas mantas de toucinho. Os gados representam, atualmente, uma das quatro maiores riquezas timorenses. Além da sua distribuição pela quase totalidade da população indígena, ao contrário dos outros que se localizam em certas zonas e, portanto, beneficiando diretamente só determinados grupos populacionais, não são os gados tão susceptíveis de desvalorização repentina como tem sucedido com os outros produtos. Além disso, a pecuária constitui a grande e maior fornecedora de proteínas animais. No entanto, a exportação de gados, de fácil colocação e por altos preços, nos mercados de Singapura, Macau, Manila e Hong-Kong, é nula, mercê do abandono deste ramo da economia timorense, pela falta de pessoal técnico dos Serviços Veterinários, desde 1927 até ao fim da Segunda Grande Guerra Mundial . - INDÚSTRIAS: Como indústrias, a atividade reduz-se ao fabrico de panos de algodão (tais ou sarãos), esteiras e artefatos de palha, açúcar e aguardente para uso indígena. As indústrias extrativas são a safra do sal e as dos minérios, pelos próprios indígenas e para seu uso - cobre em Bibicusso, ferro em Laleia (Baidobala) e o ouro (quartzo aurífero) em Orlaquiri, Tubuloso e Turiscain. A proximidade de centros fabris, como a Austrália e outras ilhas, supre as necessidades locais de maior exigência. - EXPLORAÇÃO MINERAL:
Já na década de 1940, há indícios evidentes, da existência de petróleo, tendo sido está uma das grandes preocupações dos governadores locais. Mas um primeiro pedido de concessão por australianos, não foi atendido. Seguiu-se-lhe mais tarde, novo pedido de concessão pela "Asian Investment", de Wittouk, que não teve melhor andamento. Finalmente, pouco antes da Segunda Grande Guerra Mundial, outro australiano, Dodson, formou uma "Companhia Ultramarina de Petróleo" que em Outubro de 1939 obtinha uma concessão a longo prazo. Apenas começados os trabalhos de prospeção e pesquisa, a deflagração da guerra no Pacífico, em Dezembro de 1941, forçou o australiano a desfazer-se da sua posição, que foi cedida em 60% à Shell Co., e 30% à Vacuum Oil Co., e nos termos da concessão, 10% em ações liberadas, ao Estado Português. Em 1942, por força da invasão da ilha, cessaram necessariamente todos os trabalhos, que só recomeçaram, depois de finda a guerra e restabelecida a soberania em 1945. Durante dois anos se procedeu então a trabalhos e a estudos detalhados - levantamentos topográficos, geológicos, etc. Entretanto em 1947, outra companhia americana, constituída pela Superior Oil Co., obtinha também uma concessão de menor âmbito, mas de que em breve desistia. Os relatórios da Bataafsche Petroleum Maastschppij apresentados à Companhia Ultramarina de Petróleo em 1948 e 1949 concluíram pela existência de petróleo em quantidades insuficientes de exploração econômica, aconselhando a suspensão dos trabalhos, pelo que a Companhia comunicou ao governo português a desistência da concessão. O que há, pois, a concluir é o que o destino da Timor portuguesa é o de uma colônia-fazenda do tipo das de São Tomé e Príncipe, enquanto um sério estudo do subsolo não assegurar outras explorações mais ricas. - COMÉRCIO Comércio é em Timor uma atividade ainda de limitado campo de ação. Poucas são as firmas e de restritas capacidades. No geral, as próprias empresas agrícolas, amparadas pelo Banco emissor, realizam as suas operações comerciais diretamente com o exterior. O pequeno comércio retalhista e do interior é, de longa data, feito por chineses. Os principais produtos de exportação são o café, o sândalo e outras madeiras, o cacau, a copra, o tabaco, a cera e o mel. A principal importação é de álcool, arroz, tecidos de algodão, tecidos de lã, vinhos portugueses, artigos de metal. As comunicações e transportes, como instrumentos de fomento econômico, têm também em Timor um começo de realização. Linhas férreas não há. A rede de estradas - más estradas, simples carreteiros para transporte a tração ou dorso de cavalo - desenvolve-se um extensão insuficiente entre as povoações e postos administrativos. Só muito recentemente se construiu a primeira estrada utilizável por automóvel, com origem em Dili para a povoação mais próxima. O único porto para navegação de longo curso é o de Dili, bem balizado e relativamente bem equipado... As comunicações telegráficas e radiotelegráficas, como todo o mundo, estão asseguradas pelas estações radiotelegráficas de Baucau e de Dili, e as comunicações internas, no interior pela rede telefônica, assinalada já, ao tratar-nos das circunscrições civis.
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