VERAS

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  Idolatria  

 

 

 

Senhora, são os vossos belos olhos

fanais, que, de bem longe, eu fito, crente.

Quando eu vos vejo fico de giolhos...

Entanto, vós me olhais indiferente!

 

 

 

 

Em Cuzco havia um templo de ouro ornado,

onde o sol era o ídolo do povo.

Se fosseis lá, o sol tinha um enfado,

porque serieis lá — ídolo novo.

 

 

 

 

De vosso olhar sai uma catadupa

de luz suave, pura e cintilante.

Que mar de luz! Em ideal chalupa

minha alma sabe aí ser navegante.

 

 

 

 

Falais? Então, enfebrecido, escuto

amenas harmonias. Ansioso,

eu temo vir a ser um dissoluto...

Mas vossa voz só vem onde repouso!

 

 

 

 

Às vezes, junto a vós, escuto, louco,

pulsar o coração em vosso peito...

Escuto-o afastado; e, pouco a pouco,

parece para o meu — meu peito estreito.

 

 

 

 

Senhora, vosso peito é uma Capela,

onde a garrida em festa se badala.

Sei que há aí riquíssima baixela.

Nunca fui lá. Temeis ir eu roubá-la?

 

 

 

 

Creio que me julgais ateu perverso,

indigno de ocupar tal santuário,

pois mesmo sendo eu crente, já converso,

jamais vi nem beijei esse sacrário...

 

 

 

 

Se me fitardes, crede-me, algum dia,

eu ficaria uns poucos passos perto,

(E como é doce minha fantasia!)

perto do céu azul, do céu aberto.

 

 

 

 

Tendes meu culto e eu quero a vossa crença.

Adora a luz de estrelas sem desmaios.

Eu sou sabeu. Brilhais na altura imensa —

e eu cá de baixo adoro os vossos raios.

 

 

 

  MCM.  
 

 

 

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