VERAS
=====================================================================
Idolatria | |||
|
|||
Senhora, são os vossos belos olhos fanais, que, de bem longe, eu fito, crente. Quando eu vos vejo fico de giolhos... Entanto, vós me olhais indiferente! |
|||
|
|||
Em Cuzco havia um templo de ouro ornado, onde o sol era o ídolo do povo. Se fosseis lá, o sol tinha um enfado, porque serieis lá — ídolo novo. |
|||
|
|||
De vosso olhar sai uma catadupa de luz suave, pura e cintilante. Que mar de luz! Em ideal chalupa minha alma sabe aí ser navegante. |
|||
|
|||
Falais? Então, enfebrecido, escuto amenas harmonias. Ansioso, eu temo vir a ser um dissoluto... Mas vossa voz só vem onde repouso! |
|||
|
|||
Às vezes, junto a vós, escuto, louco, pulsar o coração em vosso peito... Escuto-o afastado; e, pouco a pouco, parece para o meu — meu peito estreito. |
|||
|
|||
Senhora, vosso peito é uma Capela, onde a garrida em festa se badala. Sei que há aí riquíssima baixela. Nunca fui lá. Temeis ir eu roubá-la? |
|||
|
|||
Creio que me julgais ateu perverso, indigno de ocupar tal santuário, pois mesmo sendo eu crente, já converso, jamais vi nem beijei esse sacrário... |
|||
|
|||
Se me fitardes, crede-me, algum dia, eu ficaria uns poucos passos perto, (E como é doce minha fantasia!) perto do céu azul, do céu aberto. |
|||
|
|||
Tendes meu culto e eu quero a vossa crença. Adora a luz de estrelas sem desmaios. Eu sou sabeu. Brilhais na altura imensa — e eu cá de baixo adoro os vossos raios. |
|||
|
|||
MCM. | |||